Sinopse: Quando o professor JJ (DJ Próvai) de Belfast conhece os autodeclarados “lixos humanos” Naoise (Móglaí Bap) e Liam Óg (Mo Chara), nasce um trio de hip-hop jamais visto. Fazendo rap em irlandês, o Kneecap se torna o líder improvável de um movimento para salvar sua língua materna.
Comentário: Rich Peppiatt é um escritor e diretor inglês. Depois de se formar na Universidade de Warwick, ele trabalhou como jornalista em vários jornais, mas ele acabou ganhando notoriedade em 2011 quando ele resolveu se demitir do periódico Daily Star. Para pedir demissão ele escreveu uma carta ao proprietário Richard Desmond, acusando o jornal de islamofobia e jornalismo antiético e a carta viralizou. Em seguida, ele transformou essas experiências como jornalista e as consequências de sua renúncia em um show de comédia stand-up intitulado “One Rogue Reporter” (2012). “Kneecap” (2024) é sua estreia como diretor. O filme foi feito após dirigir um dos vídeos da banda de mesmo nome.
O título do filme “Kneecap” é o nome real de um trio de hip hop irlandês de West Belfast, Irlanda do Norte, composto por Liam Óg Ó hAnnaidh, Naoise Ó Cairealláin e JJ Ó Dochartaigh. Cada um deles usa um nome artístico, respectivamente: Mo Chara, Móglaí Bap e DJ Próvai. Eles fazem rap em uma mistura de inglês e irlandês e suas letras geralmente contêm temas republicanos irlandeses. O primeiro single deles foi lançado em 2017 e se chama "CEARTA" (significa ‘DIREITOS’ em português), em 2018 eles lançaram seu álbum de estreia “3CAG” e em 2024 o álbum “Belas Artes”. Suas músicas podem ser encontradas no streaming com facilidade.
Vale esclarecer que a Irlanda do Norte é um país do Reino Unido. O Reino Unido é um conjunto de países composto pela Inglaterra, pela Escócia, pelo País de Gales e pela Irlanda do Norte. O rei Charles 3º, além de ser rei da Inglaterra, ele também é chefe de estado do Reino Unido. Cada um dos países tem seus governos, mas o poder desses governos é delegado pelo parlamento do Reino Unido, que também tem o poder de legislar sobre esses territórios.
Essa banda de hip hop Kneecap, cujo filme vai retratar, é da Irlanda do Norte, cuja capital é Belfast. A outra Irlanda, cuja capital é Dublin, não é a Irlanda do Norte, mas sim um país independente, localizado na mesma ilha. Esse país normalmente é chamado de República da Irlanda para se diferenciar da Irlanda do Norte, que ainda faz parte do Reino Unido. A divisão tem origens históricas. A Irlanda como um todo era uma colônia do Reino Unido até 1922 quando, depois de um período de guerra, conquistou sua independência. No entanto, os distritos do norte da Irlanda ainda tinham uma influência mais forte do Reino Unido e optaram por continuar no reino. Por isso existem duas Irlandas: a República da Irlanda (independente, no sul da ilha) e a Irlanda do Norte.
Como a República da Irlanda também foi do Reino Unido, a língua que mais se fala lá ainda é o inglês. Na constituição do país, o irlandês (também conhecido como gaélico irlandês) é explicitamente reconhecido como a primeira língua oficial e o inglês como a segunda. Mesmo assim a maior parte da população do país fala inglês. Até hoje, a maioria das comunicações oficiais - como sinalizações de trânsito e pontos de ônibus - é feita nas duas línguas. Na escola, as crianças aprendem um pouco da língua irlandesa e muitas vezes têm a opção de seguir estudando a língua caso desejem.
Já na Irlanda do Norte a coisa é diferente. Como ela continua até hoje fazendo parte do Reino Unido, o irlandês é desencorajado, representando uma espécie de rebeldia, um símbolo de resistência à colonização. Então vocês podem imaginar a polêmica que foi surgir em 2017 uma banda de hip hop no país gravando as letras de suas músicas em gaélico irlandês. Sim, é isso que o Kneecap faz: eles cantam em irlandês. As letras são repletas de palavrões e apologia ao sexo e às drogas, mas também protestam a favor da independência do país e defendem o fim da proibição do ensino da língua irlandesa nas escolas.
