11.8.24

“Priscilla” - Sofia Coppola (EUA/Itália, 2023)

Sinopse: A adolescente Priscilla Beaulieu (Cailee Spaeny) conhece Elvis Presley (Jacob Elordi) em uma festa. O relacionamento decola e ela se casa com ele. Mas aquilo que poderia ser um conto de fadas se transforma em algo inesperado.
Comentário: Sofia Coppola é uma cineasta ítalo-americana, filha do diretor Francis Ford Coppola. Vi dela sete filmes: o excepcional “Encontros e Desencontros” (2004), os ótimos “As Virgens Suicidas” (1999) e “Maria Antonieta” (2006), os bons “Um Lugar Qualquer” (2010), "Bling Ring: A Gangue de Hollywood" (2013) e “O Estranho que Nós Amamos” (2017) e o mediano “On the Rocks” (2020).
“Priscilla” é uma cinebiografia que retrata a história de Priscilla Presley e seu perturbado relacionamento amoroso com o músico Elvis Presley, abordando seu estilo de vida luxuoso e a solidão que sentia por estar envolvida com uma celebridade. A história é baseada num livro chamado “Elvis & Eu”, de 1985, escrito pela própria Priscilla Presley em parceria com Sandra Harmon.
Matheus Mans do site Terra nos conta que “Se ‘Elvis’ (Baz Luhrmann, 2022) é um filme explosivo, ‘Priscilla’ é contido. Se ‘Elvis’ é colorido, ‘Priscilla’ está mais puxado para o pastel. Se o filme de Baz Luhrmann é uma ode ao personagem-título, o de Sofia Coppola toca apenas uma música de Elvis - e em um momento bem discreto e intimista. (...)
Dirigido e roteirizado por Sofia, o longa se concentra unicamente na história do relacionamento entre Priscilla (Cailee Spaeny) e Elvis (Jacob Elordi). Não há desvios de atenção aqui para a carreira do Rei do Rock, tampouco algum deslumbramento com os personagens em cena. O longa, inspirado no livro de memórias de Priscilla e produzido por ela, tem uma preocupação: mostrar detalhadamente o que é um relacionamento abusivo. O fato de o casal ser um dos mais emblemáticos da história da música norte-americana é um detalhe - o filme, obviamente, não tenta ser uma denúncia, já que Priscilla falou abertamente sobre isso várias vezes. Sofia (...) volta ao tema do relacionamento para mostrar como o abuso verbal é uma violência que fere e machuca, mesmo se tratando de um casal como esse.
Em termos de narrativa, Priscilla às vezes parece um filme vazio. Pouca coisa realmente acontece: ela conhece Elvis quando ainda estava na escola, fica apaixonada e deslumbrada, se torna um bibelô para o cantor e, enfim, começa a ser tratada como uma ninguém. Um caminho óbvio em uma trama sobre relacionamentos abusivos e que não é potencializada por subtramas desnecessárias. É um filme sobre os dois. E ponto final.
A ambientação é um dos pontos altos do filme. Sofia Coppola se preocupa com todos os detalhes. A começar pela paleta de cores (...) até chegar na escolha de atores - que contribuem enormemente para a mise-en-scène. Cailee Spaeny, a intérprete de Priscilla, tem apenas 1,50m. Jacob Elordi, o Elvis, tem impressionantes 1,96m. Em cena, a diferença é gritante. Elvis, na composição de Sofia Coppola, se torna uma espécie de ameaça constante para Priscilla. Mesmo quando está sendo carinhoso, sua fisicalidade ameaça a mulher. A forma de filmar as interações, aliás, também ajuda nesse processo: Priscilla está sempre buscando o olhar do parceiro, enquanto ele está sempre distante. Quando olha para ela, geralmente está fazendo algum juízo de valor ou, até mesmo, falando algo absurdo.
