
Comentário: Robert Eggers (1983) é um cineasta americano, roteirista e designer de produção. Ele é mais conhecido por seus aclamados filmes de terror. Assisti dele três filmes: a obra-prima “O Farol” (2019), o ótimo "A Bruxa" (2015) e o bom “O Homem do Norte” (2022).
Desta vez vou conferir “Nosferatu” (2024). Marcelo Marthe da Revista Veja nos conta que “Robert Eggers tinha 9 anos de idade ao devorar um livro sobre filmes de terror com um personagem intrigante: Nosferatu, o vampiro decrépito de longas unhas pontiagudas que o diretor F. W. Murnau (1888-1931) celebrizou num clássico do expressionismo alemão. Foi tal seu amor pelo monstro que Eggers convenceu a mãe a alugar um VHS do longa da era do cinema mudo para verem juntos - experiência tão intensa que mais tarde o levou a fazer uma peça juvenil baseada na história. As consequências foram duradouras. ‘Ali percebi que queria ser cineasta’, já declarou o americano, hoje aos 41 anos. Logo após estrear com sucesso na direção com ‘A Bruxa’ (2015), ele decidiu encarar uma fixação que vem daqueles tempos de juventude: refilmar a obra-prima de Murnau. Eggers iniciou os estudos para o projeto, mas o paralisou por anos enquanto tocava a carreira, por achar que era audácia demais de sua parte.
Ao tomar coragem para produzir enfim seu próprio ‘Nosferatu’ (2024), Eggers de fato comete uma ousadia. Poucos terrenos são tão pantanosos quanto criar remakes de filmes que compõem o cânone do cinema. (...) No caso de ‘Nosferatu’, o desafio de Eggers era duplo. Além de não decepcionar diante do pioneiro Murnau, seria impossível fugir das comparações com a refilmagem que outro cineasta audacioso, o alemão Werner Herzog, fez em 1979 - e que para muitos chega a ser superior à matriz dos anos 1920.
Na verdade, a fonte dos três filmes é a mesma de onde derivam todas as histórias de vampiros que povoam a cultura pop: o romance epistolar ‘Drácula’, escrito pelo irlandês Bram Stoker em 1897. O conde sugador de sangue só trocou de nome para Nosferatu, curiosamente, por uma malandragem de Murnau. À época em que fez o filme, a viúva de Stoker, Florence, era viva e não liberou os direitos da história. Além dessa mudança, ele mexeu em um ou outro detalhe, mas a trama continuou bem parecida. Ainda assim, a viúva venceu um processo obrigando que as cópias do clássico fossem destruídas. Só algumas sobreviveram, e foram resgatadas após a morte dela e a entrada da obra em domínio público.
Ao ressuscitá-lo pela terceira vez, Eggers conseguiu aquilo que se espera de uma das mentes mais sagazes do cinema atual. Seu filme enfileira homenagens ao clássico, das cenas em que a sombra do vampiro se projeta imensa e ameaçadora, como no expressionismo de Murnau, a seu sotaque excêntrico e gutural, que remete ao do romeno (legítimo) Bela Lugosi, um dos mais famosos Dráculas do cinema. Ao mesmo tempo, o diretor agrega novas e vibrantes camadas à história. A mais evidente é o olhar quase antropológico sobre as origens de Nosferatu. O cineasta resgata dialetos e crendices dos povos da Romênia, país cujo folclore contém lendas imemoriais sobre monstros que se alimentam de sangue humano e que é a pátria de Vlad III, o Empalador (1431-1476), nobre cruel que inspirou o livro de Bram Stocker.
É no cerne da trama, contudo, que o diretor empreende suas inovações mais poderosas. A atração (inclusive sexual) entre o vampiro e a jovem Ellen Hutter (Lily-Rose Depp) sempre foi o ponto da trama que mais interessou a Eggers - e ele explora o tema em profundidade. Em desespero com seus tormentos mentais, a menina Ellen invoca a ajuda do Além - e assim desperta o vampiro de seu sono eterno na distante Transilvânia. Anos mais tarde, Nosferatu dá um jeito de fazer com que o marido dela, Thomas (Nicholas Hoult), viaje da cidade alemã de Wisburg à região isolada nos Cárpatos para oficializar a compra de uma mansão nas vizinhanças do casal. O desenlace é conhecido: Thomas é atacado pelo vampiro, e este se desloca a Wisburg num navio cheio de ratos que espalham a Peste. As dores femininas de Ellen enquanto Nosferatu se aproxima são realçadas na tela, dando a Lily-Rose a chance de mostrar que não é só uma nepo baby de Hollywood: tentando em vão provar que não está louca, para logo em seguida retorcer seu corpo com frisson demoníaco ao ser possuída mentalmente por Nosferatu, a filha de Johnny Depp e Vanessa Paradis transmite força e confere até um heroísmo feminista à mocinha.