O título do filme “Kneecap” é o nome real de um trio de hip hop irlandês de West Belfast, Irlanda do Norte, composto por Liam Óg Ó hAnnaidh, Naoise Ó Cairealláin e JJ Ó Dochartaigh. Cada um deles usa um nome artístico, respectivamente: Mo Chara, Móglaí Bap e DJ Próvai. Eles fazem rap em uma mistura de inglês e irlandês e suas letras geralmente contêm temas republicanos irlandeses. O primeiro single deles foi lançado em 2017 e se chama "CEARTA" (significa ‘DIREITOS’ em português), em 2018 eles lançaram seu álbum de estreia “3CAG” e em 2024 o álbum “Belas Artes”. Suas músicas podem ser encontradas no streaming com facilidade.
Vale esclarecer que a Irlanda do Norte é um país do Reino Unido. O Reino Unido é um conjunto de países composto pela Inglaterra, pela Escócia, pelo País de Gales e pela Irlanda do Norte. O rei Charles 3º, além de ser rei da Inglaterra, ele também é chefe de estado do Reino Unido. Cada um dos países tem seus governos, mas o poder desses governos é delegado pelo parlamento do Reino Unido, que também tem o poder de legislar sobre esses territórios.
Essa banda de hip hop Kneecap, cujo filme vai retratar, é da Irlanda do Norte, cuja capital é Belfast. A outra Irlanda, cuja capital é Dublin, não é a Irlanda do Norte, mas sim um país independente, localizado na mesma ilha. Esse país normalmente é chamado de República da Irlanda para se diferenciar da Irlanda do Norte, que ainda faz parte do Reino Unido. A divisão tem origens históricas. A Irlanda como um todo era uma colônia do Reino Unido até 1922 quando, depois de um período de guerra, conquistou sua independência. No entanto, os distritos do norte da Irlanda ainda tinham uma influência mais forte do Reino Unido e optaram por continuar no reino. Por isso existem duas Irlandas: a República da Irlanda (independente, no sul da ilha) e a Irlanda do Norte.
Como a República da Irlanda também foi do Reino Unido, a língua que mais se fala lá ainda é o inglês. Na constituição do país, o irlandês (também conhecido como gaélico irlandês) é explicitamente reconhecido como a primeira língua oficial e o inglês como a segunda. Mesmo assim a maior parte da população do país fala inglês. Até hoje, a maioria das comunicações oficiais - como sinalizações de trânsito e pontos de ônibus - é feita nas duas línguas. Na escola, as crianças aprendem um pouco da língua irlandesa e muitas vezes têm a opção de seguir estudando a língua caso desejem.
Já na Irlanda do Norte a coisa é diferente. Como ela continua até hoje fazendo parte do Reino Unido, o irlandês é desencorajado, representando uma espécie de rebeldia, um símbolo de resistência à colonização. Então vocês podem imaginar a polêmica que foi surgir em 2017 uma banda de hip hop no país gravando as letras de suas músicas em gaélico irlandês. Sim, é isso que o Kneecap faz: eles cantam em irlandês. As letras são repletas de palavrões e apologia ao sexo e às drogas, mas também protestam a favor da independência do país e defendem o fim da proibição do ensino da língua irlandesa nas escolas.
Felipe Branco Cruz escreveu uma resenha para a Revista Veja nos contando que “A defesa da língua irlandesa como arma na independência do país permeia todo o filme. É luta inglória e ato de rebeldia. Em toda a ilha da Irlanda, apenas 80.000 pessoas são falantes nativos de irlandês, desses, apenas 6.000 vivem no norte da Irlanda. Isso porque é proibido ensinar o irlandês nas escolas da Irlanda do Norte, já que desde 1998, com o Acordo de Belfast, a língua é reconhecida como minoritária".
Entretanto o próprio final do filme traz um letreiro de encerramento dizendo que “em dezembro de 2022, um projeto de lei que reconhece a língua irlandesa na Irlanda do Norte se tornou lei”, dando a entender que o ensino da língua voltou a ser permitido e, muito provavelmente, a banda Kneecap teve grande parcela de contribuição pelo interesse na língua nativa.
O filme - além de ter boa parte da trama envolvida em lidar com questões referentes à língua – pretende mostrar como a banda se formou. Mas vale salientar que a história mostrada é semificcional, misturando fatos verdadeiros com outros fictícios.
