
Comentário: Karim Aïnouz (1966) é um diretor de cinema, roteirista e artista visual brasileiro, nascido em Fortaleza, Ceará. Assisti dele os bons "Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo" (2009) e “Motel Destino” (2024) e o ótimo "A Vida Invisível" (2019).
Desta vez vou conferir “O Céu de Suely” (2006), fruto de uma coprodução entre Brasil, Alemanha, França e Portugal, que retoma o argumento do curta ‘Rifa-me’ (2000), em que uma mulher se coloca como objeto de uma rifa.
Com fotografia de Walter Carvalho, o filme trata de questões constantes na obra de Aïnouz: o não-pertencimento, a tentação do deslocamento e a subversão da própria identidade.
“O Céu de Suely” estreou na Mostra Orizzonti do Festival de Veneza, em 2006 e foi premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) como Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Atriz (Hermila Guedes). O mesmo ocorreu no Festival do Rio. No Festival Internacional de Salônica, na Grécia, o longa conquistou o Prêmio da Fipresci de Melhor Filme. Nascida em Cabrobó, Pernambuco, Hermila Guedes também leva os troféus de Melhor Atriz no Cine Goiânia e no Festival de Havana, entre outros.
O que disse a crítica: Pablo Villaça do site Cinema em Cena avaliou com 4 estrelas, ou seja, ótimo. Disse: “Escrito por Aïnouz, Felipe Bragança e Maurício Zacharias, ‘O Céu de Suely’ não deixa muitas promessas de felicidade para sua protagonista – e nem poderia. Em certo instante, Hermila diz que o dinheiro a ajudará a se manter enquanto ‘descobre o que fazer’. Infelizmente, o fato é que não há grandes probabilidades de que ela realmente descubra seu lugar no mundo: limitada por uma Sociedade que não lhe abre muitas alternativas, Hermila pode buscar seu céu e sua liberdade eternamente; para onde quer que vá, é mais do que provável que seu futuro seja tão opressor e insatisfatório quanto seu passado”.
Rodrigo Pereira do site Plano Crítico avaliou com 4,5 estrelas, ou seja, excelente. Escreveu: “Tornando a tênue linha entre realidade e ficção mais fina do que o comum, ‘O Céu de Suely’ é uma obra crua e retrata a realidade de uma considerável parcela da população brasileira com grande maestria. Com uma talentosa equipe em frente e atrás das câmeras, Aïnouz criou uma obra que deveria ter muito mais espaço midiático devido a sua grande qualidade, entretanto enriquece como poucas a já rica cultura brasileira, seja cinematográfica ou num aspecto geral”.
O que eu achei: Interessante o quanto de semelhança há entre o novo filme de Karim Aïnouz - “Motel Destino” (2024) – e “O Céu de Suely” de 2006. Em primeiro lugar, ambos utilizam o nordeste brasileiro como cenário, com as histórias se passando em pequenas cidades do Ceará, com uma ambientação que mescla aridez e uma certa melancolia, reforçando a atmosfera de isolamento e desejo de fuga de seus protagonistas que tentam escapar de suas realidades sufocantes em busca de uma vida melhor. Nos dois filmes temos personagens femininas similares: “O Céu de Suely” tem Hermila como protagonista, enquanto “Motel Destino” foca em Dayana, ambas mulheres jovens que enfrentam dificuldades econômicas e sociais e tomam decisões ousadas para tentar mudar suas vidas. O erotismo e o uso do corpo como ferramenta de autonomia também aparecem nos dois filmes mostrando relações afetivas e sexuais marcadas por grande intensidade emocional, alinhavadas pelo desejo, pela sensação de urgência e pela fragilidade dos personagens. Na parte estética, “Motel Destino” é mais radical, mas há semelhanças, seja no uso de cores quentes, seja na pegada sensorial que a luz imprime, enfatizando texturas e temperaturas que tornam a jornada dos personagens quase palpável para quem assiste. Parece que encontrei nessas duas obras um denominador comum para o trabalho de Aïnouz, um cearense por nascimento que aparentemente tem nesse perfil de filme algum tipo de “lugar de fala”, tratando de algo que lhe deve ser próximo. Eu, que já havia gostado muito de "A Vida Invisível" (2019), encontrei em “O Céu de Suely” outro exemplar de excelência na filmografia do diretor que se mostra um perito na representação de mulheres sofridas vivendo relações intensamente humanas, permeadas por desajustes e dificuldades. Terminei de ver pensando no quanto o cinema brasileiro tem de talentos para mostrar ao mundo. Atenção à atriz Hermila Guedes que nos convence da veracidade da trama, à trilha sonora com a versão brasileira, gravada por Diana na época da Jovem Guarda, da canção “Everything I Own” e da rápida aparição da atriz paraibana Marcélia Cartaxo, aquela que ganhou notoriedade no filme “A Hora da Estrela”. Gostei demais.
