2.6.24

“O Sétimo Continente” - Michael Haneke (Áustria, 1989)

Sinopse:
Geog (Dieter Berner), sua esposa Anna (Birgit Doll) e a pequena filha do casal, Evi (Leni Tanzer), vivem uma pacata vida de classe média: acordam todos os dias na mesma hora, fazem as mesmas atividades, organizam jantares com conhecidos. Evi começa a ter problemas na escola e os pais percebem que sua vida não é feliz. Eles também não são. Para tentar melhorar as coisas eles planejam mudar-se para a Austrália, contudo, por detrás da sua aparente calma, eles estão planejando algo sinistro.
Comentário: Michael Haneke (1942) é um cineasta e roteirista austríaco. Vi dele quatro filmes: os excelentes "A Fita Branca" (2009) e "Amor" (2012) e os bons "A Professora de Piano" (2001) e "Caché" (2005).
“O Sétimo Continente” foi lançado em 1998. Ele é seu primeiro longa-metragem, baseado em uma história real, uma possibilidade de interpretar um caso para o qual até hoje a polícia austríaca não conseguiu encontrar resposta.
Marco Túlio Ulhôa no texto “A Latitude Humana de ‘O Sétimo Continente’ de Michael Haneke” publicado na Revista Laika nos diz que Michael Haneke é um “constante crítico do autoritarismo e um questionador do existencialismo humano”. Para ele, “Em ‘O Sétimo Continente’, [Haneke] dá início ao que viria a ser conhecida como a sua ‘Trilogia da Era do Gelo Emocional’ (também chamada de ‘Trilogia da Incomunicabilidade’ ou ‘Trilogia da Glaciação’), seguido pelo ‘O Vídeo de Benny’ (1992) e ‘71 Fragmentos de Uma Cronologia Do Acaso’ (1994). (...)
‘O Sétimo Continente’ é baseado na história real de uma família de classe média austríaca constituída por Georg, um engenheiro; sua esposa Anna, oftalmologista; e sua filha Evi. Diante de uma vida normal cercada por uma rotina comum a qualquer ambiente doméstico, a família decide mudar-se para a Austrália em busca de um recomeço. Porém, tal mudança nada mais seria que um pretexto social para a execução de um plano metódico (...).
O esvaziamento das relações humanas é a tônica do filme, a coexistência impessoal no quotidiano dos personagens e as relações de rotina, consumo e distanciamento transparecem na composição formal dos planos de Michael Haneke. Eis o grande dom desse diretor. Transformar sentimentos e conceitos em imagens, onde muito se manifesta na composição e na montagem. ‘O Sétimo Continente’ tem um tratamento único dentre os filmes de Haneke. Tal formalismo procede em suas obras seguintes, mas nenhum alcança tamanha sistematização quanto nesse filme. Um típico exemplar do estilo minimalista de se dirigir”.
O que disse a crítica: Bibiana Lucas do site Homo Literatus gostou. Escreveu: “Trata-se de um filme em que durante quase noventa minutos ‘nada acontece’. Então, se você é uma pessoa extremamente impaciente, sugiro que não siga em frente com minha recomendação. Porém, ultrapassada a barreira da urgência e, por que não?, do tédio, aqui está uma oportunidade única de se fazer sentir uma obra de arte muito mais do que apenas acompanhar as imagens que se desenrolam à sua frente – o risco inerente a isso é que, para além da tela, talvez essas imagens nunca mais desgrudem de suas retinas”.
Ricky Sanchez do site Cinefilia Incandescente avaliou com o equivalente a 3,6 estrelas, ou seja, bom. Disse tratar-se de “Um filme cru, sem concessões, que, certamente, não é palatável para todos os públicos”. Segundo ele, “A direção do filme sempre prioriza mostrar os pequenos detalhes presentes em cada cenário explorado. (...) O estilo de filmagem do diretor austríaco também se faz totalmente visceral. Não teremos aqui a utilização de uma trilha sonora, os comportamentos dos personagens jamais vão ser romantizados e, sem dúvida, o fator mais importante do cinema de Haneke, não teremos explicações para os atos que se seguem. (...) Raramente teremos resoluções comuns para determinados conflitos. Sendo importante salientar também que nas mãos de outro diretor jamais teríamos sucesso em colocar isto em tela”.
O que eu achei: Eu gosto muito do cinema de Michael Haneke, diretor dos memoráveis "A Professora de Piano" (2001), "Caché" (2005), "A Fita Branca" (2009) e "Amor" (2012). Este filme “O Sétimo Continente” é de 1998, é considerado o primeiro longa do diretor, mas já mostra as questões de Haneke com a existência humana nesta adaptação de um caso real ocorrido na Áustria de uma família composta por pai, mãe e filha que, cansados da rotina, resolvem se mudar para a Austrália para tentar uma vida nova. Muito pouca coisa acontece nessa narrativa subdividida em três partes. O que é mostrado é basicamente aquele “todo dia ela faz tudo sempre igual” da música do Chico Buarque, aquele tédio sem fim de acordar, se trocar, fazer café e trabalhar que vai lentamente e com poucos diálogos transformando a atmosfera do filme numa frieza agonizante, enquanto a família pouco a pouco se desintegra. Então, apesar do filme ser devagar e muito pouca coisa acontecer, seu desfecho é dilacerante. Aliás, se você for uma pessoa muito sensível ou sofrer de depressão eu não recomendaria que assista pois o final não vai sair da sua cabeça tão cedo. É um daqueles filmes controversos que será apreciado por muitos, insultado por um igual número de pessoas, mas esquecido por ninguém. Que porrada!