29.7.24

“Adeus, Meninos” - Louis Malle (França/Itália, 1987)

Sinopse:
Durante a Segunda Guerra, na França ocupada pelos nazistas, uma escola católica esconde alunos judeus. O garoto Julien (Gaspard Manesse) vê com desconfiança a chegada do novo colega Jean (Raphael Fejtö), mas logo se torna seu amigo.
Comentário: Louis Malle (1932-1995) foi um cineasta francês que desenvolveu, desde o final da década de 50, uma das carreiras mais autorais e independentes do cinema de seu país. À margem da Nouvelle Vague, movimento que arregimentava grandes nomes, como Truffaut, Godard, Chabrol e Rivette, Malle construiu uma filmografia sólida e que ombreia facilmente com a de seus compatriotas. Assisti dele dois filmes: o bom “Ascensor para o Cadafalso” (1958) e o ótimo “Os Amantes” (1958).
Lucas H. Sant’Anna do site CDCC-USP nos conta que “Diferentemente de muitos filmes que se passam durante o período da Segunda Guerra Mundial, ‘Adeus, Meninos’ não nos transporta para um ambiente de terror e medo. Primeiramente somos levados para a infância, a rotina de um internato para garotos, a convivência boba entre garotos que apenas vivem suas vidas e enfrentam seus dilemas. É claro que a guerra existe, é 1944 e a França está ocupada pelos alemães, as marcas do autoritarismo e do ódio estão por ali, permeando a sociedade, porém naquele microcosmo os meninos não são obrigados a amadurecer forçadamente, tudo aquilo está distante.
Entre os grandes problemas que um garoto comum de 11 anos pode ter, Julien Quentin passa seus dias entre estudos, brincadeiras e amizades. Tais interações são a base do filme. Observamos os garotos conversarem, matarem tempo, tramar seus planos e travessuras. Porém, é inevitável permanecer alheio. Mesmo que não percebamos, os conflitos já estão no ambiente. Ao retornar das férias de Natal, três novos alunos ingressam no internato católico onde Julien estuda. Entre eles está Jean Bonnet, do qual Julien se tornará amigo e descobrirá um grande segredo.
A chegada desses garotos será um ponto de inflexão na vida de todos aqueles meninos. Ao menos foi na do diretor Louis Malle, que escreveu o roteiro baseado em memórias de sua infância. A inocência que em outros contextos se esvairia com cada nova experiência, aqui é arrancada ao descobrir a indiferença e um fato importante. Que a maldade, a pura maldade, não é realizada necessariamente por um indivíduo mal, apenas por um indivíduo.
Contada de forma simples e honesta, ‘Adeus, Meninos’ é, além de muitas coisas, uma história sobre a despedida da infância. Sobre o adeus aos amigos, lugares e dias que nunca mais voltarão”.
O filme, baseado em eventos da própria infância de Louis Malle que, aos doze anos, estudava em um colégio interno carmelita perto de Fontainebleau, ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza de 1987.
O que disse a crítica: Marcelo Sobrinho do site Plano Crítico avaliou com 4,5 estrelas, ou seja, excelente. Disse: “O que o filme de Malle faz aqui é garantir que, mesmo no mais nefasto dos cenários, ainda haverá oportunidade para nascer afeto entre os homens. ‘Adeus, Meninos’ termina com uma das despedidas mais melancólicas da história do cinema, mas ainda assim, salvaguardando essa ideia, que, para o nosso bem, nenhum conflito, por mais sangrento que tenha sido, foi capaz de extirpar [o afeto] da história humana”.
Peter Bradshaw do site The Guardian avaliou com 5 estrelas. Escreveu: “A obra-prima quase autobiográfica de Louis Malle (...) continua de tirar o fôlego. Há uma facilidade e naturalidade milagrosas e espontâneas na atuação e na direção; é uma narrativa clássica de filme a serviço de temas importantes, incluindo a despedida que devemos dar à nossa infância e à nossa inocência - uma despedida repetida por toda a nossa vida no ato da memória. (...) Como uma evocação da infância, é soberbo (...). Cada linha, cada cena, cada tomada, é composta com maestria. Tem que ser visto”.
O que eu achei: Ver este filme foi uma experiência bem diferente das que eu tive com os filmes “Ascensor para o Cadafalso” (1958) e “Os Amantes” (1958) do mesmo diretor que vi recentemente. Este é dos anos 80, colorido, sobre a Segunda Guerra Mundial com a França ocupada pelos nazistas em 1944. Na história - que é autobiográfica, com eventos reais da infância de Malle - vemos a perseguição aos judeus do ponto de vista de um menino chamado Julien que está em um internato e seu colega judeu Jean que está lá escondido. É um filme de partir o coração, que se torna ainda mais eficaz pelo cuidado com que a história é contada e a forma como a atmosfera é construída. É um filme sobre os horrores do nazismo, mas é também sobre o fim da infância, o fim da inocência e sobre como dizer adeus. Dizem que é um dos filmes mais pessoais e significativos de Louis Malle. Vale ver.