26.10.24

“Mussum: o Filmis” - Silvio Guindane (Brasil, 2022)

Sinopse:
 Cinebiografia do músico e comediante Antônio Carlos Bernardes Gomes (Thawan Lucas, Yuri Marçal e Ailton Graça), popularmente apelidado de Mussum. Tendo crescido como um garoto pobre, filho de empregada doméstica analfabeta (Cacau Protásio e Neusa Borges) e criado em colégio interno, Mussum ficou conhecido por ter se tornado um dos maiores humoristas do Brasil. Além de fundar o grupo musical “Os Originais do Samba”, ele encontrou seu caminho para a fama na televisão após se unir ao famoso quarteto “Os Trapalhões”, ao lado de Renato Aragão (Gero Camilo), Dedé Santana (Felipe Rocha) e Zacarias (Gustavo Nader).
Comentário: Silvio Guindane (1983) é um ator, produtor, diretor de teatro e dramaturgo brasileiro. Começou a carreira atuando no cinema, aos 13 anos, em “Como Nascem os Anjos” (1996), de Murilo Salles. Além do trabalho no cinema e no teatro, atuou em séries como “Acerto de Contas” (2014), “Um contra Todos” (2016) e “A Divisão” (2020). “Mussum: o Filmis” é sua estreia na direção de longas-metragens.
Célio Silva do site G1 nos conta que “Inspirado no livro no livro ‘Mussum – Uma História de Humor e Samba’, de Juliano Barreto, o roteiro é dividido em três etapas.
A primeira mostra a infância pobre de Antonio Carlos Bernardes Gomes, quando ainda era Carlinhos (vivido por Thawan Lucas Bandeira) e vivia com sua mãe, Dona Malvina (Cacau Protásio). Ainda criança, ele já mostrava aptidão para a música (embora quisesse ser jogador de futebol), apesar da desaprovação da mãe. A segunda parte mostra Carlinhos já adulto (Yuri Marçal), seguindo carreira na Aeronáutica, ao mesmo tempo em que começava a tocar na noite com o grupo ‘Os Originais do Samba’, escondido dos familiares. É nessa época que ele conhece sua primeira esposa, Nely (Jeniffer Dias) e começa a construir sua própria família. Na terceira fase, agora Carlinhos (Ailton Graça) ganha destaque com suas participações na TV. Em uma dessas atuações, conhece Grande Otelo (Nando Cunha) e ele acaba lhe dando o apelido que o tornaria conhecido no Brasil inteiro: Mussum.
O filme mostra como ele chamou a atenção de outros humoristas, como Chico Anysio (Vanderlei Bernardino), que o convida para participar da ‘Escolinha do Professor Raimundo’, na década de 1970. Mais tarde, Renato Aragão (Gero Camilo) o contrata para fazer parte dos ‘Trapalhões’, que ainda incluiria Dedé Santana (Felipe Rocha) e Mauro Gonçalves (Gustavo Nader).
Com o programa humorístico, a carreira de Mussum decola de vez e ele fica mais envolvido com a TV e o cinema, mesmo querendo manter a parceria com os ‘Originais do Samba’. Na trama do filme, isso o leva a ter conflitos com várias pessoas, incluindo um dos integrantes do grupo, Bigode (Angelo Fernandes / Édio Nunes). O sucesso o leva ainda a se aproximar ainda mais com sua escola de samba do coração, a Mangueira”.
O filme recria apresentações de momentos marcantes da carreira do humorista, como os números musicais dos “Originais do Samba” cantando com outros artistas como Elza Soares (Larissa Luz) ou Jorge Ben (Ícaro Silva) e algumas esquetes do programa “Os Trapalhões”.
O roteiro ficou por conta de Paulo Cursino. Também fazem parte do elenco as atrizes Jennifer Dias e Cinnara Leal.
O filme foi o grande vencedor do 51º Festival de Cinema de Gramado, levando seis prêmios: Melhor Filme, Melhor Ator (Aílton Graça), Melhor Ator Coadjuvante (Yuri Marçal), Melhor Trilha Musical (Max de Castro), Melhor Filme do Júri Popular e Melhor Atriz Coadjuvante (Neusa Borges).