Cruz diz que a história do batizado de um dos integrantes do trio mostrada logo no começo do filme é verdadeira. Ele diz: “Quando ainda era bebê, um dos integrantes (...) sofreu uma violência típica do país onde vive. Filho de família católica e, portanto, nacionalista (que defende a independência do país do Reino Unido), ele havia sido levado para uma floresta para ser batizado como seus ancestrais. A cerimônia, no entanto, foi interrompida por um helicóptero da polícia que suspeitou de que se tratava de uma reunião do IRA (o exército republicano irlandês), grupo paramilitar notório por ataques a bomba e emboscadas contra os ingleses”.
Outra informação interessante que Cruz nos traz em seu texto é sobre a escolha do nome da banda: Kneecap, que em português significa Rótula (o nome de um osso que temos no corpo, situado um pouco acima da articulação do fêmur com a tíbia, na face anterior do joelho). Segundo Cruz, “a palavra ganhou popularidade no país, pois tanto o IRA, quanto o exército britânico, atiravam nos joelhos dos combatentes como forma de tortura, para incapacitá-los sem matar”.
Entretanto o próprio final do filme traz um letreiro de encerramento dizendo que “em dezembro de 2022, um projeto de lei que reconhece a língua irlandesa na Irlanda do Norte se tornou lei”, dando a entender que o ensino da língua voltou a ser permitido e, muito provavelmente, a banda Kneecap teve grande parcela de contribuição pelo interesse na língua nativa.
O filme - além de ter boa parte da trama envolvida em lidar com questões referentes à língua – pretende mostrar como a banda se formou. Mas vale salientar que a história mostrada é semificcional, misturando fatos verdadeiros com outros fictícios.
Cruz diz que a história do batizado de um dos integrantes do trio mostrada logo no começo do filme é verdadeira. Ele diz: “Quando ainda era bebê, um dos integrantes (...) sofreu uma violência típica do país onde vive. Filho de família católica e, portanto, nacionalista (que defende a independência do país do Reino Unido), ele havia sido levado para uma floresta para ser batizado como seus ancestrais. A cerimônia, no entanto, foi interrompida por um helicóptero da polícia que suspeitou de que se tratava de uma reunião do IRA (o exército republicano irlandês), grupo paramilitar notório por ataques a bomba e emboscadas contra os ingleses”.
Outra informação interessante que Cruz nos traz em seu texto é sobre a escolha do nome da banda: Kneecap, que em português significa Rótula (o nome de um osso que temos no corpo, situado um pouco acima da articulação do fêmur com a tíbia, na face anterior do joelho). Segundo Cruz, “a palavra ganhou popularidade no país, pois tanto o IRA, quanto o exército britânico, atiravam nos joelhos dos combatentes como forma de tortura, para incapacitá-los sem matar”.
O filme é a aposta irlandesa no Oscar.
O que disse a crítica: Sean P. Means do site The Movie Cricket avaliou com 3 estrelas, ou seja, bom. Ele escreveu tratar-se de “uma comédia confusa que fornece uma história de origem falsa para um trio de hip-hop irlandês”. E finalizou seu texto dizendo: “A direção de Peppiatt fica um pouco áspera nas reviravoltas do enredo exagerado. Mas quando o filme é focado na energia crua dos raps de Kneecap e no desafio absoluto de falar a língua indígena (originária), a emoção bate forte”.
Ideia Wendy do site The Guardian avaliou com 4 estrelas, ou seja, ótimo. Disse: “Com seu espírito turbulento, piadas recorrentes sobre cetamina e um par de nádegas pálidas proeminentemente exibidas, pintadas com um sentimento abertamente antibritânico, a história de origem ficcional do grupo de rap de língua irlandesa da vida real Kneecap (que interpretam a si mesmos) provavelmente não agradará a todos. Mas a combinação do profano e do político, o humor desordeiro e a edição contundente contribuem para uma das experiências de visualização mais energizantes do ano, e possivelmente uma das mais engraçadas”.