Desta vez vou conferir “O Céu de Suely” (2006), fruto de uma coprodução entre Brasil, Alemanha, França e Portugal, que retoma o argumento do curta ‘Rifa-me’ (2000), em que uma mulher se coloca como objeto de uma rifa.
Com fotografia de Walter Carvalho, o filme trata de questões constantes na obra de Aïnouz: o não-pertencimento, a tentação do deslocamento e a subversão da própria identidade.
“O Céu de Suely” estreou na Mostra Orizzonti do Festival de Veneza, em 2006 e foi premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA) como Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Atriz (Hermila Guedes). O mesmo ocorreu no Festival do Rio. No Festival Internacional de Salônica, na Grécia, o longa conquistou o Prêmio da Fipresci de Melhor Filme. Nascida em Cabrobó, Pernambuco, Hermila Guedes também leva os troféus de Melhor Atriz no Cine Goiânia e no Festival de Havana, entre outros.
O que disse a crítica: Pablo Villaça do site Cinema em Cena avaliou com 4 estrelas, ou seja, ótimo. Disse: “Escrito por Aïnouz, Felipe Bragança e Maurício Zacharias, ‘O Céu de Suely’ não deixa muitas promessas de felicidade para sua protagonista – e nem poderia. Em certo instante, Hermila diz que o dinheiro a ajudará a se manter enquanto ‘descobre o que fazer’. Infelizmente, o fato é que não há grandes probabilidades de que ela realmente descubra seu lugar no mundo: limitada por uma Sociedade que não lhe abre muitas alternativas, Hermila pode buscar seu céu e sua liberdade eternamente; para onde quer que vá, é mais do que provável que seu futuro seja tão opressor e insatisfatório quanto seu passado”.
Rodrigo Pereira do site Plano Crítico avaliou com 4,5 estrelas, ou seja, excelente. Escreveu: “Tornando a tênue linha entre realidade e ficção mais fina do que o comum, ‘O Céu de Suely’ é uma obra crua e retrata a realidade de uma considerável parcela da população brasileira com grande maestria. Com uma talentosa equipe em frente e atrás das câmeras, Aïnouz criou uma obra que deveria ter muito mais espaço midiático devido a sua grande qualidade, entretanto enriquece como poucas a já rica cultura brasileira, seja cinematográfica ou num aspecto geral”.
O que eu achei: Interessante o quanto de semelhança há entre o novo filme de Karim Aïnouz - “Motel Destino” (2024) – e “O Céu de Suely” de 2006. Em primeiro lugar, ambos utilizam o nordeste brasileiro como cenário, com as histórias se passando em pequenas cidades do Ceará, com uma ambientação que mescla aridez e uma certa melancolia, reforçando a atmosfera de isolamento e desejo de fuga de seus protagonistas que tentam escapar de suas realidades sufocantes em busca de uma vida melhor. Nos dois filmes temos personagens femininas similares: “O Céu de Suely” tem Hermila como protagonista, enquanto “Motel Destino” foca em Dayana, ambas mulheres jovens que enfrentam dificuldades econômicas e sociais e tomam decisões ousadas para tentar mudar suas vidas. O erotismo e o uso do corpo como ferramenta de autonomia também aparecem nos dois filmes mostrando relações afetivas e sexuais marcadas por grande intensidade emocional, alinhavadas pelo desejo, pela sensação de urgência e pela fragilidade dos personagens. Na parte estética, “Motel Destino” é mais radical, mas há semelhanças, seja no uso de cores quentes, seja na pegada sensorial que a luz imprime, enfatizando texturas e temperaturas que tornam a jornada dos personagens quase palpável para quem assiste. Parece que encontrei nessas duas obras um denominador comum para o trabalho de Aïnouz, um cearense por nascimento que aparentemente tem nesse perfil de filme algum tipo de “lugar de fala”, tratando de algo que lhe deve ser próximo. Eu, que já havia gostado muito de "A Vida Invisível" (2019), encontrei em “O Céu de Suely” outro exemplar de excelência na filmografia do diretor que se mostra um perito na representação de mulheres sofridas vivendo relações intensamente humanas, permeadas por desajustes e dificuldades. Terminei de ver pensando no quanto o cinema brasileiro tem de talentos para mostrar ao mundo. Atenção à atriz Hermila Guedes que nos convence da veracidade da trama, à trilha sonora com a versão brasileira, gravada por Diana na época da Jovem Guarda, da canção “Everything I Own” e da rápida aparição da atriz paraibana Marcélia Cartaxo, aquela que ganhou notoriedade no filme “A Hora da Estrela”. Gostei demais.