
Comentário: Nuri Bilge Ceylan (1959) é um cineasta turco. Dentre suas produções estão “A Pequena Cidade” (1997); “Nuvens de Maio” (1999); “Climas” (2006); “Distante” (2003), que recebeu o Prêmio Especial do Júri em Cannes; “3 Macacos” (2009) que ganhou Melhor Direção em Cannes; “Era Uma Vez na Anatólia” (2011), ganhador do Prêmio Especial do Júri em Cannes; “Sono de Inverno” (2014), Palma de Ouro em Cannes e Prêmio Fipresci (Crítica Internacional) e “A Árvore dos Frutos Selvagens” (2019). Assisti apenas “Sono de Inverno”. Desta vez vou conferir “Ervas Secas” (2023).
Maria do Rosário Caetano do site Revista de Cinema nos conta tratar-se do “nono longa-metragem de Nuri Bilge Ceylan, [considerado] o ‘Tchecov turco’. (...) O filme – belo e denso como seus antecessores ‘Era Uma Vez na Anatólia’ e ‘Sono de Inverno’ - merece fruição serena e reflexiva. Afinal, o cinema de Ceylan deixa marcas profundas. Ele não é um realizador qualquer. É um dos grandes cineastas do mundo contemporâneo.
Em outubro do ano passado, ‘Ervas Secas’ foi exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, mas, por sua duração (3h17m), acabou apertado entre os horários da maratona paulistana. Quem o viu, deve revê-lo com a calma merecida. Quem não o viu, pode agora programá-lo como uma visita a uma catedral, ao Museu do Louvre, do Prado ou do Vaticano. Assumindo a redundância: o cinema de Ceylan é epifânico, profundo, fascinante e constitui-se em programa obrigatório para quem vê o cinema fora dos limites do entretenimento. Há que se lembrar que os filmes do realizador turco não são herméticos. Se fazem entender e propõem ao público discussões importantes. Seja o papel do intelectual em sociedades tradicionais, a luta coletiva confrontada com o individualismo, as relações de poder. As relações humanas, enfim.
Depois de conquistar a Palma de Ouro [em Cannes] com o magnífico e tchecoviano ‘Sono de Inverno’, Ceylan realizou ‘A Árvore dos Frutos Selvagens’, outro filme de imensas qualidades. Antes do laureado ‘Sono de Inverno’, ele já somava importantes troféus no festival francês (...). Ao recente ‘Ervas Secas’ coube o prêmio de melhor intérprete para Merve Dizdar. Com a láurea, ela tornou-se a primeira atriz turca a levar o ramo dourado para Istambul (e também para sua Esmirna natal, onde nasceu há 37 anos).
Nuri Bilge Ceylan é um artista de muitos ofícios. Formou-se em Engenharia e apaixonou-se pela fotografia. Resolveu estudar cinema e acabou dedicando-se integralmente ao audiovisual, seja como diretor, roteirista, montador, fotógrafo e-ou produtor. Em ‘Ervas Secas’, ele assina o roteiro e a montagem (com parceiros), a direção e a produção”.
Mas do que se trata o filme? Ele começa com o regresso das férias do professar de arte Samet. Ele está concluindo seu quarto ano de serviço obrigatório num vilarejo remoto, próximo a Erzurum, na Anatólia Oriental. De formação cosmopolita, ele é individualista e detesta aquele fim de mundo e não vê a hora de regressar a Istambul. Enquanto a hora de voltar não chega, surge na vida de Samet uma acusação de contato inadequado por uma aluna. Com isso, suas esperanças de ser transferido para Istambul e fugir dessa vida sombria desaparecem. Até que seu encontro com a professora Nuray (Merve Dizdar) lhe apresenta novas perspectivas de vida.
