Sinopse: Um jovem (Jerzy Stuhr) sai da prisão depois de ter cumprido pena por três anos. Ele quer começar uma nova vida em um lugar onde não é conhecido e sonha apenas em ter um emprego, uma esposa e uma família. Ele consegue realizar parcialmente os seus sonhos, mas, em seguida, mete-se em um conflito no trabalho entre o chefe corrupto e os colegas que planejam uma greve.
Comentário: Krzysztof Kieslowski (1941-1996) é um cineasta polonês de quem já assisti aos ótimos “Decálogo” (1989) - composto por 10 filmes inspirados pelos 10 Mandamentos - e “Trilogia das Cores” (1993-1994) - composta pelos filmes “A Liberdade é Azul”, “A Fraternidade é Vermelha” e “A Igualdade é Branca”, além do bom “Sorte Cega” (1981). “Calma” (1976) é o segundo longa do diretor.
Segundo o site Wikipédia, “Calma” foi feito em 1976, mas não foi exibido até ser transmitido pela televisão polonesa em 1980, ou seja, com cinco anos de defasagem, por ter sido proibido pelo estado por causa de seu assunto: greves eram ilegais na Polônia naquela época.
Baseado em uma história de Lech Borski e roteirizado pelo próprio Kieslowski junto com o ator protagonista do filme, Jerzy Stuhr, a trama gira em torno de um jovem que sai da prisão após cumprir três anos de uma sentença de cinco e que agora busca começar uma nova vida. Seus sonhos de uma vida melhor são quebrados, no entanto, quando ele é forçado a participar de um conflito entre um chefe corrupto de uma construtora e seus colegas de trabalho que entram em greve.
Cosmo Björkenheim do site Screen Slate nos diz que “Em ‘Calma’, as modestas ambições do condenado Antek Gralak (Jerzy Stuhr) para sua nova vida (‘uma televisão e uma esposa’) nos dão uma dica sobre o recuo de Kieslowski da política para ‘o indivíduo e sua situação’. Apesar das representações controversas de presos realizando trabalho fora da prisão (uma prática oficialmente proibida na Polônia na época) e de uma greve (a primeira vez em uma tela polonesa, de acordo com Kieslowski), ‘Calma’ cai na armadilha do protagonista excepcional, ou seja, a tendência de distinguir entre um personagem central individual e as pessoas que constituem seu meio.
Essa forma dramática exige que o protagonista seja ‘diferente’ de seus colegas (...) e Antek é um exemplo: ao contrário de seus companheiros de construção, ele é um ex-presidiário e um futuro pai recém-casado, o que o torna mais vulnerável e mais sobrecarregado de responsabilidades, justificando assim sua posição como mediador entre a gerência e os trabalhadores em greve.
Sua relutância em apoiar totalmente a ação deles é atribuída às suas circunstâncias especiais e à sua essência psicológica (...). Em uma época anterior, mais rigorosa ideologicamente, seu comportamento poderia ter sido chamado de oportunista, enquanto aqui não é nada além de fraqueza humana”.
O filme foi rodado na Cracóvia. No elenco estão Jerzy Stuhr, Izabella Olszewska e Jerzy Trela.
Recebeu o Prêmio Especial do Júri do Festival de Cinema Polonês.
O que disse a crítica: Francesco Grieco do site CineCriticaWeb disse: “Kieslowski já demonstrava aqui que um grande cinema também pode ser feito trabalhando para a TV (...) tal como seria o próprio ‘Decálogo’. Em ‘Calma’ o talento de atuação de Stuhr se manifesta em toda a sua clareza cristalina. (...) O personagem Gralak quer começar uma nova vida depois de três anos de prisão. Suas aspirações, numa nação que ainda era comunista na época, poderiam ser definidas depreciativamente como pequeno-burguesas e individualistas: obter sem pressa uma casa própria, uma família, viver na paz de quem quer evitar conflitos por indiferença ou mansidão. Num filme inevitavelmente político, mesmo que apenas pelo contexto social em que se passa, o principal interesse de Kieslowski é, no entanto, representar o conflito interno, a profunda dilaceração que o seu protagonista enfrenta”.
A Filmoteka Narodowa, que fez uma exibição do filme em 2023, escreveu: “O diretor mostrou a falta de perspectivas e as condições de vida muito modestas que o socialismo criou para a classe trabalhadora. Além disso, as pessoas que deveriam ser sujeitos do sistema são enganadas pelas autoridades, mesmo aquelas que lhes são mais próximas e bem conhecidas. A natureza da cinematografia de Jacek Petrycki, os diálogos do diretor e do ator principal imitando a forma real de comunicação, e a cenografia de Rafał Waltenberger apresentando a realidade da existência dos personagens são as vantagens inegáveis da imagem, que nos captura com a verdade de uma narrativa quase documental”.
O que eu achei: Não é o melhor filme do Kieslowski, mas quem gosta do diretor vai achar curioso ver seu segundo longa, sem o refinamento de sua fase mais madura, um filme simples, bruto e raro. Encontrei a cópia num canal do YouTube com legendas em português. O roteiro se sustenta em cima de um homem que cumpriu 3 anos de prisão e agora pretende recomeçar sua vida. Há situações em que ele até mesmo parece ingênuo, o que desconstrói o estereótipo de um criminoso, tirando qualquer tipo de julgamento de cima do protagonista. Em momento algum se tem a impressão de que esse personagem é rotulado, pelo contrário, a ênfase é dada naquilo que é realmente pertinente à reflexão: as relações trabalhistas bem como a demarcada cisão entre o trabalho prescrito e o executado, mostrando as dificuldades de comunicação entre camadas hierárquicas opostas. É um filme portanto sobre recomeço, realizações, corrupção, exploração e verdade. Seria apenas um filme comum nas mãos de algum outro diretor, mas mesmo sem muita experiência já vemos ali uma marca registrada de Kieslowski através das imagens, dos diálogos e das atuações. No mínimo interessante.
