15.6.24

“Jorge da Capadócia” - Alexandre Machafer (Brasil, 2024)

Sinopse:
O filme conta a história do guerreiro São Jorge, um dos mais populares santos do cristianismo. Nesta trama, ambientada em 303 D. C., Jorge (Alexandre Machafer) é condecorado como capitão do exército, mas quando o Imperador Diocleciano (Roberto Bomtempo) inicia sua perseguição aos cristãos no império romano, ele se vê diante do desafio de ser fiel à sua fé ou sucumbir às ordens do imperador.
Comentário: Alexandre Machafer (1982) é um ator, produtor e cineasta brasileiro nascido em Niterói, Rio de Janeiro. Ele começou sua carreira artística no teatro, após estudar na Casa das Artes de Laranjeiras (CAL). Anos depois, se especializou em cinema na Fundação Getúlio Vargas (FGV). Estreou como ator de cinema em 2011, integrando o elenco do drama “O Abajour”, do diretor Marcoz Gomez. Debutou como cineasta em “Anos Radicais” (2017-2018), série na qual atuou como diretor e produtor. Tornou-se conhecido nacionalmente após idealizar projetos baseados em textos bíblicos como o seriado “Bem-Aventurados” (2019), exibido pela TV Aparecida, e o longa “O Filho do Homem” (2019). Este é o primeiro filme que vejo dele.
Em “Jorge da Capadócia”, Machafer vai contar a história de São Jorge, um santo que no Brasil é adorado por muitos católicos e também por religiosos ligados ao Candomblé e à Umbanda onde, por conta do sincretismo religioso, ele é conhecido como Ogum. Tanto o santo católico quanto o orixá africano são associados à batalha, à espada e à coragem. Na cultura iorubá, Ogum é conhecido por seu temperamento forte e sua personalidade justiceira, sendo frequentemente descrito como soldado e patrono dos exércitos.
Nathalin Gorska do site Midia Ninja nos conta que “A história de Jorge, apresentada no filme, leva o espectador ao ano de 303 D.C, quando o então imperador romano Diocleciano começa uma ‘cruzada’ [uma perseguição] para quem proclama a fé cristã. Jorge, que até então era soldado do exército romano, foi condecorado como capitão. Ao se deparar com as ordens de Diocleciano, Jorge entra na sua jornada do herói: deveria obedecer às ordens do imperador romano e abandonar a sua fé ou lutar para que a fé dos cristãos pudesse ser propagada?
É por meio dessa narrativa que o filme permeia a história de quem futuramente seria conhecido como São Jorge, figura representativa em países como Brasil, Espanha, Rússia, Inglaterra (onde é padroeiro) entre vários outros. Além de ser adaptado para os cinemas, o longa também teve sua história apresentada no livro ‘Jorge da Capadócia: Os Bastidores do Primeiro Filme Sobre o Santo Guerreiro’, que foi escrito pelo diretor do filme, Alexandre Machafer e pela jornalista Crib Tanaka.
Ao abordar uma figura tão representativa (...) a equipe do filme mostrou que não se baseou somente em pesquisas históricas, mas também abordou a narrativa de forma que a fé daqueles que acreditam nos feitos de Jorge não fosse desrespeitada. Tal feito já era esperado por uma equipe acostumada a trabalhar com obras relacionadas à religião (...).
Apesar das dificuldades que o cinema nacional encontra, seja por falta de incentivos culturais, desinteresse do público por obras que se afastem do mainstream ou por orçamentos baixos, ‘Jorge da Capadócia’ parece ultrapassar a barreira de filmes que contam uma narrativa repetida, mas aborda uma história até então inédita nos cinemas do soldado guerreiro. Outro ponto que se destaca na história é a inclusão de figurantes refugiados, trazendo novos olhares sobre até onde o idioma impede o trabalho de artistas estrangeiros, como é contado no livro (...)”.
O filme foi gravado no Rio de Janeiro e na Capadócia (Turquia) e é o próprio diretor Alexandre Machafer que faz o papel do Santo Guerreiro. O elenco traz ainda nomes como Roberto Bomtempo, Cyria Coentro, Adriano Garib, Miriam Freeland, Charles Paraventi, Roney Villela, Ricardo Soares e Augusto Garcia.
