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Comentário: Claude Chabrol (1930-2010) foi um diretor de cinema, produtor, ator e roteirista francês. Ele atuou em mais de 30 filmes e dirigiu mais de 50 longas, sem contar os filmes feitos para a TV e os curtas. Assisti dele os bons "Mulheres Diabólicas" (1995), "A Dama de Honra" (2004) e "A Comédia do Poder" (2006).
Inácio Araujo da Folha SP nos conta que “Estamos na Suíça, terra por excelência das falsas aparências. E parece que a vida dos personagens desse filme segue bem o ritmo local, onde as coisas parecem todas se encaixar. Mika é casada com o famoso pianista André Polonski e tem como enteado o jovem Guillaume. Existe no filme uma outra família feliz, ou quase isso, composta por Jeanne Pollet, uma jovem pianista, e sua mãe Brigitte, diretora de um instituto de medicina legal. Numa terra de aparências, a fofoca corre solta e, claro, em dado momento uma amiga de Brigitte faz a revelação incômoda: quando Jeanne nasceu, houve uma momentânea troca de bebês no hospital. Tudo se desfez, mas agora, para Jeanne, resta a dúvida: seria ela filha de André? E seria Guillaume filho de Brigitte?
Por esse viés incisivo, Claude Chabrol (...) instaura o mistério e a dúvida em seu filme, pois a questão (quem é meu pai?) não é coisa pequena. Digamos que sobre ela se edifica o cristianismo. E, além disso, Jeanne não é uma pianista como André Polonski? Claro, nada é conclusivo. Mas a existência da suposição (reforçada pela semelhança entre Jeanne e a mãe - suposta mãe - de Guillaume) é o bastante para nos introduzir numa história em que tudo é um jogo de aparência e mistério.
No entanto, esse não é o único: o principal mistério é Mika. Sobre ela convém não adiantar muita coisa - sob pena de contar toda a história. De todo modo, Chabrol deixa claro em vários momentos que não fugirá a um princípio central de sua obra: o mundo é um mistério e cada ser encerra mistérios não raro tenebrosos.
Qual a natureza desse mistério, não ficaremos sabendo. Também não saberemos ao certo qual a natureza do mal que cerca as pessoas. O mal é tão inexplicável quanto a própria existência: ele existe simplesmente. Diante dele, pode-se ter uma atitude de ácida ironia, tão típica de Chabrol. Como Fritz Lang, seu mestre, ele se distancia ligeiramente dos personagens para observá-los à distância. Se evita investigar a natureza do mal, em troca sua ‘Teia de Chocolate’ se detém com cuidado sobre como ele se manifesta. É nessa medida que seu filme consegue fazer o caminho oposto da maior parte dos filmes. No início, nos dá a impressão de conhecer até de maneira íntima os personagens. Quando chegamos perto do final, nosso conhecimento (que era fundado sobre aparências) vai se esgarçando e cada personagem vai sendo plenamente reinstaurado em seu mistério.
É como se Chabrol filmasse sobrevoando os acontecimentos (...) e seus protagonistas. Como se mostrasse deles apenas a pele, enquanto a teia de acontecimentos que se tece em torno deles se encarregasse de esclarecer o acessório e, ao mesmo tempo, toldar o essencial. É como se Chabrol risse discretamente de nossas expectativas, ao criar esses fantasmas que se movem à nossa frente. É como se cada revelação do mundo comportasse a instauração de uma zona de sombra correspondente”.
O que disse a crítica: Rubens Ewald Filho do site UOL Cinema avaliou com 2 estrelas, ou seja, fraco. Escreveu: “O filme é solene, lento e todo mundo toma chocolate aparentemente escondendo alguma coisa. Será que a garota é filha da primeira esposa (...) que morreu num acidente de carro? E criam tanto clima, que é evidente que há uma teia de conspiração e uma revelação (dita, inesperada) ao final. Nem sempre convence, mas Huppert é uma grande atriz mesmo em momento menor (há frases como ‘o mal é que eu desvio o bem’ e o plano final é bem discutível)”.
Roger Ebert em seu site avaliou com 3 estrelas, ou seja, bom. Disse: “O apelo de ‘A Teia de Chocolate’ não está na velha trama de envenenamento um tanto barulhenta, nem nas sugestões de segredos de família suprimidos, nem no suspense sobre o que acontecerá a seguir - mas no enigma dentro do qual Huppert esconde seus personagens. Enquanto todos aqueles que estão ao redor de sua trama sentem esperança e medo, ela simplesmente observa e serve o chocolate. O que ela está pensando? O que ela quer? Quem é ela? Seu tipo é enlouquecedor, perverso e sedutor”.
O que eu achei: O filme tem uma contenção e um rigor que não vemos em filmes comerciais americanos, do tipo que um diretor cria quando não tem interesse em sentimentalismos ou em jogar a favor do público. As coisas vão acontecendo num ritmo lento, assim como na vida, e a desconfiança com relação à idoneidade da personagem principal Mika Müller, interpretada belamente pela ótima Isabelle Huppert, vai crescendo, misturando-se à outras dúvidas que rondam a trama, mas o que todos queremos saber é quem é a verdadeira Mika Müller. Uma história interessante, com bom ritmo, sem monotonia e tenso até o final. Mais um bom filme do Chabrol.
