19.4.25

“Wallace & Gromit: Avengança” - Merlin Crossingham & Nick Park (Reino Unido, 2024)

Sinopse:
O inventor excêntrico Wallace e seu fiel companheiro Gromit, enfrentam um novo desafio. Gromit está preocupado com a dependência excessiva de Wallace de suas invenções e suas preocupações se justificam quando Wallace cria um "gnomo inteligente" que parece ter vida própria. No entanto, as coisas tomam um rumo sinistro quando uma figura vingativa do passado surge, ameaçando a segurança de Wallace e sua capacidade de inventar.
Comentário: “Wallace e Gromit” são dois personagens fictícios criados por Nick Park e os protagonistas de uma franquia britânica produzida pela Aardman Animations. Wallace, um atrapalhado inventor, é um fanático por queijo e seu companheiro, Gromit, é um cachorro antropomórfico inteligente.
Wallace foi dublado pelo ator veterano Peter Sallis até 2010, quando Ben Whitehead assumiu a voz do personagem. Gromit é um cão mudo que se comunica apenas por meio de expressões faciais e linguagem corporal. Os personagens são feitos de massinha modelada sobre armações de metal e filmados com técnicas de stopmotion e claymation.
O longa é o sexto filme da franquia “Wallace & Gromit”. Os anteriores foram quatro curtas e um longa, na sequência: “Dia de Folga” (1989); “Calças Trocadas” (1993); “Tosa Completa” (1995); o longa "Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais" (2005) e “Uma Questão de Miolo e Morte” (2008).
Desta vez vou conferir o longa “Wallace & Gromit: Avengança” (2024) indicado ao Oscar de Melhor Animação.
Erich Thomas Mafra de A Gazeta do Povo nos conta que “Como já dizia o ditado, o cachorro é o melhor amigo do homem. Na [nova] animação (...) cabe ao animal o papel de grande herói. É ele quem alerta o dono dos riscos de substituir o trabalho da humanidade por uma máquina alimentada por inteligência artificial. O tema é um prato cheio para um debate que envolve o próprio futuro de estúdios como a Aardman, que desde 1989 traz a dupla Wallace e Gromit à vida por meio da arte do stopmotion.
Vale explicar quem são esses personagens, os mais importantes na história da animação britânica, marcada por sucessos como ‘A Fuga das Galinhas’ e ‘Shaun, o Carneiro’. A dupla fez sua primeira aparição no curta ‘Dia de Folga’ (1989), com um roteiro que já estabelecia a relação de absurdo que mantém a série viva até hoje. Ao perceber que a geladeira estava sem queijo para comer com biscoitos e chá, Wallace (um inventor igualmente tapado e genial) decide que seria uma boa ideia construir um foguete para a lua, afinal ela é feita de queijo, não é mesmo? O cachorro, Gromit, embarca na jornada, mas sempre se coloca como a voz do bom-senso, ainda que seja totalmente mudo.
A partir dessa produção, a saga dos dois cresceu e rendeu outros três curtas e um longa-metragem que mergulham de cabeça no humor nonsense, típico de britânicos que se inspiram na trupe Monty Python. O surpreendente é que todos esses lançamentos ganharam indicações ao Oscar, ou na categoria de Melhor Curta-Metragem de Animação ou Melhor Longa-Metragem de Animação. Dessa forma, a presença de ‘Wallace & Gromit: Avengança’ na premiação deste ano, além de esperada, reforça um reconhecimento já muito bem estabelecido.
O novo filme acompanha a dupla em uma saga contra Norbot, uma invenção de Wallace que deu errado. O simpático gnomo de jardim foi criado para ajudar Gromit nos cuidados com o quintal, mas desde o início mostra a frieza comum de uma máquina. Ele tira toda a beleza do trabalho manual do cão e deixa as árvores e flores com aspecto quadrado e sem vida. Wallace, encantado com a eficiência do robô, ignora os alertas de seu fiel companheiro.
Paralelamente, a história apresenta o vilão do filme: Feathers McGraw, o pinguim que já enfrentou a dupla no curta ‘Wallace & Gromit: Calças Trocadas’ (1993), vencedor do Oscar. Determinado a se vingar, ele assume novamente uma identidade disfarçada - colocando uma luva vermelha na cabeça para se passar por uma galinha - e invade a IA que controla Norbot. O trocadilho no título do filme (Avengança, combinando "vingança" e "ave") reforça essa conexão com a trama anterior.
Nada aparece por acaso no roteiro. Pouco após a estreia, os diretores Nick Park e Merlin Crossingham explicaram à BBC o processo de criação do novo longa. ‘O stopmotion é um dos mais antigos ofícios do cinema... O tempo que gastamos para fazer isso engloba um processo de cinco anos e um grande esforço em time’, revelou Crossingham.
Criador de ‘Wallace & Gromit’, Park complementou: ‘Em uma semana boa de trabalho, conseguimos fazer um minuto do filme’. Ele também disse que sua equipe abraçou muitas tecnologias inovadoras de pós-produção, o que explica algumas cenas, que possuem iluminações e movimentos quase perfeitos dos personagens de ‘massinha’. O filme não usa IA, justamente pela aposta da equipe nesse formato tradicional.
