
Comentário: Segundo a Agência Estado, “Cerca de 16 mil pessoas passaram pelo Museu Nacional de Arte da Letônia entre os dias 21 e 28 de janeiro de 2025 apenas com um objetivo: ver de perto a estatueta do Globo de Ouro de melhor animação conquistada por ‘Flow’ em 6 de janeiro. Alguns esperaram uma hora na fila para chegar perto do troféu, sinal de que a febre ‘Flow’ está tomando conta do país.
A prefeitura de Riga, capital da Letônia, colaborou com o diretor Gints Zilbalodis para erguer uma estátua do gato preto sobre o letreiro da cidade, em frente do Monumento da Liberdade. Recentemente, uma arte urbana homenageando o bichano também foi pintada nas paredes de uma construção em Riga, algo que o diretor compartilhou com orgulho em seu perfil no Instagram. (...)
‘Flow’ (...) é um azarão. Produzido com um orçamento modesto de apenas US$ 3,6 milhões – o de ‘Divertida Mente 2’, por exemplo, foi de US$ 200 milhões -, o filme foi inteiramente criado no Blender, um software de computação gráfica totalmente gratuito.
A trama, criada por Zilbalodis em parceria com Matiss Kaza, acompanha o gato, um animal solitário que tem seu lar destruído por uma grande inundação e precisa encontrar um novo refúgio. Sem saber para onde ir, ele se esconde em um barco que começa a ser habitado por diversas outras espécies que precisam se entender apesar das diferenças. Ninguém nessa espécie de arca de Noé moderna tem fala. Mas todos têm muita personalidade.
A ideia do diretor era que o público enxergasse o mundo pelo olhar de seu protagonista, o que significa que os sons deveriam ser contidos e reais. E a solução encontrada pelo engenheiro de som Gurwal Coïc-Gallas foi levar um microfone para sua casa e colocá-lo em frente a Muit, sua gatinha. Os lêmures, as garças e os cães também são ‘dublados’ por animais reais das mesmas espécies.
A estrutura de ‘faça você mesmo’, aliada ao teor cativante da história, deu a ‘Flow’ o status de uma obra que nada contra a corrente, sobretudo por ter chegado tão forte às premiações americanas diante de uma realidade tão diferente daquela dos grandes estúdios.
‘O estúdio era relativamente pequeno, cabia tudo em uma sala’, contou Zilbalodis em entrevista ao site Blender.org. ‘Tínhamos entre 15 e 20 pessoas, mas normalmente havia apenas entre 3 e 5 pessoas trabalhando ao mesmo tempo’.
A sorte de ‘Flow’ mudou em 2022, quando a belga Take Five e a francesa Sacrebleu Productions entraram como coprodutoras, aprimorando os trabalhos de som e animação. ‘Expandir a equipe com diretores técnicos experientes, bem como animadores trabalhando em um processo bem estruturado, foi essencial para lidar com a complexidade exigida pelo filme’, conta Zilbalodis. ‘Foi uma coprodução verdadeiramente internacional’.
A estreia elogiada do filme na mostra Um Certo Olhar no Festival de Cannes de 2024 foi o ponto de partida para uma jornada estrelada. ‘Flow’ acumula prêmios do Festival Annecy, European Film Awards, National Board of Review, Annie Awards e associações de críticos de Nova York, Los Angeles e Boston (...). De lá para cá, tornou-se o filme mais visto da história da Letônia.
Para o diretor, o sucesso de um filme que começou sua trajetória de forma tão simples mostra que o público quer mais. ‘É louco e sem precedentes’, declarou ao podcast The Big Picture. ‘Isso mostra que há um apetite para diferentes tipos de filmes animados. Podemos ter estúdios menores assumindo riscos maiores e tentando coisas novas. Tenho certeza de que veremos mais filmes assim, porque nossa história mostra que é possível fazer sucesso’”.
A animação agora segue em direção ao Oscar em duas categorias: Melhor Animação e Melhor Filme Internacional. É a primeira vez que a Letônia tem um filme indicado ao Oscar.
