17.12.23

“Babilônia” - Damien Chazelle (EUA, 2022)

Sinopse:
 Hollywood, anos 20. O cinema mudo passa a ser falado. No mundo dos sonhadores ambiciosos da sétima arte estão diversos tipos: Jack Conrad (Brad Pitt) é um grande astro do cinema mudo que deseja se manter no topo; Nellie LaRoy (Margot Robbie) é uma jovem pobre do interior dos Estados Unidos cuja ambição é se tornar a maior estrela de Hollywood; Manny Torres (Diego Calva) é um imigrante mexicano que trabalha como um “faz-tudo” de um dos grandes produtores do cinema e Sidney Palmer (Jovan Adepo) é um músico negro que vê no showbiz a sua grande chance de explodir. 
Comentário: Damien Chazelle (1985) é um cineasta e roteirista norte-americano. Assisti dele os ótimos "Whiplash - Em Busca da Perfeição" (2014) e "La La Land: As Quatro Estações" (2016), além do bom "O Primeiro Homem" (2018).
Celso Sabadin do site Planeta Tela nos alerta: “Que fique bem claro: no filme ‘Babilônia’, quando um elefante defeca sobre algumas pessoas, ele defeca mesmo: quilos e quilos. Muitos. Com direito a close exatamente onde você está pensando. Esta advertência não é moralista, mas apenas um pequeno aviso para deixar claro que ‘Babilônia’ é um filme repleto de excessos. Divertido, dramático, emocionante para os fãs de cinema, visualmente belíssimo, mas repleto de excessos. O do elefante nem seria o mais intenso. E talvez nem pudesse ser diferente, já que seu tema é Hollywood. O que poderia ser mais excessivo?” E prossegue dizendo: “O longa (e põe longa nisso: 189 minutos) cobre cerca de três décadas de história da indústria cinematográfica norte-americana, sublinhando a radical transição dos filmes mudos para os falados. Neste quesito, dialoga de perto com ‘Cantando na Chuva’, embora não seja um musical, e também com ‘O Artista’. Neste contexto, o roteiro acompanha a trajetória de quatro personagens principais que tiveram suas vidas radicalmente alteradas por esta transição, sendo três advindos da sociedade dos excluídos, e um da casta dominante. São eles: a jovem aspirante a atriz Nellie (Margot Robbie), o produtor ‘faz tudo’ Manuel (Diego Calva), o músico Sidney (Jovan Adepo) e o astro Jack (Brad Pitt). Os quatro são apresentados ao público logo numa das primeiras e mais ostentatórias sequências do filme, uma gigantesca orgia empreendida pela Hollywood dos chamados ‘loucos anos 20’, onde não faltam drogas, sexo, música, bebidas… e o tal elefante. A partir daí, ‘Babilônia’ se desenvolve entrecruzando as trajetórias destes protagonistas e suas relações com a então jovem arte do cinema. Nellie, vinda do interior, sabe que é uma estrela, e que só falta ser descoberta; o mexicano Manuel também sonha estar num set de filmagem, mas sequer imagina quais caminhos trilhar para isso; o pistonista Sidney se contenta com sua posição de coadjuvante, mas logo terá uma surpresa; enquanto o badalado astro Jack usufrui da fama e da fortuna em toda a sua intensidade. Nellie, Manuel, Sidney e Jack não representam especificamente alguém ou alguéns que de fato existiram naquela antiga Hollywood, mas sim arquétipos de tipos reais daquele tempo/espaço. Há, sim, algumas referências explícitas de nomes famosos e históricos, como o do produtor Irving Thalberg, citado nominalmente, ou do ator obeso que durante a orgia acaba por matar de overdose uma jovem atriz, referência a Fatty Arbuckle (no Brasil, Chico Bóia) e Virginia Rappe. Por outro lado, percebem-se em Jack fortes traços da biografia de Douglas Fairbanks, embora com finais diferentes. A questão do filme não é exatamente definir quem é quem, mas sim construir toda uma atmosfera que retrate, num primeiro momento, os feéricos tempos loucos e românticos de Hollywood, para em seguida traçar o contraponto da camisa de força em que a atividade se meteu, a partir do advento do falado”.
O que disse a crítica: André Zuliani do site Tangerina avaliou como bom. Escreveu: o filme “vai do céu ao inferno em suas mais de três horas de duração”. Segundo ele, “enquanto constrói a sua história baseado nas jornadas de crescimentos de seus personagens, o longa prende a atenção do espectador com sequências escandalosas, diálogos absurdos e cenas capazes de arrancar gargalhadas do público. É por ter tantas qualidades que, ao chegar na segunda metade do filme, ‘Babilônia’ se torna uma experiência quase sofrível”. É no terço final que a coisa desanda. “É triste ver uma produção com um começo tão surpreendente se despedaçar de maneira tão marcante em seu ato final”.
Pedro Sales do site Vertentes do Cinema avaliou como ótimo. Disse: “A obra faz uma homenagem peculiar ao cinema, retratando seu lado mais vil (nas relações entre produtores-artistas) e oculto (vícios e libertinagem). A homenagem reside, sobretudo, na representação do sonho hollywoodiano, dos tolos que sonham (...). No final catártico da obra, há a coroação de tudo que o cinema é, com inserções de todo o mundo. A conclusão explora também uma relação que, para aqueles com um repertório maior, já era evidente, mas a paixão com que esse tributo é feito o deixa ainda mais gracioso. ‘Babilônia’ é um mergulho alucinante na velha Hollywood, com uma alta carga de erotismo (em especial, por Nellie) e depravação. Os eventuais entraves, com uma linha temporal um pouco descontínua e truncada, são meros detalhes diante do caos frenético proposto e colocado em tela”.
O que eu achei: Eu gostei muito. De fato, como disse a crítica, o filme começa de maneira frenética – mostrando uma festa com muita orgia, drogas e tudo mais – continua frenético ao mostrar filmagens e fãs alucinados em Hollywood, mas depois o ritmo muda completamente e o filme segue mais lento nas suas 3 horas de duração. Entretanto, mesmo com a baixa na adrenalina, o que vem pela frente é bastante interessante, mostrando como o advento do som no cinema mexeu radicalmente com o modo de fazer cinema, com atores que eram bons mudos e péssimos ao abrir a boca e com sets de filmagem que precisam estar em absoluto silêncio para não atrapalhar a captura de som, além de inúmeras questões técnicas novas que os produtores tiveram que se adaptar. O título do filme “Babilônia”, que no figurado significa falta de ordem e confusão, não poderia ser mais adequado. Ao final há uma colagem emocionante com cenas de diversos filmes famosos na história do cinema. Atenção à presença de Flea interpretando o personagem Bob Levine. Para quem não lembra, Flea é um músico e ator australiano-americano, conhecido por seu trabalho como baixista da banda de rock Red Hot Chili Peppers. O filme foi indicado à três Oscars: Trilha Sonora Original, Figurino e Direção de Arte. Não abocanhou nenhum mas merecia todos. Sensacional.