Sinopse: O delegado Iman (Missagh Zareh) luta contra a paranoia em meio à agitação política em Teerã. Quando sua arma desaparece, ele suspeita de sua esposa (Soheila Golestani) e de suas filhas Rezvan (Mahsa Rostami) e Sana (Setareh Maleki), impondo medidas draconianas que desgastam os laços familiares.
Comentário: Mohammad Rasoulof (1972) é um cineasta independente iraniano que vive exilado na Europa. Ele é conhecido por vários filmes premiados como “O Crepúsculo” (2002), “Ilha de Ferro” (2005), “Adeus” (2011) , “Manuscritos Não Queimam” (2013), “Um Homem Íntegro” (2017) e “Não Existe Mal” (2020). Por este último, ele ganhou o Urso de Ouro no Festival de Cinema de Berlim. Ele foi preso várias vezes e teve seu passaporte confiscado, pois a natureza e o conteúdo de seus filmes o colocaram em conflito com o governo iraniano. “A Semente do Fruto Sagrado” é o primeiro filme que vejo do diretor.
O site do Festival do RIO nos conta que o diretor iraniano Mohammad Rasoulof, exilado na Alemanha, rodou o filme em sigilo em sua terra natal. “Por seu trabalho neste projeto, o cineasta foi condenado a oito anos de prisão e precisou fugir de seu país, cruzando a fronteira pelas montanhas, para não ser encarcerado".
O longa é um filme sobre a burocracia misógina e teocrática do Irã que tenta captar e expor a angústia interior e os conflitos psicológicos de seus cidadãos dissidentes.
Na trama, o cineasta, que também assina o roteiro, explora o clima de paranoia que permeou Teerã durante os protestos populares contra o autoritarismo do regime iraniano, encabeçados pelas manifestações de rua do movimento "Mulher, Vida, Liberdade". A trama aborda essa crise pela perspectiva de uma família de classe média liderada por Iman (Missagh Zareh), um advogado dedicado que passa a atuar como magistrado investigador a serviço da Corte Revolucionária, cargo que o coloca na posição de validar diversas sentenças, inclusive de morte. Em sua nova atuação, o homem entra em rota de colisão com sua esposa e filhas, que passam a questionar o papel dele no regime. Quando a arma de fogo que Iman guarda em casa desaparece misteriosamente, sua vida familiar cai numa espiral de desconfianças.
O drama foi o filme mais premiado do Festival de Cannes em 2024, onde competiu pela Palma de Ouro e acumulou cinco honrarias: o Prêmio Especial, o Prêmio do Júri Ecumênico, o Prêmio FIPRESCI, o Prêmio François Chalais (dedicado às obras que celebram os valores do jornalismo) e o Prêmio dos Cinemas Independentes Franceses (Prix des Cinémas Art et Essai).
"Minha única mensagem ao cinema iraniano é: não tenham medo", comentou Rasoulof ao apresentar "A Semente do Fruto Sagrado" na coletiva de imprensa em Cannes. "Eles querem nos desencorajar, mas não se deixem intimidar. Eles não têm outra arma senão o medo. Temos que lutar por uma vida digna em nosso país". Ainda na coletiva do longa-metragem em Cannes, o diretor dedicou o longa aos atores e profissionais que não puderam deixar o país, exibindo fotos de membros do elenco que levou consigo por sua fuga do Irã rumo à Europa.
“A Semente do Fruto Sagrado” (2024) é a aposta da Alemanha para o Oscar 2025.
O que disse a crítica: Ritter Fan do site Plano Crítico avaliou com 3,5 estrelas, ou seja, muito bom. Ele disse: “Tudo no filme funciona muito bem, do elenco à direção de fotografia naturalista, passando pelo delicado trabalho de maquiagem, mas seu terço final, algo como os últimos 40 minutos em que a ação é deslocada para o interior do Irã em um casa vazia da família de Iman cercada de deserto e vegetação florestal (...) faz a obra desandar”.
Peter Bradshaw do site The Guardian avaliou com 4 estrelas, ou seja, excelente. Escreveu: “Talvez o ponto seja que ‘A Semente do Fruto Sagrado’ é um filme que deve ser finalmente compreendido precisamente naqueles termos enigmáticos, poéticos e simbólicos que pareciam ter sido substituídos no cinema iraniano – e que as representações realistas do que o Irã se tornou podem ser encontradas nas filmagens de smartphones sendo compartilhadas nas mídias sociais. O filme pode não ser perfeito, mas sua coragem - e relevância - estão além de qualquer dúvida”.
