4.11.24

“Estranha Obsessão” - Pawel Pawlikowski (França, 2011)

Sinopse:
O escritor americano Tom (Ethan Hawke) se muda para Paris para se aproximar da filha, que mora lá com a ex-mulher dele. No entanto, ele tem uma ordem de restrição para não se aproximar nem da menina e nem da ex-mulher. Para ficar na cidade, ele arruma um emprego como segurança e aluga um quarto em um hostel. Um certo dia ele conhece uma viúva misteriosa chamada Margit (Kristin Scott Thomas), mas ele também começa a sair com Ania (Joanna Kulig), que trabalha no bar do hostel.
Comentário: Pawel Pawlikowski (1957) é um cineasta polonês. Ele produziu uma série de documentários na década de 1990. Dentre seus longas estão “Último Recurso" (2000) e "Meu Verão de Amor" (2004), além dos ótimos "Ida" (2013) - que ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro - e "Guerra Fria" (2018) - pelo qual Pawlikowski ganhou o prêmio de Melhor Diretor no Festival de Cannes. “Estranha Obsessão” (2011) é o terceiro longa que vejo dele.
Chris Cabin do site Slant Magazine nos conta que “o cheiro de catástrofe pessoal e o impulso furioso permeiam todo o ‘Estranha Obsessão’. (...) Embora seja essencialmente (...) um thriller salpicado de questões sobrenaturais, o quarto longa narrativo de Pawlikowski lida com temas de inspiração artística e de emoções sombrias e frustradas que emanam de ter ideias atrofiadas por questões pessoais ou restrições sociais”.
Segundo Cabin, o filme reflete a morte trágica da esposa do diretor em 2006 e, em uma extensão muito menor, reflete também os problemas em torno da adaptação do livro “The Restraint of Beasts” (que seria algo como "A Restrição" ou "A Contenção das Bestas"), do escritor Magnus Mills, gerando um filme que pulsa com um peso pessoal substancial e se eriça com uma vida interior violenta e assustadora.
A morte da esposa, de fato, alterou profundamente a vida do cineasta. Em 2006 - exatamente quando o diretor estava fazendo a adaptação do livro - ela foi diagnosticada com câncer terminal, o que fez Pawel Pawlikowski parar tudo o que estava fazendo para cuidar dela e dos seus dois filhos pequenos. Ela morreu em poucos meses, mas ele só voltou a trabalhar cinco anos depois por causa das crianças.
Cabin prossegue dizendo que “Boa parte do que define essas facetas raras é [o ator] Ethan Hawke, que aqui dá sua performance mais forte e eficaz desde ‘Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto’ . Ele interpreta Tom Ricks, um romancista e professor universitário americano que se encontra quebrado e vivendo em cima de um café parisiense sujo depois de ter sua bagagem roubada e ser ameaçado de prisão por sua ex-esposa (Delphine Chuillot). Lutando para se reconectar com sua filha (Julie Papillon), ele aceita um emprego aparentemente simples com seu senhorio desprezível, Sezer (Samir Guesmi), e se envolve com duas mulheres, a garçonete Ania (Joanna Kulig) e a misteriosa viúva Margit (Kristin Scott Thomas).
Pawlikowski, que também adaptou o roteiro vagamente do romance de mesmo nome de Douglas Kennedy [além do livro anteriormente citado], desenvolve essas vertentes narrativas de uma forma notavelmente coesa diante de um cenário de impotência artística raivosa. Consistentemente relatado, mas nunca explicado diretamente, o lado violento de Tom e sua busca confusa por inspiração estão interligados e, ainda assim, quando ele encontra uma explosão de inspiração, em Margit e seu trabalho sangrento e secreto, ele ainda é incapaz de escrever nada além de longas cartas para sua filha.
Não é tão difícil ver Pawlikowski na posição de Tom, incapaz de transmitir diretamente as emoções sombrias, feias e dolorosas que ele enfrentou, mas também incapaz de apenas rodar uma narrativa de gênero impessoal.
Trabalhando com seu diretor de fotografia regular Ryszard Lenczewski, Pawlikowski também consegue misturar suas preocupações visuais habituais (insetos e natureza) com uma visão singularmente severa e irritante da Cidade das Luzes [Paris]. Essa estética sutil, porém singular, dá ao filme uma potência onipresente, enquanto as decisões visuais de um cineasta menor poderiam ter cedido sob o frenesi psicossexual que irrompe na parte final do filme.
O que disse a crítica: Leonardo Campos do site Plano Crítico avaliou com 2,5 estrelas, ou seja, regular. Disse tratar-se de uma “história amarga sobre um homem que já perdeu toda a camada de brilho que representa uma faísca de vida para agonizar diante das circunstancias insalubres que envolvem o seu ofício de escritor e as suas relações interpessoais. Todo esse material deveria ser potência para tornar a narrativa um exercício grandioso de catarse, mas na verdade, a mesma angústia do personagem é transmitida aos espectadores, (...) [resultando numa] trama que consegue ser tediosa, mesmo com seus brevíssimos 85 minutos de duração”. Segundo Campos o filme é letárgico, cifrado demais e possui uma “pretensão em ser difícil que se transforma em tédio e acaba sendo mais tola e clichê que filosófica”.
Por outro lado, Fer Kalaoun da Revista Bula gostou bastante, avaliou com 4 estrelas, ou seja, excelente. Escreveu que “o roteiro misterioso e intricado exige mais que a atenção do espectador; é necessário paciência e imaginação também”. Ela elogia a atuação de Ethan Hawke, dizendo que “Hawke está sempre selecionando excelentes personagens e nos apresentando tramas hipnotizantes. Se ele tem o azar de escolher um roteiro fraco, também tem a sorte de torná-lo interessante com sua atuação. E é mais ou menos isso que acontece aqui em ‘Estranha Obsessão’, um suspense que é melhor do que deveria ser graças à interpretação intensa e honesta do protagonista”.
O que eu achei: Eu achei o filme mediano. A princípio ele começa bem, segue bem até o terço final, mas depois, quando a coisa começa a enveredar pelo sobrenatural ou pelo doentio, daí a trama entra naquele caminho onde tudo pode e daí, a meu ver, acaba perdendo um pouco a força e tendo um final que já vimos em tantos outros filmes que também seguem essa linha. A película termina e você se pergunta: foi a mente doentia dele que inventou tudo isso? Será que tudo o que vimos de fato ocorreu? Ou será que ele tem dons mediúnicos? Eu pessoalmente não gosto tanto quando um filme termina dessa forma. Recentemente assisti “Barton Fink - Delírios de Hollywood” (1991) dos irmãos Coen, e ele também acaba sem resposta para essas questões. De qualquer forma “Barton Fink” ainda é superior, bem superior inclusive.