2.9.24

“Tudo Sobre Minha Mãe” - Pedro Almodóvar (Espanha, 1999)

Sinopse:
 No dia de seu aniversário, Esteban (Eloy Azorín) ganha de presente da mãe, Manuela (Cecilia Roth), um ingresso para a nova montagem da peça "Um bonde chamado desejo", estrelada por Huma Rojo (Marisa Paredes). Após o espetáculo, ao tentar pegar um autógrafo de Huma, Esteban é atropelado e morre. Manuela resolve então ir até o pai do menino, que vive em Barcelona, para dar a notícia. Lá ela encontra o travesti Agrado (Antonia San Juan), a freira Rosa (Penélope Cruz) e a própria Huma Rojo.
Comentário: Trata-se do filme número 72 da lista dos 100 Essenciais elaborada pela Revista Bravo! em 2007. A matéria diz: “As mulheres sempre ofereceram um pilar de sustentação ao cinema de Pedro Almodóvar: fortes, passionais, vingativas, elas são o veículo pelo qual o espanhol expõe seu humor exótico, os fetiches e desejos, as lembranças de infância. Talvez em nenhum outro momento elas tiveram maior destaque do que em ‘Tudo Sobre Minha Mãe’, obra da fase madura e melancólica, marcada por melodramas. O período teve início com ‘A Flor do Meu Segredo’ (1995) e ‘Carne Trêmula’ (1997) e prosseguiu com o dolorido ‘Fale Com Ela’ (2002), o sombrio ‘Má Educação’ (2004) e (...) ‘Volver’ (2006). Na trama, Almodóvar reúne um punhado de almas (femininas) desorientadas e tece um drama delicado sobre o relacionamento entre pais e filhos, a autodestruição (e a subsequente volta por cima) e o perdão. Manuela (Cecilia Roth) leva seu filho Esteban (Eloy Azorín) para comemorar seus 17 anos assistindo a uma encenação de ‘Um Bonde Chamado Desejo’, de Tennessee Williams. Ao fim do espetáculo, o rapaz corre para pedir um autógrafo à estrela da peça, Huma Rojo (uma imperiosa Marisa Paredes), e acaba sendo atropelado. Meses depois, Manuela vai a Barcelona para rever o pai do filho morto e o encontra transformado no travesti Lola (Toni Cantó). Lá, ela conhece Agrado (Antonia San Juan), outro travesti, e Rosa (Penélope Cruz), uma freira engravidada por Lola, de quem contraiu o HIV. Ao mesmo tempo em que dá apoio à irmã Rosa, começa a trabalhar como secretária de Huma, sem lhe contar, porém, sobre a parcela de culpa desta na morte de Esteban. Apesar do tom melancólico e de tocar em assuntos sérios - aids, drogas, prostituição e a hipocrisia da igreja católica -, ‘Tudo Sobre Minha Mãe’ tem humor e até diverte em algumas cenas (como a de Agrado subindo ao palco para falar das intervenções cirúrgicas em seu corpo). A obra traz diversas homenagens e referências a filmes como ‘A Malvada’ (1950) e ‘Uma Rua Chamada Pecado’ (título brasileiro do filme de 1951, baseado na peça ‘Um Bonde Chamado Desejo’). Pelo trabalho, Almodóvar ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2000 e dedicou o prêmio ‘a todas as atrizes que viveram atrizes. A todas as mulheres que representam. Aos homens que representam e se tornaram mulheres. A todas as pessoas que querem ser mães. À minha mãe’.
O que eu achei: Está aí um puro e legítimo Almodóvar: na trama temos uma mulher cujo filho morre atropelado ainda jovem correndo na rua atrás de um autógrafo, um ex-marido que nem sabe que é pai e que sumiu no mundo e virou travesti, uma amiga travesti que ganha a vida nas ruas, uma freira grávida que pegou HIV do travesti com quem ela transou e uma atriz de teatro homossexual cuja amante é viciada em heroína... enfim... nem precisa ler quem é o diretor pois só pelos personagens a gente já sabe. É pelo intermédio de todas essa mulheres marginalizadas que ele desmonta a ideia convencional de maternidade e nos mostra “tudo sobre várias mães”. Provavelmente o melhor filme de Pedro Almodóvar. Ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Imperdível.