16.9.24

“O Estranho Sem Nome” - Clint Eastwood (EUA, 1973)

Sinopse:
 Um homem estranho e misterioso (Clint Eastwood) chega ao pequeno povoado de Lago. Ao descobrir que três foras da lei estão a caminho da região para aterrorizá-la, o xerife (Walter Barnes) o contrata para unir seus habitantes e preparar uma recepção não muito calorosa para eles.
Comentário: Trata-se de um filme do veterano diretor e ator americano Clint Eastwood de quem já assisti 19 títulos, dentre eles a obra-prima “Os Imperdoáveis” (1992) e os ótimos “As Pontes de Madison” (1995), “Sobre Meninos e Lobos” (2003), “Menina de Ouro” (2004), “Cartas de Iwo Jima” (2006) e “A Conquista da Honra” (2006).
Ruy Gardnier do site Contracampo nos conta que “’O Estranho Sem Nome’ é o segundo filme de Clint Eastwood, e o primeiro em que o diretor se dedica a um gênero que vai revisitar mais algumas vezes, sempre com resultados surpreendentes: o western. Ora, conhecemos o percurso do autor: trabalhou como ator coadjuvante em uma série de filmes B (dentre os quais dois de Jack Arnold), depois uma temporada na Itália na qual sua figura ficou para sempre marcada através dos tipos que fez para Sergio Leone e, na volta para a América do Norte, papéis em alguns faroestes e notadamente nos filmes de Don Siegel, em que compunha um herói violento que aos poucos foi se transformando em ‘Dirty Harry’, seu papel mais famoso. Se em todas as suas atuações anteriores ele devia ouvir o diretor para saber como comportar-se para construir seu personagem, desta vez trata-se de ele mesmo conduzir seu filme, conduzir a equipe e os atores para aquilo que ele deseja fazer com o western.
(...) Logo nos primeiros instantes começado o filme, nota-se a sequência mais leoniana [referente ao Sérgio Leone] já filmada nos EUA, toda em primeiros planos do tal ‘estranho sem nome’ chegando na cidade e, em campo/contracampo, dos olhos estupefatos dos habitantes do pequeno vilarejo de Lago em que o cavaleiro acaba de chegar com seu cavalo. Se nas atmosferas iniciais Eastwood presta tributo ao primeiro diretor com quem aprendeu cinema, a homenagem ao segundo não tardará por vir. Aos poucos perceberemos que esse personagem que toma a justiça em suas próprias mãos, que antevê os pensamentos dos outros e age antes dele é também uma singela homenagem a Don Siegel, com quem já havia feito, entre outros, ‘Meu Nome É Coogan’ e o primeiro ‘Dirty Harry’. (...)
Mas se há muito de homenagem nesse primeiro faroeste dirigido por Eastwood, há também muito do nascimento das questões que vão assombrar a maioria dos filmes que ele irá dirigir do começo dos anos 70 até hoje: a justiça, a responsabilidade, a tomada de decisões, as ambiguidades e sutilezas da justiça dos homens (...)”.
O título original “High Plains Drifter” significa “Vagabundo das Altas Planícies”.
O que disse a crítica: Rodrigo Cunha do site Cine Players avaliou com 4 estrelas, ou seja, ótimo. Disse: a película tem “boas cenas, uma trilha sonora impecável e pelo menos duas ou três passagens inesquecíveis em um filme que abusa física e psicologicamente de todos que protagonizam aquela história - além do público, claro, que vê passivo essa reconstrução do arco ser redefinida sem muito poder fazer além de se chocar. É um filme que muito mais denuncia a corrupção do ser humano do que está interessado em dar respostas, respeitando a inteligência do público”.
Eduardo Kaneco do site Leitura Fílmica avaliou com 4,5 estrelas, ou seja, excelente. Escreveu: “um dos grandes faroestes que Clint Eastwood dirigiu. Talvez aquele que mais mostra a influência de Sergio Leone, adquirida nos três filmes que realizaram juntos, conhecida por alguns como ‘Trilogia do Homem sem Nome’. Traz muita brutalidade e violência, como víamos nos spaghetti westerns em geral. Além disso, o filme absorve também o pessimismo da época, aproximando o diretor Eastwood dos cineastas da Nova Hollywood”.
O que eu achei: Sabendo que este é apenas o segundo filme dirigido pelo Clint Eastwood, apertei o play sem esperar grande coisa, mas fui surpreendida por um excelente filme. O fato dele já ter uma bagagem como ator - primeiramente como coadjuvante em filmes B, depois como ator principal na Itália para o mestre Sergio Leone e, em seguida, como ator principal na América do Norte -, com certeza o ajudou a executar a nova tarefa com algum know-how. A dupla função ator-diretor que ele assume – e que viria a se repetir inúmeras vezes ao longo de sua extensa carreira - é exercida com tamanha maestria que você não vai querer piscar os olhos para não perder a trama bem arranjada sobre esse outsider valentão que chega no vilarejo e é contratado pelo xerife para organizar uma recepção nada amistosa para três assassinos que terminaram de cumprir suas penas na prisão e muito provavelmente aparecerão na cidade para se vingar. Enquanto você espera uma coisa, a trama se rearranja e você é surpreendido por uma grande reviravolta que te tira completamente da zona de conforto. Então se você está a procura de um bom western para ver, se jogue sem medo. O único ponto negativo é a forma como essa figura machista trata as poucas mulheres que habitam a vila. Interessante observar como nos anos 70 isso simplesmente não nos incomodava e hoje as cenas saltam aos nossos olhos, o que me parece um bom sinal dos novos tempos. Tirando isso, é uma excelente pedida.