9.9.24

“Nada é Para Sempre” – Robert Redford (EUA, 1992)

Sinopse:
 
Norman (Craig Sheffer) e Paul Maclean (Brad Pitt) são filhos de um pastor (Tom Skerrit) em Montana. A história cobre 20 anos da vida da família, revelando as diferenças entre Norman, o estudioso e Paul, o rebelde, seus relacionamentos, amores, lutas e o que os une: o amor pela pesca no rio que atravessa as terras do pai.
Comentário: Robert Redford (1936) é um ator, cineasta e produtor norte-americano. Atuou nas décadas de 1960 em diante, tendo sido considerado um sex symbol do cinema americano. Como ator estrelou inúmeros sucessos. Como diretor consagrou-se ao receber o Oscar de Melhor Diretor por “Gente Como a Gente” (1980), mas também realizou “Rebelião em Milagro” (1988), no qual dirigiu a atriz brasileira Sonia Braga. No fim da década de 1980 criou o maior festival americano de filmes independentes, o Sundance Film Festival. “Nada é Para Sempre” (1992) é o primeiro filme que vejo dele.
A trama se baseia em um livro de 1976 do escritor americano Norman Maclean, já falecido, chamado “A River Runs Through It” (Um Rio Corre Por Ele, em tradução literal). A história é um relato semiautobiográfico do relacionamento do escritor com seu irmão Paul – observe que no filme os nomes originais são mantidos - e sua criação em uma família de Montana do início do século XX , na qual "não havia uma linha clara entre religião e pesca com mosca". Ao descrever o alcoolismo e o vício em jogos de azar de seu irmão, Maclean explora como uma certa aflição sempre acompanhou a história de sua família, mesmo desde suas origens entre os presbiterianos de língua gaélica escocesa da Ilha de Mull.
Gabriel de Arruda Castro do site Gazeta do Povo nos conta que “Ao filósofo grego Heráclito de Éfeso é atribuída a ideia de que um homem nunca põe os pés duas vezes no mesmo rio. Na segunda vez, já não é o mesmo rio, nem o mesmo homem. Este simbolismo para a passagem do tempo e a mudança constante é o fio condutor de ‘Nada é Para Sempre’, filme clássico do diretor Robert Redford (...). O drama, lançado em 1992, ficou marcado como a obra que impulsionou a carreira de Brad Pitt.
(...) A história tem início no começo do século passado. Filhos de um austero pregador presbiteriano, os irmãos Norman (Craig Sheffer) e Paul MacLean (Brad Pitt) são criados em Missoula, no estado de Montana, e passavam o tempo livre pescando. A pescaria e a religião eram inseparáveis, diz Norman, que também faz o papel de narrador, no começo do filme. Pouco a pouco, os personagens amadurecem e precisam aprender a tomar os rumos das próprias vidas.
Um dos temas centrais do drama é a ideia de pertencimento – um dos irmãos se recusa a deixar Montana em busca de uma carreira melhor, enquanto o outro segue jornada diferente. Apesar dos rumos diversos que os jovens tomam na vida, o rio continua sendo o ponto de encontro da dupla.
(...) O enredo não traz elementos fantásticos, nem surpreende o espectador a cada momento com reviravoltas imprevisíveis. A narrativa flui suavemente, como os rios de Montana que emolduram as cenas da vida dos rapazes. Aos olhos do telespectador [da atualidade], o filme pode parecer lento, como se as duas horas de duração pudessem ser comprimidas em uma. Mas, justamente por isso, ‘Nada é Para Sempre’ merece ser visto como uma forma de contemplação – uma vida inteira que transcorre diante dos nossos olhos, com seus conflitos e conquistas.
De alguma forma, ‘Nada é Para Sempre’ é hoje um filme duplamente de época: é a visão que um passado mais próximo (quase três décadas atrás) tinha de um passado mais distante (um século atrás). Antes da era da internet e dos smartphones, o ritmo da vida (e também dos filmes) era outro”.
O filme foi indicado a três Oscars em 1992, ganhando por Melhor Fotografia, além do Globo de Ouro de melhor direção.
O que disse a crítica: Roger Ebert em seu site avaliou com 3,5 estrelas, ou seja, bom. Escreveu: “Redford e seu roteirista, Richard Friedenberg, compreenderam que a maior parte dos eventos em qualquer vida são acidentais ou arbitrários, especialmente aqueles cruciais, e nós podemos exercer pouco controle consciente sobre os nossos destinos. (...) As lições do reverendo Maclean são sobre como nos comportarmos, não importa o que a vida traga; sobre como enfrentar a correnteza imprevisível e reagir aos acontecimentos com graça, coragem e honestidade. A melhor característica do filme é que ele comunica essa mensagem com muito sentimento”.
David Ansen do site Newsweek também achou bom. Disse: “Poucos livros poderiam ser considerados material menos provável para filme do que a novela clássica de Norman Maclean, ‘A River Runs Through It’. A lembrança ruminativa de Maclean sobre sua juventude em Montana é uma meditação sobre pesca com mosca, religião, arte e família. No centro dela está o relacionamento do autor com seu ‘belo’ e autodestrutivo irmão Paul, e com seu pai, um pastor presbiteriano que ensinou Maclean a escrever e a pescar. (...) [Redford] se propôs uma tarefa quase impossível. A diferença entre a prosa de Maclean e as imagens de Redford é a diferença entre o belo e o bonito”.
O que eu achei: É a segunda vez que vejo esse filme e, em ambas, a pegada contemplativa que ele tem me agradou. O que ele mostra é a cinebiografia do escritor americano Norman Maclean, já falecido, que em 1976 escreveu seu romance autobiográfico “A River Runs Through It”, contando sua vida desde a infância até a idade adulta. Toda a história foi gravada na região de Montana, EUA, um lugar lotado de montanhas, rios e lagos. As paisagens são deslumbrantes e o rio, que passava nas terras da família do escritor, era um lugar onde ele, seu pai e seu irmão pescavam com frequência. Como seu pai era pastor, ele dizia que pescar era um ato religioso já que Jesus, João e outros discípulos pescavam no mar da Galileia. O tipo de pesca que praticavam era o chamado “fly fishing” ou “pesca com mosca”. No filme não fica claro se usam moscas de verdade ou não, mas vi num site especializado que essas tais moscas utilizadas na pesca são artificiais, ou seja, são iscas que imitam pequenos insetos voadores. A filosofia que permeia todo o filme é aquela de que um rio e um homem nunca são os mesmos quando se reencontram e de que a única constante nessa vida é a mudança. Boa pedida para quem quer desacelerar e ficar duas horas longe de um smartphone.