
Comentário: Wes Anderson (1969) é um cineasta americano, produtor, roteirista e ator. Seus filmes são conhecidos pelos seus visuais excêntricos e pelo estilo de narrativa. Já assisti dele a obra-prima "O Grande Hotel Budapeste" (2013), os excelentes "Os Excêntricos Tenenbaums" (2001), "A Vida Marinha com Steve Zissou" (2004), "Moonrise Kingdom" (2012), “A Crônica Francesa” (2021) e “Asteroid City” (2022), o bom "Viagem a Darjeeling" (2007) e o não tão bom “A Incrível História de Henry Sugar e Outros Três Contos” (2023), além das animações "O Fantástico Sr. Raposo" (2009) e "Ilha dos Cachorros" (2018). Desta vez vou conferir "O Esquema Fenício" (2025).
Henrique Artuni da Folha SP nos conta que "Há algo de antigo em 'O Esquema Fenício'. Um filme que, só pelo título, poderia se camuflar bem entre obras como 'Uma Aventura na Martinica', 'Tensão em Xangai', entre outros títulos brasileiros criativos para clássicos dos anos 1940.
Wes Anderson não está próximo à grandeza dessa era de ouro de Hollywood, mas, para arquitetar seu novo esquema, tomou emprestado o tom farsesco dessa época para encenar a via-crúcis de um homem - o magnata Zsa-Zsa Korda, de Benicio Del Toro - que insiste em não morrer. Ou melhor, de um homem que, de tão próximo da morte, é obrigado a se confrontar com algo ainda mais inescapável, a família, para alcançar sua redenção.
Não é tema estranho para o autor de 'Os Excêntricos Tenenbaums', cujas histórias têm sempre pelo menos umas duas dúzias de personagens desajustados. (...)
Após explorar os rincões desérticos dos Estados Unidos no formalista 'Asteroid City', agora o texano se debruça sobre a Grande Fenícia Independente Moderna - uma paisagem fictícia com traços de Líbano, Síria e Marrocos, cujo nome remete a uma civilização remota, dessas que se lê pelas páginas da Bíblia. Aliás, o catolicismo e o Antigo Testamento é todo onipresente na jornada, sobretudo nos sonhos místicos que Korda tem toda vez que quase morre numa das armadilhas plantadas por um grupo de empresários americanos que quer acabar com sua fortuna. Nesses episódios alegóricos, Korda se vê num julgamento celeste, encontra suas três ex-mulheres mortas, sua avó e o próprio Deus - um Bill Murray toscamente barbado. (...)
É quase uma trama à parte, em paralelo à jornada burocrática de Liesl, Korda e de um estranho tutor, vivido por Michael Cera, pela Fenícia para que ele concretize seu projeto dos sonhos e tenha certeza de que a noviça será uma herdeira digna. O tal 'esquema' do título é um ambicioso empreendimento no deserto, com ferrovias e represas que, além de lhe trazerem fortuna, são um acerto de contas com sua infância pobre. A brincadeira não é barata e, após ser sabotado pelos americanos, ele tem de recorrer a uma série de outros empresários da região para cobrir o investimento - dentre eles, um meio-irmão maquiavélico, vivido por um hilário Benedict Cumberbatch, numa caracterização patética, que pode ou não ser o verdadeiro pai de Liesl.
Nessa saga, Anderson aposta num humor sombrio, até violento, com corpos explodindo, acidentes de avião, granadas, armas químicas em meio às suas 'gags' visuais. É também quando brilham coadjuvantes como Jeffrey Wright, Tom Hanks e Mathieu Amalric, mesmo com pouco tempo de tela para seus personagens excêntricos".
O que disse a crítica 1: Mattheus Goto da Veja SP avaliou com 3 estrelas, ou seja, bom. Escreveu: "Os visuais e as atuações carregam o longa, principalmente quando parece ter esgotado ideias. A premissa é mais objetiva e cômica do que a de 'Asteroid City', trabalho mais recente do diretor, de 2023, mas menos surpreendente. A dinâmica entre os dois protagonistas é o maior trunfo".
O que disse a crítica 2: Robledo Milani do site Papo de Cinema avaliou com 3,5 estrelas, ou seja, muito bom. Disse: 'Permitir-se ser permeado pelo cinema de Wes Anderson é como estar em um encontro de velhos amigos da faculdade anos – ou mesmo décadas – após terem deixado de estudar juntos. Para os que estão há tanto tempo sem se ver, a oportunidade de estarem mais uma vez lado a lado é preciosa, e apenas a menção de velhas histórias é mais do que suficiente para boas e saudosas recordações. Para os que estão ao redor, meros curiosos ou acompanhantes de ocasião, tal experiência, no entanto, pode ser excruciante (aflitivo, doloroso). 'O Esquema Fenício' representa um mergulho ainda mais radical do realizador dentro desse seu universo próprio e indissociável de sua persona. Feito para o deleite dos predispostos, ao mesmo tempo em que deverá servir como motivo de angústia para os que neste âmbito não forem capazes de nele adentrar'.
