Sinopse: Ambientado em Bruxelas, o filme gira em torno de uma possível história de amor entre Stefan (Stefan Gota), um imigrante romeno que trabalha na construção civil, e Shuxiu (Liyo Gong), uma estudante de doutorado belga-chinesa que trabalha em um pequeno restaurante chinês, enquanto prepara um doutorado sobre musgos.
Comentário: Bas Devos (1983) é um cineasta belga diretor de “Violeta” (2014), “Hellhole” (2019) e “Trópico Fantasma” (2019). “Here” (2023) é seu quarto longa-metragem. O filme lhe rendeu o prêmio principal da seção Encontros do Festival de Berlim de 2023 e foi escolhido como o Melhor Filme dessa mostra pelo júri da FIPRESCI (Federação Internacional de Críticos de Cinema). “Here” é o primeiro filme que vejo dele.
A jornalista e crítica de cinema Mariane Morisawa escreveu uma resenha para o SESC dizendo: “Na cidade grande, mais um prédio enche a paisagem de concreto, vidro e barulho. As poucas áreas verdes ficam encurraladas entre o asfalto e os edifícios. O cotidiano é de corre-corre, de olhos voltados para os celulares ou perdidos na multidão. Ninguém para, olha, ouve, sente. ‘Here’, filme do cineasta belga Bas Devos (...), propõe que o espectador faça justamente isso: pare, olhe, ouça e sinta, pelo menos por 84 minutos. (...) Devos cria seu filme entre a realidade e o sonho, nos pequenos gestos, nas poucas palavras, nas delicadezas que aparecem, sim, quando estamos dispostos a ver o que está em volta.
Quem constrói esses prédios são pessoas invisíveis – na verdade, ninguém presta atenção em ninguém nas nossas metrópoles. Muito frequentemente, esses trabalhadores são ‘outros’ também, migrantes no caso de São Paulo, imigrantes em Bruxelas, onde o longa-metragem se passa. É uma Bruxelas, aliás, formada praticamente só por gente de fora e seus descendentes. Como o romeno Stefan (Stefan Gota), um sujeito quieto que está de partida para seu país natal, em princípio em férias, talvez de maneira permanente. A realidade do imigrante é dura, solitária, deslocada. Stefan mal tem tempo para sonhar, e suas noites são tomadas pela insônia.
Nos preparativos para a viagem, descobre a geladeira cheia e, assim, decide fazer uma sopa, que sai distribuindo aos amigos por praticidade. Mas será mesmo? Pois a sopa é um dos alimentos universais do carinho, do afeto e do cuidado. Stefan busca silenciosamente uma conexão.
Já Shuxiu (Liyo Gong, montadora que nunca tinha atuado) tem muitos sonhos. Em um deles, perdeu a capacidade de nomear as coisas. Shuxiu nasceu na Bélgica, mas, filha de imigrantes chineses, vive entre as duas identidades. Brióloga, dedica-se a estudar os musgos. Seu encontro com Stefan é inesperado e improvável, uma mistura de destino, acaso e sorte. O taoísmo diria ser algo determinado em vidas passadas.
Bas Devos diz ter se encantado pelos musgos pois dão muito, pedindo pouco em troca. São pequenas plantas terrestres fundamentais para todos os ecossistemas e para a recuperação de florestas devastadas, além de servirem como bioindicadores ecológicos, de depósitos minerais e da poluição da água e do ar. Mas ninguém percebe o musgo nem sua importância, até porque é preciso parar, abaixar-se, aproximar-se para enxergá-lo.
Não é muito diferente com os outros seres humanos com quem convivemos nessa era expressa, de distração constante. Para conhecer o outro, estabelecer relações e até encontrar o amor é preciso, afinal, pelo menos um momento de atenção”.
