23.2.25

“A Verdadeira Dor” - Jesse Eisenberg (EUA/Polônia, 2024)

Sinopse:
David (Jesse Eisenberg), um pai reservado e pragmático, e Benji (Kieran Culkin), um excêntrico e boêmio são primos. Apesar deles não se darem bem, eles se reúnem para uma excursão pela Polônia para homenagear sua amada avó. A aventura toma um rumo diferente quando as antigas tensões deles ressurgem contra o pano de fundo de sua história familiar.
Comentário: Jesse Eisenberg (1983) é um ator, dramaturgo e escritor americano. Indicado ao Oscar pela atuação como Mark Zuckerberg no filme “A Rede Social” (2010), também estrelou “A Lula e a Baleia” (2005), “Zumbilândia” (2009), “Truque de Mestre” (2013) e “Café Society” (2016), entre outros. Seu primeiro longa-metragem como diretor e roteirista foi “Quando Você Terminar de Salvar o Mundo” (2022). “A Verdadeira Dor” (2024) é seu segundo filme como diretor.
A trama gira em torno de David (Eisenberg) e Benji (Culkin), dois primos com personalidades completamente diferentes e incompatíveis que se juntam para uma viagem pela Polônia para homenagear sua amada avó. A aventura sofre uma reviravolta quando antigas tensões dessa estranha dupla ressurgem, tendo como pano de fundo a história de sua família.
Angelo Cordeiro da Revista Rolling Stone nos conta que “Embora a premissa pareça se apoiar em uma busca por identidade familiar e ressignificação de raízes históricas, é a relação íntima e conflituosa entre os dois coprotagonistas que realmente ocupa o centro da narrativa, transformando ‘A Verdadeira Dor’ em uma jornada sobre dor, empatia e os pequenos gestos que constroem a nossa humanidade.
A história, que poderia facilmente se perder em uma exploração mais técnica e historiográfica dos horrores do Holocausto e das origens judaicas dos personagens, nunca parece forçada ou excessivamente dramática. A Polônia e os memorialistas do Holocausto servem mais como pano de fundo, uma forma de contextualizar os conflitos internos e as tensões entre David e Benji, que são profundamente distintos na forma como lidam com suas emoções. Enquanto David é contido e introspectivo, Benji é expansivo, caótico e vulnerável, mas a beleza de ‘A Verdadeira Dor’ está em como essa dualidade entre os dois é tratada de maneira honesta e sem julgamentos.
Apesar da simplicidade da trama, o longa se destaca justamente por não tentar dar respostas fáceis sobre os conflitos entre os primos ou sobre a forma como eles lidam com a dor e a perda. Em vez disso, ‘A Verdadeira Dor’ se concentra em momentos de proximidade e revelação emocional genuína. Esses gestos pequenos e quase imperceptíveis são os momentos que tornam o filme tocante, lembrando o espectador de que, na vida real, as conexões humanas mais profundas não precisam ser forçadas ou grandiosas para serem significativas.
É nesse ponto que a química entre Eisenberg e Culkin se torna o principal trunfo da história. A interação entre seus personagens é alimentada pela naturalidade com que os atores conseguem mostrar as vulnerabilidades e os conflitos de seus personagens. A relação deles é tanto um reflexo de opostos – o controle contra o descontrole – quanto uma exploração das muitas maneiras de se lidar com a dor. Culkin, com sua performance irrepreensível, rouba a cena com um Benji emocionalmente instável, mas carismático, enquanto Eisenberg, mais reservado, serve como um contraponto perfeito para a energia de seu primo.
Na direção, Eisenberg é discreto e remete aos trabalhos de Woody Allen, sabendo utilizar o silêncio e os momentos de pausa de maneira eficaz. A montagem permite que as emoções dos personagens se desenrolem de maneira lenta, mas palpável. O filme é uma exploração silenciosa, mas intensa, do que significa carregar o peso das emoções não ditas, da dor que se acumula sem ser compartilhada, e do aprendizado gradual sobre como se conectar com o outro. O uso sutil de detalhes visuais e gestos simples, como a troca de olhares ou as diferenças nas roupas dos personagens, reforça essa ideia de que a verdadeira dor está nas entrelinhas, no que não é dito, mas vivido”.
