12.6.24

“A Incrível História de Henry Sugar e Outros Três Contos” – Wes Anderson (Reino Unido/EUA, 2023)

Sinopse:
Em “A Incrível História de Henry Sugar”, Henry (Benedict Cumberbatch) é um homem rico que fica sabendo de um guru que pode ver sem usar os olhos e, em seguida, começa a dominar essa habilidade para trapacear no jogo. Em “O Cisne”, um menino (Asa Jennings e Rupert Friend) é assediado e sequestrado por dois valentões cruéis, sem coração e armados. Seu tormento aumenta quando os valentões apontam a mira de sua arma para um lindo cisne. Em “O Caçador de Ratos”, Claude (Rupert Friend) tem um problema com ratos e contrata um especialista (Ralph Fiennes) para lidar com o problema. “Veneno” apresenta o caso de um homem (Benedict Cumberbatch) que descobre uma cobra venenosa em sua cama.
Comentário: Wes Anderson (1969) é um cineasta americano, produtor, roteirista e ator. Seus filmes são conhecidos pelos seus visuais excêntricos e pelo estilo de narrativa. Já assisti dele a obra-prima "O Grande Hotel Budapeste" (2013), os excelentes "Os Excêntricos Tenenbaums" (2001), "A Vida Marinha com Steve Zissou" (2004), "Moonrise Kingdom" (2012), “A Crônica Francesa” (2021) e “Asteroid City” (2022), o bom "Viagem a Darjeeling" (2007) e as ótimas animações "O Fantástico Sr. Raposo" (2009) e "Ilha dos Cachorros" (2018).
“A Incrível História de Henry Sugar e Outros Três Contos” é resultado de um acordo estabelecido entre o diretor Wes Anderson e a Netflix resultando na produção dessa série de filmes curtos que estrearam, respectivamente, na seguinte sequência: ‘A Incrível História de Henry Sugar’, ‘O Cisne’, ‘O Caçador de Ratos’ e ‘Veneno’. Todos esses curtas se baseiam em contos de Roald Dahl (1916-1990), muito conhecido pela obra “A Fantástica Fábrica de Chocolate” e “Matilda”, ambas já adaptadas anteriormente para o cinema, e escritor da fábula “Raposas e Fazendeiros” que inspirou Anderson a produzir em 2009 a animação "O Fantástico Sr. Raposo".
Marcelo Hessel do site Omelete nos conta que esses quatro contos “mostram uma faceta soturna de Dahl que não é inesperada para quem já reparava nas tendências corrosivas do autor (…). São histórias que tratam, por meio da fabulação e das suas licenças de fantasia (como o antropomorfismo), de caricaturizar a Inglaterra e os ingleses. Escritos entre os anos 1940 e 1970, nas décadas em que o mundo assistiu às independências das ex-colônias britânicas, como a Índia, esses contos se prestam a analisar a herança amarga do imperialismo e seu efeito sobre o espírito inglês. (...) 
‘Veneno’ e ‘Henry Sugar’ são as histórias que abordam frontalmente a herança colonialista, e é com uma espantosa naturalidade que estreiam na vasta trupe de Anderson dois nomes de linhagem indiana, os atores Dev Patel e Ben Kingsley. O primeiro impõe uma cadência vertiginosa à prosódia desses curtas, que conservam no texto a qualidade literária do material de origem. Já Ben Kingsley - cujo domínio da pantomima não é suficientemente reconhecido pelas pessoas - carrega nos olhares a melancolia e uma certa autoconsciência irônica de si, dois elementos que são chave para o que Anderson está propondo nesses curtas. ‘O Caçador de Ratos’ e ‘O Cisne’, por sua vez, fazem escolhas inconfundíveis pela morbidez como uma forma de tipificar uma certa fleuma inglesa não apenas como uma curiosa peculiaridade cultural, mas como sintoma de um mal-estar anterior.
Reunidos, esses quatro curtas têm uma unidade formal que primeiro fica evidente pela escalação de elenco (...) e depois se desvela num estado de espírito, num pesar”.
As histórias são enxutas, com 17 minutos cada na sua maioria. “A Incrível História de Henry Sugar” recebeu o Oscar de Melhor Curta-Metragem.
O que disse a crítica: Luiz Santiago do site Plano Crítico avaliou “Henry Sugar” com 3,5 estrelas. Disse: “... Em tudo há uma mescla de absurdo com comédia e lições de humanidade. Uma charmosa aventura, mesmo que um tanto cifrada e cansativa, onde alguém encontra algo para preencher lhe o vazio, e acaba dando uma guinada completa em seu estilo de vida, deixando de fazer tudo exclusivamente para si, e moldando um mundo um pouco melhor para muitos”.
Pedro Sales do site Vertentes do Cinema avaliou “Henry Sugar” com 4 estrelas, ou seja, ótimo. Escreveu: “’A Incrível História de Henry Sugar’ demonstra, antes de tudo, a consolidação do autorismo de Wes Anderson, o qual esteve atrelado inicialmente a um aspecto formal e agora avança para o narrativo. Para além dessa marca na filmografia do diretor, esta é uma obra que brinca com a adaptação literária. Parece até uma resposta cínica àqueles espectadores que tanto reclamam da falta de fidelidade na transposição dos livros para as telas. Por mais que essa narração desgovernada dê um nó na cabeça de quem assiste, é interessante constatar como cada pedaço se associa ludicamente para o geral, renovando o interesse do público”.
O que eu achei: Os quatro curtas que Wes Anderson nos apresenta são uma homenagem ao renomado escritor Roald Dahl. A produção com estilo teatral é extremamente atraente e o conjunto só não é melhor por conta dos textos que são lidos/interpretados num volume muito grande de palavras e numa velocidade absurdamente frenética, que não oferece tempo para um respiro. Uma pena essa verborragia – que aliás já se mostrava presente em alguma medida no seu último longa “Asteroid City” (2022) – pois as histórias são muito boas e mereciam ser degustadas com mais calma. De qualquer forma, valem pela curiosidade de conhecer um pouco desse escritor britânico.