17.9.24

“Meu Amigo Robô” – Pablo Berger (Espanha/França, 2023)

Sinopse:
Dog é um cachorrinho que mora em Manhattan. Cansado de estar sempre sozinho, ele decide comprar um robô para ser seu companheiro. Ao ritmo da Nova York nos anos 90, a amizade floresce e eles se tornam amigos inseparáveis. Entretanto, em uma noite de verão, Dog é obrigado a abandonar o robô na praia e precisa esperar até o dia seguinte para buscá-lo. Mas o que era para ser uma tarefa fácil acaba se transformando em um grande obstáculo.
Comentário: O filme se baseia numa graphic novel homônima voltada para o público infantil, assinada por Sara Varon e publicada em 2007, e segue o mesmo estilo de ilustração 2D do original.
Renan Guerra do site Scream & Yeal nos conta que “Assim como nos quadrinhos originais, o filme de animação não possui diálogos, a narrativa se dá guiada apenas pelas ações, como num filme mudo. (...) As piadas surgem na tela, os personagens coadjuvantes dão outros tons à narrativa e aquela Nova York caótica dos anos 1980 ganha uma representação única em cena. Vemos as antigas Torres Gêmeas, o Central Park e até o metrô, tudo com um colorido distinto. (...)
O ritmo delicado e silencioso do filme claramente nos remete a um mestre moderno da animação, o francês Sylvain Chomet, de ‘As Bicicletas de Belleville’ (2003) e ‘O Mágico’ (2010), e, claro, ao mestre maior da delicadeza silenciosa: Jacques Tati. E sim, é natural que façamos essas conexões, porém o cinema dos dois franceses, Chomet e Tati, tem certa melancolia que é mais constante, enquanto o filme de Berger não tem medo de ser mais galhofeiro e exagerado, tanto que se apoia em momentos de riso mais fácil e se joga em momentos de sonhos mais lisérgicos - o que não são defeitos, mas sim escolhas narrativas. O que há em comum no filme de Berger e nos universos de Chomet e Tati é a capacidade de não subestimar a inteligência das crianças, entendendo-as como um público também consumidor de histórias complexas, com camadas, nuances e delicadas construções.
O cinema de Pablo Berger é bem múltiplo e a animação é um novo campo que ele se aventura, depois de ter percorrido títulos como a sua versão muda e dark de ‘Branca de Neve’ (2012), ou o universo da comédia em ‘De Cama Para a Fama’ (2003). (...)
'Meu Amigo Robô' estreou no 76º Festival de Cannes e percorreu outros importantes festivais, como os de Sarajevo, Londres e Tokyo, bem como o Festival de Cinema de Animação de Annecy". Ele também concorreu ao Oscar, perdendo para “O Menino e a Garça”.
O que disse a crítica: Pedro Strazza da Folha SP avaliou com 3 estrelas, ou seja, bom. Escreveu: “’Meu Amigo Robô’ é uma fábula sobre como a solidão nem sempre significa que estamos sozinhos. As viradas da história, que merecem ser preservadas, tiram uma bela poesia disso. Mas o filme se torna especial no uso da canção ‘September’, que ganha um significado inesperado no clímax do reencontro dos personagens - sobretudo por mostrar o que restou da relação deles”.
Ritter Fan do site Plano Crítico avaliou com 4,5 estrelas, ou seja, excelente. Disse: “’Meu Amigo Robô’ é um pequeno deleite audiovisual que agradará filhos, pais e avós e, melhor ainda, provavelmente levará a indagações dos filhos sobre os temas da obra que, se respondidas pelos adultos de maneira sóbria, sem rodeios e floreios, só beneficiará os pequenos enredomados em seu mundinho em que tudo tem aquele final esperado feito justamente para evitar perguntas. Pablo Berger, com uma cajadada só, fez um longa que não trata as crianças como seres feitos de cristal e que retorna aos bons e velhos tempos das animações desenhadas no estilo antigo e, ainda por cima, sem qualquer ajuda da verbalização de ideias. Nada mal para ‘apenas um desenho para crianças’.”
O que eu achei: “Meu Amigo Robô” é uma animação 2D mais atraente pelos traçados e cores do que necessariamente pela trama que é extremamente simples: ele não tem falas e muito pouca coisa acontece. O tema é a solidão e sua superação. Ele é divertido ao mesmo tempo em que é triste e até um pouco melancólico. Crianças pequenas poderão ter bom aproveitamento. Para adultos o que restam são as referências desse cenário da Nova York dos anos 80 com direito a um comercial das facas Ginsu, um disco do Talking Heads perdido no cenário, um quadro do Basquiat passando pela rua e outras diversas referências ao movimento punk e hip-hop daquela época. Na trilha sonora destaque para a música “September” da banda Earth, Wind & Fire.