
Comentário: Greg Kwedar é um escritor, diretor e produtor americano. Estreou na direção de longas-metragens com “Do Outro Lado da Fronteira” (2016), que ganhou o Prêmio do Público no Festival de Cinema SXSW. Ele também coescreveu e produziu “Jockey” (2021), que estreou no Festival de Cinema de Sundance de 2021 onde ganhou o Prêmio Especial do Júri de Melhor Ator (Clifton Collins Jr.), além de ganhar o Prêmio do Público no Festival de Cinema AFI. “Sing Sing” (2024) é o primeiro filme que vejo dele.
O título “Sing Sing” refere-se a uma prisão de segurança máxima chamada Centro Correcional Sing Sing, operada pelo Departamento de Correções e Supervisão Comunitária do Estado de Nova Iorque na vila de Ossining, Nova Iorque. Fica a cerca de 48km ao norte da cidade de Nova Iorque, na margem leste do rio Hudson. Abriga cerca de 1.700 prisioneiros e abrigou a câmara de execução do Estado de Nova Iorque até a abolição da pena capital no estado em 1977. O nome Sing Sing foi derivado da tribo nativa americana Sintsink, de quem a terra foi comprada em 1685, e que antigamente era também o nome da vila.
No elenco do filme há atores, mas também estão diversos detentos que por ali passaram como Clarence ‘Divine Eye’ Maclin, Sean ‘Dino’ Jonhson, Mosi Eagle, Patrick ‘Preme’ Griffin, David ‘Dap’ Giraudy e James ‘Big E’ Williams, homens que não só estiveram atrás das grades, como também passaram pelo programa RTA, de Rehabilitation Through the Arts (Reabilitação Através das Artes), que é o motor do filme. Esse programa visa, através do teatro e da literatura, reabilitar os detentos. Então, de alguma forma, esses ex-detentos também são atores.
Guilherme Jacobs do site Omelete nos conta que “Kwedar [o diretor] se deparou com o RTA por acaso. Auxiliando a produção de um curta documental dentro de uma prisão de segurança máxima, ele se deparou com um programa de reabilitação voltado tanto para homens quanto para animais quando percebeu um detento acompanhado, dentro da cela, por um cachorro. Emocionado com a relação de companheirismo entre eles, o cineasta procurou por iniciativas com o mesmo propósito, e encontrou a história que, agora, ele dramatizou em ‘Sing Sing’”.
“Descobrir isso deixa tudo mais poético. Não à toa, as atuações de todo o elenco parecem tão naturais e soltas. Com exceção de Colman Domingo [um ator profissional que faz o papel principal] e alguns outros, ‘Sing Sing’ é composto por atores cujos maiores espetáculos foram realizados sob o olhar de guardas, mas que abriram portas para uma mudança radical de vida: enquanto a média nacional de reincidência nas prisões dos Estados Unidos é acima de 60%, entre os participantes do RTA é abaixo de 5%”.
Na trama, o que ocorre é que um homem chamado Divine G (interpretado pelo ator Colman Domingo) é preso por um crime que não cometeu, porém depois de aprisionado ele encontra um propósito ao atuar em um grupo de teatro junto com outros detentos, incluindo um novato desconfiado. Esse novo integrante é Clarence ‘Divine Eye’ Maclin (um ex-presidiário que interpreta a si mesmo), um homem cauteloso e cheio de raiva, que Divine G e seus colegas terão o desafio de ajudar.
A peça que eles vão interpretar no filme se chama "Breakin' the Mummy's Code" (Quebrando o Código da Múmia), criada pelos próprios detentos que fazem parte desse programa de reabilitação. Ela mistura musical, viagem no tempo com Hamlet, faroeste e outras coisas.
O roteiro do filme nasceu da adaptação de um artigo chamado “The Sing Sing Follies”, publicado na Revista Esquire em 2005 por John H. Richardson, que detalhava o funcionamento do projeto RTA - Rehabilitation Through the Arts nas prisões. Li que esse programa de teatro prisional ainda existe. Ele começou em 1996 e, atualmente, opera em oito unidades correcionais no estado de Nova York.
O filme foi indicado a três categorias no Oscar: Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator (Colman Domingo) e Melhor Canção Original ("Like a Bird").
