
Comentário: Roberto Farias (1932-2018) foi um diretor brasileiro de cinema e televisão, irmão do ator Reginaldo Faria. O site Wikipedia nos conta que ele teve um "s" adicionado ao seu sobrenome por erro do cartório, por isso a diferença no sobrenome dos dois irmãos. Seus filhos Maurício Farias e Lui Farias também são cineastas. São dele os filmes: “Roberto Carlos em Ritmo de Aventura” (1968), “Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa” (1970), “Roberto Carlos a 300 Quilômetros por Hora” (1971), “Pra frente, Brasil” (1982) e “Os Trapalhões no Auto da Compadecida” (1982), dentre outros. Na TV ele assinou títulos como: “As Noivas de Copacabana” (1992) e “Memorial de Maria Moura” (1994).
“Assalto ao Trem Pagador” (1962) se baseia na história real do famoso assalto contra o trem de pagamentos da Estrada de Ferro Central do Brasil, ocorrido em 1960. O crime aconteceu nas proximidades da Estação Japeri, no Rio de Janeiro, no km 71 do extinto trecho da Linha Auxiliar da empresa e que ligava a Estação Japeri à Estação Botais, em Miguel Pereira. O filme já começa com o assalto sendo feito, então ele serve apenas como o pontapé inicial dessa história que segue mostrando o desenrolar desse acontecimento.
O filme foi rodado em 62 dias, apresentando como principais protagonistas Eliezer Gomes, no papel de Tião Medonho, e Reginaldo Farias no papel de Grilo. Também faziam parte do elenco Jorge Dória, Átila Iório, Ruth de Souza, Helena Ignês, Luiza Maranhão, Dirce Migliaccio, Miguel Rosemberg e Kelé, além da participação especial de Grande Otelo.
Marcelo Leme do site Cineplayers diz que “Para alguém, a morte de uma criança na favela não é para se lamentar tanto, já que é um a menos a sobreviver no meio da miséria. Para outro, pobre rouba galinhas, pois roubar pouco é o que dá cadeia. Em cena, a pobreza da periferia carioca em evidência quando seus habitantes assumem a façanha, com negros a postos nos trilhos em ação, armados na estrada de ferro Central do Brasil, enquanto o mentor desfruta a maresia da zona sul. Peru Grilo, o loiro de olhos claros que caminha por Copacabana, é quem planeja o roubo; os pobres, liderados por Tião Medonho, são quem cumpre toda a articulação do ousado assalto. Os dois personagens participam de uma das cenas mais terminantes de todo o longa, de perversa humilhação e de racismo. Crime entre crimes.
Tião Medonho (...) é o protagonista e o mais explorado entre os personagens. Vivendo vida dúbia [ele tem duas famílias], ele tem horror à pobreza e idealiza um futuro melhor aos filhos. O pensamento: seguirá pobre, mas as crianças não viverão o que diariamente vive. A realidade travestida de ficção faz do filme absolutamente atual. (...) A realidade da fome. A realidade da violência. Roberto Farias apenas conta a história e deixa que o público a questione ou analise”.
A obra conquistou prêmios em diversos festivais como o Festival de Cinema da Bahia, o Festival de Dacar no Senegal, o II Festival Internacional de Lisboa e o Prêmio Governador do Paraná. Conquistou ainda a premiação de Melhor Diretor no Prêmio Governador do Estado de São Paulo e no Festival de Cinema da Bahia. Foi laureado também como Melhor Roteiro no Prêmio Governador do Estado de São Paulo e Sacy do Jornal O Estado de São Paulo.
O que disse a crítica: Davi Lima do site Plano Crítico avaliou com 4 estrelas, ou seja, ótimo. Escreveu: “O filme ‘Assalto ao Trem Pagador’ tem um tipo de história com crescente temática, algo que o público vai desvendando, ao mesmo tempo em que se desgarra dela, mantendo o efeito do tema sem depender dele. É nessa maestria que o tema racial vai ser representado (...). O diretor conquista o público no suspense policial e no visual de faroeste – desde as primeiras cenas de um roubo de trem – fora toda a linguagem de profundidade de duelos no espaço urbano brasileiro. Nessa composição audiovisual cresce o subtexto de um grande assalto, o drama racial no cenário endinheirado de Copacabana e na hierarquia violenta do morro carioca. O diretor mantém o filme com seus ângulos abertos e elipses narrativas para manutenção constante da atenção, mas sem clímax de suspense, apenas um pessimismo representativo da injustiça social”.