Elordi (de ‘Euphoria’) faz um Elvis diametralmente oposto ao de Austin Butler: ele é todo sem jeito, gaguejando e balbuciando quando precisa falar algo importante, mas que não pensa duas vezes antes de desferir uma agressão verbal contra a esposa. A violência fica ainda mais evidente com esse contraste. Já Cailee (‘Suprema’) traz emoções nos detalhes, com poucos momentos de explosão, funcionando bem desde essa adolescente apaixonada até a mulher sofrendo de solidão.
Priscilla termina em um grito de liberdade. Sofia Coppola clama por isso, celebra isso. Lembra um pouco o que [o filme] ‘Spencer’ (Pablo Larraín, 2021) apresentou sobre a vida da Princesa Diana, mostrando as complexidades de um relacionamento abusivo e o suspiro que chega quando ele acaba”.
O que disse a crítica: Li cinco avaliações, todas elas avaliaram o filme com 4 estrelas, ou seja, muito bom. Pablo Villaça do site Cinema em Cena disse: “O resultado é um longa construído a partir de cenas curtas que muitas vezes remetem quase a vinhetas, servindo para ilustrar a passagem do tempo e os efeitos que cada acontecimento deixa na personagem. Com isso, ‘Priscilla’ acaba soando episódico, é verdade, mas não em um sentido negativo daqueles observados em filmes que parecem se limitar a uma compilação de ‘melhores momentos’ da vida de alguém; em vez disso, estes saltos constantes sugerem o acúmulo de traumas e mágoas que, grandes ou pequenos, vão gradualmente sugando a vitalidade daquela mulher apesar de seu empenho em preservar seu amor e seu relacionamento”.
Rodrigo Fonseca do site C7nema escreveu: “Sucesso de bilheteiras nos EUA (...) ‘Priscilla’ emprega 1h53m magistralmente fotografados por Philippe Le Sourd (...) para acompanhar a estratégia de sedução a qual a jovem Bealieu é submetida. De um lado, existe o fascínio com o luxo e a riqueza; do outro, existe o encanto de ser a ‘preferida’ de uma majestade cultural. As aspas ao lado traduzem o mal-estar que Sofia busca ressaltar ao longo da sua narrativa ao expor o quanto a sua protagonista é tratada como um fetiche por uma estrela cheia de inseguranças, longe da maturidade e afogado em drogas. A Priscilla de Cailee trafega por barbitúricos, ostentação, armas, abusos psicológicos, falta de sexo e desdém. Mas Sofia Coppola nunca a trata como heroína passiva, encastelada, secundária de um esposo arbitrário. A sua Priscilla é uma borboleta em busca da saída de um casulo mediático. O seu bater de asas, mesmo emparedada pelo sufoco imposto por Elvis, ensaia uma exegese da liberdade, uma busca por equidade. Trata-se de um manifesto feminino, doído, mas avassalador”.
O que eu achei: O filme tem diversas qualidades: a direção de arte é incrível, retrata os anos 60, 70 e 80 com maestria; os atores até que são bons, em especial a protagonista Cailee Spaeny que com seus 1,50m de altura interpreta Priscilla, contrastando com a altura do ator Jacob Elordi, o Elvis, com seus 1,96m; outra qualidade é vermos o ponto de vista de Priscilla nesse relacionamento, já que o filme é baseado em um livro de sua autoria chamado “Elvis e Eu”. A trilha sonora - sem muitas músicas de Elvis - é outro ponto alto. Saída da casa dos seus pais aos 17 anos, a história mostra como Priscilla era basicamente um bibelô que Elvis levou pra casa. Para retratar essa vida sem graça que Priscilla levava com seus pais americanos que tiveram que se mudar para a Alemanha e a vida, também sem colorido, que ela passa a levar com Elvis, optaram por deixar a iluminação dos espaços internos sempre bastante inferior ao dia ensolarado que entra pelas janelas. Então praticamente tudo é filmado meio no escuro ou à contraluz o que cansa os olhos rapidamente. Com a vida dela sendo sem graça, o filme também é sem graça, o que também colabora com essa sensação de cansaço. Essas escolhas condizem com o roteiro, mas acabam deixando o filme um tanto arrastado que acaba por ficar ali entre o bom e o mediano. Terminei com a sensação de que poderia ter sido melhor.