1.6.24

“8 Mulheres” - François Ozon (França, 2002)

Sinopse:
 
Em um casarão burguês, todos se preparam para festejar o Natal. Um drama sobrevém: o dono da casa (Dominique Lamure) é assassinado. Oito mulheres (Catherine Deneuve, Danielle Darrieux, Isabelle Huppert, Virginie Ledoyen, Ludivine Sagnier, Emmanuelle Béart, Firmine Richard, Fanny Ardant), todas próximas da vítima, estão presentes. Tudo indica que uma delas é a culpada.
Comentário: François Ozon (1967) é um cineasta francês, diretor de diversos curtas e, pelo menos, 22 longas-metragens. Assisti dele o ótimo “Graças a Deus” (2019), os bons “Dentro da Casa” (2012) e "Uma Nova Amiga" (2014) e o não tão interessante “O Amante Duplo” (2017).
Angélica Bito do site Scream & Yell nos conta que neste filme “Ozon deixa para trás a atmosfera pesada e depressiva de seu filme [anterior], o belíssimo ‘Sob a Areia’, para explorar as cores, o visual e a música da cultura norte-americana dos anos 50 contando uma trama cheia de reviravoltas e surpresas. A história é digna de qualquer livro de Agatha Christie com toques de decadência burguesa dos livros de Nelson Rodrigues. Escrita a partir de peça homônima de Robert Thomas – escritor famoso do teatro popular dos anos 70 -, ‘8 Mulheres’ conta a história de oito mulheres isoladas pela neve em uma bela mansão no interior da França. O assassinato do patriarca é ponto de partida para que elas se revelem, assim como os conflitos de uma família menos estruturada do que aparenta. As cortinas caem para que cada uma das mulheres revele seus segredos mais escondidos, fazendo com que a trama tenha uma reviravolta a cada cena. ‘8 Mulheres’ é um suspense que mostra o poder feminino. Mas, além das reviravoltas do roteiro, o filme traz também números musicais, com canções interpretadas pelas próprias atrizes. A trama se passa nos anos 50, década que inspirou figurino, cenografia, as cores e, claro, as músicas interpretadas no filme. Em ‘8 Mulheres’, as mulheres são as únicas personagens, fazendo com que Ozon explicite o poder feminino e como elas conseguem dominar em um mundo machista. Para tal, o diretor escalou um time de primeira. As oito atrizes [eram] as mais poderosas no cinema francês, o que fez a grande diferença e o sucesso da obra. Catherine Deneuve vive Gaby, a esposa do morto; Virginie Ledoyen e Ludivine Sagnier são as filhas; a cunhada neurótica é interpretada por Isabelle Huppert, enquanto sua mãe é Danielle Darrieux. A sedutora irmã de Marcel, Pierrette, é Fanny Ardant. O time é completo por Emmanuelle Bért e Firmine Richard, as duas empregadas da família. Não apenas estrelas, elas têm uma ótima química no filme. Assim, momentos de suspense, de tragédia e de comédia são dosados com maestria por Ozon e interpretados por suas musas”.
O filme fez tanto sucesso que teve um remake italiano chamado “Sete Mulheres e um Mistério” (2022), dirigido pelo diretor Alessandro Genovese, tendo no elenco Ornella Vanoni, Margherita Buy, Sabrina Impacciatore, Micaela Ramazzotti e Luisa Ranieri.
O que disse a crítica: O site Palavras de Cinema avaliou com 3 estrelas, ou seja, bom. Escreveram: “A tamanha artificialidade de ‘8 Mulheres’ quase não deixa ver o que há de real. Como no cinema clássico, embrenha-se nas cores, nas gracinhas, na aparência indolor – a despeito da realidade que se impõe na invasão das belas casas e das famílias aparentemente perfeitas, com dramas pouco a pouco revelados. É importante lembrar que, como nos filmes clássicos, o visual está distante do realismo. Ao contrário, é falso a todo o momento. ‘8 Mulheres’ é embrulhado como casa de bonecas, com mulheres irretocáveis, criadas belas e sorridentes. O que há de real esconde-se justamente no falso: uma vida oculta sob o véu do sonho. (...) A realidade, ainda que distante, ecoa no espectador, incomoda”.
O site Cinema com Rapadura avaliou com 5 estrelas, ou seja, obra-prima. Disseram: “’Se todas as esposas infiéis resolvessem matar seus maridos, não haveria mais maridos. Ou amantes, pois a maioria dos homens são os dois’. Através dessa fala de uma de suas personagens, já se pode sentir o humor sutilmente ácido que está presente em ‘8 Mulheres’, um filme que mistura vários gêneros e acaba por se tornar uma excelente diversão bem ao estilo do cinema francês. (...) Há quem ame e quem odeie essa obra do diretor François Ozon, porém o espectador deve saber que essa é uma película que não deve ser levada a sério e sob esse ponto de vista ‘8 Mulheres’ realmente é um espetáculo – aliás repleto de referências ao cinema em geral, com suas cores vibrantes, remetendo o antigo método de coloração das películas e pequenas falas de outros filmes (como de ‘O Último Metrô’ do mestre François Truffaut)”.
O que eu achei: Não posso dizer que eu seja fã de carteirinha do cinema de Ozon. Dos quatro filmes que já assisti dele, “Graças a Deus” (2019) foi o único que eu realmente gostei. Os demais - “Dentro da Casa” (2012) e "Uma Nova Amiga" (2014) - eu achei apenas legais e “O Amante Duplo” (2017) eu não gostei, então assisti “8 Mulheres” já um pouco com o pé atrás, até por saber que se tratava de um musical, gênero que eu não aprecio tanto. Outro ponto contra era o fato de ser um filme estilo whodunit - que eu também não gosto muito -, ou seja, um homem é encontrado morto dentro de sua mansão e as oito mulheres que lá estão são suspeitas de tê-lo matado. O filme, bem verborrágico, tem aquela pegada teatral onde tudo acontece dentro de uma única casa, basicamente dentro da sala de visitas. A fotografia é super caprichada, o cenário e os figurinos também e o elenco afinado conta com nomes como Catherine Deneuve, Isabelle Huppert, Emmanuelle Béart e Fanny Ardant. A história, que aparentemente seguiria uma linha relativamente previsível, acabou por me surpreender bastante apresentando várias reviravoltas completamente fora da caixinha com pitadas de Nelson Rodrigues, incluindo o final. Então, no cômputo geral, até que foi mais interessante do que eu esperava. Não é a última bolacha do pacote, mas dá pra ver.