
Comentário: Yorgos Lanthimos (1973) é um cineasta, produtor e roteirista grego. Já assisti dele 6 filmes: as obras-primas "O Lagosta" (2015) e “O Sacrifício do Cervo Sagrado” (2017), os ótimos “Dente Canino” (2009) e "A Favorita" (2018) e os bons “Alpes” (2011) e “Tipos de Gentileza” (2024).
Desta vez vou conferir “Kinetta” (2005), considerado o primeiro filme do diretor. O título se refere ao local onde a história se passa, uma cidade litorânea situada no município de Mégara na Ática Ocidental, Grécia. Na trama, estamos em um hotel em época de baixa temporada. Nesse local uma camareira, um policial apaixonado por carros BMW e um funcionário de uma loja de fotografias se organizam para tentar encenar e fotografar brigas de casais.
Apesar de “Kinetta” ser considerado o primeiro filme de Lanthimos, antes dessa estreia, quando o cineasta ainda não trabalhava como realizador, um outro longa chamado “Meu Melhor Amigo” (2001) foi feito em colaboração com Lakis Lazopoulos. Cláudio Alves da Revista Magazine HD nos conta que “Infelizmente os realizadores não se entenderam muito bem e o fruto do seu trabalho foi uma tempestade de compromissos transigentes e ressentidos. De fato, tanta foi a infelicidade de Lanthimos com o produto final que, recentemente, ele chegou mesmo a dizer que não considera ‘Meu Melhor Amigo’ como sua obra. Claramente, há uma vaga desconexão entre esta comédia de 2001 e os restantes títulos na filmografia do cineasta grego. Contando a história de dois amigos emaranhados numa relação à base de piadas de mau gosto e brincadeiras perigosas, o filme é uma balbúrdia surreal cheia de sexo, (...) um devaneio frenético que se desenrola em alta-velocidade”. Com isso, “Kinetta” acaba sendo considerado o primeiro de sua filmografia.
Segundo Alves, “Depois dos desafogos e desapontamentos de ‘O Meu Melhor Amigo’, Yorgos Lanthimos demoraria quatro anos até se enveredar novamente pelo mundo dos longas-metragens. Quando o fez, a proeza foi a solo e o resultado é um filme que pode não ser uma obra-prima, mas é certamente uma obra do autor. Aliás, ‘Kinetta’ representa a primeira vez que Lanthimos explorou alguns dos temas principais da sua carreira.
Juntamente com ‘Dente Canino’ (2009) e ‘Alpes’ (2011), ‘Kinetta’ forma uma espécie de trilogia da alienação na Grécia contemporânea. Além disso, os três filmes lidam com questões de performance e atuação anti naturalista. Isso evidencia-se tanto no trabalho dos atores e na construção formal da obra, como na própria narrativa. Nesse sentido, ‘Kinetta’ afigura-se como uma estranha experiência de metacinema, um jogo de fingimento que quase recorda o teatro Brechtiano e seu artifício autorreflexivo”.
O que disse a crítica: A redação do site Universo Cinema considera “Kinetta” (2005) o pior filme da carreira do diretor mas ainda assim assinalaram pontos positivos. Disseram: “O primeiro longa-metragem de Yorgos Lanthimos é também aquele que esconde o espírito mais inocente e empreendedor de um realizador ambicioso e visionário. É um drama contaminado por alguns toques de suspense, profundamente ligado ao cinema grego e europeu do final dos anos 90. Há investigações e assassinatos envolvidos e um trio bizarro de protagonistas que tenta chegar ao fundo do mistério de forma desajeitada, para dizer o mínimo, recriando as cenas dos crimes de forma teatral e superando as fronteiras entre a realidade e a ficção em suas respectivas vidas pessoais. É uma estreia menos deslumbrante que os subsequentes ‘Dente Canino’ e ‘Alpes’, mas já esconde em si sensibilidade e temas caros ao autor, que de fato nunca falharão no seu cinema e se tornarão cada vez mais fortes e decisivos”.
