
Comentário: Jacques Audiard (1952) é um realizador, argumentista e montador francês. Ele dirigiu em torno de nove filmes e foi várias vezes premiado pelos Prêmios César, Bafta e Festival de Veneza. Assisti dele o ótimo "O Profeta" (2009) e o bom "Dheepan - O Refúgio" (2015). Desta vez vou conferir “Emilia Pérez.
Segundo o site Termômetro do Oscar, o musical foi inscrito no Oscar como roteiro adaptado, apesar de inicialmente ter sido divulgado como um roteiro original. Segundo eles, “a mudança decorre do fato de que Audiard desenvolveu o roteiro a partir do que foi originalmente concebido como um libreto de ópera em quatro atos. O personagem-título foi vagamente inspirado em um capítulo do romance de 2018 de Boris Razon, ‘Écoute’. (...) Inicialmente, a equipe criativa do filme e os estrategistas de premiação consideraram enviá-lo como um roteiro original devido à distância da história do material de origem. A personagem do romance, que inspirou Emilia, era menor de idade e não se chama Emilia. O filme também apresenta 16 músicas originais”.
A trama é centrada em Manitas (Karla Sofía Gascón), um notório líder de cartel que busca o trabalho jurídico de Rita (Zoe Saldaña) para fingir sua própria morte. Para isso ele quer assumir seu verdadeiro eu cuja identidade de gênero é feminina.
Cesar Soto do site G1 nos conta que “’Emilia Pérez’ surgiu para o mundo após seu lançamento no Festival de Cannes, em maio de 2024. Os elogios após a primeira exibição contemplavam tanto as atuações – em especial a de Gascón, como uma traficante mexicana trans que passa por uma cirurgia de redesignação de gênero – quanto a direção de Audiard. (...)
Ainda não se sabia, mas se tornar o maior vencedor do Globo de Ouro 2025 seria o apogeu para ‘Emilia Pérez’. Com quatro troféus, entre eles o de Melhor Comédia ou Musical e de Melhor Filme em Língua Não Inglesa, o francês se gabaritava como um dos grandes prováveis nomes para o Oscar, cujos indicados seriam anunciados poucas semanas depois. Mal sabiam que tanta vitória atrairia ainda mais os olhares do mundo - e de pessoas que discordavam de sua abordagem.
O Globo de Ouro foi o estopim para que as críticas ao filme, mais concentradas no público mexicano, ganhassem o resto do planeta. Em especial, é verdade, graças aos sempre extremamente online brasileiros. Pouco depois da premiação, as redes sociais foram tomadas por reclamações contra o filme. Algumas justas, outras nem tanto. As maiores delas reclamavam de como a transição de gênero era tratada e de uma falta de cuidado em geral com o México – da falta de atores do país no elenco, com traduções incorretas e estereótipos.
A animosidade contra o filme era tamanha que muita gente se surpreendeu quando foi anunciado que Gascón e que Audiard viriam ao Brasil para promovê-lo. Na passagem pelo país, a atriz em um primeiro momento aproveitou uma entrevista ao G1 para pedir ajuda a Fernanda Torres contra os comentários cheios de ódio que recebia nas redes sociais – e recebeu o apoio da brasileira.
O anúncio dos indicados da Academia americana consagrou então o filme como o mais indicado do ano - mas a alegria durou pouco. Pouco depois, outros veículos brasileiros publicaram textos nos quais a espanhola acusava ‘pessoas que trabalham no ambiente’ de Torres de falar mal de sua atuação e de ‘Emilia Pérez’. A repercussão foi tão grande que chegou a Hollywood e muita gente discutia se isso não podia fazer com que ela perdesse sua indicação ao Oscar. Ela se retratou, mas perdeu a simpatia que havia conquistado. Era apenas o começo.
Quando parecia que Gascón talvez conseguisse se livrar do problema que ela mesma havia causado ao dar uma explicação meio sem sentido para as acusações sem prova que fizera contra a concorrente, um novo escândalo. Uma jornalista do Canadá, Sarah Hagi, encontrou e divulgou tuítes nem tão antigos da atriz, no qual fazia comentários racistas e xenofóbicos contra muçulmanos e até contra George Floyd – nem a diversidade do Oscar 2021 foi poupada por ela.