O que disse a crítica: Aline Pereira do site Adoro Cinema avaliou com 4 estrelas, ou seja, muito bom. Escreveu: “Basta puxar na memória alguns filmes biográficos que você já assistiu ao longo da vida para encontrar uma característica em comum entre quase todos: o drama. No gênero das cinebiografias, o tom das histórias de artistas fora de suas personas nas telas ou nos palcos é quase sempre trágico e melancólico - uma inspiração, é claro, na realidade, e que o filme de Mussum subverte. O viés de ‘palhaço triste’ é (muito) deixado de lado aqui para interpretar a vida do comediante pela ótica de seu humor perspicaz e de um posicionamento positivo, mesmo quando o drama estava bem ali. Nesse sentido, chamam atenção as boas inserções cômicas do filme, seja na encenação de alguns quadros (escolhidos a dedo, sem dúvidas) que Mussum fez como comediante, seja nas interações entre os personagens – um mérito conjunto do roteiro, direção e de uma grande escalação de elenco”.
André Zuliani do site Omelete também avaliou com 4 estrelas. Disse: “Ao não ficar refém do legado de ‘Os Trapalhões’, Ailton Graça tem espaço para brilhar como Carlinhos e como Mussum. Se Yuri Marçal e Thawan Lucas fazem jus às suas escalações como a versão jovem do protagonista, Graça rouba para si todo o destaque. Em sua pele, Mussum deixa de ser apenas um personagem cômico e se torna um ícone apaixonante”. Ele também elogia Neusa Borges que faz o papel de sua mãe em idade mais avançada. E finaliza dizendo: “Passados quase 30 anos da morte do astro, ‘Mussum: O Filmis’ se prova uma cinebiografia necessária sobre um dos principais ícones do humor brasileiro. O trabalho de Mussum pode ser encontrando com uma breve pesquisa na internet, mas o longa cumpre muito bem a sua principal missão: apresentar Antônio Carlos Bernardes Gomes ao mundo.
O que eu achei: Em 2023 resolvi acompanhar pela TV a entrega de prêmios do Festival de Cinema de Gramado. Era a 51º edição e o grande vencedor na noite foi justamente “Mussum: o Filmis” que levou 6 kikitos: Melhor Filme, Melhor Ator (Aílton Graça), Melhor Ator Coadjuvante (Yuri Marçal), Melhor Trilha Musical (Max de Castro), Melhor Filme do Júri Popular e Melhor Atriz Coadjuvante (Neusa Borges). Eu até fiquei tentada em assistir à produção, mas como ver a cinebiografia do músico e comediante Mussum não era algo que despertasse minha atenção, acabei não vendo. Agora, com o filme já sendo exibido na TV por assinatura, assisti e entendi por que ele foi ganhador de tantos prêmios. O roteiro, assinado por Paulo Cursino, é super bem construído. A direção de Silvio Guindane é eficaz, de quem sabe o que está fazendo. A narrativa não é inovadora, mas entrega o que é esperado de uma boa cinebiografia, focando inicialmente no conflito de uma criança negra criada por uma mãe empregada doméstica que quer que o filho opte por uma carreira segura enquanto o menino gostava de samba. Depois, já famoso fazendo parte do grupo “Os Originais do Samba”, outro conflito: seguir na carreira musical ou aceitar o convite do Dedé Santana e se juntar à trupe “Os Trapalhões”, que lhe tomaria boa parte do tempo em gravações. No papel principal não poderia haver escolha melhor: Ailton Graça está tão bem que tinha horas que eu não sabia mais se quem eu estava vendo era o próprio Mussum ou ele. Ele é a alma do filme, mas como não observar quantas boas escolhas foram feitas nos atores que o rodeiam? Como não se emocionar com a Cacau Protásio (no papel de mãe do Mussum) aprendendo a ler e escrever com o filho ainda criança lhe ensinando? Impossível também não se emocionar com o dia da morte de sua mãe (Neusa Borges, a mãe em idade mais avançada) ou não observar o talento de Thawan Lucas e Yuri Marçal nas versões mais jovens do comediante. Enfim, uma homenagem que honra a memória desse artista - falecido aos 53 anos de idade após um transplante de coração - numa trajetória que serve de inspiração para tantos outros jovens negros de periferia que sonham com um lugar ao sol.