O que disse a crítica: Luiz Santiago do site Plano Crítico avaliou com 5 estrelas, ou seja, obra-prima. Escreveu: “O roteiro faz a uma reflexão profunda sobre a dualidade da passagem das Eras: para algumas criaturas, a inundação representa uma oportunidade; enquanto para outras, é um desafio e uma ameaça. Essa coexistência de experiências chama a atenção para a necessidade de acompanhar as mudanças e se transformar… ou então encarar a extinção. A equipe técnica de ‘Flow’ demonstra um cuidado meticuloso ao explorar visual e tematicamente a ascensão e queda das civilizações e crenças (...), utilizando a água como metáfora para a transitoriedade (fluidez) da vida e das estruturas sociais. Com um desenho de som simples, mas muito funcional, o diretor constrói uma ambientação autêntica, e assim como a música, que abraça a atmosfera da obra intensificando a melancolia e a beleza presentes na jornada dos personagens, não descamba para o excesso”.
Natália Bocanera do site Coletivo Crítico também avaliou com 5 estrelas. Disse: “’Flow’ é uma maravilha navegante e espiritual que, tal como os personagens que flutuam por águas tão envolventes quanto perigosas, nos guia e nos deixa levar pela fluidez desse mundo, evocando sentimentos e sensações puras, causadas por situações instintivas e personagens que guardam a mais genuína inocência. Lágrimas, sorriso no rosto e melancolia nesse amor tão grande em meio a um belo e aterrorizante caos”.
O que eu achei: Universal é um termo que se aplica a “Flow”. A animação não tem falas, ouvimos apenas os sons emitidos pelos próprios animais, o que permite que a animação circule em qualquer lugar do mundo e possa ser vista por pessoas de qualquer idade, adulto ou criança, que todos vão entender o que se passa. Ao contrário das animações da Disney e de outros grandes estúdios, os bichos que aparecem em “Flow” não usam roupas e nem se comportam como humanos. Eles são o que são e, de uma forma geral, salvo uma ou outra cena, eles agem instintamente, fazendo o que seria esperado na vida real. O orçamento, também ao contrário dos grandes estúdios, é pequeno. Feito na Letônia, usaram basicamente um software de animação gratuito, criando animais um pouco menos realistas (os pelos deles, por exemplo, não aparecem molhados quando eles caem na água) que se movem em cima de uma paisagem mais próxima da realidade e cheia de detalhes que são um colírio para os olhos. O resultado é uma animação de aproximadamente uma hora e meia, com uma sonoplastia e trilha sonora meio hipnóticas, que te levam pra uma viagem imersiva difícil de desgrudar os olhos. Entretanto, acho que o que eu mais gostei, foi sentir um alento no coração de observar um mundo sem humanos. A hora que nenhum de nós estiver mais aqui será como em “Flow”, ocorrerá uma mudança de clima e uma recuperação total da natureza. Que assim seja.
A prefeitura de Riga, capital da Letônia, colaborou com o diretor Gints Zilbalodis para erguer uma estátua do gato preto sobre o letreiro da cidade, em frente do Monumento da Liberdade. Recentemente, uma arte urbana homenageando o bichano também foi pintada nas paredes de uma construção em Riga, algo que o diretor compartilhou com orgulho em seu perfil no Instagram. (...)
‘Flow’ (...) é um azarão. Produzido com um orçamento modesto de apenas US$ 3,6 milhões – o de ‘Divertida Mente 2’, por exemplo, foi de US$ 200 milhões -, o filme foi inteiramente criado no Blender, um software de computação gráfica totalmente gratuito.
A trama, criada por Zilbalodis em parceria com Matiss Kaza, acompanha o gato, um animal solitário que tem seu lar destruído por uma grande inundação e precisa encontrar um novo refúgio. Sem saber para onde ir, ele se esconde em um barco que começa a ser habitado por diversas outras espécies que precisam se entender apesar das diferenças. Ninguém nessa espécie de arca de Noé moderna tem fala. Mas todos têm muita personalidade.
A ideia do diretor era que o público enxergasse o mundo pelo olhar de seu protagonista, o que significa que os sons deveriam ser contidos e reais. E a solução encontrada pelo engenheiro de som Gurwal Coïc-Gallas foi levar um microfone para sua casa e colocá-lo em frente a Muit, sua gatinha. Os lêmures, as garças e os cães também são ‘dublados’ por animais reais das mesmas espécies.
A estrutura de ‘faça você mesmo’, aliada ao teor cativante da história, deu a ‘Flow’ o status de uma obra que nada contra a corrente, sobretudo por ter chegado tão forte às premiações americanas diante de uma realidade tão diferente daquela dos grandes estúdios.
‘O estúdio era relativamente pequeno, cabia tudo em uma sala’, contou Zilbalodis em entrevista ao site Blender.org. ‘Tínhamos entre 15 e 20 pessoas, mas normalmente havia apenas entre 3 e 5 pessoas trabalhando ao mesmo tempo’.