Muitos especialistas do entretenimento americano passaram a dizer que as chances da espanhola, que já não eram grandes, tinham evaporado de vez. Mais do que isso, alguns já nem o viam mais como o favorito na categoria de Filme Internacional (...). Mas tudo que é ruim pode piorar.
De alguma forma, Gascón piorou a situação em suas diversas tentativas de pedir desculpa. Além de não coordenar os esforços com a Netflix, que a essa altura já tinha investido milhões de dólares na campanha, a atriz nunca assumiu totalmente a culpa. Os pedidos foram um passo-a-passo do básico do que não fazer ao se desculpar por um vacilo público. Parafraseando, teve de ‘desculpa a quem se sentiu ofendido’ a ‘tenho até amigos que são’ e ‘estão querendo me derrubar’. Enfim, um horror. Até entrevista meio descontrolada para a CNN a moça deu. Nada ajudou. Tanto que revistas americanas noticiaram que a Netflix largara de vez a mão da atriz e não pagaria mais passagens e hospedagens para que ela participasse de eventos de divulgação.
As suspeitas de um afastamento foram confirmadas (...) quando o diretor do filme fez duras críticas a sua protagonista em entrevista ao site Deadline. (...) Nas redes sociais, declarações tão fortes não foram muito bem recebidas. Até entre brasileiros, havia quem acusasse o cineasta (um homem branco, cisgênero e francês) de usar uma mulher trans como bode expiatório. Em especial, muita gente acusa Audiard de ter um teto de vidro. Mais do que as críticas às suas escolhas no filme, dias antes ele havia dito que ‘o espanhol é a língua de países modestos, de países em desenvolvimento, dos pobres e dos imigrantes’.
A novela se estendeu tanto, com capítulos tão imprevisíveis, que é possível debater se não há uma certa fadiga no público. Resta saber se isso seria bom ou ruim para as exibições do filme no país.
Afinal, talvez ainda exista um bom número de pessoas que quer apenas confirmar seu já existente ódio pela história e compartilhar o sentimento em uma sessão cheia, em uma catarse coletiva.
Uma pena. Apesar dos pesares, ‘Emilia Pérez’ é um bom filme. Não é ótimo, não a ponto desse delírio coletivo da Academia americana, mas merecia mais de seus autores”.
O filme ganhou diversos prêmios até o momento. No Globo de Ouro venceu como Melhor Filme de Comédia ou Musical, Melhor Atriz Coadjuvante (Zoe Saldaña), Melhor Canção Original em Filme e Melhor Filme em Língua Estrangeira, além de receberem uma honraria de Melhor Atriz em Conjunto para seu elenco de protagonistas femininas (Karla Sofía Gascón, Zoë Saldaña, Selena Gomez e Adriana Paz). Ganharam também três Critics' Choice Awards nas categorias Melhor Atriz Coadjuvante (Zoë Saldaña), Melhor Canção (El Mal) e Melhor Filme Estrangeiro.
Agora ele segue em direção ao Oscar em 12 categorias com 13 indicações: Melhor Filme, Melhor Direção (Jacques Audiard), Melhor Atriz (Karla Sofía Gascón), Melhor Atriz Coadjuvante (Zoe Saldaña), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Filme Internacional (França), Melhor Maquiagem, Melhor Fotografia, Melhor Edição, Melhor Canção (concorre com 2 canções), Melhor Trilha Sonora e Melhor Som.
Segundo o site Termômetro do Oscar, o musical foi inscrito no Oscar como roteiro adaptado, apesar de inicialmente ter sido divulgado como um roteiro original. Segundo eles, “a mudança decorre do fato de que Audiard desenvolveu o roteiro a partir do que foi originalmente concebido como um libreto de ópera em quatro atos. O personagem-título foi vagamente inspirado em um capítulo do romance de 2018 de Boris Razon, ‘Écoute’. (...) Inicialmente, a equipe criativa do filme e os estrategistas de premiação consideraram enviá-lo como um roteiro original devido à distância da história do material de origem. A personagem do romance, que inspirou Emilia, era menor de idade e não se chama Emilia. O filme também apresenta 16 músicas originais”.
