
Comentário: Aaron Schimberg (década de 1970) é um cineasta americano. Ele realizou os longas-metragens “Go Down Death” (2013) e “Acorrentado pela Vida” (2018). “Um Homem Diferente” é seu terceiro filme e o primeiro que vejo dele.
O filme é inspirado no ator britânico Adam Pearson (1985), atualmente com 40 anos, que sofre de neurofibromatose tipo 1, uma condição genética que afeta pele, olhos, ossos e o sistema nervoso. Em seu caso, a condição gerou a produção de diversos tumores em seu rosto, todos benignos, mas esses sintomas podem variar. Em seu irmão gêmeo, por exemplo, o mesmo quadro gerou perda de memória recente. Diagnosticado aos 5 anos de idade, ele já passou por 39 cirurgias faciais e está acostumado com os olhares estranhos de desconhecidos nas ruas.
Antes de ter a ideia do filme, o diretor Aaron Schimberg já havia trabalhado com Adam Pearson em "Acorrentado pela Vida" (2018). Depois dessa parceria foi que surgiu o desejo de desenvolver um projeto que refletisse a personalidade do ator de forma verdadeira, explorando a sua própria experiência com a neurofibromatose e a forma como ele lida com as dificuldades que essa condição trás.
Para se ter uma ideia de como ele lida bem com essa questão, ele trabalha como ator, como apresentador e ainda é um ativista envolvido em programas de prevenção de bullying associado a deformidades. Seu primeiro papel nos cinemas foi em “Sob a Pele” (2013), sci-fi dirigido por Jonathan Glazer e estrelado por Scarlett Johansson. Depois desse filme ele também atuou nos curtas “Oddity” (2015) e “Rodentia” (2015); nos seriados “Tricks of the Restaurant Trade” (2015-2018) e “Eugenics: Science's Greatest Scandal” (2019) e em programas de tv como “The Ugly Face of Disability Hate Crime” (2015) e “Adam Pearson: Freak Show”(2016).
O longa “Um Homem Diferente” começa contando a história de um personagem fictício chamado Edward Lemuel, interpretado por Sebastian Stan. Na trama, esse ator sofre de neurofibromatose, o que faz dele um cara tímido, reservado e desconfortável com sua aparência. Como o ator Sebastian Stan não tem a doença, para caracterizar o personagem a equipe de maquiagem levava cerca de duas horas por dia para aplicar um molde de silicone com os tumores no rosto dele. Segundo a Variety, a maquiagem chegava a pesar 2kg e foi tão bem feita que levou o filme a concorrer ao Oscar na categoria Maquiagem e Penteado.
Esse personagem Edward Lemuel, não sabendo como conciliar sua aparência com a profissão de ator, resolve passar por um tratamento experimental e tem os tumores de seu rosto completamente removidos. O que ele não imaginava é que ele iria conhecer Oswald (interpretado justamente pelo Adam Pearson que possui na vida real a neurofibromatose). Oswald tem a mesma condição de Edward mas, diferentemente de Edward, ele é um cara que lida bem com sua aparência, é animado, confortável em sua própria pele e bastante sedutor.
Gradualmente, essa personalidade alegre de Oswald começa a incomodar Edward: como pode um ator com essa condição ser feliz? Abismado com a situação, Edward – que deveria estar com seus problemas resolvidos após fazer o procedimento médico – começa a experimentar uma sensação de ressentimento. A situação se complica ainda mais quando ele fica sabendo que sua namorada Ingrid (Renate Reinsve) está escrevendo uma peça sobre um homem com o rosto desfigurado e esse papel não será mais dele, mas sim de Oswald.
O que disse a crítica 1: Bruno Carmelo do site Meio Amargo avaliou com o equivalente a 2 estrelas, ou seja, fraco. Escreveu: “O herói resta na posição de objeto, servindo ao estudo de caso ‘Temos o direito de abordar uma experiência de vida diferente da nossa nas artes?’. Em certa medida, o diretor faz com seu protagonista algo muito semelhante com o que o diretor fictício de comerciais, dentro da trama, fazia com Edward enquanto ator: utilizá-lo de maneira exemplar (um homem com deficiência, esvaziado de pulsões e complexidade). Preocupado em ser correto, o resultado tampouco parece muito vivo, nem empático”.
O que disse a crítica 2: Mattheus Goto da Revista Veja avaliou com 4 estrelas, ou seja, ótimo. Disse: “Entre tantos atributos positivos, salta aos olhos a autenticidade do enredo e a direção cuidadosa e ao mesmo tempo provocativa em momentos estratégicos. O roteiro bem pensado e as grandes atuações do elenco completam a lista de elogios. É uma produção envolvente e surpreendente”.
O que eu achei: Num ano em que “A Substância” (2024) vem falar de etarismo, aparência e procedimentos milagrosos surge também “Um Homem Diferente”. Nesse filme, o diretor Aaron Schimberg, intrigado com a forma aparentemente tranquila com o qual o ator Adam Pearson (atualmente com 40 anos, que sofre de neurofibromatose tipo 1 e possui o rosto desfigurado pelos diversos tumores desenvolvidos pela doença) lida com sua aparência, resolve lhe dedicar um filme que pretende transmitir a mensagem que de nada adianta se ver livre de uma aparência diferente se o psicológico não ajudar. Ou em outras palavras: será que a busca pela mudança física resolve as questões internas? Apesar dos atores Sebastian Stan (ótimo no papel principal) e da presença do próprio Adam Pearson em cena, o filme resulta bastante mediano. Começa bem, mas conforme avança, vai-se perdendo em sua proposta de discutir questões mais profundas como a autoaceitação ou de como o belo está nos olhos de quem ama, resultando numa trama didática, narrativamente frágil e mal desenvolvida. Não chega a ser sofrível, mas passa longe do que poderia ser.