João Miguel Fernandes do site Comunidade, Cultura e Arte gostou, apesar de também considerar o longa seu trabalho mais fraco. Escreveu: “Em ‘Kinetta’ começam a surgir os traços de desconstrução da lógica que o realizador explorou até os dias de hoje. O tom dramático com toques cômicos torna a mensagem por vezes algo confusa, embora sempre interessante. ‘Kinetta’ é, possivelmente, o trabalho mais fraco do realizador, mas ilustra claramente uma visão à frente do seu tempo e uma grande curiosidade sobre a imprevisibilidade das relações humanas e da sociedade estereotipada e previsível em que vivemos. Como seria trocar todas as lógicas racionais? Nomes, ações, estilos de vida?”.
O que eu achei: Considerado o primeiro filme de Yorgos Lanthimos, o filme mostra três amigos - um policial obcecado por BMWs, uma camareira de um hotel local e um funcionário de uma loja de fotografias - unindo forças para levar a cabo um estranho hobby: eles encenam cenas de brigas ou até de homicídios, sempre envolvendo um homem e uma mulher e filmam ou fotografam essas cenas. Para o policial é fácil ter acesso aos registros dos crimes locais, então ele acaba sendo o principal roteirista dessas ações, nas quais ele reveza o papel masculino com o funcionário da loja de fotografias. Ocorre que, intercalando-se com esse ritual metódico e nefasto, Lanthimos vai nos mostrando os desvios de personalidade desses três protagonistas. A camareira parece ter prazer em se machucar nessas cenas, enquanto o funcionário da loja de fotografias cuida dela. Já o policial, além de ter uma obsessão por BMWs, ele também tem um certo fetiche em conhecer mulheres, levar essas mulheres para tirar uma foto 3x4 na loja de fotografias do amigo e depois, levá-las para sua casa para que elas executem ações nas quais ele determina o roteiro. Ao final, ele “ficha” as moças num arquivo pessoal. Não é a toa que alguns críticos de cinema afirmam que nesse longa já podemos observar os traços de desconstrução da lógica que o realizador explora até os dias de hoje. De fato, além de desprovido de lógica, o resultado é algo bem experimental, oras filmado com a câmera estável, oras instável, oras em foco, oras sem foco. Acompanhar chega a ser enfadonho de tão metafórico que é. Até quem está altamente treinado no cinema alternativo vai ter que fazer algum esforço para chegar até o final. É um daqueles títulos indicados apenas para os fãs de carteirinha do grego do que para quem quer ter um primeiro contato. Veja apenas se for seu caso. Caso contrário, fuja para as montanhas.
Desta vez vou conferir “Kinetta” (2005), considerado o primeiro filme do diretor. O título se refere ao local onde a história se passa, uma cidade litorânea situada no município de Mégara na Ática Ocidental, Grécia. Na trama, estamos em um hotel em época de baixa temporada. Nesse local uma camareira, um policial apaixonado por carros BMW e um funcionário de uma loja de fotografias se organizam para tentar encenar e fotografar brigas de casais.
Apesar de “Kinetta” ser considerado o primeiro filme de Lanthimos, antes dessa estreia, quando o cineasta ainda não trabalhava como realizador, um outro longa chamado “Meu Melhor Amigo” (2001) foi feito em colaboração com Lakis Lazopoulos. Cláudio Alves da Revista Magazine HD nos conta que “Infelizmente os realizadores não se entenderam muito bem e o fruto do seu trabalho foi uma tempestade de compromissos transigentes e ressentidos. De fato, tanta foi a infelicidade de Lanthimos com o produto final que, recentemente, ele chegou mesmo a dizer que não considera ‘Meu Melhor Amigo’ como sua obra. Claramente, há uma vaga desconexão entre esta comédia de 2001 e os restantes títulos na filmografia do cineasta grego. Contando a história de dois amigos emaranhados numa relação à base de piadas de mau gosto e brincadeiras perigosas, o filme é uma balbúrdia surreal cheia de sexo, (...) um devaneio frenético que se desenrola em alta-velocidade”. Com isso, “Kinetta” acaba sendo considerado o primeiro de sua filmografia.
Segundo Alves, “Depois dos desafogos e desapontamentos de ‘O Meu Melhor Amigo’, Yorgos Lanthimos demoraria quatro anos até se enveredar novamente pelo mundo dos longas-metragens. Quando o fez, a proeza foi a solo e o resultado é um filme que pode não ser uma obra-prima, mas é certamente uma obra do autor. Aliás, ‘Kinetta’ representa a primeira vez que Lanthimos explorou alguns dos temas principais da sua carreira.
