18.8.24

“Rain Man” - Barry Levinson (EUA, 1988)

Sinopse:
Charlie (Tom Cruise), um jovem yuppie, fica sabendo que seu pai faleceu. Eles nunca se deram bem e não se viam há anos, mas ele vai ao enterro e ao cuidar do testamento descobre que herdou um Buick 1949 e algumas roseiras premiadas, enquanto um irmão autista que ele nem conhecia chamado Raymond (Dustin Hoffman), havia herdado três milhões de dólares. Charlie sequestra o irmão da instituição onde ele está internado para levá-lo até Los Angeles a fim de exigir metade do dinheiro, nem que para isto tenha que ir aos tribunais. É durante essa viagem cheia de pequenos imprevistos que os dois entenderão o significado de serem irmãos.
Comentário: Barry Levinson (1942) é um cineasta, produtor e roteirista de cinema norte-americano. Ele iniciou sua carreira escrevendo para a televisão e posteriormente passou a escrever roteiros. Estreou na direção em 1982 com o filme “Diner”. É considerado um diretor irregular, que alterna sucessos com filmes menos importantes. Foi indicado diversas vezes pela Academia de Hollywood, tendo obtido a consagração com o filme “Rain Man” (1988) que é o único filme que vi dele até o momento.
Parcilene Fernandes do site (Em)Cena nos conta que “’Rain Man’ estreou em 1988. Nessa época, o transtorno do autismo era pouco divulgado na mídia, o que fez com que o personagem de Dustin Hoffman (Raymond) se transformasse em uma espécie de referência no que tange aos sintomas desse transtorno. Algumas pessoas (e a mídia em geral) associavam as características do personagem ao transtorno, o que poderia produzir uma equivalência perigosa. O filme foi extremamente relevante para a apresentação do autismo, mas também contribuiu para provocar erros de interpretação, já que reduzia, aos olhos do grande público, os sintomas desse transtorno à imagem do personagem. (...) Uma das grandes complexidades desse transtorno reside no entendimento das variações dessas manifestações e a fase em que são identificadas. Quanto mais tarde é feito o diagnóstico, mais difíceis são as possibilidades de tratamento.
No caso de Raymond [personagem interpretado por Dustin Hoffman], a questão ainda tem um diferencial, pois ele também sofre da Síndrome de Savant”, o que faz com que a pessoa possua algum tipo de talento ou habilidade extraordinária. Dizem que em cada 10 pessoas autistas, uma tem junto a Síndrome de Savant. Em geral essa habilidade extraordinária está intrinsicamente relacionada à capacidade surpreendente de memorização, assim como vemos no filme.
“Apesar do personagem Raymond Babbit [o Rain Man] ter ambos os transtornos, Kim Peek, que foi a inspiração para os roteiristas desenvolverem o filme, não tinha autismo, mas era mentalmente incapacitado, precisava do auxílio do pai para realizar as tarefas mais básicas (como se vestir ou barbear), apesar de ter uma capacidade de memorização extrema. Até a sua morte em 2009, aos 58 anos, Kim havia memorizado cerca de 12.000 livros (inclusive a Bíblia). Mesmo sem compreender aquilo que memorizava, era capaz de citar palavra por palavra o texto de cada um dos livros”.
E conclui: “O autismo colocou Raymond em um mundo à parte enquanto a Síndrome de Savant transformou-o em um prodígio no uso da memória. Em alguns estudos, busca-se no reforço desses talentos, uma forma de inclusão social, já que a pessoa passa a se sentir útil em um dado contexto”.
O filme, aclamado pela crítica, teve oito indicações ao Oscar e ganhou como Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (Dustin Hoffman) e Melhor Roteiro Original. Recebeu ainda prêmios no Globo de Ouro e Urso de Ouro, além de indicações no Bafta e Festival de Berlim.
O que disse a crítica: Gabriel Carvalho do site Plano Crítico avaliou com 3,5 estrelas, ou seja, muito bom. Disse: “Uma jornada como a retratada em ‘Rain Man’ possui (...) uma condição dramática poderosa, em vista do discurso que carrega por meio das nuances contidas em alguns tratamentos do cineasta Barry Levinson, além da ótima história que está presente no filme - uma sentimental obra com os alicerces fundamentados em uma família destroçada pela incapacidade de, no passado, ter se conectado verdadeiramente, portanto desmantelada pela vida. Um longa-metragem principalmente sobre a incomunicabilidade do ser humano sendo desfeita através de uma espirituosa jornada vivida por dois irmãos, percorrendo as estradas norte-americanas e reencontrando, por fim, algo maior do que a companhia dos seus próprios reflexos”.
Daniel Dalpizzolo do site Cine Players também avaliou com 3,5 estrelas. Escreveu: “’Rain Man’ (...) faz parte de um subgênero bastante perigoso: os dramas sobre doentes mentais. Não raramente, os filmes do estilo costumam cair no ridículo ao utilizar, tanto na composição de suas personagens, quanto no desenvolvimento de sua narrativa, elementos maniqueístas e superficiais que visam, primordialmente, desestabilizar o lado emocional do espectador para que, subsequentemente, o mesmo venha a comover-se com os clichês habituais utilizados em seus desfechos. Já em ‘Rain Man’ (...) podemos encontrar justamente o oposto: conduzida com leveza e extrema maturidade, a obra de Levinson consegue trabalhar acerca de um tema sério e polêmico com serenidade e inteligência e, ao mesmo tempo, nos emocionar de forma natural e singela”.
O que eu achei: Dustin Hoffman no papel do autista Raymond, ou Rain Man como é chamado pelo irmão, entrega uma performance de primeira, enquanto Tom Cruise está logo atrás dele, nesta emocionante e por vezes engraçada viagem de carro que explora a conexão humana e o poder da empatia. O filme, lançado em 1988, já se tornou um clássico e vira e mexe aparece sendo exibido em algum canal de tv. Interessante como a trama - que poderia rapidamente cair naquele clichê piegas que facilmente se transforma num sentimentalismo barato - consegue não seguir por aí, finalizando de forma honesta. Uma rara oportunidade de ver Cruise fora de um thriller, num filme delicado e sentimental. Boa pedida.