A trama é centrada em Manitas (Karla Sofía Gascón), um notório líder de cartel que busca o trabalho jurídico de Rita (Zoe Saldaña) para fingir sua própria morte. Para isso ele quer assumir seu verdadeiro eu cuja identidade de gênero é feminina.
Cesar Soto do site G1 nos conta que “’Emilia Pérez’ surgiu para o mundo após seu lançamento no Festival de Cannes, em maio de 2024. Os elogios após a primeira exibição contemplavam tanto as atuações – em especial a de Gascón, como uma traficante mexicana trans que passa por uma cirurgia de redesignação de gênero – quanto a direção de Audiard. (...)
Ainda não se sabia, mas se tornar o maior vencedor do Globo de Ouro 2025 seria o apogeu para ‘Emilia Pérez’. Com quatro troféus, entre eles o de Melhor Comédia ou Musical e de Melhor Filme em Língua Não Inglesa, o francês se gabaritava como um dos grandes prováveis nomes para o Oscar, cujos indicados seriam anunciados poucas semanas depois. Mal sabiam que tanta vitória atrairia ainda mais os olhares do mundo - e de pessoas que discordavam de sua abordagem.
O Globo de Ouro foi o estopim para que as críticas ao filme, mais concentradas no público mexicano, ganhassem o resto do planeta. Em especial, é verdade, graças aos sempre extremamente online brasileiros. Pouco depois da premiação, as redes sociais foram tomadas por reclamações contra o filme. Algumas justas, outras nem tanto. As maiores delas reclamavam de como a transição de gênero era tratada e de uma falta de cuidado em geral com o México – da falta de atores do país no elenco, com traduções incorretas e estereótipos.
A animosidade contra o filme era tamanha que muita gente se surpreendeu quando foi anunciado que Gascón e que Audiard viriam ao Brasil para promovê-lo. Na passagem pelo país, a atriz em um primeiro momento aproveitou uma entrevista ao G1 para pedir ajuda a Fernanda Torres contra os comentários cheios de ódio que recebia nas redes sociais – e recebeu o apoio da brasileira.
O anúncio dos indicados da Academia americana consagrou então o filme como o mais indicado do ano - mas a alegria durou pouco. Pouco depois, outros veículos brasileiros publicaram textos nos quais a espanhola acusava ‘pessoas que trabalham no ambiente’ de Torres de falar mal de sua atuação e de ‘Emilia Pérez’. A repercussão foi tão grande que chegou a Hollywood e muita gente discutia se isso não podia fazer com que ela perdesse sua indicação ao Oscar. Ela se retratou, mas perdeu a simpatia que havia conquistado. Era apenas o começo.
Quando parecia que Gascón talvez conseguisse se livrar do problema que ela mesma havia causado ao dar uma explicação meio sem sentido para as acusações sem prova que fizera contra a concorrente, um novo escândalo. Uma jornalista do Canadá, Sarah Hagi, encontrou e divulgou tuítes nem tão antigos da atriz, no qual fazia comentários racistas e xenofóbicos contra muçulmanos e até contra George Floyd – nem a diversidade do Oscar 2021 foi poupada por ela.
Muitos especialistas do entretenimento americano passaram a dizer que as chances da espanhola, que já não eram grandes, tinham evaporado de vez. Mais do que isso, alguns já nem o viam mais como o favorito na categoria de Filme Internacional (...). Mas tudo que é ruim pode piorar.
De alguma forma, Gascón piorou a situação em suas diversas tentativas de pedir desculpa. Além de não coordenar os esforços com a Netflix, que a essa altura já tinha investido milhões de dólares na campanha, a atriz nunca assumiu totalmente a culpa. Os pedidos foram um passo-a-passo do básico do que não fazer ao se desculpar por um vacilo público. Parafraseando, teve de ‘desculpa a quem se sentiu ofendido’ a ‘tenho até amigos que são’ e ‘estão querendo me derrubar’. Enfim, um horror. Até entrevista meio descontrolada para a CNN a moça deu. Nada ajudou. Tanto que revistas americanas noticiaram que a Netflix largara de vez a mão da atriz e não pagaria mais passagens e hospedagens para que ela participasse de eventos de divulgação.
