24.9.24

“Bebê Rena” – Richard Gadd (Reino Unido/EUA, 2024)

Sinopse:
A série acompanha a história do comediante, performer e escritor Donny Dunn (Richard Gadd), que se envolve com Martha (Jessica Gunning), uma mulher vulnerável que está passando por diversos problemas. Esse rápido e distorcido relacionamento acaba seguindo para uma estranha obsessão, que impacta a vida dos dois e encurrala Donny a enfrentar um trauma profundo e sombrio de sua vida.
Comentário: Trata-se de uma minissérie em 7 episódios contando o drama que um comediante passou ao se envolver com uma fã obsessiva.
Dani Di Placido do site Forbes nos conta que a série “é baseada nas experiências do criador Richard Gadd, que transformou seu aterrorizante encontro com um perseguidor em um fenômeno cultural. A série da Netflix começa com um cartão de título enquadrando o drama como uma ‘história real’, mas Gadd explicou, depois do lançamento, que sua intenção era capturar a ‘verdade emocional’ de sua experiência, não um ‘perfil factual’.
Na série, Gadd interpreta a si mesmo como um personagem chamado Donny Dunn, que desenvolve uma amizade improvável com uma mulher mais velha, chamada Martha, interpretada por Jessica Gunning. Martha é retratada como obsessiva e desequilibrada, enviando a Donny mais de 41.000 e-mails e mais de 350 horas de mensagens de voz. A série mostra Donny lutando para se libertar da obsessão de Martha enquanto enfrenta seu próprio trauma, causado por repetidos abusos sexuais nas mãos de um mentor mais velho.
A série foi aclamada por explorar as nuances da situação, já que Martha não é retratada como uma vilã total, mas como uma figura equivocada e simpática que, em certa medida, se assemelha ao Donny. ‘Perseguição e assédio são uma forma de doença mental’, disse Gadd em uma entrevista de 2019 ao The Independent. ‘Seria errado pintá-la como um monstro, porque ela está doente e o sistema falhou com ela’. (...)
A Netflix disse que todas as precauções foram tomadas para proteger a identidade da verdadeira Martha (...), mas detetives da internet descobriram que as peculiaridades gramaticais das postagens na rede social de Martha em ‘Bebê Rena’ correspondem às de Fiona Harvey, uma mulher de 58 anos de Aberdeenshire, no Reino Unido. Nem a Netflix, nem Richard Gadd, confirmam Harvey como a verdadeira Martha, mas a mulher se identificou publicamente após ser vítima de doxxing (a prática virtual de pesquisar e transmitir dados privados sobre um indivíduo), aparecendo no programa Piers Morgan Uncensored para contar seu lado da história. (...)
Harvey admitiu sentir-se um pouco usada e ameaçou tomar medidas legais contra a plataforma de streaming. Os detetives da internet não se limitaram à Martha - vários homens foram acusados de serem o verdadeiro Darrien [outro personagem] de ‘Bebê Rena’, que Gadd retrata como uma figura sênior na indústria do entretenimento que o manipulou e o estuprou.
(...) O programa também gerou discussões sérias e reflexivas sobre os efeitos duradouros do trauma, perseguição e abuso sexual. O número de vítimas ajudadas pela National Stalking Helpline disparou desde o lançamento da série (...)”.
A série foi indicada a 11 Emmys e acabou abocanhando diversos prêmios. Ela não só ganhou como melhor minissérie do ano, como levou Emmys de roteiro e atuação pelo trabalho de Gadd e Jessica Gunning, a atriz que interpreta Martha.
Sobre as ameaças de Fiona Harvey em processar a Netflix ela, de fato, o fez. Atualmente está em andamento um processo contra a plataforma no valor de US$ 170 milhões, por difamação, imposição intencional de sofrimento emocional, negligência e violações de seu direito de publicidade.
Quanto ao título da série “Baby Reindeer” (Bebê Rena), ele advém do fato da fã obcecada possuir em casa uma rena de brinquedo, dessas vendidas nas lojas em época de natal, na qual ela se agarrava na infância quando seus pais brigavam.
O que eu achei: É uma série que te deixa apreensivo a cada episódio. Trata dos malefícios que um stalker pode trazer à sua vida. Baseado em fatos reais, ele conta com detalhes o problema que o diretor da série Richard Gadd - que também faz o papel principal - enfrentou na vida real quando ele conheceu, ao acaso, uma mulher doente que se viu acolhida por ele ao entrar num bar e pedir um chá. A partir desse encontro a vida dele nunca mais foi a mesma. Uma pena a série começar dizendo que tudo o que será mostrado é real pois, na verdade, muita coisa ali foi incrementada para tornar a série mais chocante e atraente, mas o que ele passou com essa stalker em seu encalço, mesmo sendo em menor escala do que o que foi mostrado, ainda assim é algo que poderia levar uma pessoa à loucura. Claro que as identidades das pessoas ali retratadas foram alteradas, mas sabe como é a internet... curiosos de plantão stalkearam a stalker e descobriram a identidade dela, o que a levou a ir a público dar um depoimento dizendo que ela se sentiu usada e que tomaria - como de fato tomou - medidas legais contra a plataforma Netflix, que atualmente responde ao processo. De qualquer forma, é perturbador vermos o estrago que a carência e uma vida de rejeição pode causar na mente de um ser humano e como amor ou idolatria podem facilmente virar ódio quando não são correspondidos. Uma série dolorosa, tensa, angustiante, triste, chocante e sem monotonia. Composta por sete episódios, dá pra ver em um ou dois dias. Tire as crianças da sala e veja preparado.