
Comentário: Fritz Lang (1890-1976) foi um cineasta, realizador, argumentista e produtor nascido na Áustria, mas que dividiu sua carreira entre a Alemanha e Hollywood. É considerado uma das maiores figuras do cinema alemão e o mais notável e proeminente diretor a emergir da escola do expressionismo alemão, juntamente com Friedrich Wilhelm Murnau, muito embora Lang tenha sempre negado qualquer relação com o movimento expressionista. Assisti dele as obras-primas "Dr. Mabuse – Partes 1 e 2” (1922), "Metrópolis" (1927) e "M, O Vampiro de Dusseldorf" (1931), os ótimos "Vive-se Só Uma Vez" (1937) e "Quando Desceram as Trevas" (1944) e o mediano "O Segredo da Porta Fechada" (1947). Desta vez vou conferir “A Morte Cansada”, um filme mudo feito na Alemanha em 1921.
Luciana Corrêa de Araújo do site Contracampo nos conta que “Movida pelo amor e não pela fé, a heroína torna possível um diálogo com a morte ainda que essa não seja em absoluto uma conversa entre iguais. As poderosas personagens femininas do cinema de Fritz Lang aparecem desde os filmes silenciosos e a heroína de ‘A Morte Cansada’ é provavelmente a primeira da numerosa linhagem, que se firma a partir da colaboração com a roteirista Thea von Harbou, esposa do diretor, mas que se desdobra e se enriquece nas décadas seguintes, depois da separação do casal. (...)
Desde o título e ao longo de todo o filme, ‘A Morte Cansada’ superpõe divino e humano, desdenhando também das fronteiras entre ação e metafísica, cinema de gênero e filme de arte. Realizado em 1921, na transição entre duas décadas, retoma procedimentos dos anos 10 (desde os seriados americanos e europeus às ambiciosas alegorias históricas de Griffith), reconfigurando-os para a década seguinte numa fábula atemporal (‘Em algum tempo e em algum lugar’, diz o letreiro no início) conduzida por um olhar moderno que privilegia as contaminações às fronteiras definidas.
A morte que se ressente do cansaço tão humano, amaldiçoada na terra por cumprir os desígnios divinos, se afigura como uma das personagens mais solitárias da história do cinema. A destemida heroína, movida pela frase ‘O amor é mais forte que a morte’, terá seus momentos vilanescos ao deixar a compaixão de lado e propor a um mendigo ou a velhos moradores que troquem sua vida pela do jovem apaixonado. A mais bela história de amor do filme é sem dúvida a desse encontro improvável entre a morte e a moça, capaz de revelar um caminho de acesso entre os dois mundos, separados pela imensa muralha do desconhecido.
As formas arrebatadoras criadas por Fritz Lang podem ter se tornado um clichê da crítica, mas nunca deixam de surpreender nos próprios filmes. Em ‘A Morte Cansada’, a imagem do muro sem entradas, que toma todo o quadro e diante do qual as figuras humanas se revelam minúsculas e vulneráveis, expressa os sentimentos mais primitivos de medo do desconhecido, do outro absoluto, ao mesmo tempo inexpugnável e inevitável. E a morte com sua capa preta, na melhor tradição de heróis mascarados e bandidos vingadores, que inclui desde Zorro a Antonio das Mortes, adquire forma humana e entre humanos transita - mas sob a materialidade do figurino e da maquiagem não parece existir corpo possível, é puro símbolo”.
O filme é mudo, alguns trechos apresentam efeito de tingimento (como na sequência final durante um incêndio, dominada pela cor vermelha), rico em efeitos especiais e conta três histórias dentro de seu enredo. É considerada uma obra-chave para o primeiro período do expressionismo alemão.
