19.7.24

"Rolling Thunder Revue: A Bob Dylan Story by Martin Scorsese" - Martin Scorsese (EUA, 2019)

Sinopse:
Em 1975, Bob Dylan embarcou em uma turnê através dos Estados Unidos junto com diversos artistas, brincando com novas técnicas criativas e adotando uma teatralidade raramente vista em sua carreira. Unindo imagens de arquivo restauradas e novas entrevistas com Dylan, o diretor Martin Scorsese captura a experiência desse momento histórico tanto para a música, quanto para o espírito americano.
Comentário: Maurício Dehò do site UOL nos conta que "Amplamente divulgado como novo documentário sobre uma das mais famosas e malucas turnês de Bob Dylan, 'Rolling Thunder Revue: A Bob Dylan Story by Martin Scorsese' não é exatamente isso. Há sim a parte documental, que compõe a maior parte do longa de mais de duas horas de duração. Mas o diretor resolveu que seria legal dar uma trollada na audiência. Ou, em palavras mais claras, adicionar um quê de ficção ao seu projeto”. Ou seja, não se trata bem de um documentário, mas sim de um pseudodocumentário.
A parte verdadeira é que “Dylan já era um grande astro, mas queria se reconectar às pequenas audiências. Então, ele voltou a tocar em auditórios menores, para públicos que não o veriam se tivessem que comprar entradas caras. E, além de sua banda, ainda chamou uma lista de convidados que incluíram Joan Baez, Roger McGuinn, Joni Mitchell, Ronee Blakely e Ramblin' Jack Elliott. O resultado foi uma turnê que não foi um sucesso financeiro, para seus padrões, mas que o próprio Dylan, no documentário, retrata como um sucesso em outros campos, mais pessoais”. O filme então é de fato uma “chance rara de retomar os momentos de um ídolo acessível, que ainda andava no meio de muita gente, estava com a criatividade em alta - tanto que compôs o hit 'Hurricane' nesta época".
E o que é mentira no documentário? Lá vai:
- A presença de Sharon Stone relatando uma ida a um show de Bob Dylan, contando que sua camiseta do Kiss chamou a atenção a ponto de ela ser convidada pelo músico para bater papo e depois ter sido chamada para sair em turnê com a banda, só por diversão. Ela diz que tinha 19 anos à época, sendo que ela tinha 17. Não há registros de que tenha estado por lá como uma presença marcante e ligada a Dylan;
- Stefan Van Dorp, que se diz responsável pelas filmagens do show chegando a demandar créditos pelo seu trabalho, foi uma pessoa que até chegou a aparecer apresentando Scorsese na estreia do longa, em Nova York. Porém ele é um ator chamado Martin von Haselberg. As filmagens, na verdade, foram feitas por Sam Shepard;
- Dylan declarando que pintou o rosto de branco em um show por ter visto o Kiss ao vivo também não é verídico pois as datas citadas não batem;
- Allen Ginsberg não virou um carregador de bagagens como é mostrado no documentário;
- E, por fim, o deputado Jack Tanner nunca existiu.
O que eu achei: Num primeiro momento achei o documentário incrível, como tudo o que o Scorsese faz. Entretanto, após ler a matéria do Maurício Dehò publicado no UOL Entretenimento, fiquei um pouco decepcionada em saber que diversas passagens são fictícias. Dehò diz: "Ver o documentário sem saber das trollagens [mentiras criadas por Scorsese] é uma experiência bem diferente da que se tem vendo com a noção de que nem tudo ali é verdadeiro. 'Rolling Thunder Revue' parece que se preza, na verdade, a ser entretenimento de boa qualidade". Ou seja, o documentário amplifica a ideia de mito em cima do músico fabricando uma imagem fantasiosa dos fatos e da geração que viveu a década de 1970. É bonito, bem feito, vale ver pelo show em si, mas é bom ver sabendo que nem tudo o que está ali é verdade. Dentre os convidados estão Patti Smith, Allen Ginsberg, Joan Baez, Sharon Stone, Joni Mitchell e outras figuras importantes do meio cultural.