Caetano chama a atenção para a presença da fotografia na trama. Segundo ela, “o protagonista Samet (Deniz Celiloglu) é, além de professor, um fotógrafo que registra as paisagens físicas e humanas que o circundam. E suas imagens batem na tela como uma rica fonte documental. A professora Nuray (Merve Dizdar), que atua em outra escola, é também desenhista e faz questão de registrar, com uma fotografia, o rosto de Kenan (Musab Eric). Servirá de base a um futuro desenho”, Ela diz que ele é “um diretor-roteirista tomado de paixão pela dramaturgia, mas sem esquecer jamais da importância da imagem. Afinal, a fotografia é uma de suas paixões e ofício”.
Com relação à ideia para fazer o filme, Ceylan concedeu uma entrevista contando que a inspiração para o filme foi um caso real sobre o qual leu, ocorrido nessa mesma região da Turquia. Para ele, é natural que professores criem conexões especiais com determinados alunos e, no caso de seu filme, a aluna Sevim dá a Samet a energia que ele precisa para encarar o exílio naquele local inóspito. Ele deixa claro que não houve abuso sexual, mas declara que ele, obviamente, não pode controlar o espectador que pensa que talvez haja algo nesse sentido.
O que disse a crítica: Marcelo Müller do site Papo de Cinema avaliou com 4 estrelas, ou seja, excelente. Disse: “’Ervas Secas’ é o estudo de um personagem inserido no contexto patriarcal que premia seus mantenedores/perpetuadores com regalias sociais – como não ser devidamente investigado, ter a proteção dos pares e ganhar vantagens ao duelar com uma acusadora criança/mulher. Mesmo que aparentemente dê uma guinada de 180 graus com a entrada em cena de Nuray, o filme cria a partir disso outra dinâmica interessante, inclusive por continuar destrinchando a personalidade desse protagonista definido pelo exercício de poder como um demarcador social. (...) Por mais que certos diálogos pareçam vagos/banais, supostamente pouco agregando a essas tensões que eletrificam a narrativa, eles servem para que não nos escape a complexidade das pessoas e das circunstâncias. Além disso, ainda que soe meio gratuita a breve quebra da ilusão cinematográfica pela revelação dos bastidores, o gesto é muito forte e bonito”.
Marcio Sallem do site Cinema com Crítica gostou ainda mais, avaliou com 4,5 estrelas. Escreveu: “A obra do turco Nuri Bilge Ceylan é um gosto adquirido. Há um elitismo no que afirmei, mas comento por experiência própria acerca do desafio de ter assistido à ‘Era Uma Vez em Anatólia’ (2011), meu primeiro contato com a obra do diretor. É que a estaticidade das imagens de Ceylan é apenas rivalizada pelo dinamismo proposto em diálogos que não servem só a função de empurrar a história adiante ou de aprofundamento dos personagens, apresentam ideias e filosofias que são a essência da obra do diretor. A sensação que tenho é que Ceylan é um escritor que adotou a arte cinematográfica como maneira de escrever livros imagéticos”. Ele sugere que observemos a subdivisão “em capítulos”, nas quais “os personagens discutem temas existenciais e filosóficos em diálogos extensos, porém não cansativos, que modelam a forma do filme mais até do que fazem a encenação ou a montagem”.