O que disse a crítica: Rafael Lima do site Plano Crítico avaliou com 4 estrelas, ou seja, excelente. Disse: “’A Morte Cansada’ ainda é um trabalho de um diretor relativamente inexperiente e que ainda realizaria suas obras de maior destaque, mas que ainda assim, demonstra o grande talento de Fritz Lang. Visualmente impressionante e extremamente influente (Luis Buñuel apontaria o longa-metragem como o filme que o fez querer ser cineasta) ‘A Morte Cansada’ propõe discussões um pouco mais existencialistas que outras obras do Expressionismo Alemão, mas é indiscutivelmente uma importante parte do movimento que marcou a História do Cinema”.
Rubens Ewald Filho do site UOL Entretenimento avaliou com 5 estrelas, ou seja, obra-prima. Escreveu: “Uma extraordinária fantasia gótica com cenografia elaborada, fotografia expressionista muito bonita e efeitos especiais criativos que ajudam a criar o clima mágico do filme. Coescrito por Lang e sua então esposa Thea von Harbou, é uma bela fábula romântica sobre a inexorabilidade do destino (é especialmente tocante o fato de a própria Morte sofrer com a dor de suas vítimas) e que influenciou e marcou muitos diretores, de Bergman e Buñuel (...) até Mario Bava e Terry Gilliam. Uma raridade pouco vista e que merece ser descoberta”.
O que eu achei: Trata-se de um filme importante na história do cinema e na filmografia do diretor. Não é o primeiro filme dele, mas é considerado uma obra-chave para o primeiro período do expressionismo alemão. Em geral, as avaliações da crítica especializada são muito positivas, mas confesso que eu não gostei tanto. Claro, que o fato de ser mudo e de contar com recursos visuais muito surpreendentes para a época, já fazem valer a pena ele ser visto, nem que seja por mera curiosidade. Mas como filme, como enredo, não gostei tanto. O filme começa bem, com a figura da Morte - como diz a sinopse - tirando a vida de um jovem quando ele estava prestes a se casar. Mas quando sua amada reclama da morte do rapaz e a Morte, do nada, resolve lhe contar três histórias de amor que foram interrompidas pelo falecimento de um membro do casal - uma história ambientada na Pérsia, outra ambientada em Veneza e a última ambientada na China - o filme desanda. Essas histórias ficam tão deslocadas da trama que se desenhava que acabam servindo mais como uma distração do filme do que para acrescentar algo a ele. Todas são muito bem feitas, cheias de efeitos interessantes, mas que pra mim soaram como gratuitas e quem acabou cansada, além da Morte, fui eu. De qualquer forma não é um filme descartável. Vale ver para observar a criatividade do trabalho desses heróis do começo da história do cinema, especialmente Lang que tanta coisa boa criou ao longo da vida.
Luciana Corrêa de Araújo do site Contracampo nos conta que “Movida pelo amor e não pela fé, a heroína torna possível um diálogo com a morte ainda que essa não seja em absoluto uma conversa entre iguais. As poderosas personagens femininas do cinema de Fritz Lang aparecem desde os filmes silenciosos e a heroína de ‘A Morte Cansada’ é provavelmente a primeira da numerosa linhagem, que se firma a partir da colaboração com a roteirista Thea von Harbou, esposa do diretor, mas que se desdobra e se enriquece nas décadas seguintes, depois da separação do casal. (...)
Desde o título e ao longo de todo o filme, ‘A Morte Cansada’ superpõe divino e humano, desdenhando também das fronteiras entre ação e metafísica, cinema de gênero e filme de arte. Realizado em 1921, na transição entre duas décadas, retoma procedimentos dos anos 10 (desde os seriados americanos e europeus às ambiciosas alegorias históricas de Griffith), reconfigurando-os para a década seguinte numa fábula atemporal (‘Em algum tempo e em algum lugar’, diz o letreiro no início) conduzida por um olhar moderno que privilegia as contaminações às fronteiras definidas.
A morte que se ressente do cansaço tão humano, amaldiçoada na terra por cumprir os desígnios divinos, se afigura como uma das personagens mais solitárias da história do cinema. A destemida heroína, movida pela frase ‘O amor é mais forte que a morte’, terá seus momentos vilanescos ao deixar a compaixão de lado e propor a um mendigo ou a velhos moradores que troquem sua vida pela do jovem apaixonado. A mais bela história de amor do filme é sem dúvida a desse encontro improvável entre a morte e a moça, capaz de revelar um caminho de acesso entre os dois mundos, separados pela imensa muralha do desconhecido.
