18.6.24

“Jane por Charlotte” - Charlotte Gainsbourg (França/Reino Unido/Japão, 2021)

Sinopse:
Com o passar do tempo, a atriz e cantora Charlotte Gainsbourg começou a olhar para sua mãe, a cantora e compositora Jane Birkin, de uma forma que nunca havia feito e, assim, mãe e filha começam a ultrapassar uma ideia comum de reserva e discrição. Por meio das lentes da câmera as duas se expõem, dão um passo para trás e abrem espaço para que a relação se desenvolva.
Comentário: Charlotte Gainsbourg, a diretora do documentário, nasceu em Londres, Inglaterra, em 1971, mas foi criada em Paris. Ela é atriz e cantora. Entre seus trabalhos como atriz estão filmes como “Sonhando Acordado” (2006), de Michel Gondry, “Não Estou Lá” (2007), de Todd Haynes, “Anticristo” (2009) de Lars Von Trier - pelo qual ela ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes -, “Melancolia” (2011) e os dois volumes de “Ninfomaníaca” (2013), ambos também do Lars Von Trier. “Jane por Charlotte” é sua estreia na direção de longas-metragens.
Jane Birkin, a quem ela dedica o documentário, é sua mãe. Birkin teve, ao todo, três casamentos: seu primeiro marido foi o compositor John Barry com quem teve sua primeira filha, a fotógrafa Kate Barry, já falecida; o segundo casamento foi com o cantor e compositor Serge Gainsbourg com quem ela teve a Charlotte; e seu terceiro e último marido foi o diretor de cinema Jacques Doillon com quem ela teve Lou Doillon, que seguiu os passos da mãe se destacando no cinema e na música. Birkin faleceu em 2023, aos 76 anos, em sua casa.
Bárbara Janicas do site À Pala de Walsh nos conta que Jane Birkin, sua mãe, é considerada “a mais fotogênica das vozes, ‘a mais francesa das inglesas’” Segundo ela, Jane Birkin (1946-2023), tinha apenas vinte anos quando obteve o seu primeiro papel de figurante em ‘A Boça da Conquista’ (1965) de Richard Lester, um dos filmes emblemáticos da Swinging London, logo seguido de uma aparição - escandalosamente nua – em ‘Blow-up – Depois Daquele Beijo’ (1966) de Michelangelo Antonioni. O arranque da sua carreira de atriz na França foi impulsionado pelo mítico encontro com Serge Gainsbourg, durante as filmagens de ‘Slogan’ (1968) de Pierre Grimblat, e o resto é história: rapidamente, Jane Birkin tornou-se a musa e companheira do cantor e compositor, que lhe prestou homenagem em ‘Histoire de Melody Nelson’ (1971) e a dirigiu na sua primeira realização [cinematográfica], o polêmico ‘Paixão Selvagem’ (1976)”, cujo título original é “Je t'aime moi non plus”, nome da canção que se tornou mundialmente famosa e que ela mesma canta junto com Serge Gainsbourg, o autor.
A partir daí “Jane Birkin desdobra-se em campanhas de moda, tournées musicais e papéis ecléticos no cinema e na TV, atravessando simultaneamente o cinema popular (...) e o cinema de autor pós-Nouvelle Vague, tendo sido várias vezes dirigida por Jacques Doillon, com quem foi casada, e por Jacques Rivette (...). Mesmo após uma vida de excessos, o diagnóstico de uma leucemia, no final dos anos 90, e a tragédia da morte da sua filha mais velha, a fotógrafa Kate Barry, em 2013, a aura sedutora e irreverente da It-Girl manteve-se intocável ao longo dos anos”.
Este documentário, dirigido pela filha Charlotte, não é o primeiro feito sobre ela. Em 1988, a cineasta Agnès Varda produziu um denominado “Jane B. por Agnès V.”, realizado por ocasião do 40º aniversário da atriz. Este, “Jane por Charlotte”, foi feito com a atriz com cerca de 70 anos e já com a saúde meio debilitada.
O que disse a crítica: Fabiana Lima do site Cinemação avaliou com 3,5 estrelas, ou seja, bom. Escreveu: “’Jane Por Charlotte’ não está interessado em fazer-nos esquecer do tempo. Pelo contrário, algumas cenas filmadas em longos planos, que parecem intermináveis, fazem-nos sentir dentro da sua casa de praia, nos momentos com a neta, nas confissões na cama ao lado da filha. Hoje, assistindo o filme em 2023, meses após a sua morte, o filme faz muito mais sentido como uma obra que pretende prolongar ao máximo o tempo que poderíamos ter com a sua presença. Em vida. Existe uma potência dramática muito maior no monólogo final hoje, do que poderia ter no seu lançamento, em 2021. No clímax do filme, em uma cena filmada à distância onde Birkin anda com pés na areia, Gainsbourg se declara nos fones de ouvido para a mãe e deixa claro: não estou preparada para dizer-lhe adeus”.
José Vieira Mendes da HD Magazine avaliou com 3,75 estrelas, algo entre bom e muito bom. Disse: “Charlotte Gainsbourg revela-se além de uma extraordinária atriz e fotógrafa, uma realizadora de cinema com um enorme potencial, sobretudo com este filme ‘Jane por Charlotte’ que é muito mais do que um documentário biográfico, para alimentar a nostalgia dos admiradores de Jane Birkin”. Ele conclui dizendo: “é um documentário confessional, muito bonito e mais um daqueles filmes que qualquer um de nós gostaria de fazer sobre os nossos progenitores e sobre as suas memórias para a posteridade”.
O que eu achei: O documentário é bem intimista. Charlotte Gainsbourg filma sua mãe, enquanto ambas são filmadas por uma terceira pessoa, dando a sensação que estamos ali com elas. Elas conversam sobre a vida, trocam confidências, vêem fotos, andam de barco, viajam e lembram do passado. O fim de Birkin está próximo e elas sabem disso. Me surpreendeu como Jane Birkin envelheceu bem. Musa dos anos 70, famosa por sua beleza e por seus trabalhos como cantora e atriz, ela enfrentou uma leucemia, além da morte de sua primeira filha, a fotógrafa Kate Barry aos 46 anos, após um acidente doméstico. Não vi em seu rosto aquela insistência em parecer sempre jovem e feliz, aliás no documentário pouco se mostra dela jovem. O resultado é muito delicado. Charlotte Gainsbourg optou por uma edição de material que não se preocupa em explicar de quem estão falando ou onde são aquelas locações. Há mais ênfase nas emoções do que no caráter informativo. Ao final a constatação de que o tempo passa para todos. O filme finaliza e ficamos com aquele sentimento de que assistimos uma comovente declaração de amor de uma filha para sua mãe. Super recomendo.