22.3.25

“Robô Selvagem” – Chris Sanders (EUA/Japão, 2024)

Sinopse:
 
A robô Rozzum da unidade 7134 naufraga em uma ilha desabitada e deve se adaptar ao ambiente hostil, estabelecendo gradualmente relações com os animais da ilha e se tornando mãe adotiva de um ganso órfão.
Comentário: Trata-se da adaptação feita pela DreamWorks Animation do primeiro livro de uma trilogia escrita por Peter Brown chamado “The Wild Robot” (Robô Selvagem). Esse livro ganhou as sequências: "The Wild Robot Escapes" (O Robô Selvagem Escapa) e "The Wild Robot Protects" (O Robô Selvagem Protege).
Juliana Almirante colaboradora do Guia de Compras UOL que leu esse primeiro livro nos diz: “Não é de hoje que robôs da ficção nos emocionam. Wall-E (do filme homônimo), C-3PO (‘Star Wars’), Andrew Martin (‘O Homem Bicentenário’) são alguns dos nomes de androides que estrelaram filmes icônicos. E uma robô (sim, no feminino) com origem no universo literário acaba de chegar às telonas: Rozzum. (...)
Depois de ler o primeiro livro da trilogia e assistir à adaptação no cinema, posso dizer que encontrei uma história tocante não só para crianças - o livro tem indicação acima de oito anos - mas para o público de todas as idades. O título surpreende ao unir temas que parecem opostos entre si: a tecnologia e a natureza. Mas como será que esses assuntos se misturam?
Roz [apelido da robô] é a única robô que não foi destruída com o naufrágio de um navio cargueiro. Movida a energia solar, ela vai parar em uma ilha e inicia, junto com o leitor, uma exploração na natureza. Apesar da semelhança física com humanos (com cabeça, braços e pernas), ela não foi programada para sentir emoções. Mas, com o decorrer da história, parece não ter como fugir delas. Ela sente curiosidade, medo e até amor.
Por outro lado, Roz percebe que, enquanto os animais da ilha são especialistas em sobrevivência, ela não tinha conhecimento sobre como viver ali. E é na observação do comportamento dos bichos que a robô vai aprendendo a sobreviver no ambiente selvagem. Com o bicho-pau, por exemplo, ela entende a importância de se camuflar para sobreviver. Então, se mistura em meio à floresta para entender melhor os animais e aprender a língua deles.
Quando tenta se aproximar dos bichos, no entanto, eles têm medo daquela máquina desconhecida e receio de que ela os devore. Até que Roz se envolve em um acidente que deixa um filhote de ganso órfão. A partir daí, ela começa a cuidar do animalzinho e inicia a sua jornada de mãe-robô, despertando também a solidariedade dos bichos da ilha.
Tenho algo em comum com o autor Peter Brown: sou fascinada por robôs e pela natureza. E a história que ele conta no livro ‘Robô Selvagem’ nos leva a reflexões importantes sobre essa forma artificial de inteligência. Um robô pode ser considerado uma forma de ‘vida’, mesmo que artificial? Como conviver com essas criaturas que podem se parecer tanto com nós, humanos?
Não tenho respostas exatas para essas perguntas. Mas posso dizer que Roz é uma robô capaz de derreter até os corações mais gelados. Desde Wall-E, não tinha me emocionado tanto com um robô da ficção. Rozz nos faz sentir alegria, encantamento e compaixão. Difícil mesmo é não ter empatia por essa máquina inteligente.
Além de emocionar, a história criada por Peter Brown também nos faz pensar sobre a relação do homem com a natureza. Como podemos preservá-la para garantir a nossa própria sobrevivência? Diante da preocupação com os desastres climáticos, é cada vez mais pertinente desenvolver esse tipo de reflexão.
Depois, quando Roz vira mãe de um ganso, o livro nos leva a pensar sobre o que significa a maternidade. Ainda que não seja biológica, ela usa os conhecimentos do seu cérebro computadorizado para cuidar do filhote e aprende outras lições com a experiência prática. Depois, quando conta com a ajuda da comunidade de bichos, tudo fica mais fácil”.
A animação ganhou prêmios importantes e concorreu ao Oscar 2025, perdendo para “Flow” (2024).
O que disse a crítica: Diego Souza Carlos do site Adoro Cinema avaliou com 4 estrelas. Escreveu: “’Robô Selvagem’ oferece uma das melhores experiências cinematográficas da temporada. Com seu estilo gráfico inovador, que atualiza a linguagem com imagens grandiosas, o filme consegue equilibrar contrastes a partir do que é incomum e inesperado, seja pelo humor ácido ou por ver uma robô se tornar uma mãe, uma amiga e uma protetora. Nos minutos finais, em meio a potenciais lágrimas, a maior parte do público vai acreditar não apenas que a protagonista pode ter sentimentos reais, como muitos acreditarão que se trata de uma forma genuína de amor”.
Roberto Honorato do site Plano Crítico avaliou com 5 estrelas, ou seja, obra-prima. Disse: “Há um melodrama muito bem construído através dos vários dilemas que o longa está constantemente nos apresentando, e mesmo que isoladamente alguns elementos sejam batidos, eles estão em completa harmonia quando entram em choque com personagens tão bem caracterizadas e uma direção confiante que mostra como premissas são irrelevantes se o desenvolvimento for feito com coração; isso é um tremendo acerto considerando a importância desse contraste entre natureza e máquina que já foi feito várias vezes, mas raramente é tão impressionante quando aqui”.
O que eu achei: Gostei de quase tudo na animação. A história, além do visual incrível que aparece em tudo o que a DreamWorks faz, é inteligente, sincera e comovente, possuindo uma profundidade emocional capaz de cativar o público com uma narrativa sensível e complexa. O único porém, a meu ver, é a trilha sonora que não se alinha com o tom da animação. Ao invés de realçar a emoção e a atmosfera da trama, a música se sobressai, criando uma sensação desconexa em relação às cenas. Em momentos de contemplação e imersão na natureza, ela soa excessivamente grandiosa, fora de sintonia com a delicadeza da narrativa. Uma pena, pois esse descompasso acaba prejudicando a imersão do público, tornando a experiência menos envolvente e impactante do que poderia ser. De qualquer forma é uma boa animação que pode ser vista por pessoas de todas as idades, das crianças aos mais velhos, tratando de temas como a relação máquina x natureza e a maternidade. Vale ver.