Eggers quebrou a cabeça, sobretudo, para resolver a outra metade da equação: qual deveria ser a aparência de seu Nosferatu? Ele poderia reiterar a angulosidade gótica do ator do primeiro filme, Max Schreck, ou resgatar a tez fantasmagórica de Klaus Kinski na versão de 1979. Mas não. Mantido em segredo por meses, o vampiro do sueco Bill Skarsgård faz jus ao significado de seu nome: no folclore primitivo da Romênia, Nosferatu quer dizer repugnante. Dessa forma, o personagem está mais para zumbi que homem-morcego: nada mais é que um cadáver vivo coberto por uma túnica. Se há um detalhe polêmico, é um adereço ausente em seus predecessores: honrando o visual dos nobres romenos do passado, o vampiro exibe um bigodão à la Freddie Mercury.
Atento ao potencial castrador das comparações, Eggers jura que não reviu o filme de Murnau, nem quis conhecer a versão de Herzog [improvável que algum cineasta na vida nunca tenha visto essa versão]. Mas é impossível fugir dos monstros do passado. Sem saber [não creio], filmou no mesmo castelo na República Tcheca que foi cenário do ‘Nosferatu’ de Herzog. Ao menos num ponto, aliás, não superou o alemão: o extravagante uso de ratos reais. Eggers fez cenas com 5.000 roedores, horrorizou as estrelas do filme com o cheiro de urina dos bichos e entrou na mira de ativistas pelos direitos dos animais. Pois bem: nos anos 1970, Herzog mobilizou o dobro de ratos e foi denunciado por uma monstruosa matança ao tingi-los de preto em tinta fervente. Às vezes é preciso suar, sofrer - e dar o sangue pelo cinema”.
O que disse a crítica: Victor Russo do site Filmes e Filmes avaliou com 2,5 estrelas, ou seja, regular. Disse: “É como se Eggers referenciasse o que veio antes (...) na busca por artifícios visuais, mas o rejeitasse sempre que aquilo soasse um pouco mais caricato para os tempos atuais, sobretudo ao esconder Nosferatu e mudar o seu visual para algo, supostamente, mais assustador (...) para o público contemporâneo. (...) A voz modificada e cheia de sotaque do vampiro ou a performance nos pesadelos sexuais da donzela nada em perigo (...) aos poucos vão ganhando um ar de comicidade não intencional. Mais do que isso, Eggers impõe aos personagens a personalidade do longa como um todo, mas tanto um quanto o outro não poderiam ser mais sem sal, até em suas escolhas visuais. Ao espectador resta acompanhar aquelas belas imagens em continuidade e nada mais. Um prato bonito, mas sem tempero”.
Clarisse Loughrey do site The Independent avaliou com 5 estrelas, ou seja, obra-prima. Escreveu: “Lily-Rose Depp faz um trabalho magnífico ao incorporar a sensação de existir fora do lugar, não apenas nas contorções violentas e nas caretas de possessão sobrenatural, mas também na maneira como o olhar de Ellen parece mirar além de seu interlocutor, em direção a um abismo indefinível. Seu pai denunciou sua sensibilidade como pecaminosa. Seu marido se encolheu diante de seus desejos sexuais. É o Professor Von Franz (Willem Dafoe, em toda a sua glória), o Van Helsing da história, que lhe oferece um pequeno alívio: aqueles que já enfrentaram a escuridão são os mais capazes de derrotá-la. ‘Nosferatu’ não apenas revitaliza um monstro clássico, como também nos lembra por que eles são importantes”.