A sorte de ‘Flow’ mudou em 2022, quando a belga Take Five e a francesa Sacrebleu Productions entraram como coprodutoras, aprimorando os trabalhos de som e animação. ‘Expandir a equipe com diretores técnicos experientes, bem como animadores trabalhando em um processo bem estruturado, foi essencial para lidar com a complexidade exigida pelo filme’, conta Zilbalodis. ‘Foi uma coprodução verdadeiramente internacional’.
A estreia elogiada do filme na mostra Um Certo Olhar no Festival de Cannes de 2024 foi o ponto de partida para uma jornada estrelada. ‘Flow’ acumula prêmios do Festival Annecy, European Film Awards, National Board of Review, Annie Awards e associações de críticos de Nova York, Los Angeles e Boston (...). De lá para cá, tornou-se o filme mais visto da história da Letônia.
Para o diretor, o sucesso de um filme que começou sua trajetória de forma tão simples mostra que o público quer mais. ‘É louco e sem precedentes’, declarou ao podcast The Big Picture. ‘Isso mostra que há um apetite para diferentes tipos de filmes animados. Podemos ter estúdios menores assumindo riscos maiores e tentando coisas novas. Tenho certeza de que veremos mais filmes assim, porque nossa história mostra que é possível fazer sucesso’”.
A animação agora segue em direção ao Oscar em duas categorias: Melhor Animação e Melhor Filme Internacional. É a primeira vez que a Letônia tem um filme indicado ao Oscar.
O que disse a crítica: Luiz Santiago do site Plano Crítico avaliou com 5 estrelas, ou seja, obra-prima. Escreveu: “O roteiro faz a uma reflexão profunda sobre a dualidade da passagem das Eras: para algumas criaturas, a inundação representa uma oportunidade; enquanto para outras, é um desafio e uma ameaça. Essa coexistência de experiências chama a atenção para a necessidade de acompanhar as mudanças e se transformar… ou então encarar a extinção. A equipe técnica de ‘Flow’ demonstra um cuidado meticuloso ao explorar visual e tematicamente a ascensão e queda das civilizações e crenças (...), utilizando a água como metáfora para a transitoriedade (fluidez) da vida e das estruturas sociais. Com um desenho de som simples, mas muito funcional, o diretor constrói uma ambientação autêntica, e assim como a música, que abraça a atmosfera da obra intensificando a melancolia e a beleza presentes na jornada dos personagens, não descamba para o excesso”.
Natália Bocanera do site Coletivo Crítico também avaliou com 5 estrelas. Disse: “’Flow’ é uma maravilha navegante e espiritual que, tal como os personagens que flutuam por águas tão envolventes quanto perigosas, nos guia e nos deixa levar pela fluidez desse mundo, evocando sentimentos e sensações puras, causadas por situações instintivas e personagens que guardam a mais genuína inocência. Lágrimas, sorriso no rosto e melancolia nesse amor tão grande em meio a um belo e aterrorizante caos”.
O que eu achei: Universal é um termo que se aplica a “Flow”. A animação não tem falas, ouvimos apenas os sons emitidos pelos próprios animais, o que permite que a animação circule em qualquer lugar do mundo e possa ser vista por pessoas de qualquer idade, adulto ou criança, que todos vão entender o que se passa. Ao contrário das animações da Disney e de outros grandes estúdios, os bichos que aparecem em “Flow” não usam roupas e nem se comportam como humanos. Eles são o que são e, de uma forma geral, salvo uma ou outra cena, eles agem instintamente, fazendo o que seria esperado na vida real. O orçamento, também ao contrário dos grandes estúdios, é pequeno. Feito na Letônia, usaram basicamente um software de animação gratuito, criando animais um pouco menos realistas (os pelos deles, por exemplo, não aparecem molhados quando eles caem na água) que se movem em cima de uma paisagem mais próxima da realidade e cheia de detalhes que são um colírio para os olhos. O resultado é uma animação de aproximadamente uma hora e meia, com uma sonoplastia e trilha sonora meio hipnóticas, que te levam pra uma viagem imersiva difícil de desgrudar os olhos. Entretanto, acho que o que eu mais gostei, foi sentir um alento no coração de observar um mundo sem humanos. A hora que nenhum de nós estiver mais aqui será como em “Flow”, ocorrerá uma mudança de clima e uma recuperação total da natureza. Que assim seja.