
Comentário: Ernst Lubitsch (1892-1947) nasceu em Berlim, Alemanha. Era diretor e ator e foi conhecido pelo seu trabalho em “Ser ou Não Ser” (1942), “A Loja da Esquina” (1940) e “O Diabo Disse Não” (1943). Morreu em 1947 em Hollywood, Los Angeles, Califórnia, nos EUA. Assisti dele apenas o ótimo “Ser ou Não Ser”.
O filme é baseado na opereta “La Poupée” (A Boneca) de Edmond Audran de 1896, mas recebeu influencias também do balé “Coppélia de Léo Delibes” (1870) e do conto de E. T. A. Hoffmann "Der Sandmann" (O Homem de Areia) de 1816.
Quando dirigiu "A Boneca do Amor", em 1919, o mestre do cinema alemão Ernst Lubitsch já era um "veterano" diretor, com 27 anos e 30 filmes rodados. "A Boneca do Amor" tem muitos traços da comédia sofisticada que projetou o diretor. Resvalando no nonsense, conta a história de Lancelot que, por ter medo de mulheres decide enganar o tio que quer que ele se case, adquirindo uma boneca mecânica realista.
O filme contém uma característica pouco vista em películas do Expressionismo Alemão. Trata-se de uma comédia, com todos os maneirismos desse movimento. Estão lá as maquiagens carregadas e a temática sobrenatural. Destaca-se o cenário: logo de cara, os personagens são colocados dentro de uma maquete. Ao assumir a fantasia, a narrativa converte a mentira em verdade e propõe uma discussão que vai muito além do enredo sobre o jovem que compra uma boneca para fingir ser sua noiva.
Segundo A. C. Gomes de Mattos do site Histórias do Cinema, “Lubitsch considerava ‘A Boneca do Amor’ um de seus filmes mais imaginativos. Na cena de abertura, ele próprio aparecia, montando a miniatura do cenário, onde a ação se desenrola e, no transcorrer desta, ele usava toda sorte de truques de câmera, tela dividida, sobreimpressões, fotografia acelerada, múltipla exposição (havia uma tomada com doze imagens de bocas num só quadro) e cenografia estilizada, para extrair efeitos cômicos. A certa altura, Lancelot quebra a quarta parede, para se dirigir à plateia, tal como Maurice Chevalier faria nas futuras operetas do cineasta”.
O que disse a crítica: Raphael Vidigal do site Esquina Musical gostou. Disse que o filme “encontra soluções impagáveis, a exemplo dos cabelos do pai que, subitamente, tornam-se brancos para explicar a sua mudança de espírito. A fuga do ajudante é outro momento delicioso. Tudo o que aqui parece verdadeiro, na verdade é falso, e vice-versa, em especial a protagonista, uma precursora da boneca inflável, numa época em que ser ‘misógino, solteirão ou viúvo’ servia de desculpa para adquirir uma dessas. Até a hipocrisia cristã ganha suas agulhadas. O resultado é formidável”.
A. C. Gomes de Mattos do site Histórias do Cinema também foi elogioso. Disse que “Entre os momentos mais engraçados, destacam-se as cenas entre o tímido Lancelot e as mulheres que o perseguem, (seja a turba de pretendentes, seja o exército de bonecas mecânicas), causando-lhe um sentimento de pavor ou ainda todas as cenas com a ‘boneca’, interpretada por Ossi Oswalda, assumindo brilhantemente a identidade de autômato e deliciosa com a sua dança mecânica sincopada”.
O que eu achei: Assim como as críticas que eu li, eu também gostei muito do filme. Ele dura pouco mais de uma hora para mostrar um rapaz (Hermann Thimig), que tem medo das mulheres, mas precisa se casar por pressão do seu tio. Então um padre dá uma ideia para ele: procurar um construtor de bonecas famoso na cidade e encomendar uma que, de tão perfeita, fatalmente enganará a todos. A premissa é surreal e os cenários mais ainda. Tudo se passa numa linda maquete em miniatura: a cidade, os personagens, a boneca... O filme é mudo, é de 1919, os atores são típicos exemplares da época com suas caras e bocas, parece de fato que estamos num mundo de brincadeira onde os elementos são escancaradamente falsos nos transportando para um estado de espírito quase infantil, não fosse o tema adulto abordado. Se o cinema já é por si uma representação, aqui temos a representação da representação, com direito a uma aparição rápida do diretor Ernst Lubitsch logo no começo do filme, onde ele aparece montando a maquete onde a história se dará. É considerado um exemplar do Expressionismo Alemão, apesar de ser uma comédia. Conta com uma boneca no lugar de um monstro e possui as maquiagens carregadas e a temática sobrenatural. O resultado é uma graça! É um daqueles filmes que acaba e você está leve e sorridente, como se tivesse acabado de brincar com uma criança.