Claudio Carvalho do blog dos Maníacos por Filme também avaliou com 4 estrelas. Disse: “O ‘Assalto ao Trem Pagador’ é um clássico do Cinema Brasileiro. Baseado em um fato real, aliás um dos assaltos mais ousados da história brasileira, o filme impressiona até os dias atuais. A precisão e o realismo das cenas lembram o movimento neorrealista italiano. A falta de direitos humanos com as pessoas humildes das favelas que ainda prevalece nos dias atuais é magnificamente apresentada em muitas cenas, especialmente na última, quando a casa da esposa de Tião Medonho é invadida pela polícia, repórteres e fotógrafos. Este filme mostra o outro lado da cidade maravilhosa do Rio de Janeiro, podendo ser considerado a ‘Cidade de Deus’ dos anos 60. A direção de Roberto Farias é muito precisa e cortante, tocando em feridas sociais que nunca cicatrizaram. O elenco tem atuações de destaque como Eliezer Gomes no papel de um líder poderoso e nato, ‘o dono da favela’, Tião Medonho”.
O que eu achei: O filme começa mostrando um assalto que de fato ocorreu, feito a um trem pagador em 1960, ou seja, dois anos antes do filme ser lançado. Basicamente 10% do filme é o assalto em si e os outros 90% são os desdobramentos desse assalto, ou seja, o que aconteceu com os membros dessa gangue que saíram da empreitada com muito dinheiro. A façanha foi tamanha que nem a polícia e nem a imprensa acreditavam que brasileiros fossem capazes de realizar um roubo dessa magnitude. A aposta era de que a gangue fosse internacional. Mas o filme deixa claro logo de cara que o mentor era um branco de classe média residente em Copacabana e os executores, os negros de uma comunidade. O elenco conta com grandes nomes, mas é especialmente tocante ver o saudoso Grande Otelo, que por mais de 60 anos foi protagonista de filmes, novelas e peças teatrais, se tornando um dos poucos negros à época a ocupar um lugar de destaque no cenário artístico brasileiro. A parte triste é constatar que as favelas do Rio de Janeiro, de 1962 pra cá, basicamente só mudaram de nome (hoje se chamam comunidades). Os políticos entram e saem e tudo permanece igual. Com relação ao filme em si, ele até tem alguns problemas de edição e aquela velha questão de dificuldade na captura do áudio, mas é inegável tratar-se de uma grande joia do nosso cinema. Se nunca viu, se jogue.
“Assalto ao Trem Pagador” (1962) se baseia na história real do famoso assalto contra o trem de pagamentos da Estrada de Ferro Central do Brasil, ocorrido em 1960. O crime aconteceu nas proximidades da Estação Japeri, no Rio de Janeiro, no km 71 do extinto trecho da Linha Auxiliar da empresa e que ligava a Estação Japeri à Estação Botais, em Miguel Pereira. O filme já começa com o assalto sendo feito, então ele serve apenas como o pontapé inicial dessa história que segue mostrando o desenrolar desse acontecimento.
O filme foi rodado em 62 dias, apresentando como principais protagonistas Eliezer Gomes, no papel de Tião Medonho, e Reginaldo Farias no papel de Grilo. Também faziam parte do elenco Jorge Dória, Átila Iório, Ruth de Souza, Helena Ignês, Luiza Maranhão, Dirce Migliaccio, Miguel Rosemberg e Kelé, além da participação especial de Grande Otelo.
Marcelo Leme do site Cineplayers diz que “Para alguém, a morte de uma criança na favela não é para se lamentar tanto, já que é um a menos a sobreviver no meio da miséria. Para outro, pobre rouba galinhas, pois roubar pouco é o que dá cadeia. Em cena, a pobreza da periferia carioca em evidência quando seus habitantes assumem a façanha, com negros a postos nos trilhos em ação, armados na estrada de ferro Central do Brasil, enquanto o mentor desfruta a maresia da zona sul. Peru Grilo, o loiro de olhos claros que caminha por Copacabana, é quem planeja o roubo; os pobres, liderados por Tião Medonho, são quem cumpre toda a articulação do ousado assalto. Os dois personagens participam de uma das cenas mais terminantes de todo o longa, de perversa humilhação e de racismo. Crime entre crimes.
