27.5.24

“Sob o Signo de Capricórnio” – Alfred Hitchcock (Reino Unido, 1949)

Sinopse:
Em 1831 o irlandês Charles Adare (Michael Wilding) viaja à Austrália para começar uma nova vida. Logo ao chegar conhece o poderoso Sam Flusky (Joseph Cotten) e descobre que a esposa deste, Henrietta (Ingrid Bergman), foi sua colega de infância. Bela e instável, Henrietta é agora uma atormentada alcoólatra e sua reaproximação de Charles desperta ciúmes em Sam.
Comentário: Outro filme do mestre do suspense Alfred Hitchcock de quem já assisti 34 filmes.
“Sob o Signo de Capricórnio” (1949) é uma adaptação do livro "Under Capricorn", de Helen Simpson, publicado em 1937. Estamos em 1831, um irlandês vai parar na Austrália para recomeçar sua vida com a ajuda do primo, eleito governador. Ele vai trabalhar na casa de um fazendeiro, cuja bela e estranha esposa surge para dar às coisas um rumo inesperado.
Luiz Santiago do site Plano Crítico nos conta que “Depois de dirigir o sensacional ‘Festim Diabólico’, Alfred Hitchcock caiu em uma armadilha armada por seu próprio ego e autoconfiança, algo que ele mesmo confessou a François Truffaut em entrevista. Em uma época em que Ingrid Bergman era a atriz mais disputada do grande mercado, o diretor se sentiu confiante demais quando conseguiu que ela assinasse mais um contrato consigo, realizando assim o seu terceiro e último trabalho hitchcockiano: ‘Sob o Signo de Capricórnio’. O filme foi uma espécie de pesadelo para [Ingrid] Bergman, que teve abundância de discussões com Hitchcock durante as filmagens. O diretor, por sua vez, percebia que um filme de época produzido por ele próprio e com aquela temática tinha como foco uma única pessoa: sua atriz-fetiche do momento. Sem ter nenhuma relação afetiva com a história ou extrema vontade de adaptá-la para o cinema, o diretor só realizou o filme porque achava que era uma boa oportunidade de trabalhar com Ingrid Bergman mais uma vez e que talvez ele conseguisse um grande filme comercial com esse chamariz. Mas Hitchcock estava enganado. ‘Sob o Signo de Capricórnio’ foi um tremendo fracasso de bilheteria e muitíssimo mal recebido pela crítica e pelo público, exceto uma parte dos espectadores franceses, que acharam esta uma das melhores coisas que o cineasta fizera até o momento. Mas não cedamos tanto ao Céu ou tanto à Terra. ‘Sob o Signo de Capricórnio’ é um filme apenas decente, longe de ser uma das melhores coisas que o Mestre do Suspense realizou. A obra tem uma realização técnica bastante notável, com planos sensivelmente longos (...) e uma fotografia que nos lembra pinturas românticas de cores quentes, pontuada por um Technicolor saturado, tanto em ambientes diurnos quanto noturnos”.
O título do filme nada tem a ver com o zodíaco, mas sim com o Trópico de Capricórnio, abaixo do qual se encontra a Austrália, onde a história se passa.
O que disse a crítica: Santiago avaliou com 3 estrelas, ou seja, bom. Escreveu: “mesmo com todos esses interessantes moldes pregressos, Hitchcock não consegue realizar um filme inesquecível. O roteiro, evidentemente, tem um forte peso nessa questão. Além de ser extremamente verborrágico, arrasta algumas situações em demasia e finaliza o conflito estabelecido em boa parte da fita de maneira inacreditavelmente simplista, quase como uma espécie de piada irônica na cara do espectador. Apesar de tudo, existe uma grande beleza e um certo charme irresistível em ‘Sob o Signo de Capricórnio’. Os conflitos postos em cena são bastante aceitáveis e o espectador não demora a se afeiçoar ou tomar partido de um ou outro lado. No fim das contas, sobra o que verdadeiramente importa: uma boa sessão. Mas todos nós sabemos que este não é o melhor produto da fonte de onde veio”.
Eduardo Kaneco do site Leitura Fílmica avaliou com o equivalente a 3,25 estrelas. Disse: “Hitchcock sabia que estava filmando um melodrama. Por isso, evita os clichês que remeteriam ao suspense. Por exemplo, quando surge uma cabeça em miniatura, artefato utilizado para desestabilizar Henrietta, o diretor evita o habitual uso de uma música estridente para assustar o espectador. Mas, essa intenção de realizar um drama leva a algumas cenas cansativas, como aquela na qual Henrietta revela o grande segredo da relação do casal. O fato é essencial para a narrativa, mas o relato é longo demais. Por outro lado, o suspense não está totalmente descartado, e ele surge no trecho, já perto do final, quando aguardamos ansiosamente o que Charles Adare testemunhará, pois o que ele disser selará o destino dos demais protagonistas (e dele também). Ficamos na expectativa: qual o tamanho da honra desse jovem? ‘Sob o Signo de Capricórnio’ é, sem dúvida, um drama. Mas um drama sombrio, como se esperaria desse diretor que nunca abdicou de ser um autor”.
O que eu achei: Uma surpresa negativa este filme do Hitchcock. Quando comecei a assistir cheguei a me perguntar diversas vezes se era mesmo um filme dele ou se, por acaso, eu havia dado o play num filme homônimo de algum outro diretor. Afinal, estamos acostumados a acompanhar thrillers de suspense naquele seu estilo inconfundível. Este é um drama de época melodramático que se passa no ano de 1831 na Austrália. Poderia ser um filme de qualquer outro diretor, menos dele. Nem o elenco com nomes como Ingrid Bergman e Joseph Cotten segura as pontas pois, infelizmente, o roteiro não ajuda. É um filme arrastado, verborrágico, desinteressante, tive muita dificuldade em me manter concentrada no transcorrer dos acontecimentos. A cereja no bolo ficou por conta do nome do filme em português “Sob o Signo de Capricórnio”. O original, “Under Capricorn” diz respeito ao Trópico de Capricórnio, abaixo do qual se encontra a Austrália, onde a história se passa, nada tendo a ver com o zodíaco. Este é o 35º filme que vejo do Hitchcock e até o momento tive três decepções: "Número 17" (1932); a versão inglesa do "O Homem Que Sabia Demais" (1934) que foi incrivelmente superada pela versão americana e este. Até os gênios, de vez em quando, dão uma escorregada.