O que disse a crítica: Bruno Carmelo do site Meio Amargo avaliou o filme com o equivalente à 4,5, ou seja, excelente. Disse: “Esta produção percorre um caminho curioso, do macro ao micro. (...) Este zoom-in no universo ocorre de maneira progressiva, calma, quase imperceptível. O diretor Bas Devos conduz a obra com a segurança de quem já trilhou estes rumos antes, e demonstra total domínio de coesão e coerência - seja de discurso, narrativa, estética. Nenhuma imagem destoa do conjunto, nenhum plano constitui mera vaidade de direção ou de fotografia. A montagem possui a serenidade rígida de um metrônomo, conferindo tempos equivalentes aos planos - aqui, a conduta não se acelera, nem se arrasta. Por trás da aparência de banalidade cotidiana, há um maquinário finamente regulado”.
Cláudio Alves da HD Magazine também gostou muito, avaliou com o equivalente à 4,6 estrelas. Ele disse: “’Here’ vê o cinema de Bas Devos desenvolver-se na mesma linha estabelecida em ‘Trópico Fantasma’. O humanismo domina o projeto, manifestando-se em idiomas textuais e audiovisuais que tentam dar atenção aos pequenos milagres de cada dia. A comunhão de duas almas errantes aqui gera o seu próprio toque, cheiro, sabor. É musgo feito floresta e é sopa em jeito de carta de amor. Além disso, é uma apaixonada canção em honra de Bruxelas, uma dessas verdadeiras sinfonias urbanas como as que vingaram nos tempos do cinema mudo”.
O que eu achei: Trata-se de um filme que foge completamente do convencional. O roteiro mostra um imigrante romeno que trabalha na construção civil na Bélgica e, assim como todos os trabalhadores dessa área, ele passa praticamente invisível à sociedade. Em paralelo uma mulher belga-chinesa prepara um doutorado sobre musgos, esses seres invisíveis que constroem mundos particulares. Em comum, esse rapaz e essa moça fazem sopas: ele com os restos que tem na geladeira e ela ajudando a tia num restaurante chinês. Ponto. Então muito pouca coisa acontece nesse filme sem conflitos que não deve ter o nome “Here” por acaso, mas sim para nos mostrar que o que importa é o tempo presente, o aqui e o agora que a meditação tanto valoriza e busca. O filme então, não é ruim nem bom. Está mais para um processo de tranquilidade e encanto com a natureza, com um bom trabalho sonoro. Eu particularmente não gostei tanto, mas a crítica especializada foi tão elogiosa que talvez valha ver e tirar suas próprias conclusões.
A jornalista e crítica de cinema Mariane Morisawa escreveu uma resenha para o SESC dizendo: “Na cidade grande, mais um prédio enche a paisagem de concreto, vidro e barulho. As poucas áreas verdes ficam encurraladas entre o asfalto e os edifícios. O cotidiano é de corre-corre, de olhos voltados para os celulares ou perdidos na multidão. Ninguém para, olha, ouve, sente. ‘Here’, filme do cineasta belga Bas Devos (...), propõe que o espectador faça justamente isso: pare, olhe, ouça e sinta, pelo menos por 84 minutos. (...) Devos cria seu filme entre a realidade e o sonho, nos pequenos gestos, nas poucas palavras, nas delicadezas que aparecem, sim, quando estamos dispostos a ver o que está em volta.
Quem constrói esses prédios são pessoas invisíveis – na verdade, ninguém presta atenção em ninguém nas nossas metrópoles. Muito frequentemente, esses trabalhadores são ‘outros’ também, migrantes no caso de São Paulo, imigrantes em Bruxelas, onde o longa-metragem se passa. É uma Bruxelas, aliás, formada praticamente só por gente de fora e seus descendentes. Como o romeno Stefan (Stefan Gota), um sujeito quieto que está de partida para seu país natal, em princípio em férias, talvez de maneira permanente. A realidade do imigrante é dura, solitária, deslocada. Stefan mal tem tempo para sonhar, e suas noites são tomadas pela insônia.
