26.5.24

“Segredos de Um Escândalo” - Todd Haynes (EUA, 2023)

Sinopse:
Vinte anos após seu romance midiático virar assunto da nação, o casal Gracie (Julianne Moore) e Joe (Charles Melton) - ela professora e ele seu aluno 23 anos mais novo - é colocado sob pressão quando a atriz Elizabeth Berry (Natalie Portman) viaja até seu lar para se preparar para um filme sobre o passado deles.
Comentário: Todd Haynes (1961) é um diretor independente, roteirista e produtor cinematográfico americano. Assisti dele até o momento quatro filmes: os excelentes “Carol” (2015) e “Não Estou Lá” (2007) e os bons “Sem Fôlego” (2077) e “O Preço da Verdade” (2019), além do ótimo documentário “The Velvet Underground” (2021).
Thiago Gelli da Revista Veja nos conta que “’Segredos de Um Escândalo’ é baseado em uma história real (...). No longa, Natalie Portman vive Elizabeth, uma atriz que vai interpretar uma personagem inspirada na história de Gracie (Julianne Moore), uma dona de casa que carrega um passado sombrio: ela havia sido presa por manter relações com um adolescente de 13 anos quando ela tinha 36. No presente, a criminosa é casada com o jovem 23 anos mais novo. Para alguns, a história pode ser familiar: apesar de trocar nomes e acrescentar uma boa dose de ficção ao enredo, o roteiro é inspirado no caso real de Mary Kay Letourneau, que foi pega traindo o marido com seu aluno da sexta série em 1996 e se tornou protagonista dos tabloides americanos.
Filha de um político republicano e uma química, Letourneau cresceu na Califórnia e frequentou a universidade de Santa Ana, onde conheceu seu primeiro marido, Steve Letourneau, com quem teve quatro filhos e se mudou para Seattle. Lá, ela completou sua graduação em 1989 e se tornou professora do ensino fundamental, passando a atuar em um colégio no subúrbio, onde conheceu o menino samoano-americano Vili Fualaau. Como professora, ela primeiro lecionou Fualaau na segunda série, quando ele tinha meros 8 anos de vida. Quatro séries depois, eles se reencontraram e Letourneau iniciou o abuso. Encontrados dentro de um carro pela polícia, o par tentou desviar atenção ao mentir sobre suas identidades e a idade do garoto, negando qualquer toque inapropriado. A farsa, porém, durou pouco, e a professora foi presa 10 meses depois, em março de 1997, após ser denunciada por um parente de seu marido. Em frente ao júri, ela assumiu a culpa sobre duas acusações de estupro de menor em segundo grau - sua condição, afinal, impossibilitava qualquer declaração de inocência: ela já estava grávida de sua primeira filha com Fualaau, e esse primeiro fruto nasceria dois meses depois de seu julgamento. A sentença original condenaria Letourneau a sete anos e meio na prisão, mas um acordo reduziu sua pena para seis meses de cárcere e três anos de tratamento para agressores sexuais - desde que ela jamais contatasse sua vítima, os filhos de seu primeiro casamento ou quaisquer menores de idade. Entretanto, apenas dois meses após completar seu tempo condicional na cadeia, ela foi encontrada novamente dentro de um carro com Fualaau e, logo, teve o acordo rescindido. Nos sete anos e meio que se sucederam, ela finalizou seu divórcio, deu luz a outra bebê cujo pai era o menino, publicou um livro com ele chamado ‘Apenas Um Crime: Amor na França’ e endereçou diversas cartas ao amado. Em 2004, logo após a soltura de Letourneau, Fualaau pediu à Justiça que revertesse a ordem de restrição imposta e, na sequência, se casou com a abusadora, com quem manteve matrimônio estável até 2019, ano em que se divorciaram sem prestar justificativas públicas. No ano seguinte, Letourneau faleceu após ser diagnosticada com câncer colorretal, aos 58 anos. Apesar da separação, o ex-marido manteve contato durante os últimos momentos da parceira e herdou grande parte de seu espólio. ‘Segredos de Um Escândalo’ utiliza a história real para debater as tendências sensacionalistas da indústria de entretenimento americana, assim como para analisar as tantas cicatrizes carregadas por um homem forçado a amadurecer antes mesmo da adolescência. (...) Antes disso, o telefilme ‘Mais Que Uma Lição’ (2000) havia sido a única adaptação da história para o audiovisual”.
