29.6.24

“Zona Verde” – Paul Greengrass (EUA, 2010)

Sinopse:
Bagdá, 2003. Roy Miller (Matt Damon) lidera uma equipe em busca de armas de destruição em massa no Iraque. Depois de algumas tentativas frustradas, o militar se vê diante de um cenário caótico entre seus compatriotas, o que o deixa dividido entre aplacar o anseio do governo de encontrar algo que justificasse a invasão ao Iraque ou descobrir a verdade dos fatos.
Comentário: Paul Greengrass (1955) é um cineasta britânico que já realizou em torno de 17 filmes. Ele é conhecido por retratar tramas que misturam história, política e ação. Assisti dele os ótimos "Domingo Sangrento" (2002) e “Relatos do Mundo” (2020) e o bom “Capitão Phillips” (2013).
“Zona Verde” teve seu roteiro escrito por Brian Helgeland, baseado no livro “Imperial Life in the Emerald City: Inside Iraq’s Green Zone” (Vida Imperial na Cidade Esmeralda: Por Dentro da Zona Verde do Iraque) de Rajiv Chandrasekaran.
A trama gira em torno de Roy Miller (Matt Damon), um subtenente do exército americano que faz parte da equipe de soldados que tenta encontrar as famosas “armas de destruição em massa” que Saddam Hussein teria escondido no Iraque. As mesmas que Bush usou como pretexto para invadir o país e dar início à Guerra. Logo, porém, Miller começa a desconfiar de uma suposta falha no serviço de inteligência dos EUA, que estaria fornecendo aos militares pistas falsas de onde as armas estariam. Por conta própria e praticamente sozinho, ele começa a investigar o caso.
Clóvis Maia do site A Verdade nos conta que “Em meados de abril de 2021, o Governo Norte-Americano anunciou que as suas tropas finalmente iriam desocupar o território do Afeganistão, nesse que é o conflito armado e a ocupação bélica de maior tempo da história do exército americano. A guerra do Vietnam, fazendo uma comparação, durou 16 anos, sendo um dos conflitos mais controversos e desumanos até os nossos dias. O novo presidente Joe Biden anunciou que as tropas americanas vão deixar o Afeganistão até o dia 11 de setembro, data em que se completam 20 anos dos atentados as Torres Gêmeas do World Trade Center, que deixou um saldo de 2996 mortos.
Porém, se por um lado há esse simbolismo em relação ao ocorrido em 2001, nada se falou sobre os soldados das chamadas Forças Especiais, a grande maioria ligada diretamente à Agência Americana de Inteligência (a CIA), especialista, sobretudo, em promover golpes militares e ocupações territoriais desde o final dos anos 40, quando foi criada.
Como era de se esperar, Biden não foi muito longe de seu antecessor na questão bélica e pretende manter intacta a política beligerante que vimos com Donald Trump, com George W. Bush e mesmo também com Barack Obama. O pretexto para ocupar o Afeganistão de Bin Laden em 2011 e a busca pelas supostas armas de Saddam Hussein no Iraque de 2003 a 2011, assim como todos os golpes militares promovidos na América Latina nas décadas de 50, 60 e 70, deixa escancarado que a política imperialista e belicista americana é a pedra de toque do maior país capitalista do mundo. E não vai parar mesmo que tenha havido a troca de um presidente fascista por um mais ‘moderado’.
Toda essa movimentação simbólica promovida pelo governo de Biden nos lembra do filme ‘Zona Verde’ (...) baseado no livro (...) do jornalista Rajiv Chandrasekaran, que denuncia como o governo de Bush mentiu, comprou a imprensa mundial e usou todos os mecanismos para forjar a invasão no Iraque em 2003, criando o mito de que era preciso defender os EUA do terrorismo.