O filme é inspirado no ator britânico Adam Pearson (1985), atualmente com 40 anos, que sofre de neurofibromatose tipo 1, uma condição genética que afeta pele, olhos, ossos e o sistema nervoso. Em seu caso, a condição gerou a produção de diversos tumores em seu rosto, todos benignos, mas esses sintomas podem variar. Em seu irmão gêmeo, por exemplo, o mesmo quadro gerou perda de memória recente. Diagnosticado aos 5 anos de idade, ele já passou por 39 cirurgias faciais e está acostumado com os olhares estranhos de desconhecidos nas ruas.
Antes de ter a ideia do filme, o diretor Aaron Schimberg já havia trabalhado com Adam Pearson em "Acorrentado pela Vida" (2018). Depois dessa parceria foi que surgiu o desejo de desenvolver um projeto que refletisse a personalidade do ator de forma verdadeira, explorando a sua própria experiência com a neurofibromatose e a forma como ele lida com as dificuldades que essa condição trás.
Para se ter uma ideia de como ele lida bem com essa questão, ele trabalha como ator, como apresentador e ainda é um ativista envolvido em programas de prevenção de bullying associado a deformidades. Seu primeiro papel nos cinemas foi em “Sob a Pele” (2013), sci-fi dirigido por Jonathan Glazer e estrelado por Scarlett Johansson. Depois desse filme ele também atuou nos curtas “Oddity” (2015) e “Rodentia” (2015); nos seriados “Tricks of the Restaurant Trade” (2015-2018) e “Eugenics: Science's Greatest Scandal” (2019) e em programas de tv como “The Ugly Face of Disability Hate Crime” (2015) e “Adam Pearson: Freak Show”(2016).
O longa “Um Homem Diferente” começa contando a história de um personagem fictício chamado Edward Lemuel, interpretado por Sebastian Stan. Na trama, esse ator sofre de neurofibromatose, o que faz dele um cara tímido, reservado e desconfortável com sua aparência. Como o ator Sebastian Stan não tem a doença, para caracterizar o personagem a equipe de maquiagem levava cerca de duas horas por dia para aplicar um molde de silicone com os tumores no rosto dele. Segundo a Variety, a maquiagem chegava a pesar 2kg e foi tão bem feita que levou o filme a concorrer ao Oscar na categoria Maquiagem e Penteado.
Esse personagem Edward Lemuel, não sabendo como conciliar sua aparência com a profissão de ator, resolve passar por um tratamento experimental e tem os tumores de seu rosto completamente removidos. O que ele não imaginava é que ele iria conhecer Oswald (interpretado justamente pelo Adam Pearson que possui na vida real a neurofibromatose). Oswald tem a mesma condição de Edward mas, diferentemente de Edward, ele é um cara que lida bem com sua aparência, é animado, confortável em sua própria pele e bastante sedutor.
Gradualmente, essa personalidade alegre de Oswald começa a incomodar Edward: como pode um ator com essa condição ser feliz? Abismado com a situação, Edward – que deveria estar com seus problemas resolvidos após fazer o procedimento médico – começa a experimentar uma sensação de ressentimento. A situação se complica ainda mais quando ele fica sabendo que sua namorada Ingrid (Renate Reinsve) está escrevendo uma peça sobre um homem com o rosto desfigurado e esse papel não será mais dele, mas sim de Oswald.
O que disse a crítica 1: Bruno Carmelo do site Meio Amargo avaliou com o equivalente a 2 estrelas, ou seja, fraco. Escreveu: “O herói resta na posição de objeto, servindo ao estudo de caso ‘Temos o direito de abordar uma experiência de vida diferente da nossa nas artes?’. Em certa medida, o diretor faz com seu protagonista algo muito semelhante com o que o diretor fictício de comerciais, dentro da trama, fazia com Edward enquanto ator: utilizá-lo de maneira exemplar (um homem com deficiência, esvaziado de pulsões e complexidade). Preocupado em ser correto, o resultado tampouco parece muito vivo, nem empático”.
O que disse a crítica 2: Mattheus Goto da Revista Veja avaliou com 4 estrelas, ou seja, ótimo. Disse: “Entre tantos atributos positivos, salta aos olhos a autenticidade do enredo e a direção cuidadosa e ao mesmo tempo provocativa em momentos estratégicos. O roteiro bem pensado e as grandes atuações do elenco completam a lista de elogios. É uma produção envolvente e surpreendente”.
O que eu achei: Num ano em que “A Substância” (2024) vem falar de etarismo, aparência e procedimentos milagrosos surge também “Um Homem Diferente”. Nesse filme, o diretor Aaron Schimberg, intrigado com a forma aparentemente tranquila com o qual o ator Adam Pearson (atualmente com 40 anos, que sofre de neurofibromatose tipo 1 e possui o rosto desfigurado pelos diversos tumores desenvolvidos pela doença) lida com sua aparência, resolve lhe dedicar um filme que pretende transmitir a mensagem que de nada adianta se ver livre de uma aparência diferente se o psicológico não ajudar. Ou em outras palavras: será que a busca pela mudança física resolve as questões internas? Apesar dos atores Sebastian Stan (ótimo no papel principal) e da presença do próprio Adam Pearson em cena, o filme resulta bastante mediano. Começa bem, mas conforme avança, vai-se perdendo em sua proposta de discutir questões mais profundas como a autoaceitação ou de como o belo está nos olhos de quem ama, resultando numa trama didática, narrativamente frágil e mal desenvolvida. Não chega a ser sofrível, mas passa longe do que poderia ser.