Juntamente com ‘Dente Canino’ (2009) e ‘Alpes’ (2011), ‘Kinetta’ forma uma espécie de trilogia da alienação na Grécia contemporânea. Além disso, os três filmes lidam com questões de performance e atuação anti naturalista. Isso evidencia-se tanto no trabalho dos atores e na construção formal da obra, como na própria narrativa. Nesse sentido, ‘Kinetta’ afigura-se como uma estranha experiência de metacinema, um jogo de fingimento que quase recorda o teatro Brechtiano e seu artifício autorreflexivo”.
O que disse a crítica: A redação do site Universo Cinema considera “Kinetta” (2005) o pior filme da carreira do diretor mas ainda assim assinalaram pontos positivos. Disseram: “O primeiro longa-metragem de Yorgos Lanthimos é também aquele que esconde o espírito mais inocente e empreendedor de um realizador ambicioso e visionário. É um drama contaminado por alguns toques de suspense, profundamente ligado ao cinema grego e europeu do final dos anos 90. Há investigações e assassinatos envolvidos e um trio bizarro de protagonistas que tenta chegar ao fundo do mistério de forma desajeitada, para dizer o mínimo, recriando as cenas dos crimes de forma teatral e superando as fronteiras entre a realidade e a ficção em suas respectivas vidas pessoais. É uma estreia menos deslumbrante que os subsequentes ‘Dente Canino’ e ‘Alpes’, mas já esconde em si sensibilidade e temas caros ao autor, que de fato nunca falharão no seu cinema e se tornarão cada vez mais fortes e decisivos”.
João Miguel Fernandes do site Comunidade, Cultura e Arte gostou, apesar de também considerar o longa seu trabalho mais fraco. Escreveu: “Em ‘Kinetta’ começam a surgir os traços de desconstrução da lógica que o realizador explorou até os dias de hoje. O tom dramático com toques cômicos torna a mensagem por vezes algo confusa, embora sempre interessante. ‘Kinetta’ é, possivelmente, o trabalho mais fraco do realizador, mas ilustra claramente uma visão à frente do seu tempo e uma grande curiosidade sobre a imprevisibilidade das relações humanas e da sociedade estereotipada e previsível em que vivemos. Como seria trocar todas as lógicas racionais? Nomes, ações, estilos de vida?”.
O que eu achei: Considerado o primeiro filme de Yorgos Lanthimos, o filme mostra três amigos - um policial obcecado por BMWs, uma camareira de um hotel local e um funcionário de uma loja de fotografias - unindo forças para levar a cabo um estranho hobby: eles encenam cenas de brigas ou até de homicídios, sempre envolvendo um homem e uma mulher e filmam ou fotografam essas cenas. Para o policial é fácil ter acesso aos registros dos crimes locais, então ele acaba sendo o principal roteirista dessas ações, nas quais ele reveza o papel masculino com o funcionário da loja de fotografias. Ocorre que, intercalando-se com esse ritual metódico e nefasto, Lanthimos vai nos mostrando os desvios de personalidade desses três protagonistas. A camareira parece ter prazer em se machucar nessas cenas, enquanto o funcionário da loja de fotografias cuida dela. Já o policial, além de ter uma obsessão por BMWs, ele também tem um certo fetiche em conhecer mulheres, levar essas mulheres para tirar uma foto 3x4 na loja de fotografias do amigo e depois, levá-las para sua casa para que elas executem ações nas quais ele determina o roteiro. Ao final, ele “ficha” as moças num arquivo pessoal. Não é a toa que alguns críticos de cinema afirmam que nesse longa já podemos observar os traços de desconstrução da lógica que o realizador explora até os dias de hoje. De fato, além de desprovido de lógica, o resultado é algo bem experimental, oras filmado com a câmera estável, oras instável, oras em foco, oras sem foco. Acompanhar chega a ser enfadonho de tão metafórico que é. Até quem está altamente treinado no cinema alternativo vai ter que fazer algum esforço para chegar até o final. É um daqueles títulos indicados apenas para os fãs de carteirinha do grego do que para quem quer ter um primeiro contato. Veja apenas se for seu caso. Caso contrário, fuja para as montanhas.