O que disse a crítica: Marcelo Müller do site Papo de Cinema avaliou com 3 estrelas, ou seja, legal. Disse: “Em que pesem as dificuldades financeiras para viabilizar uma produção desse tamanho, com figurinos realistas, arte custosa e diversos personagens, a qualidade imagética do filme cai bastante nas tomadas feitas em estúdio. A bem da verdade, o realizador também acaba não conseguindo aproveitar como poderia a suntuosidade dos cenários naturais, quando muito fazendo deles belas paisagens que servem unicamente como cartão postal nas transições. Enquanto vai desenhando o protagonista como mártir católico disposto a arriscar tudo em prol da fé, Alexandre lida como pode com as restrições, inclusive optando pela decupagem (a divisão das cenas em planos) conservadora, em muito semelhante as das produções televisivas do filão. (...) Como melodrama religioso, ‘Jorge da Capadócia’ tem méritos, pois consegue enfatizar o heroísmo do protagonista, a disposição para lutar contra gigantes a fim de preservar a crença, além de valorizar os esforços daqueles que resistem à tirania do imperador. No entanto, à medida que vai deixando o soldado de lado e se focando na figura a ser santificada, ou seja, quando coloca a disputa política em segundo plano para edificar uma homenagem efetiva ao fazedor de milagres, Alexandre Machafer patina ainda mais por conta dos discursos simplistas”.
Janda Montenegro do site Cine Pop também avaliou com 3 estrelas. Escreveu: “Em quase duas horas de duração duas coisas surpreendem em ‘Jorge da Capadócia’. A primeira delas é o grande investimento feito principalmente na pós-produção, evidente nas cenas do voo do dragão e da luta de Jorge com ele. Com ares de épico bíblico, lembra grandes produções internacionais, como ‘Game of Thrones’. O segundo ponto é a superprodução que envolve o filme, incluindo locações cuidadosamente decoradas para reconstruir uma época a qual se tem poucos registros. E aí nesse ponto é incluído o figurino pensado em detalhes (...), a produção de arte com os elementos de cena milimetricamente calculados e, lógico, a maquiagem, que poupou o uso de sangue em todas as cenas de luta para poder realçar o momento de tortura sofrida por Jorge quando de sua prisão”.
O que eu achei: O filme se passa no ano de 303 D.C. do Império Romano, na atual Turquia. Diocleciano era o imperador, ele era adepto do Politeísmo Romano que prestava culto a deuses como Júpiter, Marte, Minerva e Apolo, dentre outros. Porém a igreja cristã vinha vivendo tempos de prosperidade com sua influência crescendo com a evangelização e Diocleciano resolve conter esse avanço perseguindo os cristãos com a ajuda de seu exército. É aí que entra a figura de Jorge, um soldado desse exército que, por ser cristão, se recusa a lutar contra seus semelhantes e, por conta disso, atrai a ira do imperador sobre ele. A história envereda então em como essa resistência se deu. Começa com Jorge sendo condecorado capitão do exército e termina com sua própria morte em 23 de abril de 303 D.C., mostrando seus diversos milagres e sua luta com o dragão que simboliza o Império Romano. Dragão este, aliás, feito em computação gráfica cujo resultado não deixa nada a desejar de tão bem feito que é. Então, quem tiver interesse em conhecer a história de São Jorge - como eu tinha - aqui está uma boa oportunidade. Entretanto, nem tudo é perfeito no filme. Por ser um filme épico, não sei se o diretor teria mesmo como fugir daquela pegada de novela religiosa da Record, até por conta de ser um filme brasileiro falado em português, então essa semelhança visual e linguística aproxima o resultado ainda mais das produções do canal. A fotografia (luz, cor, enquadramentos) é correta, os figurinos também, as belas paisagens da Capadócia estão ali para serem apreciadas, o elenco se esforça, mas falta aquele algo mais para nos envolvermos emocionalmente. Ao final, enquanto sobem os créditos, atenção para as imagens mostradas: são estátuas, igrejas, comemorações ao redor do mundo homenageando esse santo guerreiro venerado por tantos.