O que eu achei: Este é o segundo filme que assisti do diretor turco Nuri Bilge Ceylan. O primeiro foi “Sono de Inverno” (2014) que com certeza eu vou precisar rever pois, na época, achei o filme longo demais (3h16m) e lembro de ter ficado com a sensação de que o cineasta poderia ter transmitido a mesma mensagem num tempo bem mais curto. Hoje, depois de assistir “Ervas Secas” (2023), estou com a sensação de que ver um filme dele é questão de aprendizado, de “adquirir um gosto” e acho que, desta vez, fui fisgada. “Ervas Secas” não é um filme qualquer. Além dele ser tão longo quanto o outro (3h17m), algo que faz uma boa parcela da população fugir da experiência, ele também possui uma verborragia e uma abordagem que não são para a fruição de qualquer pessoa pois ele não se resume ao ato de contar uma história como a maioria dos filmes faz. O que Ceylan faz aqui, a meu ver, é pegar um conceito e criar tramas que desenvolvam essa ideia central, assim como faz a arte contemporânea que vemos nas galerias e bienais mundo afora. Para mim, “Ervas Secas” é sobre “perspectiva”, palavra essa que o personagem principal Samet, professor de arte de uma escola, chega a escrever literalmente na lousa numa de suas aulas. Com isso todas as tramas mostradas no filme giram em torno da ideia de que seres humanos possuem pontos de vista diferentes e que a verdade nunca é uma só. Assim temos o professor que veio de Istambul para dar aula numa região remota da Anatólia Oriental, cujo ponto de vista sobre as pessoas que ali habitam é preconceituoso, ele se acha superior a tudo e a todos por ter vindo de uma cidade cosmopolita. Temos o ponto de vista das alunas que, apesar de nunca terem sido de fato assediadas por ninguém, assim se sentem pelo fato de terem sido criadas naquele lugar remoto onde ninguém além de sua família lhes dá tanta atenção. E assim por diante, cada personagem - a professora de inglês que perdeu uma perna numa explosão, o parceiro de casa do professor que quer se casar e atender o desejo de sua mãe, o diretor da escola que precisa seguir as normas da instituição à risca, o comerciante do vilarejo em seu embate com um jovem da cidade, etc - agindo de acordo com seu ponto de vista individual do mundo que o cerca. Do ponto de vista coletivo, o filme tem como pano de fundo a questão curda, que aspira conquistar sua independência política e territorial. A luta pela autonomia desse povo, que não é compreendida por outras etnias, vem sendo combatida de maneira violenta, especialmente no Iraque e na Turquia, onde o filme se passa. Para completar, há no filme a questão da representação física da perspectiva e do ponto de vista de cada um, quando mostra as fotos tiradas pelo professor de arte (lindas por sinal), as pinturas feitas pela professora de inglês e o passeio, nada gratuito, que o diretor faz rapidamente pelos bastidores do filme como que querendo dizer: - “este é o meu ponto de vista”. Por conta dessa qualidade rara num longa de deslocar seu foco narrativo de uma história para um conceito, e somando-se a isso uma fotografia excepcional, uma trilha sonora impecável e atores competentes, o que temos aqui beira o status de obra-prima. Atenção especial à atriz Merve Dizdar que interpreta a professora de inglês Nuray - prêmio de melhor intérprete em Cannes - e às magníficas fotografias tiradas pelo professor Samet, mas que na verdade são de autoria do próprio Nuri Bilge Ceylan e de sua esposa Ebru Ceylan. Imperdível.
Maria do Rosário Caetano do site Revista de Cinema nos conta tratar-se do “nono longa-metragem de Nuri Bilge Ceylan, [considerado] o ‘Tchecov turco’. (...) O filme – belo e denso como seus antecessores ‘Era Uma Vez na Anatólia’ e ‘Sono de Inverno’ - merece fruição serena e reflexiva. Afinal, o cinema de Ceylan deixa marcas profundas. Ele não é um realizador qualquer. É um dos grandes cineastas do mundo contemporâneo.
Em outubro do ano passado, ‘Ervas Secas’ foi exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, mas, por sua duração (3h17m), acabou apertado entre os horários da maratona paulistana. Quem o viu, deve revê-lo com a calma merecida. Quem não o viu, pode agora programá-lo como uma visita a uma catedral, ao Museu do Louvre, do Prado ou do Vaticano. Assumindo a redundância: o cinema de Ceylan é epifânico, profundo, fascinante e constitui-se em programa obrigatório para quem vê o cinema fora dos limites do entretenimento. Há que se lembrar que os filmes do realizador turco não são herméticos. Se fazem entender e propõem ao público discussões importantes. Seja o papel do intelectual em sociedades tradicionais, a luta coletiva confrontada com o individualismo, as relações de poder. As relações humanas, enfim.
Depois de conquistar a Palma de Ouro [em Cannes] com o magnífico e tchecoviano ‘Sono de Inverno’, Ceylan realizou ‘A Árvore dos Frutos Selvagens’, outro filme de imensas qualidades. Antes do laureado ‘Sono de Inverno’, ele já somava importantes troféus no festival francês (...). Ao recente ‘Ervas Secas’ coube o prêmio de melhor intérprete para Merve Dizdar. Com a láurea, ela tornou-se a primeira atriz turca a levar o ramo dourado para Istambul (e também para sua Esmirna natal, onde nasceu há 37 anos).
