3.8.24

“Clube Zero” - Jessica Hauster (Áustria/Reino Unido/Alemanha/França/Dinamarca/Turquia/EUA/Catar/Bósnia e Herzegovina, 2023)

Sinopse:
Novak (Mia Wasikowska) é uma professora que consegue um emprego em uma escola de elite e forma um forte vínculo com os alunos. Ela introduz uma aula de nutrição baseada num conceito inovador, promovendo uma mudança que conduz a uma revolução nos hábitos alimentares de diversos alunos. Mas, com o passar do tempo, a influência exercida por Novak toma um rumo perigoso.
Comentário: Jessica Hausner (1972) é uma cineasta austríaca, responsável por filmes como “Lourdes” (2009) e “Amor Louco“ (2014). Este é o primeiro filme que vejo dela.
Jorge Pereira Rosa do site C7nema nos conta que a trama toca “em alguns dos principais objetos de estudo da cineasta, como a obsessão, a fé e a insegurança, com fortes pitadas de sátira e ironia, além de uma rebelião ao instituído e normalizado, com ferroadas mais ou menos sutis à sociedade e ao seu pilar: a família.
Em ‘Clube Zero’, Mia Wasikowska interpreta uma professora carismática que, apoiada pelos desígnios elitistas e burgueses da instituição em que trabalha, apresenta aos seus alunos o que chama de ‘alimentação consciente’, desafiando as normas para o consumo de alimentos em nome da defesa do planeta, mas também para uma melhor performance espiritual. Em termos práticos, a ideia é pensar sobre cada garfada que se dá, (...) até nos consciencializarmos que não precisamos comer tanto, ou até nem comer. Aos poucos e poucos, muito por conta da fragilidade psicológica dos adolescentes impressionáveis que tem à sua frente, cada um deles com uma ligação mais ou menos complexa com os familiares, esta ideia programática da ‘alimentação consciente’ ganha contornos de seita, com a Miss Novak agindo cada vez mais como um cérebro manipulador que ‘sequestra’ dos adolescentes aos pais e à escola, levando o espectador num espetáculo frequentemente sinistro ao mundo das desordens alimentares.
A tal obsessão, fé e insegurança, que já vimos antes no cinema de Hausner, voltam a ser a chave de um filme fortemente estilizado do ponto de vista visual e sonoro, com cada espaço, peça de mobiliário, roupa, penteado, e até os travellings a criarem um ambiente de profunda artificialidade, tensão e perturbação, servindo o filme, tal como ‘Little Joe’ [filme de 2019 da mesma diretora], de reflexão contemporânea sobre a noção de felicidade e pertencimento nas sociedades do chamado primeiro-mundo.
Inspirada pela velha história do Flautista de Hamelin, Hasner atualiza o mesmo, com mais peculiaridades que semelhanças, agarrando o espectador e conduzindo-o por um ambiente de desconfiança sobre as influências malignas da sociedade sobre os filhos, pondo em causa onde começa o trabalho da escola e família na educação das crianças”.
O que disse a crítica: Luiz Oliveira do site Metrópoles avaliou com 1 estrela, ou seja, ruim. Escreveu: “Há sempre de se elogiar a audácia no cinema. Só que não é qualquer ideia que pode usar a desculpa de tentar ser algo audaz para se defender de críticas”. O filme, segundo ele, “não consegue passar do óbvio numa trama que busca comentar a sociedade de consumo, os influenciadores transcendentais e os gêneros de filme sobre rebeldia adolescente e também professores carismáticos. (...) O roteiro, porém, não consegue aprofundar a trama além de uma simples provocação sobre o ideal do professor”.
Sheila O'Malley do site Roger Ebert avaliou com 3 estrelas, ou seja, bom. Disse: “’Clube Zero’ tem uma qualidade monótona, em última análise, porque existir com uma ideologia de arquitetura brutalista é monótono. Ainda assim, o filme exerce uma atração enervante”.
O que eu achei: O filme trata de questões ligadas à alimentação, como os distúrbios alimentares e a autoimagem. Começa questionando a qualidade do que se come, avança pelo quanto se come, até chegar em uma proposta de não se comer mais porque não é necessário. Assim o que a professora de nutrição dessa escola de elite faz é transformar aquilo que seria uma aula, uma orientação nutricional em grupo, em uma seita esotérica que adolescentes vulneráveis irão cair. O filme é seco, é como se tudo ali fosse robotizado - especialmente as atuações, algumas infelizmente bem caricatas -, os cenários são frios e assépticos, a paleta de cores é fria. Em uma determinada cena, há uma imagem na qual uma adolescente come o próprio vômito e você vai ter que virar o rosto para não vomitar junto. É um filme que perturba, ecoando importantes questões contemporâneas sobre saúde mental e controle corporal. Pena que mesmo com uma boa premissa e alguns acertos, o resultado, em especial a conclusão, não responda a altura, deixando o espectador num impasse cansativo. Não chega a ser ruim, mas está longe de ser excelente. Bom no máximo.