23.7.24

“Napoleão” - Ridley Scott (EUA/Reino Unido, 2023)

Sinopse:
Cinebiografia de Napoleão Bonaparte (Joaquin Phoenix), desde suas origens até sua rápida e implacável ascensão a imperador, incluindo seu relacionamento visceral e muitas vezes volátil com sua esposa e verdadeiro amor, Josephine (Vanessa Kirby). Era no calor da batalha que a mente talentosa de Napoleão como estrategista militar brilhava mais e ao mesmo tempo ele travava uma outra guerra: uma cruzada romântica com sua esposa adúltera.
Comentário: Ridley Scott (1937) é um diretor e produtor de cinema britânico, notório por realizar grandes produções de ficção científica, suspense e épico mesclando ocasionalmente os três gêneros em uma mesma obra. Assisti dele 8 filmes: a obra-prima “Blade Runner, o Caçador de Androides” (1982), o excelente "Alien, o Oitavo Passageiro" (1979), os bons “Thelma & Louise” (1991), "Prometheus" (2012), "Perdido em Marte" (2015), “Alien: Covenant” (2017) e “Casa Gucci” (2021) e o não tão bom "Cruzada" (2005).
“Napoleão”, como o nome já diz, é uma cinebiografia sobre o estadista e líder militar francês Napoleão Bonaparte (1769-1821). Ele foi imperador dos franceses como Napoleão I de 1804 a 1814 e brevemente em 1815. Napoleão dominou os assuntos europeus e globais por mais de uma década, enquanto liderava a França contra uma série de coalizões nas guerras napoleônicas. Ele venceu a maioria desses conflitos, construindo um grande império que governava boa parte da Europa continental antes de seu colapso final em 1815. Ele é considerado um dos maiores comandantes da história e suas guerras e campanhas são estudadas em escolas militares em todo o mundo. O legado político e cultural de Napoleão perdurou como um dos líderes mais célebres e controversos da história da humanidade.
Apesar de ser uma cinebiografia, Ridley Scott toma algumas liberdades poéticas para contar sua trajetória. Flavio Previdelli do site Aventuras na História relaciona o que é fato e o que é ficção no filme. São eles:
- Napoleão é mostrado combatendo ao lado de sua cavalaria, entretanto, essa figura heroica é bastante debatida entre historiadores pois ele normalmente ficava na linha de retaguarda dos combates, raramente correndo perigo;
- No episódio do Cerco de Toulon, Ridley Scott retrata um Napoleão implacável lutando contra tropas britânicas, no entanto, apesar dele ter elaborado a estratégia do conflito, ele foi ferido na coxa por uma baioneta enquanto estava a cavalo e seu cavalo não foi atingido no peito por uma bala de canhão;
- No episódio da invasão à Viena, na Batalha de Austerlitz, as tropas napoleônicas são mostradas obtendo êxito ao conquistar um terreno elevado e disparando a artilharia contra as frotas austríacas e russas, quando, na verdade, Napoleão surpreendeu seus adversários ao enviar sua infantaria para atacá-los na subida da colina e o gigantesco lago congelado, na qual dezenas de soldados austríacos e russos são mostrados se afogando, não era exatamente um lago, mas sim pequenas lagoas, na qual poucos inimigos se afogaram;
- Após a Batalha de Waterloo, o filme mostra Napoleão se encontrando com o duque de Wellington, sendo que na vida real eles jamais estiveram frente a frente;
- O exército francês nunca disparou balas de canhão contra as Pirâmides do Egito, essa cena é totalmente ficcional;
- O tapa em Josephine durante a audiência de divórcio também é improvável que tenha ocorrido. O relacionamento dos dois era tumultuado, mas historiadores não acreditam que ele chegou a agredi-la fisicamente;
- Napoleão não estava presente na execução pública de Maria Antonieta, que ocorreu em Paris, em 1973;
- Napoleão, ao contrário do que é mostrado, era péssimo de montaria. Ele não finalizou seu treinamento militar de equitação, era desajeitado e só costumava montar raças menores;
- A idade do casal Napoleão-Josephine também não bate. No filme ela é mais nova do que ele e na vida real ela era seis anos mais velha que ele;
- Sobre a infertilidade do imperador e o encontro que a mãe dele arma com uma jovem moça, isso nunca ocorreu, visto que ele já tinha filhos ilegítimos na época;
- E, por fim, alguns pôsteres promocionais de divulgação do filme apresentavam um slogan com as palavras: “Ele veio do nada. Ele conquistou tudo”, entretanto, Bonaparte é fruto de um casal da pequena nobreza Toscana de origem abastada.