Tião Medonho (...) é o protagonista e o mais explorado entre os personagens. Vivendo vida dúbia [ele tem duas famílias], ele tem horror à pobreza e idealiza um futuro melhor aos filhos. O pensamento: seguirá pobre, mas as crianças não viverão o que diariamente vive. A realidade travestida de ficção faz do filme absolutamente atual. (...) A realidade da fome. A realidade da violência. Roberto Farias apenas conta a história e deixa que o público a questione ou analise”.
A obra conquistou prêmios em diversos festivais como o Festival de Cinema da Bahia, o Festival de Dacar no Senegal, o II Festival Internacional de Lisboa e o Prêmio Governador do Paraná. Conquistou ainda a premiação de Melhor Diretor no Prêmio Governador do Estado de São Paulo e no Festival de Cinema da Bahia. Foi laureado também como Melhor Roteiro no Prêmio Governador do Estado de São Paulo e Sacy do Jornal O Estado de São Paulo.
O que disse a crítica: Davi Lima do site Plano Crítico avaliou com 4 estrelas, ou seja, ótimo. Escreveu: “O filme ‘Assalto ao Trem Pagador’ tem um tipo de história com crescente temática, algo que o público vai desvendando, ao mesmo tempo em que se desgarra dela, mantendo o efeito do tema sem depender dele. É nessa maestria que o tema racial vai ser representado (...). O diretor conquista o público no suspense policial e no visual de faroeste – desde as primeiras cenas de um roubo de trem – fora toda a linguagem de profundidade de duelos no espaço urbano brasileiro. Nessa composição audiovisual cresce o subtexto de um grande assalto, o drama racial no cenário endinheirado de Copacabana e na hierarquia violenta do morro carioca. O diretor mantém o filme com seus ângulos abertos e elipses narrativas para manutenção constante da atenção, mas sem clímax de suspense, apenas um pessimismo representativo da injustiça social”.
Claudio Carvalho do blog dos Maníacos por Filme também avaliou com 4 estrelas. Disse: “O ‘Assalto ao Trem Pagador’ é um clássico do Cinema Brasileiro. Baseado em um fato real, aliás um dos assaltos mais ousados da história brasileira, o filme impressiona até os dias atuais. A precisão e o realismo das cenas lembram o movimento neorrealista italiano. A falta de direitos humanos com as pessoas humildes das favelas que ainda prevalece nos dias atuais é magnificamente apresentada em muitas cenas, especialmente na última, quando a casa da esposa de Tião Medonho é invadida pela polícia, repórteres e fotógrafos. Este filme mostra o outro lado da cidade maravilhosa do Rio de Janeiro, podendo ser considerado a ‘Cidade de Deus’ dos anos 60. A direção de Roberto Farias é muito precisa e cortante, tocando em feridas sociais que nunca cicatrizaram. O elenco tem atuações de destaque como Eliezer Gomes no papel de um líder poderoso e nato, ‘o dono da favela’, Tião Medonho”.
O que eu achei: O filme começa mostrando um assalto que de fato ocorreu, feito a um trem pagador em 1960, ou seja, dois anos antes do filme ser lançado. Basicamente 10% do filme é o assalto em si e os outros 90% são os desdobramentos desse assalto, ou seja, o que aconteceu com os membros dessa gangue que saíram da empreitada com muito dinheiro. A façanha foi tamanha que nem a polícia e nem a imprensa acreditavam que brasileiros fossem capazes de realizar um roubo dessa magnitude. A aposta era de que a gangue fosse internacional. Mas o filme deixa claro logo de cara que o mentor era um branco de classe média residente em Copacabana e os executores, os negros de uma comunidade. O elenco conta com grandes nomes, mas é especialmente tocante ver o saudoso Grande Otelo, que por mais de 60 anos foi protagonista de filmes, novelas e peças teatrais, se tornando um dos poucos negros à época a ocupar um lugar de destaque no cenário artístico brasileiro. A parte triste é constatar que as favelas do Rio de Janeiro, de 1962 pra cá, basicamente só mudaram de nome (hoje se chamam comunidades). Os políticos entram e saem e tudo permanece igual. Com relação ao filme em si, ele até tem alguns problemas de edição e aquela velha questão de dificuldade na captura do áudio, mas é inegável tratar-se de uma grande joia do nosso cinema. Se nunca viu, se jogue.