O que eu achei: Tirando o fato do filme ser longo demais - 2h48m que poderiam ter sido reduzidas para 2hs - o filme é ótimo. Ele tem como contexto um Irã contemporâneo, com cenas mostrando as manifestações de rua em Teerã (capital do país) ligadas ao movimento “Mulher, Vida, Liberdade”. Para quem não se recorda do noticiário, esse movimento começou em 2022 logo após Mahsa Amini (Jinna Amini seria seu nome curdo), uma jovem de origem curda-iraniana de 22 anos, viajar para o Teerã juntamente com sua família e ter sido abordada pela polícia religiosa do país por estar vestindo o Hijab (o véu que cobre a cabeça) de forma inapropriada. Ela foi presa, levada para um centro de “reeducação” islâmica, mas acabou hospitalizada com ferimentos na cabeça provocados por espancamentos, entrou em coma e morreu horas depois. No dia seguinte ao seu enterro, mulheres em solidariedade a ela se filmaram removendo os seus véus e cortando os cabelos ao redor de seu túmulo. O funeral desencadeou uma das maiores revoltas populares da história recente do Irã, com milhares de mulheres indo às ruas se manifestar contra décadas de ditadura e repressão impostos à sociedade pelos clérigos islâmicos do país que controlam o Irã desde a Revolução Islâmica, em 1979. É dentro desse contexto que se passa a história de um advogado chamado Iman. Ele é casado, possui duas filhas jovens mulheres e recebe uma promoção passando a ocupar o cargo de delegado, atuando como uma espécie de magistrado investigador, cargo que o coloca na posição de validar sentenças, inclusive de morte, a que as pessoas são submetidas. Como ele assume o cargo bem no auge dessas manifestações, ele fica sobrecarregado de trabalho pois muita gente está sendo detida. Nesse stress ele acaba “perdendo” o revólver que foi entregue a ele por conta do novo cargo passando a suspeitar da sua esposa e filhas, cujas relações ficarão estremecidas. A relação do título do filme com a trama - no original “A Semente da Figueira Sagrada” - se explica logo no início da projeção cujo texto nos informa que a Ficus Religiosa (ou Figueira) é uma árvore que possui um ciclo de vida incomum. A semente, contida nas fezes de aves, cai sobre outras árvores. Raízes aéreas são lançadas e crescem até alcançarem o solo. Em seguida, os galhos se enrolam na árvore hospedeira estrangulando-a e, finalmente, o figo sagrado se mantém por si só. O filme termina como uma espécie de grito de liberdade não só por parte das mulheres iranianas mas também do cinema iraniano, na figura do diretor que filmou tudo às escondidas e que teve que se exilar na Alemanha juntamente com alguns atores para não ser encarcerado. Com certeza será um forte concorrente ao Oscar competindo na categoria Melhor Filme Internacional (pela Alemanha) diretamente com o filme brasileiro “Ainda Estou Aqui” do Walter Salles. Sensacional.
O site do Festival do RIO nos conta que o diretor iraniano Mohammad Rasoulof, exilado na Alemanha, rodou o filme em sigilo em sua terra natal. “Por seu trabalho neste projeto, o cineasta foi condenado a oito anos de prisão e precisou fugir de seu país, cruzando a fronteira pelas montanhas, para não ser encarcerado".
O longa é um filme sobre a burocracia misógina e teocrática do Irã que tenta captar e expor a angústia interior e os conflitos psicológicos de seus cidadãos dissidentes.
Na trama, o cineasta, que também assina o roteiro, explora o clima de paranoia que permeou Teerã durante os protestos populares contra o autoritarismo do regime iraniano, encabeçados pelas manifestações de rua do movimento "Mulher, Vida, Liberdade". A trama aborda essa crise pela perspectiva de uma família de classe média liderada por Iman (Missagh Zareh), um advogado dedicado que passa a atuar como magistrado investigador a serviço da Corte Revolucionária, cargo que o coloca na posição de validar diversas sentenças, inclusive de morte. Em sua nova atuação, o homem entra em rota de colisão com sua esposa e filhas, que passam a questionar o papel dele no regime. Quando a arma de fogo que Iman guarda em casa desaparece misteriosamente, sua vida familiar cai numa espiral de desconfianças.
O drama foi o filme mais premiado do Festival de Cannes em 2024, onde competiu pela Palma de Ouro e acumulou cinco honrarias: o Prêmio Especial, o Prêmio do Júri Ecumênico, o Prêmio FIPRESCI, o Prêmio François Chalais (dedicado às obras que celebram os valores do jornalismo) e o Prêmio dos Cinemas Independentes Franceses (Prix des Cinémas Art et Essai).