Nuri Bilge Ceylan é um artista de muitos ofícios. Formou-se em Engenharia e apaixonou-se pela fotografia. Resolveu estudar cinema e acabou dedicando-se integralmente ao audiovisual, seja como diretor, roteirista, montador, fotógrafo e-ou produtor. Em ‘Ervas Secas’, ele assina o roteiro e a montagem (com parceiros), a direção e a produção”.
Mas do que se trata o filme? Ele começa com o regresso das férias do professar de arte Samet. Ele está concluindo seu quarto ano de serviço obrigatório num vilarejo remoto, próximo a Erzurum, na Anatólia Oriental. De formação cosmopolita, ele é individualista e detesta aquele fim de mundo e não vê a hora de regressar a Istambul. Enquanto a hora de voltar não chega, surge na vida de Samet uma acusação de contato inadequado por uma aluna. Com isso, suas esperanças de ser transferido para Istambul e fugir dessa vida sombria desaparecem. Até que seu encontro com a professora Nuray (Merve Dizdar) lhe apresenta novas perspectivas de vida.
Caetano chama a atenção para a presença da fotografia na trama. Segundo ela, “o protagonista Samet (Deniz Celiloglu) é, além de professor, um fotógrafo que registra as paisagens físicas e humanas que o circundam. E suas imagens batem na tela como uma rica fonte documental. A professora Nuray (Merve Dizdar), que atua em outra escola, é também desenhista e faz questão de registrar, com uma fotografia, o rosto de Kenan (Musab Eric). Servirá de base a um futuro desenho”, Ela diz que ele é “um diretor-roteirista tomado de paixão pela dramaturgia, mas sem esquecer jamais da importância da imagem. Afinal, a fotografia é uma de suas paixões e ofício”.
Com relação à ideia para fazer o filme, Ceylan concedeu uma entrevista contando que a inspiração para o filme foi um caso real sobre o qual leu, ocorrido nessa mesma região da Turquia. Para ele, é natural que professores criem conexões especiais com determinados alunos e, no caso de seu filme, a aluna Sevim dá a Samet a energia que ele precisa para encarar o exílio naquele local inóspito. Ele deixa claro que não houve abuso sexual, mas declara que ele, obviamente, não pode controlar o espectador que pensa que talvez haja algo nesse sentido.
O que disse a crítica: Marcelo Müller do site Papo de Cinema avaliou com 4 estrelas, ou seja, excelente. Disse: “’Ervas Secas’ é o estudo de um personagem inserido no contexto patriarcal que premia seus mantenedores/perpetuadores com regalias sociais – como não ser devidamente investigado, ter a proteção dos pares e ganhar vantagens ao duelar com uma acusadora criança/mulher. Mesmo que aparentemente dê uma guinada de 180 graus com a entrada em cena de Nuray, o filme cria a partir disso outra dinâmica interessante, inclusive por continuar destrinchando a personalidade desse protagonista definido pelo exercício de poder como um demarcador social. (...) Por mais que certos diálogos pareçam vagos/banais, supostamente pouco agregando a essas tensões que eletrificam a narrativa, eles servem para que não nos escape a complexidade das pessoas e das circunstâncias. Além disso, ainda que soe meio gratuita a breve quebra da ilusão cinematográfica pela revelação dos bastidores, o gesto é muito forte e bonito”.