O que eu achei: Tudo começou com o livro: um gênio irlandês chamado Bram Stocker escreve em 1897 o romance “Drácula”. O livro é simplesmente sensacional. É um romance de terror gótico que conta a história do Conde Drácula, um vampiro que chega a Londres da Transilvânia. A narrativa é escrita no formato epistolar, utilizando cartas, diários, artigos de jornal e outros documentos para contar a história. É mega interessante ir lendo aqueles documentos, especialmente as cartas e o diário escritos por Mina Harker, sobre o terror que se aproxima. Daí pula pra 1922. O alemão F. W. Murnau, juntamente com o roteirista Henrik Galeen, pega esse romance, que já é uma obra-prima, e faz uma versão cinematográfica chamada “Nosferatu”. Um filme mudo, feito com os equipamentos e a película da época, que através da genialidade do alemão se transforma em outra obra-prima atemporal, daquelas que você não pode morrer sem ver. Pula pra 1979. Outro alemão, Werner Herzog, sob o título de "Nosferatu - O Vampiro da Noite", refilma a mesma história. Tinha tudo pra dar errado pois a comparação com o filme de 1922 seria inevitável. Mas ele se sai bem e o resultado é incrível. De 1979 até 2023, diversas outras adaptações foram feitas, inclusive por diretores renomados. Pula pra 2024. O americano Robert Eggers vai e resolve fazer outro remake. A história é basicamente a mesma, salvo um ou outro detalhe. Já conhecida por todos, resta se agarrar à parte visual e ao elenco para tentar acrescentar algo de novo. O filme é lindo, a direção de arte é maravilhosa, fotografia nota 10, elenco impecável: tem Willem Dafoe interpretando Van Helsing, tem Lily-Rose Depp (filha do ator Johnny Depp e da cantora e atriz Vanessa Paradis) interpretando Ellen e tem Nicholas Hoult excelente no papel angustiado do marido de Ellen. Então tem esse capricho inegável já visto em outras produções do diretor. A pergunta que fica é: esse filme supera a versão de Murnau com sua aura de época inalcançável cuja passagem do tempo só o favorece? Supera a do Herzog, dos anos 1970, com sua atmosfera de pesadelo? E a resposta é não, simplesmente porque beleza estética ou mesmo alta tecnologia - coisas que os americanos tanto valorizam - não têm força para competir com itens impalpáveis como aura ou atmosfera, uma especialidade maior dos europeus. É bom, dá pra ver, mas não chega nem aos pés dos predecessores.
Desta vez vou conferir “Nosferatu” (2024). Marcelo Marthe da Revista Veja nos conta que “Robert Eggers tinha 9 anos de idade ao devorar um livro sobre filmes de terror com um personagem intrigante: Nosferatu, o vampiro decrépito de longas unhas pontiagudas que o diretor F. W. Murnau (1888-1931) celebrizou num clássico do expressionismo alemão. Foi tal seu amor pelo monstro que Eggers convenceu a mãe a alugar um VHS do longa da era do cinema mudo para verem juntos - experiência tão intensa que mais tarde o levou a fazer uma peça juvenil baseada na história. As consequências foram duradouras. ‘Ali percebi que queria ser cineasta’, já declarou o americano, hoje aos 41 anos. Logo após estrear com sucesso na direção com ‘A Bruxa’ (2015), ele decidiu encarar uma fixação que vem daqueles tempos de juventude: refilmar a obra-prima de Murnau. Eggers iniciou os estudos para o projeto, mas o paralisou por anos enquanto tocava a carreira, por achar que era audácia demais de sua parte.
Ao tomar coragem para produzir enfim seu próprio ‘Nosferatu’ (2024), Eggers de fato comete uma ousadia. Poucos terrenos são tão pantanosos quanto criar remakes de filmes que compõem o cânone do cinema. (...) No caso de ‘Nosferatu’, o desafio de Eggers era duplo. Além de não decepcionar diante do pioneiro Murnau, seria impossível fugir das comparações com a refilmagem que outro cineasta audacioso, o alemão Werner Herzog, fez em 1979 - e que para muitos chega a ser superior à matriz dos anos 1920.