O que eu achei: O filme é anárquico, o roteiro é mega criativo e ao mesmo tempo você tem uma baita aula de história e política ao ver dois meninos rebeldes e um professor de música e de língua originária se unindo para formar uma banda que inventa de cantar suas músicas não em inglês, como seria de se esperar, mas na sua língua nativa, o gaélico-irlandês, num país – Irlanda do Norte - que ainda faz parte do Reino Unido e cuja fala é vista como um ato de rebeldia. No elenco estão os próprios músicos - que atendem pelos nomes artísticos de Mo Chara, Móglaí Bap e DJ Provaí - além do ator Michael Fassbender, nascido na Alemanha, mas criado na Irlanda, onde aprendeu a falar a língua local fluentemente, e interpreta o pai de um dos músicos que fez parte do IRA e simulou a própria morte para continuar atuando na clandestinidade. É ele, aliás, que diz para o filho num dado momento do filme que “cada palavra de irlandês falada é uma bala pela liberdade irlandesa”, mostrando que, mais do que uma banda para divertir, os rapazes de Belfast lutam contra o apagamento colonial da sua língua materna. No letreiro de encerramento do filme surge a informação que “em dezembro de 2022, um projeto de lei que reconhece a língua irlandesa na Irlanda do Norte se tornou lei”, dando a entender que o ensino da língua voltou a ser permitido e, muito provavelmente, a banda Kneecap teve grande parcela de contribuição pelo interesse e pelo direito de aprender a língua nativa. Então, mais do que uma mera cinebiografia de um grupo de hip hop, o longa clama pela libertação dos colonizadores ingleses. O longa já levou o prêmio de público em Sundance, foi indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme Internacional e é o candidato da Irlanda do Norte ao Oscar. O resultado é um filme inteligente, sério e ao mesmo tempo engraçado, que com certeza vale ser visto. Aumente o som e se jogue.
O que disse a crítica: Sean P. Means do site The Movie Cricket avaliou com 3 estrelas, ou seja, bom. Ele escreveu tratar-se de “uma comédia confusa que fornece uma história de origem falsa para um trio de hip-hop irlandês”. E finalizou seu texto dizendo: “A direção de Peppiatt fica um pouco áspera nas reviravoltas do enredo exagerado. Mas quando o filme é focado na energia crua dos raps de Kneecap e no desafio absoluto de falar a língua indígena (originária), a emoção bate forte”.
Ideia Wendy do site The Guardian avaliou com 4 estrelas, ou seja, ótimo. Disse: “Com seu espírito turbulento, piadas recorrentes sobre cetamina e um par de nádegas pálidas proeminentemente exibidas, pintadas com um sentimento abertamente antibritânico, a história de origem ficcional do grupo de rap de língua irlandesa da vida real Kneecap (que interpretam a si mesmos) provavelmente não agradará a todos. Mas a combinação do profano e do político, o humor desordeiro e a edição contundente contribuem para uma das experiências de visualização mais energizantes do ano, e possivelmente uma das mais engraçadas”.
O que eu achei: O filme é anárquico, o roteiro é mega criativo e ao mesmo tempo você tem uma baita aula de história e política ao ver dois meninos rebeldes e um professor de música e de língua originária se unindo para formar uma banda que inventa de cantar suas músicas não em inglês, como seria de se esperar, mas na sua língua nativa, o gaélico-irlandês, num país – Irlanda do Norte - que ainda faz parte do Reino Unido e cuja fala é vista como um ato de rebeldia. No elenco estão os próprios músicos - que atendem pelos nomes artísticos de Mo Chara, Móglaí Bap e DJ Provaí - além do ator Michael Fassbender, nascido na Alemanha, mas criado na Irlanda, onde aprendeu a falar a língua local fluentemente, e interpreta o pai de um dos músicos que fez parte do IRA e simulou a própria morte para continuar atuando na clandestinidade. É ele, aliás, que diz para o filho num dado momento do filme que “cada palavra de irlandês falada é uma bala pela liberdade irlandesa”, mostrando que, mais do que uma banda para divertir, os rapazes de Belfast lutam contra o apagamento colonial da sua língua materna. No letreiro de encerramento do filme surge a informação que “em dezembro de 2022, um projeto de lei que reconhece a língua irlandesa na Irlanda do Norte se tornou lei”, dando a entender que o ensino da língua voltou a ser permitido e, muito provavelmente, a banda Kneecap teve grande parcela de contribuição pelo interesse e pelo direito de aprender a língua nativa. Então, mais do que uma mera cinebiografia de um grupo de hip hop, o longa clama pela libertação dos colonizadores ingleses. O longa já levou o prêmio de público em Sundance, foi indicado ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme Internacional e é o candidato da Irlanda do Norte ao Oscar. O resultado é um filme inteligente, sério e ao mesmo tempo engraçado, que com certeza vale ser visto. Aumente o som e se jogue.