Marcio Sallem do site Cinema com Crítica gostou ainda mais, avaliou com 4,5 estrelas. Escreveu: “A obra do turco Nuri Bilge Ceylan é um gosto adquirido. Há um elitismo no que afirmei, mas comento por experiência própria acerca do desafio de ter assistido à ‘Era Uma Vez em Anatólia’ (2011), meu primeiro contato com a obra do diretor. É que a estaticidade das imagens de Ceylan é apenas rivalizada pelo dinamismo proposto em diálogos que não servem só a função de empurrar a história adiante ou de aprofundamento dos personagens, apresentam ideias e filosofias que são a essência da obra do diretor. A sensação que tenho é que Ceylan é um escritor que adotou a arte cinematográfica como maneira de escrever livros imagéticos”. Ele sugere que observemos a subdivisão “em capítulos”, nas quais “os personagens discutem temas existenciais e filosóficos em diálogos extensos, porém não cansativos, que modelam a forma do filme mais até do que fazem a encenação ou a montagem”.
O que eu achei: Este é o segundo filme que assisti do diretor turco Nuri Bilge Ceylan. O primeiro foi “Sono de Inverno” (2014) que com certeza eu vou precisar rever pois, na época, achei o filme longo demais (3h16m) e lembro de ter ficado com a sensação de que o cineasta poderia ter transmitido a mesma mensagem num tempo bem mais curto. Hoje, depois de assistir “Ervas Secas” (2023), estou com a sensação de que ver um filme dele é questão de aprendizado, de “adquirir um gosto” e acho que, desta vez, fui fisgada. “Ervas Secas” não é um filme qualquer. Além dele ser tão longo quanto o outro (3h17m), algo que faz uma boa parcela da população fugir da experiência, ele também possui uma verborragia e uma abordagem que não são para a fruição de qualquer pessoa pois ele não se resume ao ato de contar uma história como a maioria dos filmes faz. O que Ceylan faz aqui, a meu ver, é pegar um conceito e criar tramas que desenvolvam essa ideia central, assim como faz a arte contemporânea que vemos nas galerias e bienais mundo afora. Para mim, “Ervas Secas” é sobre “perspectiva”, palavra essa que o personagem principal Samet, professor de arte de uma escola, chega a escrever literalmente na lousa numa de suas aulas. Com isso todas as tramas mostradas no filme giram em torno da ideia de que seres humanos possuem pontos de vista diferentes e que a verdade nunca é uma só. Assim temos o professor que veio de Istambul para dar aula numa região remota da Anatólia Oriental, cujo ponto de vista sobre as pessoas que ali habitam é preconceituoso, ele se acha superior a tudo e a todos por ter vindo de uma cidade cosmopolita. Temos o ponto de vista das alunas que, apesar de nunca terem sido de fato assediadas por ninguém, assim se sentem pelo fato de terem sido criadas naquele lugar remoto onde ninguém além de sua família lhes dá tanta atenção. E assim por diante, cada personagem - a professora de inglês que perdeu uma perna numa explosão, o parceiro de casa do professor que quer se casar e atender o desejo de sua mãe, o diretor da escola que precisa seguir as normas da instituição à risca, o comerciante do vilarejo em seu embate com um jovem da cidade, etc - agindo de acordo com seu ponto de vista individual do mundo que o cerca. Do ponto de vista coletivo, o filme tem como pano de fundo a questão curda, que aspira conquistar sua independência política e territorial. A luta pela autonomia desse povo, que não é compreendida por outras etnias, vem sendo combatida de maneira violenta, especialmente no Iraque e na Turquia, onde o filme se passa. Para completar, há no filme a questão da representação física da perspectiva e do ponto de vista de cada um, quando mostra as fotos tiradas pelo professor de arte (lindas por sinal), as pinturas feitas pela professora de inglês e o passeio, nada gratuito, que o diretor faz rapidamente pelos bastidores do filme como que querendo dizer: - “este é o meu ponto de vista”. Por conta dessa qualidade rara num longa de deslocar seu foco narrativo de uma história para um conceito, e somando-se a isso uma fotografia excepcional, uma trilha sonora impecável e atores competentes, o que temos aqui beira o status de obra-prima. Atenção especial à atriz Merve Dizdar que interpreta a professora de inglês Nuray - prêmio de melhor intérprete em Cannes - e às magníficas fotografias tiradas pelo professor Samet, mas que na verdade são de autoria do próprio Nuri Bilge Ceylan e de sua esposa Ebru Ceylan. Imperdível.