15.9.24

“O Abismo” - Ricard Holm (Suécia/Finlândia/Bélgica/Espanha, 2023)

Sinopse:
 
Frigga (Tuva Novotny) está iniciando um novo relacionamento com Dabir (Kardo Razzazi), enquanto tenta manter a paz com seu ex-marido (Peter Franzén), cuidar dos filhos e trabalhar como chefe de segurança da maior mina do mundo, Kiirunavaara, na cidade sueca de Kiruna. Quando, inesperadamente, uma falha geológica faz com que a cidade afunde aos poucos e toda a população precise ser evacuada, Frigga entra em um impasse sobre a segurança de seus entes queridos e dos trabalhadores da mina, que é a fonte do problema.
Comentário: Ricard Holm (1967) é diretor e assistente de direção, conhecido pelo seu trabalho em “Johan Falk: Bloqueio Total” (2015) e “Heder” (2019). Apesar de ter poucos longas no currículo, é um especialista em séries de tv e videoclipes. “O Abismo” (2023) é o primeiro longa que vejo dele.
Thiago Gelli da Revista Veja nos conta que “O suspense sueco ‘O Abismo’ (...) [possui uma] narrativa de alta adrenalina sobre a cidade de Kiruna, que afunda como resultado de mineração excessiva. Mais assustador que as cenas de desastres e personagens engolidos por buracos no chão, entretanto, é o quão fincada na realidade está a história, que adapta acontecimentos reais ocorridos na cidade em 18 de maio de 2020, em especial um terremoto de magnitude 4,8 na escala Richter que levou à maior explosão de rocha da história da Suécia. Até então, os tremores já eram parte do cotidiano dos 22.000 habitantes da cidade, fundada em 1900 por mineradores de ferro. O acidente surpreendeu mineradores e civis, mas, ao contrário do filme, ninguém saiu ferido. A atividade sísmica começou no subsolo da mina, mas os treze funcionários presentes conseguiram evacuar o local antes de qualquer infortúnio.
Nos dias que se sucederam, civis evacuaram a cidade, e a mina foi fechada e inspecionada por oficiais do governo, que determinaram como causa falhas nos pilares, entre outros equívocos estruturais. Mesmo sem causar mortes, o evento provocou o governo local a acelerar um projeto de relocação que está em andamento desde os anos 2000 devido à instabilidade da região, cujo centro pode afundar por completo até 2050.
A concentração deve ser relocada a 3,2 quilômetros das coordenadas atuais, e o projeto de mudar parte da cidade de lugar sairá mais barato para a mineradora estatal Luossavaara-Kiirunavaara AB do que encerrar as operações. Aos moradores locais, ela oferece comprar residências atuais por 25% a mais que a média do mercado, ou garantir uma casa no novo assentamento.
No filme, a história não menciona a empresa real, nem representa qualquer figura verídica, dada a notória dramatização. O enredo é protagonizado por Frigga Vibenius (Tuva Novotny), uma oficial de segurança da mina que deve evacuar o maior número de pessoas possível antes que a catástrofe se apodere da cidade. Para tal, ela deve contornar rachaduras colossais e circunstâncias drásticas junto a um elenco que ainda conta com Edvin Ryding, protagonista da série ‘Young Royals’”.
O que disse a crítica: Matheus Manns do site Esquina da Cultura avaliou com 2 estrelas, ou seja, fraco. Disse: “’O Abismo’ é um filme sem rumo. Sem propósito. Há uma trama de sobrevivência que até pode causar algum tipo de ligação do público com a narrativa, mas isso não é o bastante - faltam personagens que criem conexão e, quando tenta ser complexo, morre no raso. Assim, na tentativa de copiar [o filme dinamarquês ] ‘Terremoto’, a comparação chega e vemos que o novo filme fica bem abaixo”.
Francisco Carbone do site Cenas de Cinema avaliou com 3 estrelas, ou seja, bom. Escreveu: “O mesmo tanto que tem de competência em ‘O Abismo’ também tem de ausência de algo novo, e substancial, em cena. Temos ‘pautas’ em cena, personagens lésbicas, um ator com traços do Oriente Médio, mas nada que se configure como uma discussão; todas as ‘diferenças’ só estão expostas no filme para criar uma mediação com a normatividade e quebrar expectativas iniciais. Essas aparências estão em cima da mesa, mas nada tem a intenção de criar atrito ao tradicional. Ou seja, o roteiro escrito a seis mãos não tem outra preocupação, que não a de provocar um breve ruído, ainda pouco para que se configure algo a ser debatido”. E termina dizendo “Quando menos esperamos, os créditos começam e fomos enredados pela narrativa rápida do início ao fim”.
O que eu achei: Quando eu estive na Suécia no ano de 2011 fiquei muito impressionada com essa história de que o governo sueco pretendia pegar toda a cidade de Kiruna, no norte da Suécia, e transportar essa cidade inteira para outro lugar por conta do solo estar afundando devido a extração de minério de ferro que lá ocorre desde os anos de 1900. Foi essa curiosidade que me levou a ver o filme sueco “O Abismo”. No filme a cidade afunda com os habitantes ainda lá morando, trabalhando nas minas da região, indo à escola, enfim... vivendo normalmente. O que o diretor Ricard Holm fez foi criar um filme catástrofe em cima desse fato de que a cidade - hoje completamente evacuada sem que ninguém tenha morrido até o presente momento - vai mesmo afundar. O filme começa justamente contando a história real. Um texto com imagens em P&B diz que um dos piores acidentes em minas da história sueca foi em Dalarna, em Idkerberget, em 1961, quando o vilarejo foi acordado por um aparente terremoto e uma cratera enorme se abriu no lugar da mina. Em seguida o texto salta para maio de 2020, quando Kiruna, que já vinha apresentando problemas, foi abalada por um tremor de terra que chegou a 4,8 pontos na escala Richter. Com o chão ao redor da mina desmoronando, o centro da cidade foi transportado para outro lugar, a 3km de distância. É a partir dessas informações reais que começa a ficção. Pelo que pude apurar na internet (os créditos não informam), usaram como locação a própria cidade de Kiruna. Apesar de sueco, o filme - recheado de suspense, drama e ação - passa bem longe de ser um Bergman. Ele tenta ser uma espécie de blockbuster hollywoodiano, com direito a todos os clichês do gênero. Não chega a ser sofrível, mas é mais para fãs do gênero. Para mim valeu para matar a curiosidade.