O que disse a crítica: Bruno Ghetti da Folha SP avaliou com 3 estrelas, ou seja, bom. Disse: “O filme é carregado de positividade, mesmo nos trechos mais pesados. Mas se não se centrasse tanto no confronto entre os dois Divines e se predispusesse a ser uma obra verdadeiramente dedicada a desvendar os demais personagens, talvez fosse um filme mais valioso. Porque é justamente esse material mais bruto, dos presidiários interpretando versões de si mesmos, que o longa traz de diferencial – tudo o mais é melodrama prisional corriqueiro”.
Giulia Cardoso do site Cinema com Rapadura avaliou com 5 estrelas, ou seja, obra-prima. Escreveu: “No início do filme, Colman Domingo impressiona com um diálogo teatral intenso. Nesse momento, ficamos conectados com esse homem que parece ser fundamental para a história (afinal, ele não seria o protagonista da peça se não fosse importante). O que se segue são cenas de ambientação que estabelecem o dia a dia da prisão e de Divine G. Vale ressaltar a qualidade da direção geral, da fotografia e da direção de arte, que criam esse ambiente opressor sem recorrer a diálogos expositivos”.
O que eu achei: O título do filme é o nome da instituição onde a história se passa: o Centro Correcional Sing Sing de Nova Yorque. Essa prisão de fato existe e abriga um programa de reabilitação chamado RTA - Rehabilitation Through the Arts (Reabilitação pelas Artes) criado em 1996 e que envolve alguns prisioneiros em aulas de teatro com a finalidade de se autoconhecer, estabelecer vínculos e encontrar dentro de si um outro eu que, a médio prazo, pode estabelecer uma nova forma de pensar, ser e viver. Esse programa funciona em diversas instituições nos EUA e parece de fato funcionar já que, enquanto a média nacional de reincidência nas prisões do país é acima de 60%, entre os participantes do RTA é abaixo de 5%. Ao conhecer o programa o diretor Greg Kwedar resolveu rodar esse filme que mostra como o programa funciona. Então o que vamos ver é basicamente o dia a dia desse grupo de teatro. Para compor o elenco Kwedar convidou o ator Colman Domingo (que está excelente no papel e concorreu ao Oscar de Melhor Ator) para interpretar o detento Divine G e o também ator Paul Raci para interpretar o orientador do grupo que é também o diretor da peça que eles vão ensaiar. A cereja do bolo é que todo o resto do grupo de teatro vai ser composto por presidiários ou ex-presidiários que passaram pelo RTA e que, de uma forma ou de outra, também são atores. O resultado é muito emocionante. Chama a atenção a força que a arte tem em ambientes adversos, formando um testemunho do poder restaurador do teatro e da possibilidade que se abre de percorrer novos caminhos com dignidade e esperança. Sensacional.
O título “Sing Sing” refere-se a uma prisão de segurança máxima chamada Centro Correcional Sing Sing, operada pelo Departamento de Correções e Supervisão Comunitária do Estado de Nova Iorque na vila de Ossining, Nova Iorque. Fica a cerca de 48km ao norte da cidade de Nova Iorque, na margem leste do rio Hudson. Abriga cerca de 1.700 prisioneiros e abrigou a câmara de execução do Estado de Nova Iorque até a abolição da pena capital no estado em 1977. O nome Sing Sing foi derivado da tribo nativa americana Sintsink, de quem a terra foi comprada em 1685, e que antigamente era também o nome da vila.
No elenco do filme há atores, mas também estão diversos detentos que por ali passaram como Clarence ‘Divine Eye’ Maclin, Sean ‘Dino’ Jonhson, Mosi Eagle, Patrick ‘Preme’ Griffin, David ‘Dap’ Giraudy e James ‘Big E’ Williams, homens que não só estiveram atrás das grades, como também passaram pelo programa RTA, de Rehabilitation Through the Arts (Reabilitação Através das Artes), que é o motor do filme. Esse programa visa, através do teatro e da literatura, reabilitar os detentos. Então, de alguma forma, esses ex-detentos também são atores.
Guilherme Jacobs do site Omelete nos conta que “Kwedar [o diretor] se deparou com o RTA por acaso. Auxiliando a produção de um curta documental dentro de uma prisão de segurança máxima, ele se deparou com um programa de reabilitação voltado tanto para homens quanto para animais quando percebeu um detento acompanhado, dentro da cela, por um cachorro. Emocionado com a relação de companheirismo entre eles, o cineasta procurou por iniciativas com o mesmo propósito, e encontrou a história que, agora, ele dramatizou em ‘Sing Sing’”.