O que eu achei: Quem já assistiu a algum filme de Wes Anderson sabe exatamente o que esperar. Seu estilo inconfundível que faz uso do live action para inserir atores reais em cenários meticulosamente construídos, se tornou sua marca registrada. O capricho é evidente tanto nas composições simétricas - com a câmera centralizada, criando a sensação de um espaço plano, bidimensional, similar a um palco de teatro ou uma casa de bonecas - quanto na atenção minuciosa aos detalhes. A paleta de cores em tons pastéis é cuidadosamente planejada e a trilha sonora é primorosamente desenvolvida. Por conta disso, o público de Wes Anderson desde sempre se divide entre dois extremos: os que o amam e não perdem nada do diretor, e os que o detestam e nunca se conectaram com sua estética. Agora, com o lançamento de seu 12º filme nota-se o surgimento de uma nova categoria: os que gostavam mas começaram a enjoar. Li várias críticas negativas classificando a obra como “mais do mesmo”, o que me deixou receosa ao apertar o play. Mas, para minha surpresa, a experiência foi muito gratificante. Benicio Del Toro interpreta o frio e indiferente Zsa-Zsa Korda que, após sobreviver à sexta tentativa de assassinato, decide que precisa escolher um herdeiro. Apesar de ter nove filhos, o magnata surpreende ao apontar Liesl (Mia Threapleton) - uma filha que se tornou freira - como sucessora de sua vasta fortuna. O forte senso moral de Liesl, em contraste com a indiferença quase cínica de Korda, define o tom do filme. À medida que Korda elabora um projeto inédito, o chamado Esquema Fenício, pai e filha vão se aproximando pouco a pouco. A cada nova visita aos empresários com quem ele precisa negociar o novo empreendimento, o público ganha um vislumbre de sua trajetória e das decisões que moldaram sua vida, permitindo que Liesl compreenda mais claramente quem seu pai realmente é. No elenco, além da dupla, há um grande número de excelentes atores como: Tom Hanks, Willem Dafoe, Jeffrey Wright, Bill Murray, Scarlett Johansson, Bryan Cranston, Riz Ahmed, Benedict Cumberbatch, Kate Winslet e Charlotte Gainsbourg, dentre outros. A trilha sonora é do competente Alexandre Desplat. Terminei de ver lembrando da ótima sensação de quando eu era criança e mergulhava naqueles livros ilustrados tipo "20.000 Léguas Submarinas" ou "Viagem ao Centro da Terra". A experiência é igual. Então não dê ouvido às vozes cansadas, volte a olhar o cinema de Wes Anderson com frescor e se jogue pois vale cada minuto. Excelente.
Henrique Artuni da Folha SP nos conta que "Há algo de antigo em 'O Esquema Fenício'. Um filme que, só pelo título, poderia se camuflar bem entre obras como 'Uma Aventura na Martinica', 'Tensão em Xangai', entre outros títulos brasileiros criativos para clássicos dos anos 1940.
Wes Anderson não está próximo à grandeza dessa era de ouro de Hollywood, mas, para arquitetar seu novo esquema, tomou emprestado o tom farsesco dessa época para encenar a via-crúcis de um homem - o magnata Zsa-Zsa Korda, de Benicio Del Toro - que insiste em não morrer. Ou melhor, de um homem que, de tão próximo da morte, é obrigado a se confrontar com algo ainda mais inescapável, a família, para alcançar sua redenção.
Não é tema estranho para o autor de 'Os Excêntricos Tenenbaums', cujas histórias têm sempre pelo menos umas duas dúzias de personagens desajustados. (...)
Após explorar os rincões desérticos dos Estados Unidos no formalista 'Asteroid City', agora o texano se debruça sobre a Grande Fenícia Independente Moderna - uma paisagem fictícia com traços de Líbano, Síria e Marrocos, cujo nome remete a uma civilização remota, dessas que se lê pelas páginas da Bíblia. Aliás, o catolicismo e o Antigo Testamento é todo onipresente na jornada, sobretudo nos sonhos místicos que Korda tem toda vez que quase morre numa das armadilhas plantadas por um grupo de empresários americanos que quer acabar com sua fortuna. Nesses episódios alegóricos, Korda se vê num julgamento celeste, encontra suas três ex-mulheres mortas, sua avó e o próprio Deus - um Bill Murray toscamente barbado. (...)