Segundo o site Wikipédia, “Calma” foi feito em 1976, mas não foi exibido até ser transmitido pela televisão polonesa em 1980, ou seja, com cinco anos de defasagem, por ter sido proibido pelo estado por causa de seu assunto: greves eram ilegais na Polônia naquela época.
Baseado em uma história de Lech Borski e roteirizado pelo próprio Kieslowski junto com o ator protagonista do filme, Jerzy Stuhr, a trama gira em torno de um jovem que sai da prisão após cumprir três anos de uma sentença de cinco e que agora busca começar uma nova vida. Seus sonhos de uma vida melhor são quebrados, no entanto, quando ele é forçado a participar de um conflito entre um chefe corrupto de uma construtora e seus colegas de trabalho que entram em greve.
Cosmo Björkenheim do site Screen Slate nos diz que “Em ‘Calma’, as modestas ambições do condenado Antek Gralak (Jerzy Stuhr) para sua nova vida (‘uma televisão e uma esposa’) nos dão uma dica sobre o recuo de Kieslowski da política para ‘o indivíduo e sua situação’. Apesar das representações controversas de presos realizando trabalho fora da prisão (uma prática oficialmente proibida na Polônia na época) e de uma greve (a primeira vez em uma tela polonesa, de acordo com Kieslowski), ‘Calma’ cai na armadilha do protagonista excepcional, ou seja, a tendência de distinguir entre um personagem central individual e as pessoas que constituem seu meio.
Essa forma dramática exige que o protagonista seja ‘diferente’ de seus colegas (...) e Antek é um exemplo: ao contrário de seus companheiros de construção, ele é um ex-presidiário e um futuro pai recém-casado, o que o torna mais vulnerável e mais sobrecarregado de responsabilidades, justificando assim sua posição como mediador entre a gerência e os trabalhadores em greve.
Sua relutância em apoiar totalmente a ação deles é atribuída às suas circunstâncias especiais e à sua essência psicológica (...). Em uma época anterior, mais rigorosa ideologicamente, seu comportamento poderia ter sido chamado de oportunista, enquanto aqui não é nada além de fraqueza humana”.
O filme foi rodado na Cracóvia. No elenco estão Jerzy Stuhr, Izabella Olszewska e Jerzy Trela.
Recebeu o Prêmio Especial do Júri do Festival de Cinema Polonês.
O que disse a crítica: Francesco Grieco do site CineCriticaWeb disse: “Kieslowski já demonstrava aqui que um grande cinema também pode ser feito trabalhando para a TV (...) tal como seria o próprio ‘Decálogo’. Em ‘Calma’ o talento de atuação de Stuhr se manifesta em toda a sua clareza cristalina. (...) O personagem Gralak quer começar uma nova vida depois de três anos de prisão. Suas aspirações, numa nação que ainda era comunista na época, poderiam ser definidas depreciativamente como pequeno-burguesas e individualistas: obter sem pressa uma casa própria, uma família, viver na paz de quem quer evitar conflitos por indiferença ou mansidão. Num filme inevitavelmente político, mesmo que apenas pelo contexto social em que se passa, o principal interesse de Kieslowski é, no entanto, representar o conflito interno, a profunda dilaceração que o seu protagonista enfrenta”.
A Filmoteka Narodowa, que fez uma exibição do filme em 2023, escreveu: “O diretor mostrou a falta de perspectivas e as condições de vida muito modestas que o socialismo criou para a classe trabalhadora. Além disso, as pessoas que deveriam ser sujeitos do sistema são enganadas pelas autoridades, mesmo aquelas que lhes são mais próximas e bem conhecidas. A natureza da cinematografia de Jacek Petrycki, os diálogos do diretor e do ator principal imitando a forma real de comunicação, e a cenografia de Rafał Waltenberger apresentando a realidade da existência dos personagens são as vantagens inegáveis da imagem, que nos captura com a verdade de uma narrativa quase documental”.
O que eu achei: Não é o melhor filme do Kieslowski, mas quem gosta do diretor vai achar curioso ver seu segundo longa, sem o refinamento de sua fase mais madura, um filme simples, bruto e raro. Encontrei a cópia num canal do YouTube com legendas em português. O roteiro se sustenta em cima de um homem que cumpriu 3 anos de prisão e agora pretende recomeçar sua vida. Há situações em que ele até mesmo parece ingênuo, o que desconstrói o estereótipo de um criminoso, tirando qualquer tipo de julgamento de cima do protagonista. Em momento algum se tem a impressão de que esse personagem é rotulado, pelo contrário, a ênfase é dada naquilo que é realmente pertinente à reflexão: as relações trabalhistas bem como a demarcada cisão entre o trabalho prescrito e o executado, mostrando as dificuldades de comunicação entre camadas hierárquicas opostas. É um filme portanto sobre recomeço, realizações, corrupção, exploração e verdade. Seria apenas um filme comum nas mãos de algum outro diretor, mas mesmo sem muita experiência já vemos ali uma marca registrada de Kieslowski através das imagens, dos diálogos e das atuações. No mínimo interessante.