Na verdade, a fonte dos três filmes é a mesma de onde derivam todas as histórias de vampiros que povoam a cultura pop: o romance epistolar ‘Drácula’, escrito pelo irlandês Bram Stoker em 1897. O conde sugador de sangue só trocou de nome para Nosferatu, curiosamente, por uma malandragem de Murnau. À época em que fez o filme, a viúva de Stoker, Florence, era viva e não liberou os direitos da história. Além dessa mudança, ele mexeu em um ou outro detalhe, mas a trama continuou bem parecida. Ainda assim, a viúva venceu um processo obrigando que as cópias do clássico fossem destruídas. Só algumas sobreviveram, e foram resgatadas após a morte dela e a entrada da obra em domínio público.
Ao ressuscitá-lo pela terceira vez, Eggers conseguiu aquilo que se espera de uma das mentes mais sagazes do cinema atual. Seu filme enfileira homenagens ao clássico, das cenas em que a sombra do vampiro se projeta imensa e ameaçadora, como no expressionismo de Murnau, a seu sotaque excêntrico e gutural, que remete ao do romeno (legítimo) Bela Lugosi, um dos mais famosos Dráculas do cinema. Ao mesmo tempo, o diretor agrega novas e vibrantes camadas à história. A mais evidente é o olhar quase antropológico sobre as origens de Nosferatu. O cineasta resgata dialetos e crendices dos povos da Romênia, país cujo folclore contém lendas imemoriais sobre monstros que se alimentam de sangue humano e que é a pátria de Vlad III, o Empalador (1431-1476), nobre cruel que inspirou o livro de Bram Stocker.
É no cerne da trama, contudo, que o diretor empreende suas inovações mais poderosas. A atração (inclusive sexual) entre o vampiro e a jovem Ellen Hutter (Lily-Rose Depp) sempre foi o ponto da trama que mais interessou a Eggers - e ele explora o tema em profundidade. Em desespero com seus tormentos mentais, a menina Ellen invoca a ajuda do Além - e assim desperta o vampiro de seu sono eterno na distante Transilvânia. Anos mais tarde, Nosferatu dá um jeito de fazer com que o marido dela, Thomas (Nicholas Hoult), viaje da cidade alemã de Wisburg à região isolada nos Cárpatos para oficializar a compra de uma mansão nas vizinhanças do casal. O desenlace é conhecido: Thomas é atacado pelo vampiro, e este se desloca a Wisburg num navio cheio de ratos que espalham a Peste. As dores femininas de Ellen enquanto Nosferatu se aproxima são realçadas na tela, dando a Lily-Rose a chance de mostrar que não é só uma nepo baby de Hollywood: tentando em vão provar que não está louca, para logo em seguida retorcer seu corpo com frisson demoníaco ao ser possuída mentalmente por Nosferatu, a filha de Johnny Depp e Vanessa Paradis transmite força e confere até um heroísmo feminista à mocinha.
Eggers quebrou a cabeça, sobretudo, para resolver a outra metade da equação: qual deveria ser a aparência de seu Nosferatu? Ele poderia reiterar a angulosidade gótica do ator do primeiro filme, Max Schreck, ou resgatar a tez fantasmagórica de Klaus Kinski na versão de 1979. Mas não. Mantido em segredo por meses, o vampiro do sueco Bill Skarsgård faz jus ao significado de seu nome: no folclore primitivo da Romênia, Nosferatu quer dizer repugnante. Dessa forma, o personagem está mais para zumbi que homem-morcego: nada mais é que um cadáver vivo coberto por uma túnica. Se há um detalhe polêmico, é um adereço ausente em seus predecessores: honrando o visual dos nobres romenos do passado, o vampiro exibe um bigodão à la Freddie Mercury.
Atento ao potencial castrador das comparações, Eggers jura que não reviu o filme de Murnau, nem quis conhecer a versão de Herzog [improvável que algum cineasta na vida nunca tenha visto essa versão]. Mas é impossível fugir dos monstros do passado. Sem saber [não creio], filmou no mesmo castelo na República Tcheca que foi cenário do ‘Nosferatu’ de Herzog. Ao menos num ponto, aliás, não superou o alemão: o extravagante uso de ratos reais. Eggers fez cenas com 5.000 roedores, horrorizou as estrelas do filme com o cheiro de urina dos bichos e entrou na mira de ativistas pelos direitos dos animais. Pois bem: nos anos 1970, Herzog mobilizou o dobro de ratos e foi denunciado por uma monstruosa matança ao tingi-los de preto em tinta fervente. Às vezes é preciso suar, sofrer - e dar o sangue pelo cinema”.