As suspeitas de um afastamento foram confirmadas (...) quando o diretor do filme fez duras críticas a sua protagonista em entrevista ao site Deadline. (...) Nas redes sociais, declarações tão fortes não foram muito bem recebidas. Até entre brasileiros, havia quem acusasse o cineasta (um homem branco, cisgênero e francês) de usar uma mulher trans como bode expiatório. Em especial, muita gente acusa Audiard de ter um teto de vidro. Mais do que as críticas às suas escolhas no filme, dias antes ele havia dito que ‘o espanhol é a língua de países modestos, de países em desenvolvimento, dos pobres e dos imigrantes’.
A novela se estendeu tanto, com capítulos tão imprevisíveis, que é possível debater se não há uma certa fadiga no público. Resta saber se isso seria bom ou ruim para as exibições do filme no país.
Afinal, talvez ainda exista um bom número de pessoas que quer apenas confirmar seu já existente ódio pela história e compartilhar o sentimento em uma sessão cheia, em uma catarse coletiva.
Uma pena. Apesar dos pesares, ‘Emilia Pérez’ é um bom filme. Não é ótimo, não a ponto desse delírio coletivo da Academia americana, mas merecia mais de seus autores”.
O filme ganhou diversos prêmios até o momento. No Globo de Ouro venceu como Melhor Filme de Comédia ou Musical, Melhor Atriz Coadjuvante (Zoe Saldaña), Melhor Canção Original em Filme e Melhor Filme em Língua Estrangeira, além de receberem uma honraria de Melhor Atriz em Conjunto para seu elenco de protagonistas femininas (Karla Sofía Gascón, Zoë Saldaña, Selena Gomez e Adriana Paz). Ganharam também três Critics' Choice Awards nas categorias Melhor Atriz Coadjuvante (Zoë Saldaña), Melhor Canção (El Mal) e Melhor Filme Estrangeiro.
Agora ele segue em direção ao Oscar em 12 categorias com 13 indicações: Melhor Filme, Melhor Direção (Jacques Audiard), Melhor Atriz (Karla Sofía Gascón), Melhor Atriz Coadjuvante (Zoe Saldaña), Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Filme Internacional (França), Melhor Maquiagem, Melhor Fotografia, Melhor Edição, Melhor Canção (concorre com 2 canções), Melhor Trilha Sonora e Melhor Som.
O que disse a crítica: Mateus Mognon do site Tecmundo detestou. Disse: "Mesmo deixando as polêmicas de lado, 'Emilia Pérez' insulta a inteligência do espectador e seus ouvidos. Com boas ideias mal executadas, o longa mistura cantorias desnecessárias com estereótipos, criando uma aberração cinematográfica feita sob medida para agradar gringos que votam no Oscar. O filme aborda temas importantes como representatividade e questões sociais, mas de forma tão rasa que acaba prejudicando as causas que tenta levantar. No fim das contas, só vale a pena assistir o longa-metragem em duas situações: para rir ou para reclamar com propriedade".
Caio Coletti do site Omelete avaliou com 3 estrelas, ou seja, bom. Escreveu: "Por mais que Emilia Perez, a personagem, não tenha existido de verdade, a gana de Audiard em abarcar toda a sua vida, todo a sua jornada, muita vezes transforma o filme em uma biopic (ainda que ficcional) protocolar. 'Emilia Perez', o filme, sofre da mesma falta de definição dramática de um 'Johnny & June', ou de um 'Justin' - ao invés de um arco dramático, ele tem uma sucessão de acontecimentos dramáticos que não se juntam em um todo satisfatório. Eis aqui a história de uma vida, sim, mas o que ela tem como dizer, a título de narrativa? Audiard nunca realmente encontra essa resposta".