Na contramão do discurso mentiroso do presidente, houve o controle econômico da região por meio do petróleo. A Zona Verde retratada no filme fala sobre uma área protegida pelos soldados americanos onde vivem os ricos locais. No Afeganistão, o controle permanece mesmo após o líder da Al-Qaeda, Osama Bin Laden, ter sido morto pela própria CIA em 2011. Ou seja, a preocupação exagerada dos sucessivos governos norte-americanos com o controle de armas (dos outros) é mesmo gigante. Tão gigante que o fato de hoje os EUA terem mais arma de fogo (400 milhões) do que habitantes (330 milhões) e que só em 2019 terem ocorridos (segundo a ONG americana ‘Gun Violence Archive’) mais de 250 tiroteios em massa, alerta que alguém não está fazendo o seu dever de casa”.
O que disse a crítica: Andy Malafaya do site Cineplayers avaliou com 2,5 estrelas, ou seja, mediano. Escreveu: “Apesar de ‘Zona Verde’ ter chegado aos cinemas numa época em que a Guerra do Iraque já não era mais midiaticamente quente e toda a farsa a envolvendo já ter sido engolida, é interessante acompanhar o viés (ficcional, obviamente) do filme em que o personagem de Damon vai recolhendo informações que descortinavam os reais motivos da invasão pelos Estados Unidos, que tinha um agente de inteligência (Greg Kinnear) manipulando falsas informações repassadas por um informante de codinome ‘Magellan’. É quando o filme ganha em inteligência e interesse, ainda que a conclusão se resvale nos eternos clichês perpetrados pelos filmes de ação”.
Robledo Milani do site Papo de Cinema avaliou com 3 estrelas, ou seja, bom. Disse: “Este não é só mais um filme de ação. É, também, uma importante obra política, de posições claras e que toca em questões muito delicadas e pertinentes. Agora, uma vez que seus próprios realizadores não o assumiram, como o espectador iria fazer isso? Como resultado temos um fracasso retumbante nas bilheterias, onde foi arrecadado um terço do orçamento original (...) E, acima de tudo, o desperdício de uma importante oportunidade que se perdeu sem que nenhum dos seus objetivos tenham sido alcançados - nem como debate, muito menos como entretenimento”.
O que eu achei: A invasão dos EUA ao Iraque feita em 2003 foi a primeira etapa do que se tornaria um longo conflito conhecido como a Guerra do Iraque. Vale lembrar que essa invasão aconteceu no contexto da Guerra Global contra o terrorismo. Oficialmente o que se sabe é que a invasão durou apenas 21 dias, os americanos receberam apoio militar do Reino Unido, da Austrália e da Polônia e o objetivo, que era derrubar o regime baathista de Saddam Hussein, foi considerado bem sucedido pois Saddam Hussein foi destituído do poder e seu governo entrou em colapso logo após a queda de Bagdá. Ocorre que o filme de Greengrass baseia seu roteiro num livro que denuncia como o governo de George Bush, que era presidente à época, mentiu justificando a necessidade urgente de invadirem o Iraque pois – segundo fontes confidenciais – Bagdá abrigava programas de destruição em massa que precisavam ser localizados e obviamente desmontados, antes que o pior acontecesse. Todo mundo caiu nessa conversa: a imprensa americana e internacional, o povo e até o Exército americano. Segundo o autor do livro - o jornalista Rajiv Chandrasekaran – o Iraque não tinha nenhum programa ativo para construção de armas de destruição em massa, informação essa que foi posteriormente confirmada pela CIA. A mentira foi criada apenas para conseguirem o apoio nacional e internacional nessa guerra. O filme em si nem é do tipo que gosto de assistir, mas essa versão dos fatos – apesar do acontecimento (2003) e do filme em si (2010) serem antigos – acaba nos trazendo a oportunidade de refletir sobre o que um governo é capaz de fazer para justificar seus atos. Some-se a isso uma imprensa que não se dá ao trabalho de conferir a veracidade daquilo que está sendo veiculado e a balela está armada. É daqueles filmes que terminam e a gente fica pensando em como somos feitos de idiotas.