“Descobrir isso deixa tudo mais poético. Não à toa, as atuações de todo o elenco parecem tão naturais e soltas. Com exceção de Colman Domingo [um ator profissional que faz o papel principal] e alguns outros, ‘Sing Sing’ é composto por atores cujos maiores espetáculos foram realizados sob o olhar de guardas, mas que abriram portas para uma mudança radical de vida: enquanto a média nacional de reincidência nas prisões dos Estados Unidos é acima de 60%, entre os participantes do RTA é abaixo de 5%”.
Na trama, o que ocorre é que um homem chamado Divine G (interpretado pelo ator Colman Domingo) é preso por um crime que não cometeu, porém depois de aprisionado ele encontra um propósito ao atuar em um grupo de teatro junto com outros detentos, incluindo um novato desconfiado. Esse novo integrante é Clarence ‘Divine Eye’ Maclin (um ex-presidiário que interpreta a si mesmo), um homem cauteloso e cheio de raiva, que Divine G e seus colegas terão o desafio de ajudar.
A peça que eles vão interpretar no filme se chama "Breakin' the Mummy's Code" (Quebrando o Código da Múmia), criada pelos próprios detentos que fazem parte desse programa de reabilitação. Ela mistura musical, viagem no tempo com Hamlet, faroeste e outras coisas.
O roteiro do filme nasceu da adaptação de um artigo chamado “The Sing Sing Follies”, publicado na Revista Esquire em 2005 por John H. Richardson, que detalhava o funcionamento do projeto RTA - Rehabilitation Through the Arts nas prisões. Li que esse programa de teatro prisional ainda existe. Ele começou em 1996 e, atualmente, opera em oito unidades correcionais no estado de Nova York.
O filme foi indicado a três categorias no Oscar: Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Ator (Colman Domingo) e Melhor Canção Original ("Like a Bird").
O que disse a crítica: Bruno Ghetti da Folha SP avaliou com 3 estrelas, ou seja, bom. Disse: “O filme é carregado de positividade, mesmo nos trechos mais pesados. Mas se não se centrasse tanto no confronto entre os dois Divines e se predispusesse a ser uma obra verdadeiramente dedicada a desvendar os demais personagens, talvez fosse um filme mais valioso. Porque é justamente esse material mais bruto, dos presidiários interpretando versões de si mesmos, que o longa traz de diferencial – tudo o mais é melodrama prisional corriqueiro”.
Giulia Cardoso do site Cinema com Rapadura avaliou com 5 estrelas, ou seja, obra-prima. Escreveu: “No início do filme, Colman Domingo impressiona com um diálogo teatral intenso. Nesse momento, ficamos conectados com esse homem que parece ser fundamental para a história (afinal, ele não seria o protagonista da peça se não fosse importante). O que se segue são cenas de ambientação que estabelecem o dia a dia da prisão e de Divine G. Vale ressaltar a qualidade da direção geral, da fotografia e da direção de arte, que criam esse ambiente opressor sem recorrer a diálogos expositivos”.
O que eu achei: O título do filme é o nome da instituição onde a história se passa: o Centro Correcional Sing Sing de Nova Yorque. Essa prisão de fato existe e abriga um programa de reabilitação chamado RTA - Rehabilitation Through the Arts (Reabilitação pelas Artes) criado em 1996 e que envolve alguns prisioneiros em aulas de teatro com a finalidade de se autoconhecer, estabelecer vínculos e encontrar dentro de si um outro eu que, a médio prazo, pode estabelecer uma nova forma de pensar, ser e viver. Esse programa funciona em diversas instituições nos EUA e parece de fato funcionar já que, enquanto a média nacional de reincidência nas prisões do país é acima de 60%, entre os participantes do RTA é abaixo de 5%. Ao conhecer o programa o diretor Greg Kwedar resolveu rodar esse filme que mostra como o programa funciona. Então o que vamos ver é basicamente o dia a dia desse grupo de teatro. Para compor o elenco Kwedar convidou o ator Colman Domingo (que está excelente no papel e concorreu ao Oscar de Melhor Ator) para interpretar o detento Divine G e o também ator Paul Raci para interpretar o orientador do grupo que é também o diretor da peça que eles vão ensaiar. A cereja do bolo é que todo o resto do grupo de teatro vai ser composto por presidiários ou ex-presidiários que passaram pelo RTA e que, de uma forma ou de outra, também são atores. O resultado é muito emocionante. Chama a atenção a força que a arte tem em ambientes adversos, formando um testemunho do poder restaurador do teatro e da possibilidade que se abre de percorrer novos caminhos com dignidade e esperança. Sensacional.