21.10.24

“Mimi, o Metalúrgico” - Lina Wertmüller (Itália, 1972)

Sinopse:
Mimi (Giancarlo Giannini) vota no candidato do partido comunista em vez do candidato da máfia, sendo boicotado para que não mais encontre emprego. Forçado a sair da Sicília, deixa a mulher (Agostina Belli) para tentar a vida em Turim, onde passa a viver com uma ativista comunista chamada Fiorella (Mariangela Melato). Agora ele terá de lidar com suas duas famílias.
Comentário: Lina Wertmüller (1928-2021) foi uma cineasta italiana de origem suíça. Em 2019, ela ganhou o Oscar Honorário por sua carreira. Ela começou a trabalhar no teatro, mas passou para o cinema quando foi contratada por Federico Fellini para ser sua assistente em “8½” (1963). No mesmo ano ela lançou seu primeiro longa, “The Basilisks”. Ela dirigiu em torno de 28 filmes, dentre eles “E Agora Falamos de Homens” (1965), “Amor e Anarquia” (1973), “Por um Destino Insólito” (1974), “Pasqualino Sete Belezas” (1975), “Camorra” (1985), “Sábado, Domingo e Segunda” (1990), “Ferdinando e Carolina” (1999) e “A Casa dos Gerânios” (2004). “Mimi, o Metalúrgico” (1972) é o primeiro filme que vejo dela.
Antônio Lima Junior do site O Corre Diário nos conta que no filme “somos apresentados ao personagem Carmelo Mardocheo, ou simplesmente Mimi, interpretado por Giancarlo Giannini, um trabalhador que começa nas minas de enxofre no interior italiano e já de início nos mostra o (...) cinema político italiano, envolvendo um cenário de curral eleitoral, relações abusivas e muita gritaria, como em todo bom filme do país da bota”. Segundo ele, “a diretora consegue abordar de forma muito peculiar o comportamento do protagonista, mostrando os problemas de uma sociedade patriarcal, a exemplo do tema da traição e da ascensão social masculina. Importante também vermos na história de Mimi um exemplo de formação de consciência de classe, onde se inicia com o ainda operário mineiro desorganizado, vítima do atraso social e político, passando por um período na construção civil e ascendendo a metalúrgico, com interferências da máfia e a atuação no Partido Comunista Italiano. Entretanto, como a consciência de classe não é estática, Mimi se estagna politicamente e chega a retroceder, virando supervisor e atentando contra a luta da classe, evitando que os trabalhadores do seu setor façam uma greve. A consciência de classe se mistura com o machismo do personagem, que não progride na emancipação humana (...). [Com isso] Lina faz a crítica da condição humana diante do capitalismo selvagem. As relações sociais, desde as do trabalho ao afeto, são moedas de troca para a ascensão ou a manutenção do status social. ‘Mimi’ é exemplo disso e de como é necessária a ruptura com essas normalidades”.
O que disse a crítica: Eduardo Kaneco do site Leitura Fílmica avaliou com 3 estrelas, ou seja, bom. Escreveu: “Na época, o filme fez enorme sucesso, pois agradava ao público em geral com um humor popular e, igualmente, o mais intelectualizado, com seu pano de fundo ideológico. Porém, hoje o filme envelheceu. A figura do herói sem-caráter Mimi, construída por Giancarlo Giannini, soa mais irritante que engraçado, porque ele não cria empatia com o público. Além disso, o uso da dublagem ao invés do som direto, prática comum no cinema italiano, cria um artificialismo que incomoda. Por fim, as piadas grosseiras, comuns no contexto dos anos 1970, principalmente aquelas sexistas, hoje provocam uma repulsa indesejada e não intencional”.
Ken Hanke do site Mountain Xpress avaliou com 4 estrelas, ou seja, ótimo. Disse: o filme é “uma sátira que tem seu herói (Giannini) na lista negra por votar contra um candidato da Máfia em uma eleição supostamente secreta. Cansado, ele deixa sua esposa, muda-se para Turim, adota o comunismo e uma espécie de vida dupla com uma namorada maoísta - apenas para se ver trabalhando para os mesmos gangsters que causaram seus problemas em primeiro lugar. Ricamente detalhado, pontual em sua sátira e às vezes histericamente engraçado, é um bom ponto de partida para uma reavaliação de uma cineasta que vale a pena dar uma olhada novamente”.
O que eu achei: O filme é uma comédia satírica que aborda temas sociais e políticos, como corrupção, desigualdade de gênero e o poder das classes trabalhadoras na Itália, mas não achei o resultado tão interessante. A primeira coisa que me chamou a atenção é a caracterização estereotipada, especialmente no que se refere às representações de gênero e classe. A figura masculina de Mimi – que é o personagem principal do filme, interpretado por Giancarlo Giannini - por exemplo, tem uma pegada machista que incomoda. E, apesar do filme ser dirigido por uma mulher (Lina Wertmüller), a violência de gênero é gritante. A maioria das personagens mulheres são retratadas de forma leviana ou insensível, com o machista Mimi se mostrando abusivo e dominador. Até aquilo que tem pretensão de ser engraçado, acaba não sendo. Claro que o filme sendo dos anos 1970, essas relações entre homens machistas e mulheres subjugadas à última categoria, até se explicam. Mas eu diria que este, em especial, envelheceu mal. O humor e as piadas acabaram ficando datadas. Tem um trecho, por exemplo, que é pura gordofobia. Com relação ao filme em si, ele também padece de alguns problemas. Um deles é o ritmo irregular, com cenas que se alongam mais do que deveriam, prejudicando a fluidez da narrativa. Teve momentos que eu me distraía completamente da trama e tinha que fazer um certo esforço para ficar ligada no filme. Outro problema é que ele tenta tratar de muitos temas simultaneamente - política, relações de gênero, corrupção, cultura italiana - então não espere profundidade em nenhum deles. Toda a pegada política que o filme poderia e deveria ter, são meio óbvias e acabam diluídas nesse volume de assuntos. O filme acaba e você fica se perguntando aonde ele queria chegar. Bem mediano.