Quanto ao título original do filme – “May December” - Ritter Fan do site Plano Crítico nos explica tratar-se “de uma expressão, normalmente usada com hífen, que designa exatamente o amor entre duas pessoas com idades bem diferentes. Os meses citados referem-se às estações no hemisfério norte, com maio sendo a primavera (e, portanto, a juventude) e dezembro o inverno (e, portanto, a senioridade)”.
O que disse a crítica: Katiúscia Vianna do site Omelete avaliou com 4 estrelas, ou seja, ótimo. Escreveu: “’May December’ não é um filme muito fácil de digerir, afinal é centrado em um trauma que Joe nem aceita que sofreu. E, com isso, perdeu boa parte de sua vida para uma mentira. Porém, o longa é executado de uma maneira quase sórdida, falando sobre a cultura da mídia e fazendo críticas a tamanha artificialidade, sem se esconder dela em nenhum momento”. E conclui dizendo que “por mais que a direção de Todd Haynes seja boa, o que realmente rouba os holofotes (...) é o elenco”.
Ritter Fan do site Plano Crítico avaliou com 5 estrelas, ou seja, obra-prima. Ele elogiou a atuação das atrizes Natalie Portman e Julianne Moore, já consagradas, mas chamou a atenção para a atuação do menos conhecido ator Charles Melton. Escreveu: “se olharmos para sua filmografia, não veremos nada demais e é natural que a conclusão seja que o ator não tenha nenhuma chance de brilhar contracenando com atrizes experientes e dos portes de Portman e Moore. Mas o ator de ascendência americana e coreana nascido no Alasca faz o impossível e compõe um personagem inesquecível que é o resultado de décadas de um enclausuramento psicológico iniciado no momento em que Joe, em tenra idade, foi seduzido por Gracie”.
O que eu achei: Curioso como um filme com um bom argumento, bons atores e um excelente diretor pode não dar certo. A história foi inspirada num caso real ocorrido em 1997 de uma professora de 36 anos chamada Mary Kay Letourneau que acabou sendo presa por estupro de vulnerável. A vítima era seu aluno de 12 anos Vili Fualaau, com quem ela acabou tendo filhos e se casando posteriormente. O que o filme faz não é mostrar essa história em si, mas ambientar o casal anos depois com os filhos já ingressando na faculdade. É nesse contexto que uma atriz fictícia chamada Elizabeth Berry (interpretada pela Natalie Portman) viaja até seu lar para se preparar para um filme sobre o passado deles. No elenco, além da talentosa Natalie Portman, temos no papel da professora a competente Julianne Moore e, para representar a vítima, o menos conhecido Charles Melton que dá completamente conta do recado. Na direção está Todd Haynes, responsável por filmes como os excelentes “Carol” (2015) e “Não Estou Lá” (2007), além do ótimo documentário “The Velvet Underground” (2021). Certeza que vai dar certo né? Só que não. O filme começa, roda, roda... ameaça decolar com a Natalie Portman se transformando, absorvendo trejeitos, figurinos e até desejos de sua musa, mas o filme termina sem alçar voo. Pode até ser interessante como uma crítica à Hollywood insaciável por filmes biográficos e true crimes, pode até ter o mérito de não julgar os personagens e de não emitir mensagens moralizantes, mas passa longe de um “Lolita” na sua execução. A meu ver, um filme esquecível, não mais que mediano.