É quase uma trama à parte, em paralelo à jornada burocrática de Liesl, Korda e de um estranho tutor, vivido por Michael Cera, pela Fenícia para que ele concretize seu projeto dos sonhos e tenha certeza de que a noviça será uma herdeira digna. O tal 'esquema' do título é um ambicioso empreendimento no deserto, com ferrovias e represas que, além de lhe trazerem fortuna, são um acerto de contas com sua infância pobre. A brincadeira não é barata e, após ser sabotado pelos americanos, ele tem de recorrer a uma série de outros empresários da região para cobrir o investimento - dentre eles, um meio-irmão maquiavélico, vivido por um hilário Benedict Cumberbatch, numa caracterização patética, que pode ou não ser o verdadeiro pai de Liesl.
Nessa saga, Anderson aposta num humor sombrio, até violento, com corpos explodindo, acidentes de avião, granadas, armas químicas em meio às suas 'gags' visuais. É também quando brilham coadjuvantes como Jeffrey Wright, Tom Hanks e Mathieu Amalric, mesmo com pouco tempo de tela para seus personagens excêntricos".
O que disse a crítica 1: Mattheus Goto da Veja SP avaliou com 3 estrelas, ou seja, bom. Escreveu: "Os visuais e as atuações carregam o longa, principalmente quando parece ter esgotado ideias. A premissa é mais objetiva e cômica do que a de 'Asteroid City', trabalho mais recente do diretor, de 2023, mas menos surpreendente. A dinâmica entre os dois protagonistas é o maior trunfo".
O que disse a crítica 2: Robledo Milani do site Papo de Cinema avaliou com 3,5 estrelas, ou seja, muito bom. Disse: 'Permitir-se ser permeado pelo cinema de Wes Anderson é como estar em um encontro de velhos amigos da faculdade anos – ou mesmo décadas – após terem deixado de estudar juntos. Para os que estão há tanto tempo sem se ver, a oportunidade de estarem mais uma vez lado a lado é preciosa, e apenas a menção de velhas histórias é mais do que suficiente para boas e saudosas recordações. Para os que estão ao redor, meros curiosos ou acompanhantes de ocasião, tal experiência, no entanto, pode ser excruciante (aflitivo, doloroso). 'O Esquema Fenício' representa um mergulho ainda mais radical do realizador dentro desse seu universo próprio e indissociável de sua persona. Feito para o deleite dos predispostos, ao mesmo tempo em que deverá servir como motivo de angústia para os que neste âmbito não forem capazes de nele adentrar'.
O que eu achei: Quem já assistiu a algum filme de Wes Anderson sabe exatamente o que esperar. Seu estilo inconfundível que faz uso do live action para inserir atores reais em cenários meticulosamente construídos, se tornou sua marca registrada. O capricho é evidente tanto nas composições simétricas - com a câmera centralizada, criando a sensação de um espaço plano, bidimensional, similar a um palco de teatro ou uma casa de bonecas - quanto na atenção minuciosa aos detalhes. A paleta de cores em tons pastéis é cuidadosamente planejada e a trilha sonora é primorosamente desenvolvida. Por conta disso, o público de Wes Anderson desde sempre se divide entre dois extremos: os que o amam e não perdem nada do diretor, e os que o detestam e nunca se conectaram com sua estética. Agora, com o lançamento de seu 12º filme nota-se o surgimento de uma nova categoria: os que gostavam mas começaram a enjoar. Li várias críticas negativas classificando a obra como “mais do mesmo”, o que me deixou receosa ao apertar o play. Mas, para minha surpresa, a experiência foi muito gratificante. Benicio Del Toro interpreta o frio e indiferente Zsa-Zsa Korda que, após sobreviver à sexta tentativa de assassinato, decide que precisa escolher um herdeiro. Apesar de ter nove filhos, o magnata surpreende ao apontar Liesl (Mia Threapleton) - uma filha que se tornou freira - como sucessora de sua vasta fortuna. O forte senso moral de Liesl, em contraste com a indiferença quase cínica de Korda, define o tom do filme. À medida que Korda elabora um projeto inédito, o chamado Esquema Fenício, pai e filha vão se aproximando pouco a pouco. A cada nova visita aos empresários com quem ele precisa negociar o novo empreendimento, o público ganha um vislumbre de sua trajetória e das decisões que moldaram sua vida, permitindo que Liesl compreenda mais claramente quem seu pai realmente é. No elenco, além da dupla, há um grande número de excelentes atores como: Tom Hanks, Willem Dafoe, Jeffrey Wright, Bill Murray, Scarlett Johansson, Bryan Cranston, Riz Ahmed, Benedict Cumberbatch, Kate Winslet e Charlotte Gainsbourg, dentre outros. A trilha sonora é do competente Alexandre Desplat. Terminei de ver lembrando da ótima sensação de quando eu era criança e mergulhava naqueles livros ilustrados tipo "20.000 Léguas Submarinas" ou "Viagem ao Centro da Terra". A experiência é igual. Então não dê ouvido às vozes cansadas, volte a olhar o cinema de Wes Anderson com frescor e se jogue pois vale cada minuto. Excelente.