21.7.24

“Barton Fink - Delírios de Hollywood” - Joel Coen & Ethan Coen (EUA, 1991)

Sinopse:
Barton Fink (John Turturro) torna-se um importante escritor após sua peça fazer sucesso na Broadway. É a década de 40 e os wrestling - filmes sobre luta-livre - são moda nos cinemas. Fink recebe uma proposta irrecusável de produzir um roteiro em Holywood, mas sofre um terrível bloqueio que o impede de escrever. A constante visita de um amigo inusitado (John Goodman) e a pressão dos empresários que contrataram Fink o levarão ao limite.
Comentário: Trata-se de mais um filme dos irmãos americanos Joel Coen (1954) e Ethan Coen (1957) de quem já assisti 13 filmes, sempre no mínimo bons ou ótimos, incluindo a obra-prima "Fargo" (1996).
“Barton Fink - Delírios de Hollywood” é sobre “Barton, um teatrólogo de Nova York celebrado como o novo grande nome do cenário artístico da cidade. É 1941. Seu grande trunfo é o fato de que ele trabalha, em suas peças, com o cidadão comum, com a ‘verdade’. Por conta do sucesso da peça, ele é contratado por um estúdio de Hollywood para fazer um filme. Ao lá chegar, o choque: o filme que ele vai fazer não é ‘Cidadão Kane’ (que é de 1941, o que deixa bem claro do que os irmãos estão falando). Ele foi contratado para fazer um filme para o cidadão comum, aquele mesmo que ele conhece tão bem, já que elegeu como centro de sua dramaturgia. Barton se isola do mundo em quarto de hotel (mixuruca, claro, porque os grandes escritores sofrem para escrever) e mergulha na tarefa de escrever um filme de luta livre”.
Alexandre Werneck do site Contracampo acredita que “’Barton Fink’ é a quintessência da construção de estrutura dos Coen: um filme sobre um roteirista que não consegue fazer um filme popular, em princípio porque é um escritor erudito. Mas não só por isso. Barton não consegue entender que existam regras de gênero. Para ele, a existência de um sistema em que se preenchem lacunas de um roteiro com um órfão excepcional de um lado, uma viúva indefesa do outro, um lutador de luta livre fazendo cara de mau no meio, é um desafio maior do que a leitura de qualquer clássico. (...) Muito se falou sobre o problema de bloqueio narrativo dos próprios Coen na escrita de ‘Ajuste Final’, o que acabou criando ‘Barton Fink’. O filme seria o ‘8 ½’ dos irmãos que se tornaram famosos por sua parceria quase simbiótica”.
Indagado se o filme é uma comédia, Ethan Coen declarou que não, embora ele talvez o definisse como uma comédia de humor negro, apesar do filme ter elementos psicológicos que não cabem muito na definição clássica de uma comédia. Segundo o diretor, “se você quiser definir mesmo o filme, acho que a melhor maneira de dizer é que ele parece um filme de Roman Polanski”.
O que disse a crítica: Luiz Santiago do site Plano Crítico avaliou com 4 estrelas, ou seja, ótimo. Disse: “Vencedor, por unanimidade, da Palma de Ouro em Cannes, além dos prêmios de melhor diretor e ator, ‘Barton Fink’ revelou, de uma vez por todas, o caráter surrealista e às vezes dadaísta de Joel Coen e Ethan Coen na direção e roteiro, um componente artístico que ao invés de centrar-se completamente em si, abriu as portas para temas seculares como fascismo, antissemitismo, guerra, cultura e contracultura, teatro e escolas dramatúrgicas e Broadway versus Hollywood”.
Rodrigo de Oliveira do site Papo de Cinema avaliou com 5 estrelas, ou seja, obra-prima. Escreveu: “Suor e sangue. Duas palavras que resumem, de alguma forma, o trabalho dos irmãos Joel e Ethan Coen no excêntrico ‘Barton Fink: Delírios de Hollywood’. O subtítulo nacional acaba por entregar um pouco o teor insano do filme, ainda que os caminhos por que passam os personagens da trama assinada (...) possam ser alvo de diversas discussões a respeito dos seus significados. Seriam delírios? Seria outra realidade? Ou seria apenas a ofuscante Hollywood? Os irmãos cineastas não têm intenção alguma em responder estas dúvidas, mais preocupados em desenvolver seus personagens deliciosamente interessantes, defendidos com entusiasmo por John Turturro e John Goodman”.
O que eu achei: “Barton Kink” é um daqueles filmes que geram discussões e reflexões a respeito do que foi visto: afinal o que esse escritor de roteiros viveu foi real ou delírio? Essa pergunta não terá respostas. A meu ver, pela forma como o filme termina, eu acho que foi delírio. Afinal, além de estamos na terra dos sonhos e do escritor estar lá justamente para imaginar coisas e criar um roteiro, temos também o subtítulo em português que dá a dica: “Delírios de Hollywood”. A direção de arte é super caprichada, com um hotel daqueles bem decadentes que mais parece uma representação do inconsciente. A trama é bem desenvolvida, o material bem montado e o time de atores é ótimo com John Turturro no papel principal, fazendo parceria com John Goodman, outro talento do cinema. Atenção à alusão feita à dois escritores importantes: Barton Fink como uma espécie de Clifford Odets e W. P. Mayhew (John Mahoney) como William Faulkner. É um filme espirituoso, ousado e paranoico sobre bloqueio criativo, algo que os irmãos Coen, segundo seus próprios depoimentos, sabem bem o que é. Excelente.