30.7.24

“Nimona” – Troy Quane & Nick Bruno (EUA/Reino Unido, 2023)

Sinopse:
Um cavaleiro é acusado de um crime que não cometeu e a única pessoa que pode ajudá-lo a provar sua inocência é Nimona, uma adolescente que muda de forma e que também pode ser um monstro que ele jurou matar.
Comentário: A animação se baseia na HQ homônima de ND Stevenson, o trabalho mistura diversas técnicas de desenho, entre elas colagem, 2D e 3D. 
Alessandra Monterastelli do site UOL diz “Era uma vez um reino que vivia em paz, até que um monstro passou a ameaçar a vida de todos. A premissa parece pouco inovadora, mas se engana quem espera mais uma animação envolvendo feudos, donzelas indefesas e cavaleiros valentes. ‘Nimona’ (...) mostra que irá escapar do clichê dos contos de fadas no momento em que elege uma mulher para derrotar a força maligna, logo nos primeiros minutos do longa-metragem.
(...) A trama tem início mil anos após o triunfo de Gloreth sobre as forças das trevas. O vilarejo tornou-se uma espécie de feudo hiper tecnológico, beirando ao cyberpunk, envolvido por uma imensa muralha que, junto aos cavaleiros reais herdeiros da honra de Glorith, tem a função de proteger a sociedade de criaturas malignas. Ballister Boldheart se prepara para ser condecorado como cavaleiro pela rainha, evento que causa rebuliço. O motivo é que ele será o primeiro plebeu a receber o título, reservado apenas aos descendentes da nobreza. (...) Frequentemente discriminado por não ter sangue azul, o único que parece respeitá-lo é Ambrosius, seu namorado e queridinho entre os guerreiros por ser descendente direto de Gloreth. Mas a festa não dura muito”. Um acontecimento inesperado faz o cavaleiro sofrer uma acusação indevida. É então que Nimona entra na história.
“Nimona é um metamorfo. Pode se transformar no que quiser, desde uma baleia até um garotinho. (...) Com um gosto peculiar pelo mórbido, Nimona é um anti-herói do bem que concentra o humor da trama em comentários ácidos e piadas irônicas. O gosto pela violência e seu ódio pelo sistema (...) é fruto da opressão que sofreu por ser diferente. Sua história acaba por ser uma alegoria da vivência de uma pessoa trans, desde a felicidade do acolhimento até a dor da discriminação. Quando Ballister questiona o que aconteceria se ela tentasse se conter para ser aceita pela sociedade, ela prontamente responde ‘eu não morro, mas com certeza não vivo’.
‘Nimona’ passou por maus bocados antes de sair do papel. A animação ficou na mão da Disney em 2021, que comprou o estúdio Blue Sky, mas decidiu anular as gravações. Cerca de 450 pessoas envolvidas no projeto foram demitidas na época, como afirmou ND Stevenson, criador da HQ que serviu de inspiração ao filme. Ele afirmou que ‘Nimona’ o ajudou a explorar a própria identidade. O criador, se identifica como transmasculino não binário. (...) ‘Nimona’ escancara a temática LGBQIA+ desde o primeiro momento, nas cenas entre Ballister e Ambrosius, para depois seguir até o fim com o enfrentamento de Nimona às normas impostas pelo reino”.
Concorreu ao Oscar de Melhor Animação.
O que disse a crítica: Janda Montenegro do site CinePop avaliou com 3,5 estrelas, algo como bom. Escreveu: “a história inicialmente parece sem pé nem cabeça, pois mistura cavaleiros medievais num tempo futurista inseridos numa trama que envolve contos de fada, metamorfos e, de quebra, ainda é inclusiva, uma vez que o protagonista é gay e amputado (...). É fofo, levemente punk rock, sem noção e, quando você menos espera, te dá uma rasteira e arranca lágrimas dos seus olhos”.
Rodrigo Pereira do site Plano Crítico avaliou com 5 estrelas, ou seja, obra-prima. Disse: “Perdi a conta de quantas vezes acabei retornando para o início de alguma cena só para rever alguma situação engraçada que tinha acabado de assistir. Como o tema do medo é pesado (...) ele acaba forçando seu protagonismo (...) e saber [mesclar] tão bem os momentos leves com os mais sérios talvez seja um dos maiores trunfos do filme. É ótimo saber que, assim como na história, houve uma luz em meio à escuridão para que essa obra acontecesse”.
O que eu achei: Eu não conhecia a HQ “Nimona” nem seu criador ND Stevenson. Identificado como transmasculino não binário, ele coloca no centro da animação uma menina rechonchuda que pode ser o que ela quiser – baleia, menino, raposa, monstro – e um cavaleiro medieval gay de origem pobre que é sabotado logo no dia de ser condecorado como cavaleiro pela rainha. Tudo isso num cenário futurista onde carros voam e telas imensas se espalham pela cidade. A narrativa bem pensada subverte todos os clichês de contos de fadas. É um filme que não tem medo de abordar assuntos tabus, mas ainda assim adequado para crianças. Requer atenção para acompanhar a trama rápida e sem descanso. Bem interessante.