28.4.24

“Beau Tem Medo” - Ari Aster (EUA/Finlândia/Canadá, 2022)

Sinopse:
Ambientada em um presente alternativo, a trama acompanha Beau Wassermann (Joaquin Phoenix), um homem extremamente tenso e paranoico que nunca conheceu o pai e tem uma relação turbulenta com a mãe dominadora Mona (Patti LuPone). Quando ele recebe a notícia de que sua mãe morreu, Beau precisa ir até sua antiga casa para o funeral, mas a viagem acaba sendo dificultada por uma série de acontecimentos imprevisíveis que parecem tentar desviá-lo de sua jornada. Agora, ele deve enfrentar seus piores e mais absurdos medos se quiser chegar ao seu destino.
Comentário: Ari Aster (1986) é um cineasta e roteirista norte-americano. Com origem judia, ele é filho de mãe poetisa e pai musicista. Assisti dele dois filmes perturbadores: o bom “Hereditário” (2018) e o mediano "Midsommar - O Mal Não Espera a Noite" (2019).
Gabriel Avila do site Jovem Nerd disse em sua resenha que “em 2011, o então iniciante Ari Aster escreveu e dirigiu um curta-metragem chamado ‘Beau’. Com sete minutos de duração, o projeto foi carregado por uma angústia potente que se tornaria a marca registrada do cineasta”. Agora, em “Beau Tem Medo” ele retorna à ideia anterior.
Laura Pancini da Revista Exame nos conta que “O Natal da família mais perturbada não se compara a um dia na vida de Beau Wassermann. O personagem principal do novo filme de Ari Aster é um homem solitário, paranoico e ansioso, que se perde numa aventura - física e mental - no dia do aniversário de morte de seu pai. ‘Beau Tem Medo’ é uma produção de Aster com a produtora A24 e a prova de fôlego do diretor depois de dois sucessos: ‘Hereditário’ e ‘Midsommar’. O longa de 3 horas de duração é a prova de que o diretor está comprometido com o gênero de terror psicológico e não pretende olhar para trás. Mas as críticas controversas também indicam que ‘Beau’ será um divisor de águas para quem vem acompanhando a ascensão de Aster e da produtora. (...) Para a mente ansiosa, ‘Beau Tem Medo’ pode soar familiar até demais. O personagem interpretado por Joaquin Phoenix (‘Coringa’) é um homem adulto e paranoico que vive sozinho em uma vizinhança aparentemente violenta. Ele se prepara para visitar a mãe (Patti LuPone), mas sua vida é tomada pelo caos e se transforma em uma nova direção surrealista. Em entrevista, Ari Aster afirmou que queria que o público tivesse a sensação de ter assistido a vida inteira de uma pessoa (um ‘loser’, descreveu), seja pelo tempo de duração ou a total imersão no imaginário do personagem, ele conseguiu. Somos forçados a enxergar tudo pelos olhos de Beau e, consequentemente, ficamos exaustos – e apavorados – juntos”.
O que disse a crítica: Cesar Soto do site G1 não gostou. Ele disse: “Mais fantasia psicológica perturbadora do que terror, gênero pelo qual o cineasta ficou conhecido, a história estrelada por Joaquin Phoenix (...) é uma longa viagem ruim (‘bad trip’, se preferir) de ácido. Isso não quer dizer que a produção seja ruim. Ao ocupar quase totalmente – por mais que em ritmo irregular – suas três horas de duração, o filme (...) tem tudo para ser daqueles que dividem o público entre amor e ódio. Sem muito espaço para meios-termos”.
Fernando Campos do site Plano Crítico gostou, avaliou com 4,5 estrelas, o equivalente à excelente. Segundo ele, “‘Beau Tem Medo’, mostra um evidente amadurecimento do cineasta”. Escreveu: “Quem teve a sorte de crescer em um ambiente saudável e verdadeiramente amável, talvez veja ‘Beau Tem Medo’ como um filme que opta pelo bizarro apenas pelo bizarro ou que identifique na obra até certa injustiça com os personagens. No entanto, aqueles que sofreram com relações baseadas em controle, ciúmes e retirada da autonomia, identificarão na obra o terror de não se sentir completo. A dor de ser uma peça dentro das expectativas de outra pessoa, resultando justamente em ansiedade’. (...) Como o clímax do filme aponta, talvez um dia sejamos julgados pelos nossos pecados, mas até lá cabe a nós construirmos nossos próprios pecados e não pagar pelos pecados daqueles que nos criaram”.
O que eu achei: Que filme mais louco! É um daqueles exemplares que você ou vai amar ou vai odiar. Se você aguentar ver todas as três horas da perturbada jornada mental do personagem Beau (Joaquin Phoenix), você terminará o filme com uma sessão de terapia feita, afinal, quantos de nós não crescemos morrendo de medo de alguns de nossos antepassados, muitas vezes mãe e/ou pai, outras vezes tios, avós... enfim... sempre há um maluco de plantão esperando você nascer para te transformar, em algum grau, num neurótico medroso culpado. Ari Aster é de origem judaica e os dilemas freudianos entre mãe e filho e a famosa culpa, são ingredientes que estão lá para judeus e não judeus dissecarem. É um filme que psicólogos, psicanalistas e psiquiatras deveriam ver. Com relação ao filme em si, ele tem pontos altos e pontos fracos. A escolha do ator Joaquin Phoenix é, sem dúvida, um acerto, pois ele já mostrou em “Coringa” (2019) que interpretar pessoas perturbadas é a praia dele. O perigo é reduzirem Phoenix a isso pois em breve vão lançar “Coringa 2” e essas repetições de papéis podem tornar sua carreira presa a esse perfil de personagem. A primeira hora do filme eu achei muito assustadora e violenta, apesar de bem feita. A segunda hora abraça teatro e animação. A animação aliás é lindíssima, foi feita pelos chilenos Cristobal Leon e Joaquin Cosiña. E a terceira e última parte é um pouco mais lenta e reflexiva, mas não menos bizarra. É um filme que exige atenção para tentar discernir o que seria realidade e o que seria delírio. Se você é do tipo que não consegue dizer não, que vive com medo de chatear os outros, que espera sempre o pior, você vai se ver ali, aproveite a catarse para refletir sobre sua criação. Se você é mãe, aproveite para pensar se seu “amor incondicional” não está sufocando a criança. Poderia ser um filme mais curto, mas talvez seja uma odisseia incômoda que valha a pena percorrer.