Nos preparativos para a viagem, descobre a geladeira cheia e, assim, decide fazer uma sopa, que sai distribuindo aos amigos por praticidade. Mas será mesmo? Pois a sopa é um dos alimentos universais do carinho, do afeto e do cuidado. Stefan busca silenciosamente uma conexão.
Já Shuxiu (Liyo Gong, montadora que nunca tinha atuado) tem muitos sonhos. Em um deles, perdeu a capacidade de nomear as coisas. Shuxiu nasceu na Bélgica, mas, filha de imigrantes chineses, vive entre as duas identidades. Brióloga, dedica-se a estudar os musgos. Seu encontro com Stefan é inesperado e improvável, uma mistura de destino, acaso e sorte. O taoísmo diria ser algo determinado em vidas passadas.
Bas Devos diz ter se encantado pelos musgos pois dão muito, pedindo pouco em troca. São pequenas plantas terrestres fundamentais para todos os ecossistemas e para a recuperação de florestas devastadas, além de servirem como bioindicadores ecológicos, de depósitos minerais e da poluição da água e do ar. Mas ninguém percebe o musgo nem sua importância, até porque é preciso parar, abaixar-se, aproximar-se para enxergá-lo.
Não é muito diferente com os outros seres humanos com quem convivemos nessa era expressa, de distração constante. Para conhecer o outro, estabelecer relações e até encontrar o amor é preciso, afinal, pelo menos um momento de atenção”.
O que disse a crítica: Bruno Carmelo do site Meio Amargo avaliou o filme com o equivalente à 4,5, ou seja, excelente. Disse: “Esta produção percorre um caminho curioso, do macro ao micro. (...) Este zoom-in no universo ocorre de maneira progressiva, calma, quase imperceptível. O diretor Bas Devos conduz a obra com a segurança de quem já trilhou estes rumos antes, e demonstra total domínio de coesão e coerência - seja de discurso, narrativa, estética. Nenhuma imagem destoa do conjunto, nenhum plano constitui mera vaidade de direção ou de fotografia. A montagem possui a serenidade rígida de um metrônomo, conferindo tempos equivalentes aos planos - aqui, a conduta não se acelera, nem se arrasta. Por trás da aparência de banalidade cotidiana, há um maquinário finamente regulado”.
Cláudio Alves da HD Magazine também gostou muito, avaliou com o equivalente à 4,6 estrelas. Ele disse: “’Here’ vê o cinema de Bas Devos desenvolver-se na mesma linha estabelecida em ‘Trópico Fantasma’. O humanismo domina o projeto, manifestando-se em idiomas textuais e audiovisuais que tentam dar atenção aos pequenos milagres de cada dia. A comunhão de duas almas errantes aqui gera o seu próprio toque, cheiro, sabor. É musgo feito floresta e é sopa em jeito de carta de amor. Além disso, é uma apaixonada canção em honra de Bruxelas, uma dessas verdadeiras sinfonias urbanas como as que vingaram nos tempos do cinema mudo”.
O que eu achei: Trata-se de um filme que foge completamente do convencional. O roteiro mostra um imigrante romeno que trabalha na construção civil na Bélgica e, assim como todos os trabalhadores dessa área, ele passa praticamente invisível à sociedade. Em paralelo uma mulher belga-chinesa prepara um doutorado sobre musgos, esses seres invisíveis que constroem mundos particulares. Em comum, esse rapaz e essa moça fazem sopas: ele com os restos que tem na geladeira e ela ajudando a tia num restaurante chinês. Ponto. Então muito pouca coisa acontece nesse filme sem conflitos que não deve ter o nome “Here” por acaso, mas sim para nos mostrar que o que importa é o tempo presente, o aqui e o agora que a meditação tanto valoriza e busca. O filme então, não é ruim nem bom. Está mais para um processo de tranquilidade e encanto com a natureza, com um bom trabalho sonoro. Eu particularmente não gostei tanto, mas a crítica especializada foi tão elogiosa que talvez valha ver e tirar suas próprias conclusões.