"Minha única mensagem ao cinema iraniano é: não tenham medo", comentou Rasoulof ao apresentar "A Semente do Fruto Sagrado" na coletiva de imprensa em Cannes. "Eles querem nos desencorajar, mas não se deixem intimidar. Eles não têm outra arma senão o medo. Temos que lutar por uma vida digna em nosso país". Ainda na coletiva do longa-metragem em Cannes, o diretor dedicou o longa aos atores e profissionais que não puderam deixar o país, exibindo fotos de membros do elenco que levou consigo por sua fuga do Irã rumo à Europa.
“A Semente do Fruto Sagrado” (2024) é a aposta da Alemanha para o Oscar 2025.
O que disse a crítica: Ritter Fan do site Plano Crítico avaliou com 3,5 estrelas, ou seja, muito bom. Ele disse: “Tudo no filme funciona muito bem, do elenco à direção de fotografia naturalista, passando pelo delicado trabalho de maquiagem, mas seu terço final, algo como os últimos 40 minutos em que a ação é deslocada para o interior do Irã em um casa vazia da família de Iman cercada de deserto e vegetação florestal (...) faz a obra desandar”.
Peter Bradshaw do site The Guardian avaliou com 4 estrelas, ou seja, excelente. Escreveu: “Talvez o ponto seja que ‘A Semente do Fruto Sagrado’ é um filme que deve ser finalmente compreendido precisamente naqueles termos enigmáticos, poéticos e simbólicos que pareciam ter sido substituídos no cinema iraniano – e que as representações realistas do que o Irã se tornou podem ser encontradas nas filmagens de smartphones sendo compartilhadas nas mídias sociais. O filme pode não ser perfeito, mas sua coragem - e relevância - estão além de qualquer dúvida”.
O que eu achei: Tirando o fato do filme ser longo demais - 2h48m que poderiam ter sido reduzidas para 2hs - o filme é ótimo. Ele tem como contexto um Irã contemporâneo, com cenas mostrando as manifestações de rua em Teerã (capital do país) ligadas ao movimento “Mulher, Vida, Liberdade”. Para quem não se recorda do noticiário, esse movimento começou em 2022 logo após Mahsa Amini (Jinna Amini seria seu nome curdo), uma jovem de origem curda-iraniana de 22 anos, viajar para o Teerã juntamente com sua família e ter sido abordada pela polícia religiosa do país por estar vestindo o Hijab (o véu que cobre a cabeça) de forma inapropriada. Ela foi presa, levada para um centro de “reeducação” islâmica, mas acabou hospitalizada com ferimentos na cabeça provocados por espancamentos, entrou em coma e morreu horas depois. No dia seguinte ao seu enterro, mulheres em solidariedade a ela se filmaram removendo os seus véus e cortando os cabelos ao redor de seu túmulo. O funeral desencadeou uma das maiores revoltas populares da história recente do Irã, com milhares de mulheres indo às ruas se manifestar contra décadas de ditadura e repressão impostos à sociedade pelos clérigos islâmicos do país que controlam o Irã desde a Revolução Islâmica, em 1979. É dentro desse contexto que se passa a história de um advogado chamado Iman. Ele é casado, possui duas filhas jovens mulheres e recebe uma promoção passando a ocupar o cargo de delegado, atuando como uma espécie de magistrado investigador, cargo que o coloca na posição de validar sentenças, inclusive de morte, a que as pessoas são submetidas. Como ele assume o cargo bem no auge dessas manifestações, ele fica sobrecarregado de trabalho pois muita gente está sendo detida. Nesse stress ele acaba “perdendo” o revólver que foi entregue a ele por conta do novo cargo passando a suspeitar da sua esposa e filhas, cujas relações ficarão estremecidas. A relação do título do filme com a trama - no original “A Semente da Figueira Sagrada” - se explica logo no início da projeção cujo texto nos informa que a Ficus Religiosa (ou Figueira) é uma árvore que possui um ciclo de vida incomum. A semente, contida nas fezes de aves, cai sobre outras árvores. Raízes aéreas são lançadas e crescem até alcançarem o solo. Em seguida, os galhos se enrolam na árvore hospedeira estrangulando-a e, finalmente, o figo sagrado se mantém por si só. O filme termina como uma espécie de grito de liberdade não só por parte das mulheres iranianas mas também do cinema iraniano, na figura do diretor que filmou tudo às escondidas e que teve que se exilar na Alemanha juntamente com alguns atores para não ser encarcerado. Com certeza será um forte concorrente ao Oscar competindo na categoria Melhor Filme Internacional (pela Alemanha) diretamente com o filme brasileiro “Ainda Estou Aqui” do Walter Salles. Sensacional.