O que disse a crítica: Victor Russo do site Filmes e Filmes avaliou com 2,5 estrelas, ou seja, regular. Disse: “É como se Eggers referenciasse o que veio antes (...) na busca por artifícios visuais, mas o rejeitasse sempre que aquilo soasse um pouco mais caricato para os tempos atuais, sobretudo ao esconder Nosferatu e mudar o seu visual para algo, supostamente, mais assustador (...) para o público contemporâneo. (...) A voz modificada e cheia de sotaque do vampiro ou a performance nos pesadelos sexuais da donzela nada em perigo (...) aos poucos vão ganhando um ar de comicidade não intencional. Mais do que isso, Eggers impõe aos personagens a personalidade do longa como um todo, mas tanto um quanto o outro não poderiam ser mais sem sal, até em suas escolhas visuais. Ao espectador resta acompanhar aquelas belas imagens em continuidade e nada mais. Um prato bonito, mas sem tempero”.
Clarisse Loughrey do site The Independent avaliou com 5 estrelas, ou seja, obra-prima. Escreveu: “Lily-Rose Depp faz um trabalho magnífico ao incorporar a sensação de existir fora do lugar, não apenas nas contorções violentas e nas caretas de possessão sobrenatural, mas também na maneira como o olhar de Ellen parece mirar além de seu interlocutor, em direção a um abismo indefinível. Seu pai denunciou sua sensibilidade como pecaminosa. Seu marido se encolheu diante de seus desejos sexuais. É o Professor Von Franz (Willem Dafoe, em toda a sua glória), o Van Helsing da história, que lhe oferece um pequeno alívio: aqueles que já enfrentaram a escuridão são os mais capazes de derrotá-la. ‘Nosferatu’ não apenas revitaliza um monstro clássico, como também nos lembra por que eles são importantes”.
O que eu achei: Tudo começou com o livro: um gênio irlandês chamado Bram Stocker escreve em 1897 o romance “Drácula”. O livro é simplesmente sensacional. É um romance de terror gótico que conta a história do Conde Drácula, um vampiro que chega a Londres da Transilvânia. A narrativa é escrita no formato epistolar, utilizando cartas, diários, artigos de jornal e outros documentos para contar a história. É mega interessante ir lendo aqueles documentos, especialmente as cartas e o diário escritos por Mina Harker, sobre o terror que se aproxima. Daí pula pra 1922. O alemão F. W. Murnau, juntamente com o roteirista Henrik Galeen, pega esse romance, que já é uma obra-prima, e faz uma versão cinematográfica chamada “Nosferatu”. Um filme mudo, feito com os equipamentos e a película da época, que através da genialidade do alemão se transforma em outra obra-prima atemporal, daquelas que você não pode morrer sem ver. Pula pra 1979. Outro alemão, Werner Herzog, sob o título de "Nosferatu - O Vampiro da Noite", refilma a mesma história. Tinha tudo pra dar errado pois a comparação com o filme de 1922 seria inevitável. Mas ele se sai bem e o resultado é incrível. De 1979 até 2023, diversas outras adaptações foram feitas, inclusive por diretores renomados. Pula pra 2024. O americano Robert Eggers vai e resolve fazer outro remake. A história é basicamente a mesma, salvo um ou outro detalhe. Já conhecida por todos, resta se agarrar à parte visual e ao elenco para tentar acrescentar algo de novo. O filme é lindo, a direção de arte é maravilhosa, fotografia nota 10, elenco impecável: tem Willem Dafoe interpretando Van Helsing, tem Lily-Rose Depp (filha do ator Johnny Depp e da cantora e atriz Vanessa Paradis) interpretando Ellen e tem Nicholas Hoult excelente no papel angustiado do marido de Ellen. Então tem esse capricho inegável já visto em outras produções do diretor. A pergunta que fica é: esse filme supera a versão de Murnau com sua aura de época inalcançável cuja passagem do tempo só o favorece? Supera a do Herzog, dos anos 1970, com sua atmosfera de pesadelo? E a resposta é não, simplesmente porque beleza estética ou mesmo alta tecnologia - coisas que os americanos tanto valorizam - não têm força para competir com itens impalpáveis como aura ou atmosfera, uma especialidade maior dos europeus. É bom, dá pra ver, mas não chega nem aos pés dos predecessores.