21.5.24

“Red - Crescer é Uma Fera” – Domee Shi (EUA, 2022)

Sinopse:
Mei Lee é uma garota de 13 anos um tanto peculiar. Autoconfiante, ela está dividida entre seguir sendo a filha obediente que sua mãe deseja ou abraçar o caos da adolescência. Para completar, Ming, a mãe superprotetora e autoritária da menina, nunca sai do seu lado. Como se não bastassem as mudanças em seus interesses, relacionamentos e corpo, Mei se transforma em um gigante panda vermelho toda vez que fica emocionada.
Comentário: Trata-se de mais uma animação produzida pela Disney/Pixar. A trama gira em torno de uma adolescente sino-canadense de 13 anos chamada Mei Lee. Ela tem um pequeno problema: sempre que ela fica muito emocionada ela se transforma em um grande panda vermelho. Com isso, o longa aborda a jornada de amadurecimento da menina, suas inseguranças dessa nova fase que a deixa dividida entre continuar a ser a filha que sempre foi ou assumir sua nova personalidade, intensificada por todos os sentimentos conflitantes que a adolescência provoca. Além do caos gerado por todas as mudanças em seus interesses, relacionamentos e corpo, virar um panda vermelho gigante a cada agitação ou nervosismo, só gera mais problemas para ela.
O projeto é de Domee Shi, de ascendência chinesa. Ela se tornou a primeira mulher a dirigir um filme do estúdio. Mais que isso, todo o elenco principal de dubladores são estrelas dessa comunidade. Uma pena que na dublagem brasileira este cuidado não foi tomado.
Segundo o site da Disney, a animação deixa vários ensinamentos sobre temas da vida como: não reprimir emoções e a importância da amizade. A própria Sociedade Brasileira de Pediatria declarou que “o objetivo da animação é de fato representar de forma leve e natural temas que podem ser encarados como sensíveis durante o crescimento, como puberdade e menstruação”. Segundo o Jornal O Globo, “essa abordagem recebe elogios de especialistas (...) que consideram o diálogo sobre esses assuntos – muitas vezes ainda vistos como tabus – algo indispensável para o desenvolvimento do adolescente. O diálogo sobre essas transformações tem de vir naturalmente desde a infância, no dia a dia do que vai acontecendo. É importante ter uma visão natural do crescimento e do desenvolvimento do ser humano, sempre de forma respeitosa, sabendo os limites, e o filme vem nessa parte mais lúdica - defende a presidente do Departamento Científico de Adolescência da SBP, dra. Alda Elizabeth Azevedo”.
Com relação ao panda vermelho no qual a menina se transforma, Nicolle Januzzi, do Terra da Gente, diz que “apesar de parecer grande na animação, o panda-vermelho ou panda-pequeno (Ailurus fulgens) (...) é um mamífero (...) que chega a medir 1,20m (somando corpo e cauda) e pesar 6kg. ‘Ele vive principalmente em florestas montanhosas temperadas densas do sul da China e extremo norte de Mianmar, assim como na parte leste do Himalaia, que inclui as montanhas do Butão, norte do Nepal e extremo nordeste da Índia. A espécie tem hábitos solitários’, explica o especialista em mamíferos do Museu de Zoologia da USP, Fabio Oliveira do Nascimento”.
A animação foi indicada ao Oscar em 2023.
O que disse a crítica: Pedro Strazza da Folha de SP avaliou com 4 estrelas, ou seja, excelente. Disse: “Já faz quatro anos que John Lasseter deixou de vez o comando da Pixar sob acusações de assédio. Mas, contra as expectativas, o estúdio passa hoje por uma nova fase de bonança. Sob o comando de Pete Docter, mostra estar num processo de reinvenção interna que se reflete nos filmes, mais libertos das amarras de continuações e comandados por novos talentos cujas inspirações escapam do ‘clube’ que fundou a reputação da empresa. Mesmo todos em tese sendo aprovados por Lasseter, a leva recente de longas parece sobretudo diversificar os limites da tal ‘fórmula" da Pixar’”. E finaliza dizendo: “Os resultados são efetivos, do humor às lágrimas”.
Aline Pereira do site Adoro Cinema gostou ainda mais, avaliou com 4,5 estrelas. Escreveu: “Quem já conhece algumas obras de animes e mangás famosos vai identificar facilmente o estilo: produções como ‘Sailor Moon’ e ‘Sakura Card Captors’, por exemplo, parecem ter sido grande fonte de inspiração. O resultado é uma animação viva, alegre e hipnotizante, que conta ainda com elementos nostálgicos: a história de Meilin se passa no início dos anos 2000, auge dos bichinhos virtuais, toca-CDs, revistas com pôsteres e boybands. A protagonista, aliás, é muito fã de uma banda que a geração dos anos 90 provavelmente vai relacionar a grupos como Backstreet Boys e N’Sync, enquanto os mais novos, sem dúvida, vão conectá-la aos fenômenos do K-Pop atual”.
O que eu achei: O título original “Turning Red”, algo como “Ficando Vermelha”, fala mais diretamente das diversas vergonhas que passamos na pré-adolescência do que o título em português “Red - Crescer é Uma Fera” que diz mais respeito ao panda vermelho que a menina se transforma conforme suas emoções afloram. O filme é relativamente complexo, aborda nossos esforços por tentar dominar esse “monstro” interior que oras se irrita demais e oras se apaixona facilmente nessa fase da vida cheia de descobertas. Não me parece ser um filme interessante para crianças muito pequenas, já que trata inclusive da chegada da menstruação e de como agradar a mamãe superprotetora sem perder a própria individualidade. Mas adultos poderão curtir. A diretora Domee Shi de ascendência chinesa, além de trazer esse frescor dos personagens serem chineses morando no Canadá, faz uma deliciosa ode à adolescência feminina. Boa pedida.