7.1.24

“Tori e Lokita” – Jean-Pierre Dardenne & Luc Dardenne (Bélgica/França, 2022)

Sinopse:
Vindos da África, Tori (Pablo Schils) e Lokita (Joely Mbundu) conheceram-se quando faziam sozinhos a travessia do Mediterrâneo, tornando-se inseparáveis. Ele é ainda uma criança; ela, apesar de muito jovem, já tem os seus objetivos traçados. Quando chegam à Bélgica, esperam ser acolhidos como refugiados.
Comentário: Jean-Pierre Dardenne (1951) e Luc Dardenne (1954) são dois irmãos belgas diretores, produtores e roteiristas. Assisti deles 5 filmes: os excelentes "A Criança" (2005) e "Dois Dias, Uma Noite" (2014), os bons "O Garoto da Bicicleta" (2011) e "O Jovem Ahmed" (2019) e o mediano “A Garota Desconhecida” (2016).
Fabiana Lima do site Cinemação nos conta que “o contexto de crise migratória profunda na Europa, que teve seu auge em 2015, tem provocado uma série de discussões de cunho político e econômico no continente. Se por um lado vários países da União Europeia são a favor de legislações mais rígidas a fim de impedir a entrada dessas pessoas, que geralmente fogem de conflitos armados em seus países ou mesmo de uma situação de pobreza extrema, existem aqueles que são mais flexíveis e que permitem a entrada de imigrantes sob um ponto de vista humanitário. Só na França, estima-se que ao menos 9% da população do país é formada por imigrantes, mas quem são eles? Assistimos nas televisões, lemos nos jornais, navegamos pelas notícias da internet, mas não sabemos quem eles são. Afinal, quais são os rostos, sonhos, desejos e medos dessas milhões de pessoas que adentram um novo país e se adequam a uma nova cultura para recomeçar uma vida do zero? E o que acontece com essas pessoas depois que adentram o país? Nas estatísticas, em notícias esparsas, não existe humanidade. Friamente, nos acostumamos a ver pessoas sendo transportadas como animais nas reportagens televisivas, e sendo assassinadas antes mesmo de chegarem em terra. Por esses e muitos outros motivos, incluindo o avanço assustador das políticas antiimigratórias na Europa como um fruto da extrema direita, querer dar voz a esse assunto e por um rosto nessas pessoas é algo muito relevante, ainda mais quando bem feito. E é isso que os irmãos Dardenne, por meio de ‘Tori et Lokita’ (...) sucedem em fazer”.
O que disse a crítica: Daniel Oliveira do site Cinematório deu 2 estrelas, ou seja, ruim. Escreveu que o filme “é uma espiral de desgraças, uma série de abjetas indignidades e humilhações a que Tori e, especialmente, Lokita, dois jovens africanos, são submetidos. Uma espiral precisa e sadisticamente orquestrada por dois homens brancos europeus – que se recusam a incluir no quadro a responsabilidade de seus pares naquele cenário – para ‘entreter’ seu público. Some-se a isso um desfecho pouquíssimo satisfatório, com uma cena final calcada em enormes saltos lógicos que deixam uma série de questões por responder. E ‘Tori e Lokita’ é mais uma crônica social de Jean-Pierre e Luc Dardenne que deve agradar aos fãs da dupla, mas vai deixar um gosto amargo em quem esperar deles um senso maior de responsabilidade e autocrítica que elevem o longa acima de um exercício de estilo repetido”.
Luiz Oliveira do site Metrópolis, avaliou com 4 estrelas, ou seja, excelente. Disse: “Tori e Lokita são crianças boas, carinhosas e atenciosas, capazes de conquistar os corações dos espectadores. Talvez sejam os protagonistas mais capazes disso em muito tempo nesta filmografia. Ver algo de ruim acontecer a eles significa sofrer junto com eles. E, logo no começo, fica bem claro que várias coisas ruins vão acontecer a eles. Afinal, estão bem próximos do final da fila de importância no habitat que ocupam”. E conclui dizendo que “apesar dos diretores não inovarem sua forma de fazer cinema, eles escalam dois atores incríveis - Tori (Pablo Schils) e Lokita (Joely Mbundu) - para este novo filme”.
O que eu achei: A maioria ou talvez todos os filmes dos irmãos Dardenne são assim sobre pessoas que vivem à margem da sociedade. Este não é diferente. Ele conta a saga dos jovens Tori e Lokita que deixam sua terra natal, na África, para tentar a vida na Bélgica, passando por muitas agruras desde a hora que entram no país até o desfecho final dessa empreitada. Essa constância em explorar sempre a mesma temática tem trazido críticas aos diretores, acusados por parte da crítica especializada de terem esgotado um gênero sem conseguir renová-lo. Mas eu pessoalmente acredito que trazer essas questões sociais à tona nunca é demais. Seus filmes são quase sempre bem resolvidos e prestam esse nobre serviço de sensibilizar o público sobre a existência dessas pessoas sem nomes e sem rostos que vagam pelo planeta em busca de um lugar digno para chamar de seu. Atenção para o menino Tori, interpretado pelo ator amador Pablo Schils. Atenção também à canção “Alla Fiera dell’Est” de autoria de Angelo Branduardi que é cantada pela dupla. Segundo li numa entrevista com os Dardenne, essa canção italiana era cantada pelos judeus da Espanha durante a Inquisição.