Como Ridley Scott é britânico e Napoleão francês, e a rivalidade histórica entre ingleses e franceses ainda perdura, a crítica francesa no geral não gostou muito do filme. Um biógrafo de Napoleão, Patrice Gueniffey, chegou a dizer à revista Le Point que o filme é uma versão “muito antifrancesa e muito pró-britânica” da história.
O que disse a crítica: Ann Hornaday do Washington Post avaliou com o equivalente a 2 estrelas, algo como fraco ou ruim. O título da matéria diz: “A cinebiografia de Napoleão deixa um vazio em seu centro”. Segundo ela o retrato é contraditório, extravagante, exagerado e se acomoda na monotonia, seja nas batalhas que perdem o impacto à medida que se acumulam, seja no monótono relacionamento com Josephine. E finaliza dizendo “É difícil entender por que Scott escalaria Joaquin Phoenix - um dos atores mais sutis, recessivos e quase enigmáticos da atualidade - para interpretar alguém com um temperamento tão autoritário”.
Ross Bonaime do site Collider avaliou com 4 estrelas, ou seja, excelente. Disse que pode não ser o melhor filme da carreira do diretor mas, “é um filme monumental que mostra uma escala e grandiosidade que nunca vimos antes em filmes do diretor; Joaquin Phoenix oferece uma performance impressionante como Napoleão, retratando a genialidade do personagem no campo de batalha e seu relacionamento complexo com a Imperatriz Josephine, interpretada por Vanessa Kirby e o roteiro de David Scarpa cobre com maestria quase trinta anos da vida de Napoleão, oferecendo uma narrativa envolvente, hilária e concisa que explora os aspectos pessoais e históricos do líder francês”.
O que eu achei:  "Napoleão", dirigido por Ridley Scott, é um filme que apresenta uma visão grandiosa sobre a vida do famoso líder militar francês. No entanto, mesmo com sua escala épica e uma produção visual impressionante, o filme tem vários problemas. Primeiramente, o roteiro parece se perder na vastidão da vida de Napoleão. A narrativa, ao tentar cobrir muitos aspectos de sua carreira e vida pessoal, acaba por sacrificar a profundidade. Este tratamento raso impede uma conexão emocional mais profunda com os personagens, especialmente com o próprio Napoleão. Outro ponto crítico é a caracterização do protagonista. Joaquin Phoenix, embora seja um ator extremamente talentoso, parece lutar para encontrar um equilíbrio no retrato de Napoleão. Sua interpretação oscila entre um estrategista brilhante, um tirano impulsivo e um sujeito apático, falhando em oferecer uma coesão que explique essas múltiplas facetas de maneira satisfatória. Você termina de ver sem saber exatamente quem Napoleão realmente era. Além disso, alguns aspectos históricos são apresentados de maneira inverossímil ou simplificada. Enquanto a licença artística é comum em filmes históricos, "Napoleão" exagera em certos pontos, o que pode desagradar aqueles que esperam uma representação mais fiel dos acontecimentos. E finalmente, temos o problema da duração do filme. Com mais de duas horas e meia, "Napoleão" exige um nível de paciência que nem todos estão dispostos a ter, especialmente quando a narrativa não é tão envolvente. Em resumo, "Napoleão" é uma obra ambiciosa que falha em cumprir aquilo que promete. Bem mediano.