O filme recebeu prêmios no Palm Springs, Globo de Ouro e Sundance e agora segue em direção ao Oscar concorrendo nas categorias de Melhor Roteiro Original (para Eisenberg, que, além de dirigir, também roteirizou e produziu o filme) e Melhor Ator Coadjuvante (Kieran Culkin).
O que disse a crítica: Alexandre Cunha da Revista O Grito! avaliou com 3 estrelas, ou seja, bom. Escreveu: “Interessante retrato da relação familiar assombrada pelas cicatrizes do genocídio dos judeus, ‘A Verdadeira Dor’ me envolveu até a segunda página, por assim dizer. Beneficiado pela robusta atuação de Kieran Culkin, o longa, infelizmente, se encolhe ao decorrer da projeção, diante de diálogos e acontecimentos insignificantes que acreditam dizer algo maior, bem maior do que realmente dizem”.
André Zuliani do site Omelete avaliou com 4 estrelas, ou seja, ótimo. Disse: “Com ‘A Verdadeira Dor’, Jesse Eisenberg demonstra grande habilidade em equilibrar seu humor sarcástico com delicadeza necessária em um filme cheio de sentimento, no qual nenhuma emoção é imerecida. Mas é Kieran Culkin, como um verdadeiro craque do jogo, que coloca luz nas questões mais profundas do filme com uma atuação digna de Oscar. No fim, o longa é uma amostra de que seus astros estão prontos para buscar um lugar no panteão dos principais nomes de Hollywood na atualidade”.
O que eu achei: Lembro bem de Jesse Eisenberg interpretando Mark Zuckerberg no filme “A Rede Social” (2010) ou mesmo em algum papel num filme do Woody Allen, mas como diretor eu nunca tinha visto nada dele. Li que este é apenas seu segundo filme, ele dirigiu e escreveu o roteiro, mas ele também aparece como ator na pele de David que, junto com seu primo Benji (Kieran Culkin), fará uma viagem de turismo até a Polônia, terra natal de sua avó, uma sobrevivente do Holocausto já falecida. Ocorre que David tem uma personalidade e Benji outra completamente diferente. Enquanto David é aquele cara calado, mais retraído, casado, pai de família; Benji é um solteiro bem mais espontâneo e despachado, que fala o que lhe vem à cabeça, fazendo amizades com facilidade mas também sendo um tanto crítico, agressivo e desagradável em alguns momentos. Uma coisa muito interessante de se observar é que o título original do filme “A Real Pain” tem um significado duplo: ao mesmo tempo que pode ser traduzido literalmente como “A Verdadeira Dor”, essa expressão também serve para classificar pessoas irritantes: “a real pain in the neck” ou mesmo “a real pain in the ass”. Seria o equivalente no Brasil a “um cara pé no saco”! Que é exatamente o que Benji é. Então essa tradução literal - “A Verdadeira Dor” - que optaram para nominar o filme no Brasil, me parece ter sido mais em respeito ao fato do filme ter como pano de fundo o Holocausto do que visando transmitir a real intenção do título. A trama é simples, se desenrola em enxutos 90 minutos, mistura drama e comédia, e aborda basicamente as angústias que trazemos dentro de nós, com David invejando esse jeito extrovertido do primo Benji e Benji invejando essa vida regrada e segura de David. A trilha sonora basicamente composta por músicas do Chopin, um compositor polonês, é que embala o confronto entre o passado e as diferenças aparentemente irreconciliáveis dos primos que se amam. O resultado não é a última bolacha do pacote, mas é um bom filme, agradável de assistir apesar das passagens “turísticas” por locais ligados ao genocídio judeu, que fica, aliás, bem em segundo plano, retratando a distância da geração desses jovens para a da vó deles. Dizem que Kieran Culkin é o franco favorito para levar o Oscar de Ator Coadjuvante e, na categoria Roteiro Original, que também concorre, está pau a pau com "Anora". Quem será que leva?