4.8.24

“Platoon” – Oliver Stone (EUA/Reino Unido,1986)

Sinopse:
Chris (Charlie Sheen) é um jovem recruta recém-chegado a um batalhão americano em meio à Guerra do Vietnã. Idealista, Chris foi um voluntário para lutar na guerra pois acredita que deve defender seu país, assim como fizeram seu avô e seu pai em guerras anteriores. Mas aos poucos, com a convivência dos demais recrutas e dos oficiais que o cercam, ele vai perdendo sua inocência e passa a experimentar de perto toda a violência e loucura de uma carnificina sem sentido.
Comentário: Oliver Stone (1946) é um cineasta e roteirista americano. Dentre seus diversos filmes estão “JFK - A Pergunta Que Não Quer Calar” (1991), “The Doors” (1991) e “Nascido em 4 de Julho” (1989). Assisti dele apenas o ótimo “Assassinos por Natureza” (1994).
Erich Thomas Mafra do site A Gazeta do Povo nos conta que “Durante 20 anos, a grande preocupação de um jovem americano era a de se alistar para o exército e acabar despachado para a Guerra do Vietnã. Não à toa, esse momento da civilização, iniciado em 1955 e concluído em 1975, foi o combustível para grandes obras no cinema. ‘Apocalypse Now’, do genial Francis Ford Coppola, costuma ser a primeira e óbvia referência. Mas, conforme o próprio diretor já afirmou, o longa de 1979 ‘não é um filme antiguerra’, o que gera críticas bem fundamentadas à película até hoje. Não é o caso de outro clássico: ‘Platoon’, lançado em 1986, pelo cineasta Oliver Stone.
A história (...) acompanha Chris Taylor, um jovem idealista que se voluntaria ao exército em 1967 e passa a fazer parte de um pelotão no sul do Vietnã. A visão dele é baseada nas próprias experiências de Stone na guerra, que começou a trabalhar no roteiro em 1968, logo após voltar da guerra e entender seus horrores. Ao conhecer a 25ª Divisão de Infantaria, a mesma em que o cineasta participou na vida real, Taylor (interpretado por Charlie Sheen) percebe que o grupo é chefiado por um tenente inexperiente, fazendo com que eles respondam melhor aos mais velhos no local, os sargentos Barnes e Elias. Com essa relação estabelecida, ‘Platoon’ joga na cara do espectador um dos grandes problemas da guerra: muitos dos soldados são apenas garotos que querem se tornar homens ao ajudar seu país. Contudo, a falta de experiência e as emoções à flor da pele, características da idade, tornam a experiência ainda mais intensa.
Outro aspecto importante de ‘Platoon’ é o retrato feito de crimes que acontecem dentro da guerra, mas que não estão ligados ao objetivo daquela incursão em um país estrangeiro. Assassinatos, estupros e outras transgressões viram parte da rotina e mostram como, em uma situação como essa, um homem é capaz de perder sua bússola moral – ainda mais sem a devida mentoria que uma situação desse tipo requer.
Se esses artifícios do roteiro de Stone já não fossem suficientes para formar uma mensagem antiguerra, o diretor ainda se esforça e consegue construir tragédia até em cima de um ato de heroísmo. A cena mais icônica do filme é baseada justamente nessa ideia. Com o épico Adagio para Corda, Op.11, do compositor Samuel Barber, como trilha sonora, levamos um soco no estômago quando o admirado sargento Elias, interpretado por Willem Dafoe, é esquecido na batalha por seus companheiros de pelotão e é brutalmente morto por diversos disparos. A sequência dele jogando seus braços para cima no formato de um Y, suplicando por socorro, não poderia tornar mais nítido o posicionamento de Oliver Stone”.
Em tempo, a palavra Platoon significa Pelotão.
O que disse a crítica: Gabriel Carvalho do Plano Crítico avaliou o filme com 5 estrelas, ou seja, obra-prima. Disse: “É sobre esse discurso de perda da inocência americana que Stone conclui sua obra, primeira de uma trilogia sobre o evento que marcou sua vida e outras milhares. Além de um retrato sobre a Guerra do Vietnã e seus soldados, ‘Platoon’ é sobretudo, um retrato sobre homens. Homens que, em situações adversas, têm de sobreviver de maneiras inimagináveis. Homens que, no terror de suas ações, tornam-se os próprios monstros de seus piores pesadelos. Homens que, movidos por seus princípios, têm na esperança provida pelas suas mensagens idealistas a causa pelo fim de suas vidas. Um melancólico sofrimento internalizado, psicologicamente tóxico. Do que vale lutar por uma guerra sem sentido? Quais são os verdadeiros inimigos da pátria, do homem? Um conjunto de perguntas dolorosas com as respostas mais pessimistas possíveis”.
Bruno Brauns do site Pocilga também avaliou com 5 estrelas. Escreveu: “Cenas de batalha competentes transmitem bem toda a confusão que era estar lá, mas não são o ponto principal do filme. Como poucos exemplares do gênero, ‘Platoon’ nos mostra como passar um período naquele caos transformava permanentemente um ser humano. Mesmo trinta anos depois do lançamento, ‘Platoon’ segue como uma obra intocável dentro do gênero, merecedora do Oscar de melhor filme que recebeu em 1987 e do apreço dos que gostam de filmes de guerra”.
O que eu achei: Taí um filme que eu queria muito rever. Conta a história de Chris - interpretado por Charlie Sheen, filho do ator Martin Sheen e protagonista da série “Two and a Half Man” (2003-2015) - se voluntariando para ir participar da Guerra do Vietnã. Ele se justifica dizendo que como seu avô serviu ao país na 1ª Guerra e seu pai serviu na 2ª Guerra, nada mais correto do que ele também tentar fazer algo. Com isso ele larga os estudos e vai parar no Camboja, onde o filme começa. Foi muito curioso saber que o cineasta Oliver Stone esteve nessa guerra em 1967 como soldado raso na Infantaria do Exército dos Estados Unidos, mesmo ano do protagonista do filme. A capa de seu livro autobiográfico chamado “Chasing the Light” possui na capa uma fotografia sua com 21 anos, exausto, vestindo uma farda de combate em mau estado, sem capacete, o cabelo desgrenhado caindo sobre a testa, com uma cara de horror e espanto, mostrando como essa experiência marcou sua vida. A primeira metade do filme não me pareceu tão interessante, pois ela serve apenas para te ambientar na história, mas na segunda metade o filme foge do óbvio e cresce mostrando que a guerra não era apenas entre um país e outro, mas também dentro dos próprios membros do exército que por vaidade ou opiniões divergentes acabavam se enfrentando até as últimas consequências. Chris chega no local na inocência de que ele estaria se unindo à um grupo para atacar um inimigo comum e sai perplexo concluindo que seu maior desafio foi a luta que ele travou consigo mesmo para tentar compreender a si próprio e aos homens. Um grande filme que merece ser visto e revisto.