Inácio Araujo da Folha SP nos conta que “Estamos na Suíça, terra por excelência das falsas aparências. E parece que a vida dos personagens desse filme segue bem o ritmo local, onde as coisas parecem todas se encaixar. Mika é casada com o famoso pianista André Polonski e tem como enteado o jovem Guillaume. Existe no filme uma outra família feliz, ou quase isso, composta por Jeanne Pollet, uma jovem pianista, e sua mãe Brigitte, diretora de um instituto de medicina legal. Numa terra de aparências, a fofoca corre solta e, claro, em dado momento uma amiga de Brigitte faz a revelação incômoda: quando Jeanne nasceu, houve uma momentânea troca de bebês no hospital. Tudo se desfez, mas agora, para Jeanne, resta a dúvida: seria ela filha de André? E seria Guillaume filho de Brigitte?
Por esse viés incisivo, Claude Chabrol (...) instaura o mistério e a dúvida em seu filme, pois a questão (quem é meu pai?) não é coisa pequena. Digamos que sobre ela se edifica o cristianismo. E, além disso, Jeanne não é uma pianista como André Polonski? Claro, nada é conclusivo. Mas a existência da suposição (reforçada pela semelhança entre Jeanne e a mãe - suposta mãe - de Guillaume) é o bastante para nos introduzir numa história em que tudo é um jogo de aparência e mistério.
No entanto, esse não é o único: o principal mistério é Mika. Sobre ela convém não adiantar muita coisa - sob pena de contar toda a história. De todo modo, Chabrol deixa claro em vários momentos que não fugirá a um princípio central de sua obra: o mundo é um mistério e cada ser encerra mistérios não raro tenebrosos.
Qual a natureza desse mistério, não ficaremos sabendo. Também não saberemos ao certo qual a natureza do mal que cerca as pessoas. O mal é tão inexplicável quanto a própria existência: ele existe simplesmente. Diante dele, pode-se ter uma atitude de ácida ironia, tão típica de Chabrol. Como Fritz Lang, seu mestre, ele se distancia ligeiramente dos personagens para observá-los à distância. Se evita investigar a natureza do mal, em troca sua ‘Teia de Chocolate’ se detém com cuidado sobre como ele se manifesta. É nessa medida que seu filme consegue fazer o caminho oposto da maior parte dos filmes. No início, nos dá a impressão de conhecer até de maneira íntima os personagens. Quando chegamos perto do final, nosso conhecimento (que era fundado sobre aparências) vai se esgarçando e cada personagem vai sendo plenamente reinstaurado em seu mistério.
É como se Chabrol filmasse sobrevoando os acontecimentos (...) e seus protagonistas. Como se mostrasse deles apenas a pele, enquanto a teia de acontecimentos que se tece em torno deles se encarregasse de esclarecer o acessório e, ao mesmo tempo, toldar o essencial. É como se Chabrol risse discretamente de nossas expectativas, ao criar esses fantasmas que se movem à nossa frente. É como se cada revelação do mundo comportasse a instauração de uma zona de sombra correspondente”.
O que disse a crítica: Rubens Ewald Filho do site UOL Cinema avaliou com 2 estrelas, ou seja, fraco. Escreveu: “O filme é solene, lento e todo mundo toma chocolate aparentemente escondendo alguma coisa. Será que a garota é filha da primeira esposa (...) que morreu num acidente de carro? E criam tanto clima, que é evidente que há uma teia de conspiração e uma revelação (dita, inesperada) ao final. Nem sempre convence, mas Huppert é uma grande atriz mesmo em momento menor (há frases como ‘o mal é que eu desvio o bem’ e o plano final é bem discutível)”.
Roger Ebert em seu site avaliou com 3 estrelas, ou seja, bom. Disse: “O apelo de ‘A Teia de Chocolate’ não está na velha trama de envenenamento um tanto barulhenta, nem nas sugestões de segredos de família suprimidos, nem no suspense sobre o que acontecerá a seguir - mas no enigma dentro do qual Huppert esconde seus personagens. Enquanto todos aqueles que estão ao redor de sua trama sentem esperança e medo, ela simplesmente observa e serve o chocolate. O que ela está pensando? O que ela quer? Quem é ela? Seu tipo é enlouquecedor, perverso e sedutor”.
O que eu achei: O filme tem uma contenção e um rigor que não vemos em filmes comerciais americanos, do tipo que um diretor cria quando não tem interesse em sentimentalismos ou em jogar a favor do público. As coisas vão acontecendo num ritmo lento, assim como na vida, e a desconfiança com relação à idoneidade da personagem principal Mika Müller, interpretada belamente pela ótima Isabelle Huppert, vai crescendo, misturando-se à outras dúvidas que rondam a trama, mas o que todos queremos saber é quem é a verdadeira Mika Müller. Uma história interessante, com bom ritmo, sem monotonia e tenso até o final. Mais um bom filme do Chabrol.