Caio Coletti do site Omelete avaliou com 3 estrelas, ou seja, bom. Escreveu: "Por mais que Emilia Perez, a personagem, não tenha existido de verdade, a gana de Audiard em abarcar toda a sua vida, todo a sua jornada, muita vezes transforma o filme em uma biopic (ainda que ficcional) protocolar. 'Emilia Perez', o filme, sofre da mesma falta de definição dramática de um 'Johnny & June', ou de um 'Justin' - ao invés de um arco dramático, ele tem uma sucessão de acontecimentos dramáticos que não se juntam em um todo satisfatório. Eis aqui a história de uma vida, sim, mas o que ela tem como dizer, a título de narrativa? Audiard nunca realmente encontra essa resposta".
O que eu achei: Complicado assistir um filme com a cabeça já tão cheia de críticas negativas. Foi assim que eu vi o filme ontem, com a atenção dividida entre acompanhar a trama e achar os inúmeros defeitos citados pela crítica e pelo público de uma maneira geral. O filme em si tem uma premissa bastante interessante: ele vai contar a história de um chefe de cartel mexicano chamado Manitas que vai precisar desaparecer e, para isso, ele tem uma grande ideia: simular sua própria morte e assumir seu verdadeiro eu cuja identidade de gênero é feminina. Com isso ele desapareceria de vez do planeta e passaria a viver como mulher numa nova vida longe da esposa e dos filhos. Um argumento como esse tinha tudo pra dar certo, só que não. A coisa já começa a degringolar quando você observa a forma como o México foi retratado. Esse aspecto pode até passar despercebido por alguém de outra nacionalidade como nós, mas saber que as falas em espanhol contém inúmeros erros linguísticos já coloca a seriedade do filme em questão. A equipe que fez o filme, em especial o diretor, não se deu ao trabalho de contratar um mexicano para ver se aquele jeito de falar, as expressões usadas, a forma de falar, o sotaque, eram realmente aqueles. O resultado nesse quesito foi desastroso. Seria como a gente ver um filme que se passa no Brasil falado em portunhol. Tantos bons atores e atrizes mexicanos dando sopa no mercado e apenas uma mexicana é contratada: Adriana Paz. Do quarteto de atrizes que compõem o núcleo central do filme, as outras três são uma espanhola (Karla Sofía Gascón) e duas americanas (Zoë Saldaña e Selena Gomez). Por quê? Outro problema sério é a representação da pessoa trans. Apesar de terem tido a boa ideia de contratar uma atriz trans para fazer o papel principal, a forma como ele aborda a transição de gênero é grotesca. Eu não faço parte da comunidade LGBTQIA+, mas não é necessário muita inteligência para saber que há muito mais subjetividade na identificação de uma pessoa com outro gênero do que simplesmente alterar seu corpo. E o filme, infelizmente, retrata essa transição da forma mais tosca que se poderia imaginar. Há uma cena desastrosa que mostra a advogada Rita, contratada pelo Manitas, indo até um centro cirúrgico comprar esses procedimentos como quem vai à feira comprar bananas, com os médicos e enfermeiros gritando vaginoplastia, mamoplastia, rinoplastia, laringoplastia, condrolaringoplastia e a Rita gritando sim, sim, sim. Não podia ser pior. E daí, quando finalmente Manitas se transforma em Emilia, aquele estereotipo de macho bruto, violento, agressivo vira uma mulher doce, sensível, amável, bela, recatada e do lar numa visão bem maniqueísta, típica das piores novelas de tv. O que explica esse filme ter recebido tantos prêmios e agora concorrer à 13 estatuetas do Oscar é um mistério. Aparentemente isso é fruto de um excelente trabalho de marketing encabeçado pela Netflix, que distribui Emilia Pérez nos EUA e é responsável pela campanha ao Oscar. O trabalho foi tão bem feito que acabou reduzindo o senso crítico de festivais importantes como Cannes e Critics' Choice Awards. Agora que os mexicanos e o público LGBTQIA+ apontaram com clareza as falhas imperdoáveis da película, o Oscar deve ficar mais atento, assim espero. Terminei de ver me perguntando se o filme tem algo de bom além da boa premissa desperdiçada e creio que Zoe Saldaña, a atriz que interpreta a advogada Rita e concorre ao Oscar de Melhor Coadjuvante. Mas creio que é só.