As formas arrebatadoras criadas por Fritz Lang podem ter se tornado um clichê da crítica, mas nunca deixam de surpreender nos próprios filmes. Em ‘A Morte Cansada’, a imagem do muro sem entradas, que toma todo o quadro e diante do qual as figuras humanas se revelam minúsculas e vulneráveis, expressa os sentimentos mais primitivos de medo do desconhecido, do outro absoluto, ao mesmo tempo inexpugnável e inevitável. E a morte com sua capa preta, na melhor tradição de heróis mascarados e bandidos vingadores, que inclui desde Zorro a Antonio das Mortes, adquire forma humana e entre humanos transita - mas sob a materialidade do figurino e da maquiagem não parece existir corpo possível, é puro símbolo”.
O filme é mudo, alguns trechos apresentam efeito de tingimento (como na sequência final durante um incêndio, dominada pela cor vermelha), rico em efeitos especiais e conta três histórias dentro de seu enredo. É considerada uma obra-chave para o primeiro período do expressionismo alemão.
O que disse a crítica: Rafael Lima do site Plano Crítico avaliou com 4 estrelas, ou seja, excelente. Disse: “’A Morte Cansada’ ainda é um trabalho de um diretor relativamente inexperiente e que ainda realizaria suas obras de maior destaque, mas que ainda assim, demonstra o grande talento de Fritz Lang. Visualmente impressionante e extremamente influente (Luis Buñuel apontaria o longa-metragem como o filme que o fez querer ser cineasta) ‘A Morte Cansada’ propõe discussões um pouco mais existencialistas que outras obras do Expressionismo Alemão, mas é indiscutivelmente uma importante parte do movimento que marcou a História do Cinema”.
Rubens Ewald Filho do site UOL Entretenimento avaliou com 5 estrelas, ou seja, obra-prima. Escreveu: “Uma extraordinária fantasia gótica com cenografia elaborada, fotografia expressionista muito bonita e efeitos especiais criativos que ajudam a criar o clima mágico do filme. Coescrito por Lang e sua então esposa Thea von Harbou, é uma bela fábula romântica sobre a inexorabilidade do destino (é especialmente tocante o fato de a própria Morte sofrer com a dor de suas vítimas) e que influenciou e marcou muitos diretores, de Bergman e Buñuel (...) até Mario Bava e Terry Gilliam. Uma raridade pouco vista e que merece ser descoberta”.
O que eu achei: Trata-se de um filme importante na história do cinema e na filmografia do diretor. Não é o primeiro filme dele, mas é considerado uma obra-chave para o primeiro período do expressionismo alemão. Em geral, as avaliações da crítica especializada são muito positivas, mas confesso que eu não gostei tanto. Claro, que o fato de ser mudo e de contar com recursos visuais muito surpreendentes para a época, já fazem valer a pena ele ser visto, nem que seja por mera curiosidade. Mas como filme, como enredo, não gostei tanto. O filme começa bem, com a figura da Morte - como diz a sinopse - tirando a vida de um jovem quando ele estava prestes a se casar. Mas quando sua amada reclama da morte do rapaz e a Morte, do nada, resolve lhe contar três histórias de amor que foram interrompidas pelo falecimento de um membro do casal - uma história ambientada na Pérsia, outra ambientada em Veneza e a última ambientada na China - o filme desanda. Essas histórias ficam tão deslocadas da trama que se desenhava que acabam servindo mais como uma distração do filme do que para acrescentar algo a ele. Todas são muito bem feitas, cheias de efeitos interessantes, mas que pra mim soaram como gratuitas e quem acabou cansada, além da Morte, fui eu. De qualquer forma não é um filme descartável. Vale ver para observar a criatividade do trabalho desses heróis do começo da história do cinema, especialmente Lang que tanta coisa boa criou ao longo da vida.