Mas quem fica parado é estátua. Por meio de seu cofundador, Peter Lord, a Aardman assumiu que tem ‘brincado’ com Inteligência artificial. Em uma conversa de 2023 com a publicação Radio Times, Lord cravou: ‘Se o mundo avançar tanto o ponto de ninguém mais se importar com o stopmotion, nós nos adaptaremos. Enquanto as pessoas quiserem, continuaremos fazendo o que fazemos tão bem. E ainda seguiremos oferecendo isso a elas mesmo que elas não saibam que querem’.
Isso indica que o futuro dessa arte depende do sucesso de ‘Wallace & Gromit: Avengança’ no streaming e no Oscar, onde enfrentará candidatos como ‘Flow’, ‘Divertida Mente 2’ e ‘Robô Selvagem’. E o cenário não parece muito positivo. Dentro da própria premiação, por exemplo, uma das grandes polêmicas é a do uso de IA para refinar a pronúncia do ator Adrien Brody em cenas de ‘O Brutalista’. Já no Grammy os Beatles ganharam o prêmio de Melhor Performance de Rock pela inédita ‘Now and Then’, que usou do artifício para trazer a voz de John Lennon do além. Com isso, veio um questionamento muito válido: será que essa tecnologia inovadora, assim como o gnomo Norbot, veio para ficar eternamente no caminho entre a arte e a alma humana?
Provavelmente, não. Mas a presença de ‘Wallace & Gromit: Avengança’ no Oscar é um lembrete para que a indústria não deixe de valorizar artistas que colocam a mão na massa. Afinal, uma das coisas mais impressionantes no stopmotion é conseguir ver as digitais dos escultores nos bonequinhos que se mexem na tela”.
O que disse a crítica: Brian Tallerico do site Roger Ebert avaliou com 4,5 estrelas, ou seja, excelente. Disse: “Construído sobre uma base de comédia que vem da era do cinema mudo, “Wallace & Gromit: Avengança” é simplesmente lindamente estruturado, um ritmo perfeito de enredo e humor que funciona para todas as idades. Os pequenos podem não entender as referências de James Bond, mas eles vão se maravilhar com a engenhosidade das sequências de stopmotion, especialmente um clímax de ação que rivaliza com qualquer coisa que Tom Cruise tenha feito ultimamente. É tão revigorante ver um filme tão amplamente atraente feito tão bem - o trabalho de voz, os ângulos de câmera, a engenhosidade narrativa, o ritmo estelar em 79 minutos apertados. Em um momento em que tantos desses elementos não são considerados pelas produções de entretenimento infantil que estão mais interessadas em conteúdo do que em criatividade, estou mais uma vez confortado pelas pessoas talentosas da Aardman fazendo o que fazem tão bem. Não há um pingo de desespero para agradar; nada que se assemelhe a uma arrecadação de dinheiro como tantas sequências animadas modernas”.
Ritter Fan do site Plano Crítico também avaliou com 4,5 estrelas. Escreveu: “’Wallace & Gromit: Avengança’ é o triunfal retorno de Nick Park e da Aardman aos seus personagens clássicos depois de uma ausência beeeeem longa. Mas é como se o inventor excêntrico e o centrado beagle antropomórfico não tivessem tomado chá de sumiço desde 2008, pois eles estão na melhor forma possível, em uma aventura que, com toda certeza, agradará muito as crianças de todas as idades, inclusive as que já eram adultas quando o primeiro curta da franquia foi lançado. Que eles não demorarem a retornar!”
O que eu achei: Apesar deste longa ser o sexto filme da franquia eu só assisti dois deles: "Wallace & Gromit: A Batalha dos Vegetais" (2005) e agora este “Wallace & Gromit: Avengança” (2024). Os outros quatro filmes eram curtas e eu acabei não assistindo. Ambos são maravilhosos, feitos através da técnica do stopmotion. Fiquei imaginando a trabalheira que deve ter dado fazer todos os personagens em massinha e filmar quadro a quadro cada movimento deles. Impossível não se perguntar como, com tão poucos elementos no rosto do inventor Wallace, do cão Gromit e do pinguim vilão Feathers McGraw, eles podem transmitir tantas emoções diferentes. Incrível. Difícil agora é prever o futuro desse tipo manual de trabalho com a inteligência artificial ganhando cada vez mais terreno e agilizando sobremaneira a feitura e portanto o investimento financeiro. Por ora, vamos aproveitar enquanto isso existe pois o próprio estúdio de animação Aardman já assumiu estar fazendo testes com inteligência artificial. Uma animação enxuta (duração de 1h19m) que pode ser vista por crianças e adultos - há várias referências aos filmes de James Bond - bem feita, engraçada e encantadora. Não há ninguém mais fazendo coisas tão intrincadamente elaboradas como esta. Se jogue.